sexta-feira, 29 de julho de 2011

As histórias dos índios, por eles mesmos


Por Débora Ierrer, da Carta Capital

Ameaçada por grilagem de terras, desmatamento, garimpo, obras de governos e minada pela discriminação, a cultura dos  povos indígenas brasileiros resiste (agora também) em forma de literatura e conquistando espaço no mercado editorial. Há uma boa safra de escritores indígenas dedicados à literatura infanto-juvenil e publicados por diversas editoras, inclusive grandes como Martins Fontes, Paulinas e FTD. O ano de 2011 deve  terminar com pelo menos 19 títulos novos no mercado, entre os quais A cura da terra, de Eliane Potiguara, pela Global Editora, e Mondagará, de Rony Wasiry Guará, pela Saraiva.
Esse interesse se deve, em parte,  à Lei  11.645, aprovada em 2008, que  criou a obrigatoriedade de se tratar a temática indígena  e afro-brasileira no currículo escolar brasileiro. Mas também é possível que nomes como Daniel Munduruku, Graça Graúna, Yaguarê Yamã e  Olívio Jekupé estejam  ganhando as prateleiras das livrarias do país graças a suas vendagens, turbinadas recentemente pelas compras governamentais, via PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola).
A Global, com 11 livros de autores indígenas em seu catálogo, publicou o primeiro O Povo Pataxó e Suas Histórias em 1999 e depois não parou mais. Segundo seu editor, Luis Alves Junior, esses livros já vendiam bem antes da lei, tanto que alguns deles já haviam ganhado reimpressões – o livro Você se lembra, pai? de Daniel Munduruku, publicado em 2003, é um deles.
A lei chegou anos depois da  articulação de escritores indígenas em encontros nacionais, liderados pelo pioneiro Munduruku, e deflagrada há oito anos com grande apoio institucional da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil. “Nós não endossamos o trabalho destes autores porque são indígenas, mas porque estão fazendo uma literatura de qualidade para as crianças”, diz Beth Serra, presidenta da Fundação.
Doutor em Educação e autor de 43 livros, a maioria dos quais infanto-juvenis, Munduruku, de 47 anos,  editou seu primeiro  livro, Histórias de Índio, em 1996, pela Companhia das Letrinhas, depois de bater em várias portas. Hoje já tem 20 edições.“Lançar livro para criança da cidade com ótica indígena era difícil. Na época, era sempre antropólogo, escritor, historiador que escrevia sobre o índio, que não tinha voz nem vez no mercado editorial”.
De lá para cá, Munduruku já abocanhou vários prêmios nacionais e internacionais, como o “Jabuti” de 2004  pela obra Coisas de índio, da Callis Editora.
Natural de Belém (PA) mas vivendo em Lorena (SP) há mais de 20 anos, Munduruku é formado em Filosofia, com Licenciatura em História e Psicologia. Ele chegou à literatura infanto-juvenil através de suas experiências como professor e educador social de rua da Pastoral do Menor em São Paulo, onde acabava contando as histórias que escutava quando vivia entre seus parentes aldeados.
Para ele, a literatura funciona como “maracá”, o chocalho que é utilizado como instrumento de cura pelos pajés. Acredita-se que dentro dos maracás há uma voz sagrada que é a que os pajés utilizam para conversar com os espíritos que fazem a cura das pessoas que os procuram. A literatura deles teria este componente. “É nosso maracá  para a sociedade brasileira”.  Para ele, esta  geração de escritores indígenas  escreve como uma forma de “curar o Brasil”, ajudando a sociedade “a conhecer sua história e não perder de vista a contribuição que os indígenas oferecem”.
Outro “parente” de Munduruku neste movimento que usa a literatura como “arma de defesa do povo indígena” é  Olívio Jekupé, de 45 anos,que teve que abandonar o curso de Filosofia por dificuldades econômicas. Publicando desde 2001, Jekupe é autor de um total de 11 livros, o mais recente “Tekoa – conhecendo uma aldeia indígena”, pela Editora Global. Jekupé, que vive na aldeia guarani  Krucutu, em São Paulo,  prefere denominar sua literatura de “nativa” e não de “indígena”  para diferenciá-la da literatura que os outros escrevem tendo o índio como objeto. “Ela sai de dentro da gente, do que conhecemos, pois escrever sobre índio não é só escrever, é preciso conhecer e viver essa cultura”.
Relatos orais das velhas gerações indígenas
Para Munduruku foi um acaso eles terem caído no gosto do público infantil. Acabou dando certo. “Não é que a gente escrevesse para crianças, é pelo teor das histórias que a gente conta. A gente recebia essas histórias de forma oral. Caía na nossa memória. E o nosso pessoal foi começando a aprender a escrever”.
Muito do que esta geração de autores indígenas faz é verter para o papel as lendas e histórias dos povos indígenas, repletas de conteúdos éticos e morais, que eram transmitidas oralmente para suas crianças há séculos, com clara função educativa.
Por outro lado, a literatura infanto-juvenil também é mais acessível a eles por serem livros menores e relativamente mais fáceis de escrever. Afinal, esta turma só recentemente está sendo escolarizada  com a preocupação em resguardar sua identidade étnica, ou seja, “sem desprezar sua identidade, desistir de sua história e desacreditar seus sábios”, observa Munduruku.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Delegado é pra soltar - As ideias incendiárias de um policial pacifista



Por Bernado Esteves, da Revista Piauí

No Sábado de Aleluia, um funcionário das Lojas Americanas chegou à 32ª Delegacia de Polícia do Rio, em Jacarepaguá, trazendo uma mulher pelo braço. Ela fora presa em flagrante, tentando roubar um ovo de Páscoa dos grandes, o de número 17. Ambos foram levados à presença de Orlando Zaccone, o delegado de plantão. Ao ouvir o relato do caso, o policial não hesitou: perguntou ao funcionário o valor do ovo, sacou a carteira e ressarciu ali mesmo o prejuízo, dispensando o troco. A mulher passou a Páscoa em liberdade, comendo ovo.

O episódio ilustra os princípios de Zaccone, agora titular da 18ª DP, na Praça da Bandeira. “A função do delegado não é prender”, ele costuma dizer nas aulas que dá num curso de formação de policiais civis. “Dar voz de prisão em caso de flagrante qualquer um pode, como diz o artigo 301 do Código de Processo Penal. A verdadeira função do delegado é soltar”, conclui o raciocínio, para pasmo da audiência.

Para soltar a mulher que roubara o ovo de Páscoa, Zaccone aplicou o princípio da insignificância. “O patrimônio da loja foi ofendido de forma insignificante, então o direito penal não tem que atuar”, explicou o delegado, um moreno sorridente de 47 anos. Ele é um defensor do chamado direito penal minimalista, que procura evitar, sempre nos limites da lei, a repressão e a punição.

Zaccone chamou a atenção da imprensa logo que entrou para a polícia, em 1999. De afogadilho, foi rotulado como o delegado hare krishna, por ser adepto dessa corrente do hinduísmo. Na juventude, chegou a viver numa comunidade de jovens que se vestiam a caráter e seguiam à risca os preceitos da religião, que incluem o vegetarianismo estrito e a proibição de qualquer droga – da cafeína para baixo, nada é permitido.

O delegado continua ligado à religião. Faz parte do conselho administrativo do Movimento Hare Krishna do Rio e frequenta o templo de Itanhangá, na Barra da Tijuca. Mas tente falar de espiritualidade e ele logo trará a conversa de volta para a segurança pública.

As convicções religiosas, garante Zaccone, não se misturam com sua atuação profissional, ainda que ele enxergue uma interseção possível. “O anseio de justiça é o que aproxima os dois campos”, filosofou, enquanto piscava para um subalterno que o aguardava à porta do gabinete, pedindo que esperasse um pouco mais.

Zaccone abespinhou-se com a imagem deixada naquelas primeiras reportagens. “Fui desqualificado como delegado por ser hare krishna e, dentro do movimento, fui condenado pelas minhas ideias.” O que o indispôs com os correligionários foi sua posição liberal em relação às drogas. O delegado é integrante do braço brasileiro do Leap, sigla para Law Enforcement Against Prohibition, movimento que reúne policiais, juízes, desembargadores e agentes penais que denunciam, como afirmam, “a falência das atuais políticas de drogas”.

O Leap defende a legalização ampla – ou seja, não só do consumo das drogas, como também da sua produção e comércio. O delegado faz questão de demarcar a diferença entre a sua posição e a defesa da descriminalização do consumo. “Esse é o campo de atuação do Fernando Henrique e daquela turma toda”, desdenhou. “Mas é uma ingratidão dos usuários quererem ter a liberdade de consumir as drogas enquanto aqueles que as fornecem estão encarcerados ou mortos.”

O gabinete de Zaccone é uma sala apertada no 2º andar da delegacia. Sobre sua mesa, jazem objetos de escritório, dossiês de investigação, dois livros, os jornais do dia e a lista de aniversariantes da 18ª DP no mês de maio. De tempos em tempos, um funcionário entra para pedir sua rubrica num ofício. O delegado trajava terno preto e gravata grená, com nó já frouxo ao fim da tarde.

Apesar das ideias de Zaccone, a DP sob seu comando não foge ao padrão das delegacias do Rio. Ele costuma criticar a polícia por selecionar os crimes passíveis de punição pelo sistema penal. “A maioria dos mais de 500 mil presos no Brasil está detida por não mais de quinze crimes, embora o Código Penal preveja uns 300”, compara. Na 18ª DP não é diferente: as detenções registradas são por roubo, estupro, homicídio e tráfico de drogas. Não há prisões, por exemplo, por prática do aborto, sonegação de impostos ou lavagem de dinheiro.

Da mesma forma, o princípio de insignificância tem pouco impacto nas estatísticas da delegacia. No mês de abril, foram registradas ali dezessete prisões, doze das quais feitas por policiais da própria delegacia. O número é mais que o dobro da meta estipulada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública – cinco presos pela equipe de cada delegacia.

