Conta a lenda que Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899 nos Estados Unidos, mas não foi na América que ele encontrou seus principais personagens e sua densidade literária. O Hemingway que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura começou a dar sinal de existência em 1921, em Paris, onde o desconhecido Ernest fez a festa e o futuro escritor Hemingway começou a carreira de jornalista.
Escreveu de lá, para a mãe, em fevereiro de 1922: “Paris é tão bonita que satisfaz algo em você que os Estados Unidos deixam sempre com fome."
Seduzido e acompanhado na noite francesa por vinhos, mulheres e autores polêmicos da dimensão de Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald, teve ali, pela primeira vez, acesso aos clássicos e devorou dos russos Tolstoi e Dostoievski aos franceses, como Stendhal. Com a bagagem abarrotada, aprofundou a sensibilidade e conquistou recursos éticos e estéticos para realizar os dois maiores sonhos declarados: ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade a suas vontades e valores.
Dali partiu para muitos livros, casamentos, divórcios, em uma itinerância quase cega pelo mundo. Buscou emoções, como a de tourear na Espanha ou ser correspondente na Primeira Guerra, e paixões impossíveis, como a que protagonizou com a enfermeira italiana, personagem do livro e filme “Adeus às Armas”.
Escreveu de lá, para a mãe, em fevereiro de 1922: “Paris é tão bonita que satisfaz algo em você que os Estados Unidos deixam sempre com fome."
Seduzido e acompanhado na noite francesa por vinhos, mulheres e autores polêmicos da dimensão de Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald, teve ali, pela primeira vez, acesso aos clássicos e devorou dos russos Tolstoi e Dostoievski aos franceses, como Stendhal. Com a bagagem abarrotada, aprofundou a sensibilidade e conquistou recursos éticos e estéticos para realizar os dois maiores sonhos declarados: ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade a suas vontades e valores.
Dali partiu para muitos livros, casamentos, divórcios, em uma itinerância quase cega pelo mundo. Buscou emoções, como a de tourear na Espanha ou ser correspondente na Primeira Guerra, e paixões impossíveis, como a que protagonizou com a enfermeira italiana, personagem do livro e filme “Adeus às Armas”.
Tudo o que sofregamente viveu de um modo ou outro foi parar nas páginas de seus romances. Não sossegou quando se casou pela terceira vez e foi morar em Cuba, mas lá o talento ganhou reconhecimento mundial: escreveu sua obra-prima, “O velho e o mar”, pela qual recebeu o Prêmio Pulitzer de 1953, e, no ano seguinte, o Nobel de Literatura. Fidel Castro tornou-se um de seus inumeráveis amigos cubanos, com quem partilhava charutos e morritos.
Quando chegou ao Caribe, já havia publicado seus mais conhecidos títulos, como O Sol Também se Levanta (1926), Adeus às Armas (1929), As Verdes Montanhas da África (1935) e Por Quem os Sinos Dobram (1940). Muitos de seus contos e romances foram levados ao cinema. Sucessos hollywoodianos. Quem se importa? Certamente Hemingway não.
Quando chegou ao Caribe, já havia publicado seus mais conhecidos títulos, como O Sol Também se Levanta (1926), Adeus às Armas (1929), As Verdes Montanhas da África (1935) e Por Quem os Sinos Dobram (1940). Muitos de seus contos e romances foram levados ao cinema. Sucessos hollywoodianos. Quem se importa? Certamente Hemingway não.
E eis que chegamos a 2 de julho de 1961, data da sua morte, oficialmente um suicídio com tiro certeiro de sua arma preferida. Outra lenda? Há um livro recente que defende, ficcionalmente, a tese de que Hemingway não morreu, foi outro. Gabriel García Marquez, quando recebeu a notícia, chegou a duvidar e explicou que tanto o autor quanto seus personagens não pareciam homens que desertavam da vida.
Para contrariar ainda mais a tal morte, ocorrida nos Estados Unidos, sabe-se que o escritor andava dedicado, nos últimos dias, à finalização de três romances, entre eles, “Paris é uma Festa”, que narrava sua alegre mocidade boemia na França.
Para contrariar ainda mais a tal morte, ocorrida nos Estados Unidos, sabe-se que o escritor andava dedicado, nos últimos dias, à finalização de três romances, entre eles, “Paris é uma Festa”, que narrava sua alegre mocidade boemia na França.
Um companheiro de aventuras, o cubano Gregório Fuentes -- piloto, imediato, cozinheiro e marinheiro do seu barco, o “Pilar” – ainda achava, 30 anos depois do suicídio, que havia sido assassinato encomendado pelo FBI.
Tudo é possível quando se trata do controvertido Hemingway, de quem não se pode afirmar com certeza se era um apaixonado bon vivant ou um pensador trágico e deprimido.
Para os cubanos, ele nunca morrerá, pode fazer uma aparição a qualquer momento em um dos bares que mais freqüentava, para matar saudade do daiquiri e planejar uma próxima e espetacular aventura.
Nos Estados Unidos, seus fãs lembram seu legado nos chamados "Hemingway Days" no fim de julho, coincidindo com a data de seu nascimento. Neste ano do cinqüentenário da morte, haverá uma série de eventos em Key Westsarau e, inclusive, um sarau de contos promovido por sua neta, a também escritora Lorian Hemingway.
Nos Estados Unidos, seus fãs lembram seu legado nos chamados "Hemingway Days" no fim de julho, coincidindo com a data de seu nascimento. Neste ano do cinqüentenário da morte, haverá uma série de eventos em Key Westsarau e, inclusive, um sarau de contos promovido por sua neta, a também escritora Lorian Hemingway.
