quarta-feira, 13 de julho de 2011

Seu Jorge e a redefinição da imagem do país


Por Thales de Menezes, do Caderno Ilustrada

Seu Jorge é hoje o mais internacional dos artistas brasileiros. Faz mais shows no exterior do que no país, recebe um convite para cinema atrás do outro, canta com Ivete Sangalo em Nova York e com o U2 no Morumbi.
Acaba de lançar o álbum "Músicas para Churrasco Vol. 1", início de uma trilogia.
Como todos os seus CDs, terá mais resenhas na imprensa estrangeira do que por aqui. "Almaz", trabalho anterior, foi um disco sofisticado, feito com integrantes da Nação Zumbi e lançado primeiro fora do Brasil. Agora, com o novo álbum, deve retomar -e talvez aumentar- a popularidade conquistada com seus hits, como "Burguesinha".
Aos 41 anos, Seu Jorge vê o Brasil com otimismo e insere a música -não só a dele- num momento de redefinição da imagem do país.
Thales de Menezes - Do que o Brasil precisa?
Seu Jorge - Há uma nova geografia de poder no mundo. Temos tudo para sentar na cadeira das decisões. Na arte, no esporte, não pode ser diferente.
Só precisamos de um trabalho melhor da gestão federal com o privado para gerir esse desenvolvimento. E a educação está no centro.
Aqui, jogador de futebol ficou lá no ensino fundamental e ganha cem mil por mês. Então, até o pai dele fala: "Estudar pra quê?". O cara ganha mais do que a árvore genealógica dele inteira.
Educação tem que ser discutida todo dia no jantar. Que nem novela. A gente não sabe tudo sobre os personagens? O interesse pela educação deveria ser nesse nível.


Depois do "Almaz", quis voltar à canção popular?
Eu senti que existia uma demanda reprimida por um gênero específico, e esse gênero era eu.
Essa música negroide, despojada, popular, algo que já tinha acontecido com o "América Brasil", meu disco de 2007. "Burguesinha" e "Mina do Condomínio" se tornaram muito populares. Inventei o nome "Músicas para Churrasco" e, então, criei uns personagens...

O nome veio antes?
Sim, depois as canções, em uns 30 dias. Foram surgindo esses personagens e fui amadurecendo as figuras.

Esse "Vol. 1" é para valer?
São três volumes, quero contar historinhas e evoluir os personagens numa trilogia. Tenho a ideia de fazer uma comédia depois dos discos. Não sei se exatamente um musical, mas uma comédia pontuada por canções.

Seu público está cada vez maior. Quem faz parte dele?
Tem de tudo, mas chegou uma nova classe C, um público ávido por coisas novas. Eu tenho muito contato com esse público e acredito que eles me acham muito semelhante a eles, como Alexandre Pires ou Exaltasamba.
A sensação que eu tenho é que, em algumas situações, a minha música é muito popular e, em outras, é bem sofisticada. Não sei bem o que é, mas eu estou muito feliz e confiante com a transição.

E a carreira no cinema?
Recebo muitos convites. Mas agora é um momento da música, levou um tempo para "repatriar" meus músicos.
Parei para "Tropa de Elite 2" e "Almaz", e eles tiveram que fazer outras coisas porque as contas chegam no fim do mês. Então é sacanagem reunir a turma só para gravar. Por um tempo, fiz uma opção clara pela música.

Você nunca pensou em morar em outro país?
Não, porque eu já entendo bastante de tristeza, vi muita lá fora. Não tenho agente por lá. Trato tudo daqui, com a minha Cafuné Produções.
Parte do público estrangeiro me conheceu como ator para depois ver que eu também fazia música. No Brasil, não há tanto essa cultura de artistas que se expressam em diferentes áreas.

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