sexta-feira, 13 de maio de 2011

Bicentenário de nascimento de Franz Liszt, o cosmopolita visionário


Franz Liszt é considerado como uma das personalidades mais estridentes entre os compositores clássicos. Era um excêntrico e um "D. Juan", um pianista virtuoso que enchia as salas de concertos, um intelectual, cosmopolita e muito viajado e, sobretudo, uma pessoa que compunha sem cessar. A sua criação musical abrange 123 obras para piano, 77 canções, 25 obras para orquestra, 65 obras religiosas e 28 obras profanas para coro, assim como inúmeros arranjos, obras para órgão e ainda outras obras. Liszt é percursor da "composição sinfónica", na qual a música descreve momentos cénicos e se torna um meio para se contar uma história.

Franz Liszt nasce a 22 de outubro de 1811 em Raiding, Burgenland, que naquela altura ficava na parte húngara do império austríaco. Desde cedo seu pai (educador musical ambicioso e severo) lhe dá aulas de piano. De Viena, onde Liszt, entre outros, tem lições com Antonio Salieri, a família segue para Paris. E se, por um lado, o Conservatório de Paris, devido à sua nacionalidade, nega a admissão à criança prodígio de 12 anos, o pai, por outro lado, intensifica o treino musical do filho.

Em Paris, Liszt, que se interessa pelas correntes intelectuais do seu tempo, estabelece contatos com muitos artistas da sua época. A comunicação com os grandes gênios musicais como, por exemplo, Frédéric Chopin, Hector Berlioz e Felix Mendelssohn Bartholdy, faz com que Liszt se aperceba dos seus próprios limites musicais, mas este confronto incita-o. Em maio de 1832, numa carta ao seu aluno e amigo Pierre Wolff, Liszt escreve: Há duas semanas que o meu espírito e os meus dedos trabalham como loucos [sic.] - Homero, a Bíblia, Platão, Locke, Byron, Hugo [...], Beethoven, Bach, Hummel, Mozart, Weber todos eles estão à minha volta. Estudo-os, observo-os, devoro-os com entusiasmo e, para além disso, exercito-me 4 a 5 horas [...]. Ah! Se não ficar louco, quando eu regressar, vais ter perante ti um artista!

Os anos seguintes são marcados por incessantes viagens através de toda a Europa, assim como por inúmeras composições e apresentações. Casa com Marie d'Agoult, seis anos mais velha do que ele, com quem tem três filhos. Às estadias na Suíça e em Itália seguem-se inúmeras paragens por toda a Europa. Do ponto de vista artístico, Liszt vê-se na altura confrontado não só com críticas como também com grandes e extremos sucessos. Em 1841/42, em Berlim, Liszt é tão festejado como pianista, sobretudo pelo universo feminino, que Heinrich Heine cria o termo "lisztomaníaco".

Liszt e Marie d'Agoult separam-se em finais de 1843, por Marie Liszt não estar mais disposta a desculpar as suas repetidas infidelidades. Franz Liszt ganha uma violenta disputa pela guarda dos filhos do casal, acabando no entanto por deixar as crianças em Paris com a mãe.

De 1843 a 1861, Franz Liszt é chefe de orquestra em Weimar, tornando-se nessa altura amigo de Richard Wagner que, mais tarde e contra a vontade de Liszt, virá a casar com a sua filha Cosima. Por esta altura inicia a relação com a temperamental princesa Carolyne zu Sayn-Wittgenstein, na qual encontra uma parceira de discussão à altura e, simultaneamente, uma mecenas da sua arte. Os anos de Weimar são a época artística mais produtiva da vida de Liszt. Muitas das suas obras de piano, doze poemas sinfônicos, obras profanas (inúmeras canções, melodramas, coros de vozes masculinas) e música religiosa datam desta altura. Mas o seu reconhecimento como compositor mantém-se pouco significativo. E o mesmo acontece com o seu trabalho como maestro: apreciado por um lado, e, por outro lado, objeto de forte rejeição.

Após cerca de 20 anos em Weimar, Franz Liszt muda-se para Roma. Na verdade, para aí casar com Carolyne zu Sayn-Wittgenstein, a sua companheira. Mas, um dia apenas antes do casamento, Carolyne zu Sayn-Wittgenstein, pressionada pela família que é contra o casamento, retira o seu acordo. Este fracasso tem consequências sobre a relação dos dois, levando por fim à separação.

Liszt passa então a dedicar-se cada vez mais às composições e obras de caráter religioso. Por fim, o Papa Pio IX confere-lhe as ordens menores e a dignidade de abade, vindo assim ainda a realizar-se o sonho juvenil de Liszt de vir a pertencer ao clero. Nestes seus últimos anos de vida, as sua criações como compositor são também finalmente reconhecidas, em especial as suas obras para orquestra e as suas obras religiosas. Em 1886 viaja, já muito doente, para Weimar para assistir ao Festival de Bayreuth, realizado sob a direção da sua filha Cosima. Morre a 31 de julho, poucos dias depois da sua chegada. 

Visionário musical

Franz Liszt é considerado como criador de uma música para piano totalmente nova, num estilo de composição futurista. Como pianista quebrou também com todas as regras, recorrendo a um ou mais temas de óperas conhecidas, os quais ornamentava e transformava em peças brilhantes para piano, juntamente com as suas próprias ideias de composição. Para além disso, Liszt é considerado como o precursor da poesia sinfônica. É este o nome que se dá a uma peça para orquestra que, originariamente, descreve musicalmente conteúdos não musicais, tais como suportes literários ou quadros. Exemplos das poesias sinfônicas de Liszt são a sua Sinfonia Fausto ou a famosa Sinfonia Dante. 

Liszt compôs também muitas músicas de inspiração religiosa. Das principais delas fazem parte, entre outras, a Missa solemnis, a Missa de Coroação Húngara, o Oratorium Christus, e a Graner Messe,  um dos auges da música religiosa do século XIX.

Citação:

"Quando nos mantemos fiéis ao verdadeiro génio da música, a nova arte do som, com todas as suas vantagens instrumentais sutis não tem qualquer outro sentido senão o da flauta de Tuvalkin, o do primeiro instrumento de sopro, o da primeira gaita de foles dos primeiros sanabreses, o do "jodel" alpino, o do psalmo do monge, o do bater das tampas e o do acenar dos bambús dos negros, o do pequeno órgão da Cecília, o do violino de Paganini, o da ópera de Mozart e da canção de Hugo Wolf, ou seja, a função de, numa outra língua que não a das palavras ou a da pintura  ou a da arquitetura, na linguagem dos sons, falar de alma para alma." (Franz Liszt)

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