Zaccone sabe que não vai conseguir mudar o mundo sentado em sua cadeira de delegado. “Não é o policial que decideprender só negros e favelados”, ponderou, sem medo de repetir clichês. A atuação da polícia, para ele, apenas reflete a estrutura da sociedade. “Sou só uma engrenagem no sistema, que envolve o Poder Judiciário, o aparato prisional, o discurso midiático punitivo. É todo um modelo de controle social.” A contaminação do vocabulário de Zaccone pelo jargão sociológico não é fortuita. O delegado é um acadêmico. Tem mestrado em ciências penais e está cursando o doutorado em ciência política na Universidade Federal Fluminense. Espera defender sua tese no final de 2012.

Ele enxerga a universidade como válvula de escape, assim como seu envolvimento com o Leap e com a ONG que criou com Marcelo Yuka para promover projetos sociais e culturais junto à população carcerária do Rio. “Se eu ficar somente aqui na delegacia botando a máquina para funcionar, piro”, disse.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Hemingway não é bem assim...

Do Portal Vermelho

Conta a lenda que Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899 nos Estados Unidos, mas não foi na América que ele encontrou seus principais personagens e sua densidade literária. O Hemingway que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura começou a dar sinal de existência em 1921, em Paris, onde o desconhecido Ernest fez a festa e o futuro escritor Hemingway começou a carreira de jornalista.
Escreveu de lá, para a mãe, em fevereiro de 1922: “Paris é tão bonita que satisfaz algo em você que os Estados Unidos deixam sempre com fome."
Seduzido e acompanhado na noite francesa por vinhos, mulheres e autores polêmicos da dimensão de Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald, teve ali, pela primeira vez, acesso aos clássicos e devorou dos russos Tolstoi e Dostoievski aos franceses, como Stendhal. Com a bagagem abarrotada, aprofundou a sensibilidade e conquistou recursos éticos e estéticos para realizar os dois maiores sonhos declarados: ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade a suas vontades e valores.
Dali partiu para muitos livros, casamentos, divórcios, em uma itinerância quase cega pelo mundo. Buscou emoções, como a de tourear na Espanha ou ser correspondente na Primeira Guerra, e paixões impossíveis, como a que protagonizou com a enfermeira italiana, personagem do livro e filme “Adeus às Armas”.
Tudo o que sofregamente viveu de um modo ou outro foi parar nas páginas de seus romances. Não sossegou quando se casou pela terceira vez e foi morar em Cuba, mas lá o talento ganhou reconhecimento mundial: escreveu sua obra-prima, “O velho e o mar”, pela qual recebeu o Prêmio Pulitzer de 1953, e, no ano seguinte, o Nobel de Literatura. Fidel Castro tornou-se um de seus inumeráveis amigos cubanos, com quem partilhava charutos e morritos.
Quando chegou ao Caribe, já havia publicado seus mais conhecidos títulos, como O Sol Também se Levanta (1926), Adeus às Armas (1929), As Verdes Montanhas da África (1935) e Por Quem os Sinos Dobram (1940). Muitos de seus contos e romances foram levados ao cinema. Sucessos hollywoodianos. Quem se importa? Certamente Hemingway não.
E eis que chegamos a 2 de julho de 1961, data da sua morte, oficialmente um suicídio com tiro certeiro de sua arma preferida. Outra lenda? Há um livro recente que defende, ficcionalmente, a tese de que Hemingway não morreu, foi outro. Gabriel García Marquez, quando recebeu a notícia, chegou a duvidar e explicou que tanto o autor quanto seus personagens não pareciam homens que desertavam da vida.
Para contrariar ainda mais a tal morte, ocorrida nos Estados Unidos, sabe-se que o escritor andava dedicado, nos últimos dias, à finalização de três romances, entre eles, “Paris é uma Festa”, que narrava sua alegre mocidade boemia na França.
Um companheiro de aventuras, o cubano Gregório Fuentes -- piloto, imediato, cozinheiro e marinheiro do seu barco, o “Pilar” – ainda achava, 30 anos depois do suicídio, que havia sido assassinato encomendado pelo FBI.
Tudo é possível quando se trata do controvertido Hemingway, de quem não se pode afirmar com certeza se era um apaixonado bon vivant ou um pensador trágico e deprimido.
Para os cubanos, ele nunca morrerá, pode fazer uma aparição a qualquer momento em um dos bares que mais freqüentava, para matar saudade do daiquiri e planejar uma próxima e espetacular aventura.
Nos Estados Unidos, seus fãs lembram seu legado nos chamados "Hemingway Days" no fim de julho, coincidindo com a data de seu nascimento. Neste ano do cinqüentenário da morte, haverá uma série de eventos em Key Westsarau e, inclusive, um sarau de contos promovido por sua neta, a também escritora Lorian Hemingway.
Para quem acha que Hemingway teve uma vida mais interessante que os seus livros, como maldosamente afirmou F. Scott Fitzgerald, García Marquez dá uma lição de moral: “O tempo demonstrará que ele, como escritor menor, comerá muitos escritores grandes, por seu conhecimento das motivações dos homens e dos segredos de seu ofício. Certa vez, numa entrevista, elaborou a melhor definição de sua obra ao compará-la ao iceberg de gigantesco volume de gelo que flutua na superfície: é apenas um oitavo do volume total, e é invencível, graças aos sete oitavos que o sustentam sob a água”
Se ainda há dúvidas, é bom registrar que, após Mark Twain e Jack London, Hemingway é o escritor norte-americano mais traduzido para outros idiomas.

Mais!

Segue trecho do livro no qual o escritor Ernest Hemingway estava trabalhando semanas antes do suicídio. Revivia dias alegres da sua juventude na França. Publicado postumamente em 1964, o livro inspirou muitas gerações de jovens a se tornarem jornalistas.
 
“Eu era muito tímido quando entrei na livraria pela primeira vez, não tendo dinheiro sequer para me inscrever na biblioteca de aluguel. Sylvia me disse que eu podia pagar o depósito quando tivesse dinheiro, preparou o meu cartão e encorajou-me a levar quantos livros quisesse.

Não havia motivo para que ela confiasse em mim dessa maneira. Não me conhecia, e o endereço que lhe dei, rue Cardinal Lemoine, nº 74, não podia ser mais pobre. Mas ela foi cordial, encantadora e amabilíssima. Atrás dela, em toda a altura da parede e estendendo-se para a sala dos fundos, que dava para o pátio interior do edifício, havia estantes e mais estantes carregadas do tesouro da biblioteca.

Comecei com Turgueniev e tomei os dois volumes de A Sportsman's Sketches e um dos primeiros livros de D. H. Lawrence, creio que Filhos e Amantes. Sylvia disse-me que levasse mais livros, se eu quisesse. Escolhi a edição de Guerra e Paz preparada por Constance Garnett, e O Jogador e Outros Contos, de Dostoievski.

- Você não voltará tão cedo se for ler tudo isso, disse Sylvia.

- Voltarei para pagar - respondi - Tenho algum dinheiro no meu apartamento.

- Não me referia a isso - disse ela - Você pagará quando lhe for conveniente.

- Quando é que Joyce costuma vir aqui? , perguntei.

- Quando vem, em geral é no fim da tarde – disse ela. - Você não o conhece pessoalmente?

- Já o vimos no Michaud, comendo com a família - disse eu. - Mas não é delicado olhar as pessoas quando elas estão comendo e, além disso, o Michaud é caro.

- Você costuma comer em casa?

- Agora quase sempre - disse eu. - Temos uma boa cozinheira.

- Não há restaurantes perto de onde você mora, não é?

- Não. Como é que sabe disso? – perguntei.

- Larbaud viveu por ali - disse ela. - Gostava muito do bairro, exceto por isso.

- O lugar mais próximo, onde se pode comer bem e barato, fica além do Panthéon.

- Não conheço esse bairro. Nós também comemos em casa. Você e sua mulher devem aparecer uma noite dessas.

- Espere até ver se eu Ihe pago - disse eu – Mas muito obrigado pelo convite.

- Não leia depressa demais - disse ela.”

terça-feira, 26 de julho de 2011

Centenário revigora originalidade de Marshall McLuhan

 O ensaísta canadense McLuhan, em foto não datada


Do Caderno Ilustrada

A roda é uma extensão do pé, o livro é uma extensão do olho; a roupa, uma extensão da pele, e a internet, uma extensão do cérebro. O canadense Marshall McLuhan, cujo centenário de nascimento se comemorou no dia 21 deste mês, formulou esses axiomas há mais de 40 anos, quando nem sinal havia da rede mundial de computadores.
Criou-a ligeiramente modificada, é verdade: usando no lugar de internet o conceito "circuitação eletrônica" e, no de cérebro, "sistema nervoso central".
Graças às profecias sobre o que seria a evolução dos meios eletrônicos, a partir dos anos 1990 o teórico da comunicação saiu do limbo a que fora relegado na década anterior (após a euforia de sua descoberta nos 60/70), virou de novo pop e foi chamado de "santo padroeiro da internet" pela "Wired".
Os cem anos anos estão aí para ampliar a onda.
A recém-criada Ímã Editorial relança "O Meio É a Massagem", livro-jogo ilustrado, publicado por McLuhan em 1967 em parceria com o designer Quentin Fiori e à época lançado também em LP.
A obra já apontava para fenômenos atualíssimos, como a rediscussão do direito autoral e revoltas populares tonificadas por redes sociais.
Como observa no posfácio o editor e tradutor Julio Silveira, o livro "é um apelo para que as pessoas (...) compreendam que estamos entrando em um novo ambiente, deixando para trás a tecnologia sequencial, especializada e categorizante da imprensa e do livro, e penetrando em um novo ambiente, o de liberdade criativa e informação plena garantidas pela 'circuitação eletrônica'".

