terça-feira, 26 de julho de 2011

Centenário revigora originalidade de Marshall McLuhan

 O ensaísta canadense McLuhan, em foto não datada


Do Caderno Ilustrada

A roda é uma extensão do pé, o livro é uma extensão do olho; a roupa, uma extensão da pele, e a internet, uma extensão do cérebro. O canadense Marshall McLuhan, cujo centenário de nascimento se comemorou no dia 21 deste mês, formulou esses axiomas há mais de 40 anos, quando nem sinal havia da rede mundial de computadores.
Criou-a ligeiramente modificada, é verdade: usando no lugar de internet o conceito "circuitação eletrônica" e, no de cérebro, "sistema nervoso central".
Graças às profecias sobre o que seria a evolução dos meios eletrônicos, a partir dos anos 1990 o teórico da comunicação saiu do limbo a que fora relegado na década anterior (após a euforia de sua descoberta nos 60/70), virou de novo pop e foi chamado de "santo padroeiro da internet" pela "Wired".
Os cem anos anos estão aí para ampliar a onda.
A recém-criada Ímã Editorial relança "O Meio É a Massagem", livro-jogo ilustrado, publicado por McLuhan em 1967 em parceria com o designer Quentin Fiori e à época lançado também em LP.
A obra já apontava para fenômenos atualíssimos, como a rediscussão do direito autoral e revoltas populares tonificadas por redes sociais.
Como observa no posfácio o editor e tradutor Julio Silveira, o livro "é um apelo para que as pessoas (...) compreendam que estamos entrando em um novo ambiente, deixando para trás a tecnologia sequencial, especializada e categorizante da imprensa e do livro, e penetrando em um novo ambiente, o de liberdade criativa e informação plena garantidas pela 'circuitação eletrônica'".

AUTISMO
Na América do Norte, foi lançado no fim do ano passado a biografia "You Know Nothing of My Work!" (você não sabe nada sobre a minha obra), de Douglas Coupland (o mesmo de "Geração X"), que incomodou parte da família de McLuhan por associar idiossincrasias do intelectual a tiques autistas.
"McLuhan ficou muito tempo proscrito na academia. Até quem achava que o conhecia já tinha esquecido dele", diz o filósofo Andre Stangl. 
Na internet, é claro, encontra-se material à farta: o documentário "McLuhan's Wake" (com legendas em português em vimeo.com/23890132); leituras musicais de "O Meio É a Massagem" (mcluhan2011.eu/dj-spooky); a página oficial dos herdeiros (marshallmcluhan.com); o perfil no Twitter das atividades brasileiras (@mcluhan100br).
E a cena de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" em que ele surge para dizer que um personagem não conhece nada do trabalho dele (youtube.com/watch?v=OpIYz8tfGjY, em inglês).
E como ele estaria nesse ambiente que vaticinou: seria blogueiro, usaria Twitter, estaria no Facebook? "Marshall não tinha paciência para minúcias. Certamente não blogaria nem tuitaria pessoalmente, provavelmente teria alguém para fazer isso por ele. Facebook? Você deve estar brincando", disse Michael Mc-Luhan, filho do intelectual.

RAIO-X
MARSHALL MCLUHAN


VIDA
Nasceu em 21 julho de 1911, em Edmonton, Canadá. Fez pós-graduação na universidade de Cambridge (Inglaterra) e lecionou nos EUA e no Canadá. Morreu em 1980, em Toronto.

IDEIAS
Formulou teses sobre a influência dos meios de comunicação na sociedade. Criou conceitos como "aldeia global" e "o meio é a mensagem" e frases como "Se funciona, está obsoleto" e "O futuro do livro é a sinopse".

OBRA
"O Meio É a Massagem", "A Galáxia de Gutenberg" e "Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem", entre outros livros.

TRECHO 
"O choque do reconhecimento! Em um ambiente de informação eletrônica, as minorias não podem mais ser contidas -nem ignoradas. Pessoas demais sabem coisas demais umas das outras. Nosso novo ambiente nos compele ao engajamento e à participação. Tornamo-nos inapelavelmente envolvidos, e responsáveis, uns pelos outros." Extraído de "O Meio É a Massagem"

ERRO OU BLAGUE?
TROCADILHO REALÇA TÍTULO DE OBRA

Para alguns, McLuhan fez de propósito, mas, segundo a família do canadense, o título da obra relançada agora no Brasil deve-se a um erro tipográfico: "The Medium Is The Message" [o meio é a mensagem] saiu da gráfica como "The Medium Is The Massage" [massagem]. McLuhan gostou e deixou como estava.

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