Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB
Ele nasceu Francisco Nascimento, paraibano de Campina Grande, nascido em novembro de 1961, às margens do Açude de Bodocongó. Por sua habilidade com as plantas, fazendo verde tudo o que toca, distribuindo milhares de mudas de árvores e explicando direitinho como fazer para que sobrevivam, tornou-se santo. O Santo da Terra.
Magro, moreno, barba e cabelos bem grisalhos, Santo brinca que tem 70, 80 anos, mas tem apenas 48. “Fui judiado pela cachaça”, confessa. Numa manhã, próxima ao Dia das Crianças, quando veio à minha sala buscar uns sacos de pirulitos para distribuir com os mais de trezentos guris da Vila dos Teimosos, comunidade onde mora, ele abriu seu coração.
Foram mais de 20 anos dedicados ao alcoolismo. Começou a beber cedo e viu o tempo passar apático, sem provocar nele qualquer interferência positiva. Abandonou estudos, um bom emprego e, em 1995, quando entendeu que estava doente e precisava de ajuda, procurou a Associação de Alcoólicos Anônimos. Curou-se.
Como se quisesse recuperar o tempo perdido, com boas ações, Santo começou a agir. Primeiro, no intuito de salvar o meio ambiente: até hoje recolhe sacos de leite para plantar mudas de árvores, distribui a quem tiver interesse e ainda faz campanhas de preservação do Açude de Bodocongó, que infelizmente vê definhar por causa da poluição. Morre de alegria quando alguém lhe retribui com sementes das árvores que ele ajudou a plantar.
Na sala de sua casinha alugada, lá na Vila, a bicicleta divide espaço com as estantes de livros usados, que ele disponibiliza como biblioteca comunitária para adultos e crianças da vizinhança. “Eu peço que nem bula de remédio as pessoas joguem fora, porque ainda tem muita gente que quer, mas não tem o que ler”, revela.
Com sua simplicidade, Santo evangeliza. No lugar da auréola, tem um chapéu de palha na cabeça. Dos vícios da vida, mantém um cigarrinho sempre aceso, como para nos lembrar que é um daqueles santos bem reais, que também podem ser falíveis. A propósito, se você perguntar a Santo da Terra se ele conhece algum milagre, ele responderá sem pestanejar: “O milagre sou eu! Eu estava morto e Deus me deu uma chance. Nessa nova vida eu procuro fazer tudo que Ele gostaria que eu fizesse”.
Não consegue calcular quantas vezes já adiou o sonho de comprar um Fusca, ou sua casa própria, porque tirou dinheiro da poupança para ajudar quem tinha menos do que ele. “E ainda faria tudo de novo”, enfatiza.
Diz que não concebe amontoar nada, porque da vida não levará nem prata, nem ouro, só o sorriso das pessoas que ajudou.
Hoje, quando Santo me diz “Deus te abençoe”, eu me sinto verdadeiramente abençoada.
Grande matéria, a altura do homem santo reportado. Santo é um homem de carne e osso que abraçou a causa do trabalho comunitário. Com sua ação transformou-se e transforma a sociedade. Hoje é um homem educado que pela leitura aprende a ler o mundo e dispõe-se a ajudar seus irmãos de caminhada. Isso foi alcançado pela luta no dia a dia e pela agruras que atingem homens e mulheres empobrecidos que, numa sociedade desigual, são massacrados pelo egoísmo e individualismo. A vida de Santo da Terra é um exemplo de superação.
ResponderExcluirParabéns ao blog.
Jomar Ricardo
Obrigada, professor Jomar! A ASCOM/UEPB acredita na força do caráter das pessoas, que sobrevivem às circunstâncias adversas da vida com dignidade e gentileza. Que muitos "Santos da Terra" apareçam na nossa Universidade para dar este belo exemplo.
ResponderExcluirabs
Francisco do nascimento
ResponderExcluirEle não só é um santo da terra mas também é um arquivo vivo da historia de Bodocongó. Um conhecedor das ruas, das escolas, dos barreiros, açudes, roça e pesca... Só não somos irmão de sangue mas foi toda uma vida brincando juntos, crescendo juntos, nos criamos tomando banho nos barreiros e açude deste Bairro e também somos os primeiros moradores, não é por acaso que somos apaixonados pelo bairro de BODOCONGÓ. Este apelido de santo da terra é a nossa idade.
Não é de hoje que Francisco (Santo da Terra) luta pelo meio ambiente. Com este jeito simples dele que não mudou... até o proximo comentario. Roberto Malheiros da Silva – Teólogo
18 de julho de 2011
A Assessoria de Comunicação da UEPB agradece seu comentário, Roberto Malheiros! abs
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