AUTISMO
Na América do Norte, foi lançado no fim do ano passado a biografia "You Know Nothing of My Work!" (você não sabe nada sobre a minha obra), de Douglas Coupland (o mesmo de "Geração X"), que incomodou parte da família de McLuhan por associar idiossincrasias do intelectual a tiques autistas.
"McLuhan ficou muito tempo proscrito na academia. Até quem achava que o conhecia já tinha esquecido dele", diz o filósofo Andre Stangl. 
Na internet, é claro, encontra-se material à farta: o documentário "McLuhan's Wake" (com legendas em português em vimeo.com/23890132); leituras musicais de "O Meio É a Massagem" (mcluhan2011.eu/dj-spooky); a página oficial dos herdeiros (marshallmcluhan.com); o perfil no Twitter das atividades brasileiras (@mcluhan100br).
E a cena de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" em que ele surge para dizer que um personagem não conhece nada do trabalho dele (youtube.com/watch?v=OpIYz8tfGjY, em inglês).
E como ele estaria nesse ambiente que vaticinou: seria blogueiro, usaria Twitter, estaria no Facebook? "Marshall não tinha paciência para minúcias. Certamente não blogaria nem tuitaria pessoalmente, provavelmente teria alguém para fazer isso por ele. Facebook? Você deve estar brincando", disse Michael Mc-Luhan, filho do intelectual.

RAIO-X
MARSHALL MCLUHAN


VIDA
Nasceu em 21 julho de 1911, em Edmonton, Canadá. Fez pós-graduação na universidade de Cambridge (Inglaterra) e lecionou nos EUA e no Canadá. Morreu em 1980, em Toronto.

IDEIAS
Formulou teses sobre a influência dos meios de comunicação na sociedade. Criou conceitos como "aldeia global" e "o meio é a mensagem" e frases como "Se funciona, está obsoleto" e "O futuro do livro é a sinopse".

OBRA
"O Meio É a Massagem", "A Galáxia de Gutenberg" e "Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem", entre outros livros.

TRECHO 
"O choque do reconhecimento! Em um ambiente de informação eletrônica, as minorias não podem mais ser contidas -nem ignoradas. Pessoas demais sabem coisas demais umas das outras. Nosso novo ambiente nos compele ao engajamento e à participação. Tornamo-nos inapelavelmente envolvidos, e responsáveis, uns pelos outros." Extraído de "O Meio É a Massagem"

ERRO OU BLAGUE?
TROCADILHO REALÇA TÍTULO DE OBRA

Para alguns, McLuhan fez de propósito, mas, segundo a família do canadense, o título da obra relançada agora no Brasil deve-se a um erro tipográfico: "The Medium Is The Message" [o meio é a mensagem] saiu da gráfica como "The Medium Is The Massage" [massagem]. McLuhan gostou e deixou como estava.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ex-aluna da UEPB está entre os indicados ao 53º Prêmio Jabuti



Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB

A ex-aluna do curso de Direito da Universidade Estadual da Paraíba, Helini Sivini Ferreira, hoje doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), está entre os indicados a disputar o 53º Prêmio Jabuti - maior e mais tradicional prêmio literário nacional.

Ela concorre na categoria Direito com o livro “Biocombustíveis: fonte de energia sustentável?”, organizado em parceria com o professor José Rubens Morato e publicado pela editora Saraiva. 

O livro é resultado de um projeto de pesquisa aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e reúne artigos de especialistas que discutem questões relacionadas ao uso de biocombustíveis como fonte de energia sustentável, tendo como cenário as implicações socioambientais decorrentes do uso constante de combustíveis fósseis, a escassez de recursos naturais e a necessidade de se estabelecer novas estratégias de progresso para as futuras gerações.

Disputam o Prêmio Jabuti apenas obras inéditas, editadas no Brasil, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010. O resultado final será divulgado em 18 de outubro.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Museu da Vida inscreve para concurso de fotografia até o dia 1º de agosto


Da Assessoria do Ministério da Ciência e Tecnologia

Em comemoração ao Ano do ano internacional da Química, o Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), abre as inscrições do concurso "A química através da câmera". Estudantes de 14 a 25 anos podem enviar os trabalhos até o dia 1º de agosto. A promoção faz parte das atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorre de 17 a 23 de outubro. 

O concurso, que é realizado com a participação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT),  Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), inscreve para  duas modalidades:  “A química num instante” e  “A química em movimento”: Na 1ª, cada participante poderá inscrever até três fotos que retratem substâncias, elementos e fenômenos químicos presentes em seu cotidiano. Na segunda modalidade, o participante poderá inscrever um vídeo, em formato digital, com até 1 minuto de duração.

Premiação

O primeiro lugar de cada uma das categorias e modalidades ganhará uma viagem – no caso de menores de idade, com acompanhante – para conhecer espaços de divulgação da ciência no Brasil. O vencedor poderá escolher uma opção entre as alternativas oferecidas: 1) Museu da Vida e Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro 2) Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS e Planetário da UFRGS, em Porto Alegre; 3) Museu Paraense Emilio Goeldi, em Belém; 4) Estação Ciência, Catavento Cultural e Instituto Butantan, em São Paulo. O segundo e o terceiro lugar de cada categoria receberão um kit “Química” com livros e DVD. 

Concurso

A realização do concurso é uma parceria entre o Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Sociedade Brasileira de Química (SBQ), o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Catavento Cultural, o Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), o Ministério da Educação(MEC)  e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) / Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cinema com Farinha terá lançamento de livro e painel sobre o cinema sertanejo



Antecipando a programação do 5° Festival Cinema com Farinha, que acontece em Patos-PB de 04 a 07 de agosto, a organização do evento promoverá no dia 03 do próximo mês um painel sobre a produção cinematográfica sertaneja.

O painel intitulado "O Sertão é lugar de Cinema" acontecerá no auditório das Faculdades Integradas de Patos (FIP) e terá como conferencistas os cineastas João Carlos Beltrão (João Pessoa-PB), Laércio Ferreira (Sousa-PB) e Aurora Miranda Leão (Fortaleza-CE).
Além da participação no painel, a jornalista e cineasta Aurora Miranda Leão lançará o livro "Ensaios de Cinema". De autoria do crítico LG de Miranda Leão, a  obra reúne alguns dos principais ensaios escritos pelo jornalista cearense ao longo de muitas décadas de dedicada inspiração à arte de imortalizar um filme através das reflexões por ele inspiradas.
Nomes como Orson Welles, Stanley Kubrick, Ingmar Bergman, François Truffaut, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, entre tantos outros, são foco da pena do Mestre LG a nos guiar delicada e inteligentemente pelas vastas searas onde se inscrevem as obras destes grandes samurais da alquimia de perceber a vida e adentrar o mundo, através de pontos-de-vista especiais transformados em sabedoria pela magia eterna da Sétima Arte, como diz sua filha e organizadora da obra, a jornalista Aurora Miranda Leão.
"Ensaios de Cinema" vem tendo prestigiados lançamentos em vários festivais do gênero pelo país – a exemplo do Festival Nacional de Cinema de Goiânia, Festival Aruanda de Documentários e Festival de Cinema de Anápolis. E já tem agendadas noites de autógrafos nos festivais de Patos (Cinema com Farinha), Campina Grande (Comunicurtas UEPB), Taquaritinga do Norte (Curta Taquary), Festival de Cinema de Araxá (MG), e VII Curta Canoa (em Canoa Quebrada).

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Espetáculos teatrais são destaque no Festival de Inverno de CG

Musical - Lamartine Babo, do dramaturgo Antunes Filho,  é um dos espetáculos que integram o evento

Da Assessoria do Festival

Dentro da programação do 36º Festival de Inverno de Campina Grande, as apresentações teatrais representam um “show à parte”. Compõem a programação espetáculos de destaque nacional, além de exibições de artistas e espetáculos locais.


Doze Homens e Uma Sentença, sucesso de crítica desde sua estreia em São Paulo no final do ano passado, vem pela primeira vez a Campina Grande. A peça nasceu de um texto escrito por Reginald Rose para a televisão americana em 1954. Em seguida, o autor fez uma adaptação para o cinema. A narrativa é simples. Num final de tarde de muito calor, doze jurados devem decidir se condenam ou não à morte na cadeira elétrica um jovem de 16 anos acusado de assassinar o pai. O espetáculo constrói um rico painel humano de personalidades bem definidas que entram em conflito e foi escolhido como a melhor peça de 2010.

Também faz parte da programação do Festival o musical Lamartine Babo, do dramaturgo Antunes Filho. Um brilhante trabalho do dramaturgo que se caracteriza por sua criatividade. Fórmulas? Ele não as tem, quer descobrir. Talvez Lamartine nos diga alguma coisa, eis o mistério.

A programação teatral ainda traz apresentações de espetáculos locais, além de stand up’s comedy e leituras dramatizadas. O 36º Festival de Inverno de Campina Grande acontece entre os dias 22 e 31 de julho, com apresentações de teatro, dança, cultura popular e música. São palcos das apresentações o Teatro Municipal Severino Cabral, Teatro do Sesc-Centro, Centro de Convenções do Garden Hotel, Praça da Bandeira, entre outros espaços.

 

terça-feira, 19 de julho de 2011

Sesc Centro Campina Grande recebe etapa do Palco Giratório em julho

Da Assessoria do Sesc Centro/CG

No mês de julho, o Sesc Paraíba recebe em Campina Grande o grupo de teatro Armatrux, de Minas Gerais, dentro do Projeto Palco Giratório. O grupo tem mais de 20 anos de trajetória e já encenou mais de 17 espetáculos, além de curtas-metragens, exposições e oficinas relacionadas a bonecos, atuação e técnica em montagem cênica. As ações acontecem na unidade do Sesc Centro na cidade.
 
O elenco  ministrará na sexta-feira (29), a oficina O Ator, o Objeto e a Cena, das 9 às 12h e das 15 às 19h, no Sesc Centro. A oficina pretende abordar elementos do processo criativo do ator, exercícios físicos, jogos teatrais e de percepção, sendo direcionada especialmente a atores e estudantes de teatro. No sábado (30), às 20h, será apresentado o espetáculo No Pirex, onde cinco personagens em volta de uma mesa dão vida a uma história aberta a múltiplas leituras do público.

