sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase tudo é verdade


Por Sérgio Rizzo ( jornalista e professor, escreve sobre cinema para a revista "Set")

O apelo do "baseado em fatos reais" tornou-se mais forte nas últimas décadas. Inúmeros longas-metragens para cinema, telefilmes e minisséries usam essa frase como espécie de "certificado de autenticidade". Alguns sucessos de bilheteria chamaram a atenção da mídia e do público justamente por fingir que são registros de fatos verídicos, como "A Bruxa de Blair" e "Atividade Paranormal".

Na lista abaixo, dez ótimos exemplos da abordagem tradicional usada pelo cinema na adaptação de fatos reais: as tramas correspondem em linhas gerais ao eventos que as inspiraram e os personagens usam os nomes dos verdadeiros protagonistas. Cabe lembrar, no entanto, que esses filmes são baseados em versões e trabalham com "liberdades dramáticas" -- ou "quem conta um conto aumenta um ponto".

Foram descartados os também inúmeros filmes apenas derivados de fatos e personagens reais, como "Cidadão Kane", decalcado no magnata da imprensa William Randolph Hearst, e "Elefante", inspirado no massacre da escola Columbine.

Confira os filmes:

10 - "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild, 2007)
O jornalista Jon Krakauer reconstituiu em livro (publicado no Brasil, com o mesmo título do filme, pela Companhia das Letras) a história de Christopher Johnson McCandless, jovem de família rica que deu um basta à sociedade de consumo, trocou de nome e viajou durante dois anos pelos Estados Unidos. Sean Penn roteirizou e dirigiu a adaptação, com Emile Hirsch ("Speed Racer").



9 - "Os Eleitos" (The Right Stuff, 1983)
O filme narra a corrida espacial norte-americana a partir da perspectiva de um grupo de pilotos integrado por homens que se tornariam mitos, como Chuck Yeager (Sam Shepard), John Glenn (Ed Harris) e Alan Shepard (Scott Glenn), entre outros pioneiros. Baseado em livro-reportagem de Tom Wolfe, com roteiro e direção de Philip Kaufman ("A Insustentável Leveza do Ser").


8 - "Desaparecido - Um Grande Mistério" (Missing, 1982)
Um dos mestres do cinema político, o grego Costa-Gavras ("Z", "Estado de Sítio", "O Corte") recria o desaparecimento do norte-americano Charles Horman (John Shea) no Chile, em 1973, logo após o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende, e a busca desesperada de seu pai (Jack Lemmon) e de sua mulher Sissy Spacek) pelo seu paradeiro.



7 - "O Enigma de Kaspar Hauser" (Jeder für sich und Gott gegen alle, 1974)
"Cada um por si e Deus contra todos" diz o título original em alemão -- frase que o diretor e roteirista Werner Herzog alega ter conhecido no Brasil. Seu filme especula sobre o que teria acontecido a um jovem deixado em uma praça de Nuremberg, em 1828, apenas com um bilhete na mão e sinais de que sempre vivera isolado da sociedade.


6 - "O Homem Elefante" (The Elephant Man, 1980)
David Lynch ("Veludo Azul", "Twin Peaks") obteve as primeiras de suas quatro indicações ao Oscar, como diretor e co-roteirista, por essa produção de Mel Brooks que conta a história de Joseph Merrick, nascido com uma deformação que lhe valeu o apelido pejorativo do título. John Hurt, também indicado ao Oscar, faz Merrick; Anthony Hopkins interpreta o médico que o amparou.


5 - "Zodíaco" (Zodiac, 2007)
O cartunista Robert Graysmith dedicou-se durante anos a investigar crimes misteriosos ocorridos em São Francisco na década de 70, quando trabalhava para um jornal. Seu livro sobre o caso, lançado no Brasil pela editora Novo Conceito, serviu de base para a minuciosa reconstituição realizada pelo diretor David Fincher ("Clube da Luta"), com Jake Gyllenhaal no papel de Graysmith.


4 - "Todos os Homens do Presidente" (All the President's Men, 1976)
Sempre lembrado como um dos filmes referenciais na abordagem do jornalismo, é baseado no primeiro dos dois livros que os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward escreveram sobre a investigação do caso Watergate pelo diário "The Washington Post". Dustin Hoffman e Robert Redford interpretam a dupla; Jason Robards ganhou o Oscar de coadjuvante como Ben Bradlee, editor do jornal.


3 - "A Batalha de Argel" (La Battaglia di Algeri, 1966)
Na Copa do Mundo, o treinador argelino Rabah Saâdene procurou motivar seus jogadores com a exibição deste clássico do cinema político dirigido pelo italiano Gillo Pontecorvo, que reconstitui em estilo semidocumental o combate entre a Frente de Libertação Nacional, no comando do processo de independência da Argélia a partir dos anos 50, e as tropas do governo francês.


2 - "Os Bons Companheiros" (Goodfellas, 1990)
Um dos mais vibrantes filmes de Martin Scorsese ("Taxi Driver", "Touro Indomável", "Os Infiltrados") recria a trajetória de Henry Hill (Ray Liotta), pequeno gângster atuante em Nova York nos anos 60 e 70, ao lado dos mafiosos James Conway (Robert De Niro) e Tommy De Vito (Joe Pesci). Baseado em livro de Nicholas Pileggi, que assina o roteiro em parceria com o diretor.


1 - "O Encouraçado Potemkin" (Bronenosets Potyomkin, 1925)
O diretor Sergei Eisenstein realizou um dos maiores clássicos na história do cinema, fundamental para a compreensão do papel da montagem, sob encomenda das autoridades soviéticas, que desejavam recriar para fins de propaganda revolucionária uma revolta de marinheiros, em 1905. Como sempre ocorre nesses casos, nem tudo o que se vê no filme foi verdade.


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