Para quem acha que Hemingway teve uma vida mais interessante que os seus livros, como maldosamente afirmou F. Scott Fitzgerald, García Marquez dá uma lição de moral: “O tempo demonstrará que ele, como escritor menor, comerá muitos escritores grandes, por seu conhecimento das motivações dos homens e dos segredos de seu ofício. Certa vez, numa entrevista, elaborou a melhor definição de sua obra ao compará-la ao iceberg de gigantesco volume de gelo que flutua na superfície: é apenas um oitavo do volume total, e é invencível, graças aos sete oitavos que o sustentam sob a água”
Se ainda há dúvidas, é bom registrar que, após Mark Twain e Jack London, Hemingway é o escritor norte-americano mais traduzido para outros idiomas.
Mais!
Segue trecho do livro no qual o escritor Ernest Hemingway estava trabalhando semanas antes do suicídio. Revivia dias alegres da sua juventude na França. Publicado postumamente em 1964, o livro inspirou muitas gerações de jovens a se tornarem jornalistas.
Se ainda há dúvidas, é bom registrar que, após Mark Twain e Jack London, Hemingway é o escritor norte-americano mais traduzido para outros idiomas.
Mais!
Segue trecho do livro no qual o escritor Ernest Hemingway estava trabalhando semanas antes do suicídio. Revivia dias alegres da sua juventude na França. Publicado postumamente em 1964, o livro inspirou muitas gerações de jovens a se tornarem jornalistas.
“Eu era muito tímido quando entrei na livraria pela primeira vez, não tendo dinheiro sequer para me inscrever na biblioteca de aluguel. Sylvia me disse que eu podia pagar o depósito quando tivesse dinheiro, preparou o meu cartão e encorajou-me a levar quantos livros quisesse.
Não havia motivo para que ela confiasse em mim dessa maneira. Não me conhecia, e o endereço que lhe dei, rue Cardinal Lemoine, nº 74, não podia ser mais pobre. Mas ela foi cordial, encantadora e amabilíssima. Atrás dela, em toda a altura da parede e estendendo-se para a sala dos fundos, que dava para o pátio interior do edifício, havia estantes e mais estantes carregadas do tesouro da biblioteca.
Comecei com Turgueniev e tomei os dois volumes de A Sportsman's Sketches e um dos primeiros livros de D. H. Lawrence, creio que Filhos e Amantes. Sylvia disse-me que levasse mais livros, se eu quisesse. Escolhi a edição de Guerra e Paz preparada por Constance Garnett, e O Jogador e Outros Contos, de Dostoievski.
- Você não voltará tão cedo se for ler tudo isso, disse Sylvia.
- Voltarei para pagar - respondi - Tenho algum dinheiro no meu apartamento.
- Não me referia a isso - disse ela - Você pagará quando lhe for conveniente.
- Quando é que Joyce costuma vir aqui? , perguntei.
- Quando vem, em geral é no fim da tarde – disse ela. - Você não o conhece pessoalmente?
- Já o vimos no Michaud, comendo com a família - disse eu. - Mas não é delicado olhar as pessoas quando elas estão comendo e, além disso, o Michaud é caro.
- Você costuma comer em casa?
- Agora quase sempre - disse eu. - Temos uma boa cozinheira.
- Não há restaurantes perto de onde você mora, não é?
- Não. Como é que sabe disso? – perguntei.
- Larbaud viveu por ali - disse ela. - Gostava muito do bairro, exceto por isso.
- O lugar mais próximo, onde se pode comer bem e barato, fica além do Panthéon.
- Não conheço esse bairro. Nós também comemos em casa. Você e sua mulher devem aparecer uma noite dessas.
- Espere até ver se eu Ihe pago - disse eu – Mas muito obrigado pelo convite.
- Não leia depressa demais - disse ela.”
Não havia motivo para que ela confiasse em mim dessa maneira. Não me conhecia, e o endereço que lhe dei, rue Cardinal Lemoine, nº 74, não podia ser mais pobre. Mas ela foi cordial, encantadora e amabilíssima. Atrás dela, em toda a altura da parede e estendendo-se para a sala dos fundos, que dava para o pátio interior do edifício, havia estantes e mais estantes carregadas do tesouro da biblioteca.
Comecei com Turgueniev e tomei os dois volumes de A Sportsman's Sketches e um dos primeiros livros de D. H. Lawrence, creio que Filhos e Amantes. Sylvia disse-me que levasse mais livros, se eu quisesse. Escolhi a edição de Guerra e Paz preparada por Constance Garnett, e O Jogador e Outros Contos, de Dostoievski.
- Você não voltará tão cedo se for ler tudo isso, disse Sylvia.
- Voltarei para pagar - respondi - Tenho algum dinheiro no meu apartamento.
- Não me referia a isso - disse ela - Você pagará quando lhe for conveniente.
- Quando é que Joyce costuma vir aqui? , perguntei.
- Quando vem, em geral é no fim da tarde – disse ela. - Você não o conhece pessoalmente?
- Já o vimos no Michaud, comendo com a família - disse eu. - Mas não é delicado olhar as pessoas quando elas estão comendo e, além disso, o Michaud é caro.
- Você costuma comer em casa?
- Agora quase sempre - disse eu. - Temos uma boa cozinheira.
- Não há restaurantes perto de onde você mora, não é?
- Não. Como é que sabe disso? – perguntei.
- Larbaud viveu por ali - disse ela. - Gostava muito do bairro, exceto por isso.
- O lugar mais próximo, onde se pode comer bem e barato, fica além do Panthéon.
- Não conheço esse bairro. Nós também comemos em casa. Você e sua mulher devem aparecer uma noite dessas.
- Espere até ver se eu Ihe pago - disse eu – Mas muito obrigado pelo convite.
- Não leia depressa demais - disse ela.”
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