O Palco Giratório é uma ação coletiva entre o Sesc dos estados, o público, os artistas e os produtores culturais, que se propõem a desenvolver, transformar, propagar e descentralizar as artes cênicas no Brasil. Em Campina Grande, alguns grupos já se apresentaram dentro da Mostra Sesc Curumim de Teatro Infantil – Aldeia Palco Giratório, realizada em abril, a exemplo do Grupo Mão Molenga de Teatro de Bonecos e da Cia Polichinelo, que dentro de seu giro pelo Brasil, trouxeram ao público espetáculos cheios de brilho e magia.

Os próximos espetáculos e oficinas do Palco Giratório em Campina Grande serão realizados no mês de setembro, com a Cia. Amok (RJ), Grupo Imbuaça (SE) e o Grupo Moitará (RJ). Também no mês de outubro haverá apresentação do espetáculo O Evangelho Segundo São Mateus, da Delírio Cia de Teatro, do Paraná.

O projeto Palco Giratório é uma realização do Sesc Paraíba em parceria com o Departamento Nacional do Sesc. O objetivo dessa iniciativa, criada em 1998, é fazer circular por todo o país espetáculos de teatro, dança e música das mais variadas regiões e estilos. Mais informações podem ser obtidas no setor de cultura do Sesc Centro Campina Grande, que fica localizado na Rua Giló Guedes, 650, Santo Antônio, ou através do telefone (83) 3341-5800.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Aluno da UEPB participa de espetáculo “Sábado Tem Muganga”



Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

Sentindo a necessidade de encenar novos estilos teatrais, os atores Ana Célia Dias, Fabrício Santana (aluno de Jornalismo da UEPB) e Ricardo Allysson, decidiram se reunir para criar o “Sábado Tem Munganga”, espetáculo encenado no gênero stand-up comedy, surgido nos Estados Unidos e que se tornou popular a partir da década de 1940. Esse foi o primeiro passo para que a trupe desse vida ao grupo “Os Infames”, que tem como objetivo levar ao público humor de qualidade, sem apelação ou escatologia, tendo em vista que é notória a carência de tais produções na cidade de Campina Grande.
Satirizando as mais diversas situações do cotidiano, o “Sábado Tem Munganga” se passa no bar “O Mastigado da Jumenta”, local onde os amigos se encontram para uma descontraída conversa, parodiando e criticando de forma perspicaz os atuais padrões sociais, políticos e culturais. Diferentemente do stand-up comedy original, um ator invade a apresentação do outro, onde o famoso ‘pitaco’ é uma constante, tornando ainda mais dinâmica a performance de cada ator. Assim, a direção e o texto são de caráter coletivo.
O espetáculo teve sua estreia em 28 de maio de 2011, no miniteatro Paulo Pontes, em Campina, conquistando um público modesto, porém, bastante exigente, obtendo grande êxito. O “Sábado Tem Munganga”, traz um novo episódio a cada apresentação, interpretando os mais variados temas. 

Os atores

Ana Célia Dias - Sua carreira artística começou com a música, mas como toda grande intérprete, Ana Célia sentia a veia das artes cênicas pulsar forte. Daí a enveredar pelos caminhos do Teatro, foi apenas uma questão de tempo. Em 2001 foi convidada a integrar o elenco do “Grupo de Teatro Heureca”, inicialmente como preparadora vocal. A convivência com os atores despertou seu talento para a atuação. Como atriz e cantora do espetáculo “Zé Miséria, Deus e o Diabo”, ela aperfeiçoou sua técnica. Atualmente, canta na noite campinense, nos mais badalados bares da cidade, mostrando que é uma artista versátil e sem limitações.

Fabrício Santana - Da nova geração de atores de Campina Grande, Fabrício vem se destacando por sua irreverência e forma de expressão. Sua primeira experiência com o Teatro foi no histórico grupo “Quem Tem Boca é Pra Gritar”, dirigido por Humberto Lopes. Traz na bagagem espetáculos com grande sucesso de público, a exemplo de “Deu a Louca na TV”, “A Vingança das Domésticas” e “Homo Erectus”. Fabrício desenvolveu ainda trabalhos de animação em empresas paraibanas, além de ter feito diversos comerciais para TV. Recentemente, enveredou também pelo audiovisual e dirigiu “As voltas do mundo”, curta selecionado no projeto nacional “Revelando os Brasis”.

Ricardo Allysson - Antes de ingressar nos palcos campinenses, Ricardo já lidava com o púbico, desfilando para várias agências de modelo da cidade. Dirigido por Lourdes Capozzoli - uma veterana do teatro - que extraiu dele uma interpretação natural, que o fez sobressair-se no espetáculo “Juruparí - A Guerra dos Sexos”. Posteriormente foi convidado para compor o elenco de diversas companhias teatrais. Na pele do rei Herodes, Ricardo se destacou no “Presépio Vivo de Natal”, mostrando que era capaz de encarar qualquer papel.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A encruzilhada da escola historiográfica - A Nova História

Pilar - O historiador Carlo Ginzburg, um dos mais famosos adeptos da corrente,  insiste que cada vez mais é preciso retomar o caráter analítico da história

Por Eleonora de Lucena, da Ilustríssima

RESUMO
A antologia "Nova História em Perspectiva" retraça a evolução da corrente historiográfica formatada na esteira da crise de 29, desde a busca da "história total" até o flerte com um viés narrativo. Em entrevista, os organizadores apontam os limites da tendência e opinam sobre o ensino de história no país.

ESCREVER HISTÓRIA com foco em datas e homens. Ou nos grandes movimentos em torno do poder e da luta de classes. Ou em torno das migalhas do cotidiano, dos amores e dos humores. Nas entrelinhas de cada maneira de trabalhar a história há um pensamento, uma teoria, um debate acadêmico, político, científico, ideológico -todos encharcados de história.
Na esteira da crise global de 1929, formou-se, em torno de nomes como Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956), uma escola de historiadores batizada de "Annales", por causa da publicação que editavam na França. Porosa às emergentes ciências sociais, a "nova história" se contrapunha ao positivismo, à história como gênero literário, e consagrou uma dimensão analítica.
A partir daí, vieram nomes como Fernand Braudel (1902-1985) e Jacques Le Goff. A escola tornou-se hegemônica na academia e nas escolas. Ganhou o mundo. Ao longo do tempo, transformou-se e ruminou contradições. Mais recentemente, cristalizou-se em torno de uma abordagem mais narrativa, menos explicativa, fixando-se em temas pontuais e abandonando a "história total" de suas origens. Bateu de frente com o marxismo.
Para tratar da história dessa história, Fernando Antonio Novais, 77, e Rogério Forastieri da Silva, 64, lançaram recentemente "Nova História em Perspectiva". O livro é uma antologia de textos que embasaram essa corrente em suas diversas fases. Para apresentar a coletânea, os organizadores -"historiadores marxistas, na periferia do capitalismo", como se definem- produziram uma densa introdução. Nela, cuidam da tensão entre materialismo histórico e "nova história" no desenrolar do tempo. Discutem os limites da "história em migalhas" e os impasses do marxismo, identificando transformações mais recentes. Tratam especialmente dos contextos desses movimentos e do debate teórico em torno do fazer história.
Na obra, 20 autores (como Braudel, Le Goff, Carlo Ginzburg e Paul Veyne) se debruçam sobre seus métodos, dilemas e escolhas. Haverá um segundo volume com novos nomes do grupo. Um terceiro, só com autores brasileiros, está em projeto. Novais e Forastieri falaram à Ilustríssima sobre o livro.

Eleonora de Lucena - O que é a "nova história"?
Fernando Novais - É a tendência dominante entre os historiadores no mundo. Nasceu na França em 1929, com a fundação da revista "Annales". Passa a dominar na segunda metade do século 20. Resolvemos nos posicionar sobre isso. É como falar para um economista brasileiro se posicionar entre monetaristas e estruturalistas.
Rogério Forastieri - O trabalho diz respeito a um setor específico da história: a historiografia, a história da história. Quem cursou história ouviu que a nova história é a melhor coisa que se produziu. Que antes havia uma coisa perigosa, execrável chamada positivismo. Procuramos situar esse movimento do ponto de vista da historiografia e tratar desse debate.

O livro mostra que, em sua primeira fase, a nova história dialogou com as ciências humanas, especialmente com a sociologia. Depois, convocou a economia, conversando mais com o marxismo e sendo mais analítica. Na terceira fase, a atual, a antropologia tem mais peso. É mais narrativa, com menos contexto, uma "história em migalhas". Qual o desenrolar dessa história com a crise atual?
Novais - A antologia pretende apresentar textos das formulações, dos desdobramentos e dos questionamentos. A novidade é examinar isso dentro da história geral da historiografia. A história da historiografia normalmente é considerada de duas maneiras: a tradicional e a moderna. A historiografia moderna é científica; a tradicional, não. Ser científico é ser explicativo. A outra era apenas narrativa. É como se a historiografia moderna não tivesse nada a ver com a tradicional. O nosso ponto de vista é que tem.
Não é só uma distinção temporal. É que a história moderna dialoga com as ciências sociais. A tradicional não dialogava por um motivo muito simples: não existiam as ciências sociais.
A historiografia anterior ao século 19 entendia que se reconstitui a vida diretamente pelos registros, pelos documentos. A moderna não diz o contrário. É preciso ter documentos. Mas diz que, para reconstituir, é preciso explicar. O historiador explica para reconstituir; o cientista, qualquer que seja, reconstitui para explicar. Essa é a diferença. A "nova história" acentuou o lado não analítico, o lado narrativo, esmigalhado.
Forastieri - Tem um autor que fala que é um positivismo arejado.

