quarta-feira, 28 de julho de 2010

Antonio Nóbrega e a dança clássica do Brasil

Por Oziella Inocêncio [texto e imagem], da ASCOM/UEPB

“Quando se fala em dança clássica, é comum as pessoas pensarem na dança originária da Europa. Por que não prestar mais atenção e conhecer a nossa dança, a dança brasileira? Nela, é possível que estejam não apenas as peculiaridades da nossa cultura, mas uma revolução nos elementos de toda a Arte, uma nova maneira de enxergar a beleza e a expressão.” Preleções como esta vieram à tona em "Naturalmente - Teoria e Jogo de uma Dança", a nova aula-espetáculo do violinista e dançarino Antonio Nóbrega, que esteve no Centro de Convenções da Rainha da Borborema na noite de ontem (28), inserido na programação do Festival de Inverno - evento que possui o apoio da UEPB.

No espetáculo, Nóbrega, que fez história com o Quinteto Armorial - conjunto brasileiro de música de câmara, mas com raízes populares - apresenta sua visão da dança na teoria e na prática, junto às dançarinas Maria Eugênia Almeida (sua filha) e Marina Abib (sua nora). O trio é responsável pelas coreografias, que passeiam por folguedos e danças populares do Nordeste. O artista acrescentou que a inspiração para dar nome ao espetáculo adveio de uma palestra do escritor espanhol Garcia Lorca chamada ‘Teoria y Juego del Duende Manuel Torres’.

Assim Nóbrega definiu o nascimento do projeto: “Meu desejo foi criar um espetáculo em que pudesse tanto dançar quanto expor o meu pensamento sobre a dança que pratico”. Ele destacou que o espetáculo é uma espécie de “tese-lúdica” sobre o seu encontro com a dança. “Mostra como ela seduziu o jovem músico de pouco mais de 18 anos, em Recife, e que agora, aos 58, resolve contar sobre essa ligação”, explicou. 

A trilha, como era de se esperar em se tratando de Nóbrega, apresenta um apanhado de extrema sofisticação e, aqueles que esperavam apenas música nacional no espetáculo, uma surpresa. Além de estrelas da nossa música popular, a exemplo de Jacob do Bandolim e Dominguinhos, Nóbrega mostra toda sua malemolência e elasticidade corporal ao som de Nino Rota (grande parceiro de aclamados cineastas italianos, notadamente Fellini), Bach e Erik Satie, entre outras estrelas.

A aula conta ainda com a presença da Orquestra Retratos do Nordeste, composta por oito músicos, que se revezam entre variados instrumentos de corda, sopro, teclado e percussão, executando uma trilha sonora rica em composição de timbres sonoros e heterogeneidade rítmica, tudo entremeado por falas de Nóbrega, que passeia habilmente por tópicos como a origem das danças populares brasileiras até sua recriação numa linguagem brasileira de dança.

O excelente roteiro da apresentação, a seleção primorosa do repertório e a emocionante exibição da Orquestra, aliada a plena forma física de Nóbrega, transformam o espetáculo numa referência quando se trata de bom gosto e qualidade.

Mais sobre Antonio Nóbrega

Antonio Nóbrega nasceu em Recife (PE), em 1952. É violinista desde criança. No final dos anos 60, participava da Orquestra de Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica do Recife quando, convidado por Ariano Suassuna, passou a integrar, como instrumentista e compositor, o Quinteto Armorial - o mais importante grupo a criar uma música de câmara erudita brasileira de raízes populares.
A partir de 1976, começou a desenvolver um estilo próprio de concepção em artes cênicas, dança e música, apresentando os espetáculos “A Bandeira do Divino”, “A Arte da Cantoria”, “Maracatu Misterioso”, “Mateus Presepeiro”, “O Reino do Meio Dia”, “Figural”, “Brincante”, “Segundas Histórias” e “Na Pancada do Ganzá” com grande sucesso no Brasil e exterior, com prêmios como Shell, APCA e Mambembe. Em 1997, lançou o espetáculo, acompanhado do CD homônimo, “Madeira Que Cupim Não Rói”. No ano seguinte, estreou o espetáculo “Pernambuco falando para o Mundo”, novamente acompanhado de CD.

No ano de 1999, participou do Festival D’Avignon (França) com o espetáculo “Pernambouc” preparado especialmente para o público francês.

Em 2000, estreou em Lisboa “O Marco do Meio Dia”, espetáculo em que celebrou os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil; depois o espetáculo saiu em turnê e foi apresentado em Paris, Hannover e em mais de vinte cidades brasileiras.

O ano de 2002 foi marcado pela estréia do espetáculo “Lunário Perpétuo” e pelo lançamento do CD homônimo.

Em 2003, lançou o DVD “Lunário Perpétuo”, com o registro do espetáculo filmado em película cinematográfica, sob a direção do fotógrafo e cineasta Walter Carvalho. Neste mesmo ano, apresenta em Berlim seus espetáculos “Figural” e “Sol a Pino”. Ainda no ano de 2003 recebeu das mãos do presidente Luis Inácio Lula da Silva e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil, a Comenda do Mérito Cultural.

Entre 2003 e 2005, viajou com “Lunário Perpétuo” por várias das capitais e grandes cidades brasileiras. Neste triênio apresentou ainda o espetáculo em Portugal, Cuba, Rússia e França.

No ano de 2006, lançou dois CDs e o espetáculo homônimo “9 de Frevereiro”, vencedor do Prêmio TIM. Em 2007, criou o espetáculo de dança “Passo”, lançado em março de 2008; se apresentou em São Paulo e saiu em turnê musical pela Espanha, exibindo-se em Madri, Barcelona e Saragoça.

Em agosto de 2008, lançou o DVD‘” 9 de Frevereiro”, dirigido por Walter Carvalho. Em abril de 2009, apresentou espetáculo de música e dança na abertura oficial da Feira Internacional do Livro, em Santo Domingo, na República Dominicana.

Juntamente com Rosane Almeida idealizou e dirige o Instituto Brincante desde 1992, em São Paulo.

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