Isso perdura? Há alguma mudança?
Forastieri - Uma das poucas coisas que a prática da historiografia ensina é a não fazer previsões. É a crise dos paradigmas, não só na história, mas na ciência em geral -até nas ciências exatas.

O sr. poderia explicar a crise dos paradigmas?
Novais - A crise dos paradigmas é a crise da ciência, quando conceitos mais gerais foram abandonados. É a crise do estruturalismo. Em história, o que mudou? Foi uma mudança de assunto. Em vez de estudar Estados, estruturas, produção, consumo e poder, a história passou a estudar os modos de sentir, os amores e os humores. As obras ficaram mais bonitas.
Nós nos perguntamos quais são as implicações disso. Nas ciências humanas, houve uma mudança de conceitos. Na economia, por exemplo, em vez de estudar desenvolvimento e subdesenvolvimento, passaram a estudar ciclos. Passou do macro para o micro. Nas ciências sociais, houve uma mudança de conceitos. Na história, houve o abandono desses conceitos, uma desconceitualização -que é a característica da "nova história".
Mas está mudando. Os debates da terceira parte do segundo volume mostram isso. Um grande historiador como Carlo Ginzburg, um pilar da "nova história", ultimamente insiste que cada vez mais é preciso retomar o caráter analítico da história. Tem que haver um equilíbrio entre narração e análise. História profissional é mais complicado. Todo mundo acha que sabe de história. Pior, todo mundo acha que pode fazer história.

Como os srs. veem o fato de muitos livros de história que vendem bem não serem de historiadores?
Novais - E não são livros de história. O mercado tem as suas leis. Se perguntar para o mercado quem é bom, Guimarães Rosa ou Paulo Coelho, a resposta será Paulo Coelho. Quem mais imagina que pode fazer história são os jornalistas. Não tenho nada contra eles. A divergência é em relação a conceitos, não a pessoas.

Mas esses livros são malfeitos?
Novais - Alguns são, outros não. Outros são muito bem-feitos. Nenhum é livro de história. Porque, para fazer história, tem que ser profissional. Tem que conhecer história, não só do assunto que se está estudando. História é situar uma coisa no tempo. Precisa conhecer o tempo. Em história, o último livro não é necessariamente o melhor.

Como avaliam a qualidade dos livros didáticos e a maneira como se ensina história hoje no Brasil?
Novais - Acho que a "nova história", descontextualizante, acabou tendo efeito no livro didático e no ensino secundário. Minha neta de dez anos me disse que começou a estudar a escravidão vendo a escravidão hoje. Fazem história de trás para frente, ao contrário. Isso para mim é uma maluquice.

Não é uma questão de atração?

Novais - A influência da "nova história" na maneira pela qual se ensina foi maléfica. Contrariando a expectativa dos autores -que achavam que esse sistema de estudar os amores, os humores iria chamar a atenção-, tenho a impressão de que o prestígio da história entre a moçada não é tão grande como era antes.
Falavam que era só "decoreba" e que o aluno não gostava. Mas podia ensinar história sem grandes decorações. Também não se deve dizer que não precisa saber as datas. Isso deve ser sabido. Memória é importantíssima para o conhecimento histórico e para a vida.
Noto um desprestígio. Faço revisão na Fundação Carlos Chagas [que prepara provas de vestibular e concursos de admissão] há anos. O número de questões de história diminuiu em todos os testes.
Forastieri - A história lida com uma das dimensões fundamentais da existência humana: a temporalidade. A história está preocupada com a reconstrução dos eventos. O evento é importante. O grande problema -e sobre o qual a "nova história" teve responsabilidade- é a negação de que existe uma estrutura subjacente, [o discurso de] que a estrutura é uma camisa-de-força. O grande problema é a opção pelo voo curto. Não é tanto o fato de estudar especificamente uma coisa ou outra. Acho legítimo. Mas é preciso mostrar que existe um nexo entre evento e estrutura.


Vocês não se consideram adeptos da nova história. São historiadores marxistas.
Novais - De um certo marxismo. No texto, procuramos situar duas coisas: a formulação teórica do materialismo histórico, dos clássicos, e depois como é que fica a historiografia que se inspira no materialismo histórico diante dessa periodização da história geral. Na crise dos paradigmas, a "nova história" aparece como sendo a derrota do comunismo e do marxismo. É bom pensar o seguinte: a crise atual mostra que quem tinha razão? Segundo a economia clássica, o mercado resolve as coisas. Parece que não aconteceu assim.

A crise trouxe de volta o marxismo?
Novais - [O crítico literário] Roberto Schwarz, há algum tempo, fez uma observação muito boa: se o capitalismo está vitorioso, isso vai exigir a volta de Marx. Porque até os conservadores confessam que quem entende de capitalismo é Marx. Sabem que Marx dizia que ia ter crise; eles diziam que não ia ter crise. Mas a crise do capitalismo está na primeira página dos jornais.

Qual a posição dos senhores sobre o sigilo de documentos?
Novais - O ideal é que todo documento seja público, e o historiador tenha acesso. Mas é preciso um mínimo de realismo: não vai ser assim em parte alguma. Vai ter limitação. Mas tem que ser mínima e para um tipo de documento. Quem vai saber se o documento é muito confidencial? Não pode ser o governo. Tem que ter representantes da sociedade que definam isso: quais documentos e por quanto tempo [serão confidenciais].

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O fim da Literatura???

Fim do Romance - O poeta francês Paul Valéry foi dos primeiros a falar no luto literário

Por Leyla Perrone-Moisés, da Revista Vida e Cultura

RESUMO
O epitáfio da literatura moderna vem sendo esboçado há mais de um século por um sem-fim de escritores. O silêncio da crítica e a repaginação do ensino da matéria na escola concorrem para a "causa mortis". Ocorre que, ao se voltarem a ela em citações ou pastiches, autores contemporâneos lhe injetam fôlego renovado.

A LITERATURA ACABOU. Pelo menos, é o que foi anunciado há mais de um século e tem sido repetido desde então, com uma insistência cansativa. Talvez o primeiro a anunciá-lo tenha sido Rimbaud. Em 1879, ele respondeu ao amigo Delahaye: "Não me interesso mais por isso." "Isso" era a poesia, a literatura.
Ao longo do século 20, grandes teóricos falaram do fim da literatura. Valéry declarou o fim do romance quando disse que não se podia mais escrever "A marquesa saiu às cinco horas". Sartre, em 1948, terminava seu "O Que É a Literatura?" com uma advertência: "Nada nos garante que a literatura seja imortal [...] O mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem".
Maurice Blanchot mergulhou a fundo na questão e concluiu, em 1959: "A literatura vai em direção a ela mesma, em direção à sua essência, que é o desaparecimento". E Roland Barthes, em seu último curso, de 1979, lamentava: "Algo ronda a nossa história: a morte da literatura".
Os títulos de vários ensaios editados na última década falam por si: "Os Fins da Literatura" (B. Levinson, 2001); "O Último Escritor" e "Desencanto da Literatura" (R. Millet, 2005 e 2007); "O Adeus à Literatura. História de uma Desvalorização, do Século 18 ao 20" (W. Marx, 2005); "O Último Leitor" (R. Piglia, 2006); "O Silêncio dos Livros" (G. Steiner, 2006); "Literatura para Quê?" (A. Compagnon, 2007); "A Literatura em Perigo" (T. Todorov, 2007).

CRÍTICOS SE CALARAM Quando se fala do fim da literatura, trata-se do fim de um tipo de literatura: aquela da modernidade. É evidente que algo mudou, e muito, na esfera literária. Os leitores talvez tenham mudado mais do que os escritores. As novas gerações não querem mais ler aquilo que os teóricos do século 20 chamavam de literatura. Por falta de critérios estáveis de avaliação, os críticos literários calaram-se, perderam espaço e prestígio. A disciplina chamada "literatura" desapareceu no ensino secundário, em que se tornou "comunicação e expressão"; na universidade, deu lugar a "estudos culturais".
A literatura se tornou coisa do passado. Mas como?, dirão os leitores. Nunca se publicou tanta ficção e tanta poesia quanto agora.
Nunca houve tantas feiras de livros, tantos prêmios, tantos eventos literários. Nunca os escritores foram tão midiatizados, tão internacionalmente conhecidos e festejados. Fica claro, então, que, quando se fala do fim da literatura, não estamos falando da mesma coisa.
Ora, nenhum teórico jamais conseguiu definir exatamente o que é (ou não é) literatura. Até o século 18, literatura era o conjunto das obras escritas, em qualquer gênero. Foi somente a partir do romantismo que ela passou a ter o sentido que, em parte, tem ainda hoje: textos escritos numa linguagem particular, que interrogam e desvendam o homem e o mundo de maneira aprofundada, complexa, surpreendente. Atualmente, a imensa maioria dos livros mais lidos no mundo não corresponde a essa definição. Vejam-se as listas dos mais vendidos.

LITERATURA PÓSTUMA O que aconteceu? A situação em que se encontra hoje a literatura não é a de uma ruptura, como a ocorrida entre o classicismo e o romantismo. Não se trata de uma simples oposição ao que havia antes. Boa parte da literatura atual vive da referência àquela que a precedeu, a da modernidade, que nela sobrevive na forma de citação, alusão, pastiche ou intertextualidade.
Sua própria designação, literatura pós-moderna, a amarra à anterior. É uma literatura póstuma, uma literatura do adeus.
Um subgênero surgido nos anos 1980 e ainda próspero é o do romance que ficcionaliza a vida dos escritores da alta modernidade.
Para citar apenas alguns entre dezenas de romances desse tipo: Dostoiévski foi ficcionalizado por Leonid Tsípkin ("Verão em Baden-Baden", 1981) e por J. M. Coetzee ("O Mestre de Petersburgo", 1994); Fernando Pessoa se transformou em personagem de José Saramago ("O Ano da Morte de Ricardo Reis", 1984) e de Antonio Tabucchi ("Réquiem", 1992, "Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa", 1994); Rimbaud voltou à cena nas obras de Dominique Noguez ("Os Três Rimbaud", 1986), Pierre Michon ("Rimbaud, o Filho", 1991) e J.M.G. Le Clézio ("A Quarentena", 1995); Henry James é o herói de Colm Tóibin ("O Mestre", 2004) e de David Lodge ("Autor, Autor", 2004); depois de ser personagem de Fédorovski e de Ken Kalfus, Tolstói ganhou sua última personificação na obra de Jay Parini ("A Última Estação: Os Momentos Finais de Tolstói", 2010).
Essa lista contém romancistas internacionais de renome, alguns deles premiados com o Nobel, o que dá testemunho da importância do subgênero. Os fantasmas modernos continuam assombrando seus herdeiros. Metafórica e literalmente, pois nesses romances os espectros são numerosos.

METALITERATURA Por falar em fantasmas, acaba de ser publicado mais um livro que pode entrar na categoria do "adeus à literatura": "Dublinesca", de Enrique Vila-Matas [trad. José Rubens Siqueira]. O escritor catalão já vem praticando há tempos um gênero misto de romance, diário e ensaio literário que tem sido chamado de metaliterário.
Em "Bartleby e Companhia" (2000), ele tratava de uma série de escritores atingidos pelo "mal de Bartleby", isto é, escritores que preferiram não escrever, que abandonaram a literatura ou não escreveram obra alguma. Em "O Mal de Montano" (2002), ele narrava as aventuras e desventuras de pessoas que confundem a vida com a literatura. Em "Doutor Pasavento" (2006), encontramos intelectuais cuja única aspiração é desaparecer.
"Dublinesca" prossegue na mesma via ultraliterária, com a diferença de que agora o herói da ficção não é um escritor, mas um editor aposentado que sofre ao mesmo tempo com seu envelhecimento pessoal e com o desaparecimento dos grandes escritores, dos editores de boa literatura e dos leitores à altura desses livros.
O tema central do romance é o "réquiem pela era de Gutenberg": a ausência de Deus, a obsolescência dos livros, a morte da literatura. Nada melhor para selar esse apocalipse do que uma viagem a Dublin, com amigos igualmente fanáticos por literatura, para comemorar o "Bloomsday" numa cerimônia realizada no cemitério descrito por Joyce em "Ulisses".
Vários espectros assombram a personagem: familiares, conhecidos e desconhecidos, escritores mortos ou virtuais. Joyce é, naturalmente, o principal; mas há também um jovem que surge e some na bruma -e que se parece com Beckett. Numa entrevista, o romancista explicou que se trata da passagem de uma época de epifania, representada por Joyce, a uma época de afonia, encarnada pelo outro, isto é, "a decadência de certa forma de entender a literatura".

HUMOR REFINADO Com essa temática tão especializada e obsessiva, o surpreendente é que Vila-Matas tem tido excelente recepção, tanto da parte da crítica especializada quanto da de seus numerosos leitores. Isso acontece porque mesmo aqueles que não têm um repertório de leituras tão vasto quanto o do autor nem perdem o sono pensando no fim da literatura são seduzidos por suas extravagantes personagens, por uma trama cheia de suspenses, por um humor refinado que se sobrepõe, com delicadeza, a experiências dramáticas.
Aparentemente apocalíptico, Vila-Matas não é, entretanto, pessimista. No fim de "Dublinesca", salva-se o deprimido editor e reaparece o autor. A um entrevistador do "El País" que lhe perguntava como explicaria seu romance a um leigo, ele respondeu: "Eu lhe diria que trata de alguém muito acabado, que deseja celebrar o funeral do mundo e descobre que isso, paradoxalmente, é o que permite ter um futuro na vida". O velho Freud estaria de acordo.
O trabalho de luto ainda está em curso. Em seu recente romance, "Se Um de Nós Dois Morrer" [Alfaguara, ], Paulo Roberto Pires cria uma personagem afetada pela "síndrome de Vila-Matas". Naturalmente, a história inclui cemitérios e defuntos, agora reduzidos a cinzas: "Em poucas gerações não haverá nada, nadinha a cultuar" (p. 50).
O adeus à literatura não é, evidentemente, o único tema dos escritores atuais. Mas, por enquanto, tem dado a ela surpreendente sobrevida.

A situação em que se encontra hoje a literatura não é a de uma ruptura. Não se trata de uma simples oposição ao que havia antes

Segundo Vila-Matas, "Dublinesca" flagra a passagem de uma época de epifania, representada por Joyce, a uma época de afonia, encarnada por Beckett

Quando se fala do fim da literatura, trata-se do fim de um tipo de literatura: a da modernidade. É evidente que algo mudou

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Seu Jorge e a redefinição da imagem do país


Por Thales de Menezes, do Caderno Ilustrada

Seu Jorge é hoje o mais internacional dos artistas brasileiros. Faz mais shows no exterior do que no país, recebe um convite para cinema atrás do outro, canta com Ivete Sangalo em Nova York e com o U2 no Morumbi.
Acaba de lançar o álbum "Músicas para Churrasco Vol. 1", início de uma trilogia.
Como todos os seus CDs, terá mais resenhas na imprensa estrangeira do que por aqui. "Almaz", trabalho anterior, foi um disco sofisticado, feito com integrantes da Nação Zumbi e lançado primeiro fora do Brasil. Agora, com o novo álbum, deve retomar -e talvez aumentar- a popularidade conquistada com seus hits, como "Burguesinha".
Aos 41 anos, Seu Jorge vê o Brasil com otimismo e insere a música -não só a dele- num momento de redefinição da imagem do país.
Thales de Menezes - Do que o Brasil precisa?
Seu Jorge - Há uma nova geografia de poder no mundo. Temos tudo para sentar na cadeira das decisões. Na arte, no esporte, não pode ser diferente.
Só precisamos de um trabalho melhor da gestão federal com o privado para gerir esse desenvolvimento. E a educação está no centro.
Aqui, jogador de futebol ficou lá no ensino fundamental e ganha cem mil por mês. Então, até o pai dele fala: "Estudar pra quê?". O cara ganha mais do que a árvore genealógica dele inteira.
Educação tem que ser discutida todo dia no jantar. Que nem novela. A gente não sabe tudo sobre os personagens? O interesse pela educação deveria ser nesse nível.


Depois do "Almaz", quis voltar à canção popular?
Eu senti que existia uma demanda reprimida por um gênero específico, e esse gênero era eu.
Essa música negroide, despojada, popular, algo que já tinha acontecido com o "América Brasil", meu disco de 2007. "Burguesinha" e "Mina do Condomínio" se tornaram muito populares. Inventei o nome "Músicas para Churrasco" e, então, criei uns personagens...

O nome veio antes?
Sim, depois as canções, em uns 30 dias. Foram surgindo esses personagens e fui amadurecendo as figuras.

Esse "Vol. 1" é para valer?
São três volumes, quero contar historinhas e evoluir os personagens numa trilogia. Tenho a ideia de fazer uma comédia depois dos discos. Não sei se exatamente um musical, mas uma comédia pontuada por canções.

Seu público está cada vez maior. Quem faz parte dele?
Tem de tudo, mas chegou uma nova classe C, um público ávido por coisas novas. Eu tenho muito contato com esse público e acredito que eles me acham muito semelhante a eles, como Alexandre Pires ou Exaltasamba.
A sensação que eu tenho é que, em algumas situações, a minha música é muito popular e, em outras, é bem sofisticada. Não sei bem o que é, mas eu estou muito feliz e confiante com a transição.

E a carreira no cinema?
Recebo muitos convites. Mas agora é um momento da música, levou um tempo para "repatriar" meus músicos.
Parei para "Tropa de Elite 2" e "Almaz", e eles tiveram que fazer outras coisas porque as contas chegam no fim do mês. Então é sacanagem reunir a turma só para gravar. Por um tempo, fiz uma opção clara pela música.

Você nunca pensou em morar em outro país?
Não, porque eu já entendo bastante de tristeza, vi muita lá fora. Não tenho agente por lá. Trato tudo daqui, com a minha Cafuné Produções.
Parte do público estrangeiro me conheceu como ator para depois ver que eu também fazia música. No Brasil, não há tanto essa cultura de artistas que se expressam em diferentes áreas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Indústria cultural da felicidade

Por Marcia Tiburi, da Revista Cult

Tornou-se perigoso o emprego da palavra felicidade desde seu mau uso pelas publicações de autoajuda e pela propaganda. Os que se negam a usá-la acreditam liberar os demais dos desvios das falsas necessidades, das bugigangas que se podem comprar em shoppings grã-finos ou em camelôs na beira da calçada, que, juntos, sustentam a indústria cultural da felicidade à qual foi reduzido o que, antes, era o ideal ético de uma vida justa.
A felicidade sempre foi mais do que essa ideia de plástico. Tirá-la da cena hoje é dar vitória antes do tempo ao instinto de morte que gerencia a agonia consumidora do capitalismo. Por isso, para não jogar fora a felicidade como signo da busca humana por uma vida decente e justa, é preciso hoje separar duas formas de felicidade: uma felicidade publicitária e uma felicidade filosófica.
A felicidade filosófica é a felicidade da eudaimonia, que desde os gregos significa a ideia da vida justa em que a interioridade individual e as necessidades da vida exterior entrariam em harmonia. Felicidade era o nome dado ao sentido da pensante existência humana. Estado natural do pensamento reflexivo, ela seria o oposto da alienação em relação a si mesmo, ao outro, à história e à natureza.
Condição natural dos filósofos, a felicidade seria, no seu ápice, o prazer da reflexão que ultrapassa qualquer contentamento.

Sacralização do consumo
A ausência de pensamento característica de nossos dias define a falta de lucidez sobre a ação. Infelicidade poderia ser o nome próprio desse novo estado da alma humana que se perdeu de si ao perder-se do sentido do que está a fazer. Desespero é um termo ainda mais agudo quando se trata da perda do sentido das ações pela perda da capacidade de reflexão sobre o que se faz.
Sem pensamento que oriente lucidamente ações, é fácil se deixar levar pelos discursos prontos que prometem “felicidade”. Perdida a capacidade de diálogo que depende da faculdade do pensamento, as pessoas confiam cada vez mais em verdades preestabelecidas, seja pela igreja ou pela propaganda – a qual constitui sua versão pseudossecularizada.
A propaganda vive do ritual de sacralização de bugigangas no lugar de relíquias, e o consumidor é o novo fiel. Nada de novo em dizer que o consumismo é a crença na igreja do capitalismo. E que o novo material dos ídolos é o plástico.
Tudo isso pode fazer parecer que a felicidade foi profanada para entrar na ordem democrática em que ela é acessível a todos. O sistema é cínico, pois, banalizando a felicidade na propaganda de margarina, em que se vende a “família feliz”, ou de carro, em que se vende o status e certa ideia de poder, a torna intangível pela ilusão de tangibilidade.
Sacralizar, sabemos, é o ato de tornar inacessível, de separar, de retirar do contato. Na verdade, o que se promove na propaganda é uma nova sacralização da felicidade pela pronta imagem plastificada que, enchendo os olhos, invade o espírito ou o que sobrou dele. A felicidade capitalista é a morte da felicidade por plastificação.
Fora disso, a felicidade filosófica é da ordem da promessa a ser realizada a cada ato em que a aliança entre pensamento e ação é sustentada. Ela envolve uma compreensão do futuro, não como ficção científica, mas como lugar da vida justa que se constrói no tempo presente.
A felicidade publicitária apresenta-se como mágica dos gadgets eletrônicos que se acionam com um toque, dos “amigos” virtuais que não passam de má ficção. A felicidade publicitária está ao alcance dos dedos e não promete um depois. Ilude que não há morte e com isso dispensa do futuro. Resulta disso a massa de “desesperados” trafegando como zumbis nos shoppings e nas farmácias do país em busca de alento.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cazuza, o poeta rebelde do rock brasileiro

Por Marcos Aurélio Ruy*, do Portal Vermelho

Este mês, mais especificamente no último dia 04, fez 21 anos que Agenor de Miranda Araújo Neto morreu, mas o seu codinome Cazuza continua vivo nas canções que tão bem representam a rebeldia juvenil dos anos 1980 e ainda hoje faz parte do nosso show.
 
Falar da morte de alguém sempre é doloroso, mas no caso de artistas, escritores e outras importantes personalidades, relembrar suas criações é importante para registrar um momento histórico do país. É o caso do compositor, poeta e cantor Cazuza.

Nascido em abril de 1958, no Rio de Janeiro, ele se tornaria um dos grandes nomes da música popular brasileira. Juntamente com o Barão Vermelho - banda de Cazuza - surgiram os Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, entre outras bandas que conquistaram o público jovem, principalmente, por tratarem de temas próprios dessa faixa etária de brasileiros.

Ao lado de grandes como Renato Russo (Legião Urbana), Arnaldo Antunes (Titãs), Herbert Vianna (Paralamas), Cazuza foi chamado de o “poeta do rock brasileiro”. Iniciou sua carreira profissional como vocalista do Barão Vermelho em 1982. Com o Barão faria uma de suas canções marcantes: “Pro dia Nascer Feliz”, em que dizia “estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz”, antecipando-se ao período final da ditadura fascista (1964-1985).

“O Brasil saía de um longo ciclo ditatorial e vivia um clima de democracia ainda incipiente, mas suficiente para liberar as energias contidas. Cazuza desempenhou um papel importante nesse processo. E quando as misérias e mazelas nacionais foram se desnudando, ele respondeu sem meias palavras”, diz o site www.cazuza.com.br. Por coincidência, Cazuza parte para a carreira solo em 1985, quando acaba a ditadura.

Filho de classe média, inclusive com o pai presidente da gravadora Som Livre, atualmente pertencente às organizações Globo, poderia seguir a trilha do pop-rock comercial como muitos fizeram, mas dirigiu-se pelo caminho da contestação e destilou sua rebeldia, sob influência da guitarra inovadora do rock de Jimi Hendrix, pela voz rouca bluezística de Janis Joplin, pelo som meio inconseqüente dos Rolling Stones, mas também por grandes autores da MPB, como Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, de Dolores Duran, Maysa, Caetano Velos, Gilberto Gil, Rita Lee, entre outros. Mas o seu grande ídolo também se chamava Agenor, de codinome Cartola.

Irreverência inteligente

Incentivado pelo pai, ingressou no curso de Comunicação, mas permaneceu no curso apenas um mês, já antevendo o que se tornaria nossa mídia convencional. Cazuza mostrou irreverência por onde passou e em suas poesias e com um som misturado que chegou ao samba-rock “Brasil”, dizia: “Não me sortearam/A garota do Fantástico/Não me subornaram/Será que é o meu fim?/Ver TV a cores/Na taba de um índio/Programada/Pra só dizer ‘sim’, ‘sim’”, mostrando sua verve ácida que ganhou contornos mais nítidos na música “Burguesia”, ao afirmar que “a burguesia fede”, fede a perfume francês importado e caríssimo ,e conclui: “enquanto houver burguesia não vai haver poesia”.

A obra de Cazuza permanece viva em canções de fino trato, com poesias e melodias criadas com espontaneidade, mas crítico, com uma visão de mundo específica, mas também social, os anseios de uma juventude que se via livre das amarras de uma ditadura e iniciava seus passos para a vida em liberdade. Suas canções estão presentes na trilha sonora de todos que sonham com vida digna para as pessoas. Canções como “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, “Maior Abandonado”, “Bete Balanço”, “Codinome Beija-flor”, “Ideologia”, “O Tempo Não Para”, “Faz Parte do Meu Show”, “Vida Louca Vida” estão na história da MPB.

Bissexual assumido, toxicômano, Cazuza morreu vítima do vírus HIV, pesando menos de 38 quilos em 7 de julho de 1990. Deixou um legado fundamental em qualquer discografia da MPB. Para a cineasta Sandra Werneck, “Cazuza era um homem apaixonado pela vida. Com ela, nutria sua poesia. E, com sua poesia, se entregava ao amor.” As músicas de Cazuza tornaram-se hinos de uma juventude que sonha com uma vida menos desigual.

*Colaborou Fernanda de Sousa Coelho Ruy

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cultura no Brejo da Paraíba com "Caminhos do Frio"

Tradição - Terceiro mais antigo do Estado, teatro de Alagoa Grande receberá parte da programação


Da Assessoria do Sebrae/PB

Dentro do calendário das principais atrações turísticas e culturais da Paraíba, o ‘Caminhos do Frio - Rota Cultural’ chega à 5ª edição em 2011. Com data definida para início em 18 de julho na cidade de Areia, o circuito passará  cada semana por um das seis cidades do Brejo participantes com programações que incluem passeios, oficinas, shows e apresentações movimentando os municípios. A Rota 2011 fechará a grade de atrações no dia 28 de agosto em Alagoa Grande.

Sem programação completa definida, o Sebrae na Paraíba, parceiro do ‘Caminhos do Frio’, anunciou inicialmente as datas que cada cidade receberá o evento. Para abrir o circuito, a cidade de Areia recebe de 18 a 24 de julho a Rota 2011, seguida por Bananeiras, 25 a 31 de julho. O terceiro município será Serraria, de primeiro a sete de agosto; o quarto Pilões, de oito a 14 de agosto, seguido por Alagoa Nova, 15 a 21 de agosto. O ‘Caminhos do Frio’ encerra a programação 2011 na cidade de Alagoa Grande, de 22 a 28 de agosto.

Localizado na mesorregião do Agreste Paraibano, o Brejo está dividido em oito municípios. Com suas cidades situadas na serra os termômetros nos meses de inverno chegam a marcar 12 graus, transformando os cenários que esbanjam beleza natural em imagens marcantes para quem visita. A região também é reconhecida por suas riquezas culturais, cidades tombadas pelo patrimônio histórico, produção de cachaça artesanal e uma gastronomia local que dá água na boca.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Kahn, Kadafi, gênero, violência e poder


Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

Não sou fã do status quo que apresenta o noticioso global Jornal Nacional, porém, a edição da última sexta-feira (01) me surpreendeu ao exibir uma reportagem sobre violência doméstica após a matéria sobre a reviravolta no caso do ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), o francês Dominique Strauss-Kahn.

Strauss-Kahn foi detido em 14 de maio deste ano, em Nova York, EUA, sob acusação de agressão sexual a uma camareira em um hotel local. Submetido à prisão domiciliar e estrita vigilância, ele foi colocado em liberdade na última sexta-feira (01), após declaração da justiça estadunidense de que a acusadora havia “mentido deliberadamente” ao tribunal, pondo em risco sua credibilidade.

O tom da notícia, que registrava fortes acusações à camareira (suposta vítima), deixava margem agora para uma virada de opiniões e tomadas de partido. A, a princípio, frágil, camareira, mulher, em situação desigual, não poderia estar mentindo e era, de fato, uma vítima. Era a opinião dominante até então. Mas com as acusações de que seus depoimentos eram contraditórios, que ela havia ligado para um traficante logo após o suposto crime e também de agora sabermos que ela é uma imigrante nos EUA que teria mentido durante o processo de estadia, tendemos a mudar de pensamento.

Os machistas ou desconfiados de plantão deveriam estar pensando (e transcrevo aqui uma versão educada do que muitos realmente diriam) “eu sabia, essa vadia, só queria se aproveitar, mulher é assim mesmo...”.

Eu, como cidadã totalmente antimachista e preocupada com os valores humanos, pensei “Já era. Verdade ou não, agora todas as opiniões se voltam contra a suposta vítima e devem estar pensando ‘essa vadia mentirosa... ’.”

Para minha surpresa, uma reportagem sobre violência doméstica veio logo em seguida. E desta vez, não deixava margem para a defesa do machismo (pelo menos não em uma mente sadia). Até o apresentador William Bonner começou a cabeça da matéria num tom denunciador contra a violência: “Hoje, no estado de São Paulo, quase acabou em tragédia uma história de violência silenciosa. Um caso daqueles em que a mulher agredida reluta em pedir ajuda ou não denuncia o agressor.” A matéria mostrava uma mulher que tinha sido espancada brutalmente e mantida presa em sua casa pelo ex-marido, tendo quase sido morta e salva pela ação de policiais.

O agressor não admitia a separação e já a tinha violentado anteriormente. Ela havia prestado queixa, mas resolveu não seguir com o processo. A reportagem atentava para o fato de que as mulheres não deveriam fazer isso, que esse tipo de atitude empodera o agressor e fragiliza a vítima, abrindo margem para novas agressões, como foi o caso mostrado.

Nós, pessoas comuns, podemos não perceber, mas fazendo um esforço não é difícil notar as evidências da dominação masculina no mundo. Até nas menores coisas, mesmo nas sutilezas. São séculos de dominação que ainda persistem e que, infelizmente, não desaparecerão de uma hora para a outra. No entanto, devemos prestar atenção para que não deixemos nossos anseios primitivos falarem antes de saber a verdade. O cotidiano privado e também o midiático estão cheios de crimes de gênero e atrocidades que ainda se cometem contra as mulheres.

O ditador líbio Muamar Kadafi está sendo acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por usar o estupro como arma de guerra. A possibilidade dos militares terem recebido medicamentos como Viagra para aumentar a libido durante o combate, como parte de uma política oficial de estupros, está sendo investigada.

“Tivemos dúvidas no início, mas agora estamos mais convencidos de que Kadafi decidiu castigar mulheres mediante estupros”, afirmou o procurador do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno-Ocampo. “É algo terrível, além dos limites, eu diria”, enfatizou o jurista numa matéria publicada no Portal Terra (08/06/2011).

Esse fato, entre tantos outros de violência, castigos, crimes, etc., contra as mulheres é execrável. Por que não nos inflamos a ouvir tal notícia? Por que não temos o mesmo desejo de justiça? Por que não ouvimos tais casos serem levados a tribunais, como no caso Strauss-Kahn?

Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, que inclusive é autor de um livro chamado “A dominação masculina”, esta se mantém não só pela preservação de mecanismos sociais, mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Os pensamentos do sociólogo são sofisticados. Claro que esse essas ações são recobertas pelo fino véu do cotidiano, por discursos escamoteados, por ações dúbias. Em casos como a falta de respeito às mulheres em alguns países do Oriente Médio, é simplesmente uma estupidez de países ainda sem democracia, ou seja, que não respeitam seus habitantes como indivíduos, como iguais e muitas vezes nem como seres humanos. Não conseguiram a laicidade do Estado, mascarando práticas horrendas sob uma má interpretação da religião. Utilizando-se do discurso religioso para manipular as massas e justificar seu poder.

Em tempo
Testes forenses haviam confirmado o encontro sexual entre o ex-diretor do FMI e a autora da acusação. Favorito nas pesquisas presidenciais francesas de 2012, Strauss-Kahn continua respondendo por sete acusações baseadas em tentativa de estupro e violência sexual, passíveis de até 74 anos de prisão. Sua próxima audiência está prevista para o dia 18 de julho.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Descobri, na internet, que sou odiado", diz Chico Buarque

Da Ascom UEPB com informações da Folha de São Paulo

Chico Buarque está lançando um novo disco, denominado "Chico". O álbum é vendido num site para o qual as pessoas podem escrever o que quiserem e por meio dele o artista fez uma grave constatação. "Eu achava que era amado, porque as pessoas iam ao show, me aplaudiam, e, na rua, me cumprimentavam", ele disse. "Descobri, na internet, que sou odiado. As pessoas falam o que lhes vem à cabeça. Agora entendi as regras do jogo", afirmou.
De acordo com o jornalista Ruy Castro, da Folha de São Paulo, Chico Buarque, possivelmente, nunca foi a unanimidade que se pensava - ao lado das multidões que lhe são gratas pela beleza que espalha em letra e música há quase 50 anos, sempre devem ter existido os inconformados com seu sucesso e com seu talento.
"A diferença é que os que não gostavam dele não se dariam ao trabalho de ir a seus shows para hostilizá-lo e, se passassem por ele na rua, não se disporiam a desfeiteá-lo. A vida real tem seus códigos de convívio, nela, para melhor andamento dos trabalhos, somos mais tolerantes e evitamos dizer o que pensamos uns dos outros. Mas a internet está fora desses códigos", explicou Ruy.
Para Ruy, ao sermos convidados a "interagir" e a "postar" nossos comentários, podemos despejar tudo que pensamos contra ou a favor de quem quer que seja. Quase sempre, contra. Uma sequência de comentários -que, em poucas horas, são milhares- a respeito de qualquer coisa nas páginas on-line é uma saraivada de ódios, despeitos, rancores, recalques e ressentimentos. E, não raro, num português de quinta. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sesc prossegue com inscrições de vídeos para a III Semana Curta Campina

Da Assessoria de Imprensa do Sesc/Centro-CG

O Sesc Paraíba está com inscrições abertas para diretores que queiram participar da Semana Curta Campina, que chega à terceira edição em 2011. O evento, que acontece entre 08 e 13 de agosto, em Campina Grande, consiste em exibições e debates de curtas-metragens produzidos na cidade e região circunvizinha. As inscrições dos vídeos e filmes estão abertas até o dia 31 de julho.

A Semana Curta Campina é uma mostra de cinema que surgiu em 2009 e tem o objetivo de incentivar a produção cinematográfica local, proporcionando um espaço de exibição e discussão dos curtas-metragens. No ano passado, mais de quinze diretores tiveram suas obras selecionadas para integrar a programação da mostra.

Este ano, a expectativa é de que o número de vídeos e filmes exibidos e de público supere as edições anteriores, devido ao crescente interesse da população em acompanhar a produção cinematográfica local, que está a cada ano se intensificando. Toda essa efervescência esbarra no problema da ausência de locais  disponíveis, e através da mostra, o Sesc abre espaço e visibilidade às produções. Para isso, público, atores, diretores, críticos e quaisquer interessados pela sétima arte são convidados a participarem do evento, acompanhar a programação e discutir a respeito das produções.

Os diretores interessados em inscrever seu material devem comparecer ao setor de cultura do Sesc Centro Campina Grande com uma cópia do filme em DVD e um CD ou DVD com todos os dados referentes à sua obra (ficha técnica, sinopse, release da obra e do diretor e imagens, além do material gráfico do filme, como banners, folders e flyers).

A Semana Curta Campina é uma realização do Sesc Paraíba. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (83) 3341-5800, pelo e-mail culturasesccg@gmail.com, ou ainda na unidade do Sesc Centro em Campina Grande, que fica na Rua Giló Guedes, 650, Santo Antônio.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dostoiévski: Gente Pobre, de 1846, é relançado com nova tradução

Por Christiane Marcondes, do Portal Vermelho

Um funcionário público de meia-idade e uma jovem costureira iniciam uma correspondência quase diária, intensa, urgente. O resultado, longe de ser uma saga romântica, é um livro de crítica social que inaugura a extensa e admirável obra de Fiódor Dostoiévski. “Gente Pobre” foi publicado originalmente em 1846 e retrata com todas as tintas o cotidiano dos miseráveis moradores de São Petersburgo, inapelavelmente submetidos à humilhação dos burocratas, das dívidas e seus cobradores, dos agiotas e dos próprios pares. 

Não há salvação, isso fica claro desde o início, no entanto, na desolação próxima do patético que o casal compartilha, surge uma cumplicidade libertadora, com espaço para a revelação de sonhos e pequenos afetos. Os dois se amparam, não vencem a pobreza e a distância, mas superam o sarcasmo e a desesperança que rondava aqueles tempos sombrios.

Dostoiévski compõe assim, com apenas 25 anos, um protagonista tão consciente do seu estado de penúria que chega a sentir compaixão dos próprios pensamentos: Makar Aleksieievitch não fica devendo nada à galeria dos ilustres personagens que, num futuro breve, saltariam da imaginação do autor para as páginas de clássicos da literatura universal, como “Os irmãos Karamazov”, considerado pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, a “maior obra da história”.

O influente crítico da época, Vassilión Bielínski, saúda o estreante nas letras russas como um novo Gógol ou um novo Pushkin, ao mesmo tempo, questiona a maturidade do escritor que consegue, apesar da pouca idade, elaborar um enredo tão denso: “Você compreende o que escreveu? Consegue abarcar (...) toda a terrível verdade que nos mostra? “ 

O crítico responde à própria pergunta e conclui que sim, que Dostoievski já conhecia a “verdade, revelada por seu dom artístico”. Pede: “Você veio ao mundo com esse talento, valorize-o devidamente, seja-lhe fiel e será um grande autor”.

Luís Avelima traduziu o livro, lançado em maio pela editora Letra Selvagem, diretamente do russo e dedicou-se ao trabalho com um prazer diletante. Conta que “chegou às lágrimas” ao se identificar com alguns personagens em cenas que lhe são familiares, cenas que, pontua o poeta e tradutor, são atualíssimas, podem ser presenciadas entre a população mais pobre de qualquer parte do planeta. 

Avelima consegue manter intactas as emoções que o livro carrega, revivendo-as com um texto contundente e ao mesmo tempo generoso. A humanidade dos enamorados é ressaltada, bem como as dores que afligem a alma de quem não pode contar com o destino de sortes felizes muito menos com os semelhantes. São seres que não se rebelam contra o infortúnio, mas sobrevivem alimentados com uma coragem que pode crescer ao ponto de, um dia quem sabe, tornar-se forte o bastante para revolucionar o mundo.


Mais!
"Gente Pobre"
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Luís Avelima
Editora: Letra Selvagem, 2011