Crédito da foto: Brooke Williams/Divulgação
Por Fernanda Ezabella, de Los Angeles, para a Folha de São Paulo
Malcolm Gladwell tem uma teoria e quer que você pense a respeito.
Na verdade, são algumas teses e muitas histórias curiosas, coletadas em 14 anos de trabalho como repórter da revista "New Yorker"."O que se Passa na Cabeça dos Cachorros", lançado neste mês no Brasil, reúne 21 dessas reportagens de fôlego. Algumas partem de um assunto banal e enveredam por caminhos quase científicos, como uma sobre por que não há tantas variedades de ketchup como de mostarda.
Outras fazem o inverso: falam de assuntos intrincados e chegam a conclusões compreensíveis para leigos. Exemplos disso são os textos sobre soluções inusitadas para os sem-teto nas grandes cidades ou sobre como a falência da Enron poderia ter sido evitada.
"Meus artigos são planejados como uma convocação, quero detonar uma discussão. Quero que as pessoas pensem sobre o que normalmente não pensam."As reportagens são sempre tão comentadas que hoje o jornalista é abordado nas ruas de Nova York, onde mora. "Às vezes me dão ideias muito boas [para textos]", diz Gladwell, que viaja o mundo dando palestras (esteve em São Paulo duas vezes).
O nome do novo livro vem de um artigo sobre Cesar Millan, apresentador de "O Encantador de Cães" (exibido no Brasil no Animal Planet).
Malcolm, 47, tem outros três títulos, todos best-sellers nos EUA, onde já venderam mais de 8 milhões de cópias: "Fora de Série - Outliers", "O Ponto da Virada" (editados no Brasil pela Sextante, R$ 29,90, 48 págs. e 288 págs., respectivamente) e "Blink - A Decisão num Piscar de Olhos" (Rocco, esgotado).
Cada um destrincha algumas de suas ideias. Em "Outliers", ele afirma que o sucesso de um indivíduo "fora de série" é resultado de muitas variantes incontroláveis e não tanto do talento. Já em "Blink", fala do poder da intuição e sobre como analisamos pessoas sem pensar.
Malcolm, 47, tem outros três títulos, todos best-sellers nos EUA, onde já venderam mais de 8 milhões de cópias: "Fora de Série - Outliers", "O Ponto da Virada" (editados no Brasil pela Sextante, R$ 29,90, 48 págs. e 288 págs., respectivamente) e "Blink - A Decisão num Piscar de Olhos" (Rocco, esgotado).
Cada um destrincha algumas de suas ideias. Em "Outliers", ele afirma que o sucesso de um indivíduo "fora de série" é resultado de muitas variantes incontroláveis e não tanto do talento. Já em "Blink", fala do poder da intuição e sobre como analisamos pessoas sem pensar.
Como foi revisitar suas reportagens antigas para o novo livro?
Malcom Gladwell - Sempre que você olha para as coisas que escreveu, algumas o constrangem, outras o fazem muito feliz. Separei minhas favoritas, que passaram pela prova do tempo. Às vezes, seu pensamento muda ou você se sente mais inteligente sobre aquele assunto. É o mesmo caso com qualquer obra de arte. Às vezes, o tempo é generoso; às vezes, não.
Você se considera um "outlier" [fora de série]?
[Silêncio] Não, não acho. Sou alguém que escreve sobre eles. Quando uso o termo no livro, realmente me refiro a esses tipos de gênios, não a pessoas comuns como eu.
Qual a teoria, então, para explicar quatro best-sellers?
Acho que isso se chama sorte. E tive oportunidades enormes. Comecei numa época em que jornais ainda eram poderosos e gastavam com treinamento de jovens repórteres. Depois, fui para a "New Yorker". Só por estar lá escrevendo você ganha público e credibilidade. Meus editores são brilhantes, melhoram muito minhas matérias. Portanto, estive em situações muito mais fáceis de conseguir sucesso do que a maioria dos jornalistas. Acho importante reconhecer a sorte.
Você é meio jamaicano, nasceu na Inglaterra, foi criado no Canadá e mora em Nova York. Qual é a sua nacionalidade?
É engraçado, sou bem brasileiro, todo misturado, não? Mas eu me identifico como canadense, eu cresci lá. Mas é preciso entender que ser canadense é meio como ser brasileiro -você pode ser muitas coisas ao mesmo tempo.
É engraçado, sou bem brasileiro, todo misturado, não? Mas eu me identifico como canadense, eu cresci lá. Mas é preciso entender que ser canadense é meio como ser brasileiro -você pode ser muitas coisas ao mesmo tempo.
Como essa mistura ajudou na sua carreira?
Acho que é vantajoso ser um "outsider" [intruso] nos EUA, você vê coisas de uma perspectiva mais fresca. Acho que é sempre bom para o jornalista ser um pouquinho de fora, mais observador do que participante.
Daria alguma dica para quem está começando agora no jornalismo?
Nos dias de hoje, é importante ter uma área de especialidade. Porque o jornalismo, para sobreviver, tem que ser inteligente, oferecer algo que não se acha em qualquer lugar. Se estivesse começando agora, adoraria ter uma especialidade.
O que fez a diferença para a "New Yorker", que conseguiu aumentar sua circulação em mais de 20% nos últimos dez anos?
Num momento em que o mundo ficou bem mais complexo, as pessoas perceberam que precisavam de fontes inteligentes de comentário em suas vidas. E é isso o que somos. Somos o lugar aonde as pessoas vão para entender o mundo.
Autor se define como "tradutor do mundo acadêmico"
Antes de chegar à "New Yorker", Malcolm Gladwell trabalhou quase uma década no "Washington Post" escrevendo sobre negócios e ciências. Eram mais de 200 matérias por ano, contra a média de oito que produz hoje.
"Sinto falta da agitação do jornal, do dia a dia das notícias. É uma grande diferença. Mas também gosto de escrever coisas com mais profundidade", diz Gladwell, que tem um contrato com a "New Yorker" de produzir entre 40 mil e 50 mil palavras por ano (este texto, por exemplo, tem 334 palavras).
Malcolm ficou conhecido por traduzir o economês de Wall Street e as pesquisas científicas para as massas. Um de seus artigos, que aparece no novo livro, explica o processo histórico da pílula anticoncepcional e de como ainda a usamos como um "remédio moldado pelos ditames da Igreja".
"Eu me vejo como um tipo de tradutor das coisas que se passam no mundo acadêmico", explica o jornalista. "Cada vez mais vejo que preciso deles. Eles me indicam a direção certa, me trazem coisas incríveis e me explicam o que não entendo."
Gladwell diz que leva entre um mês e seis semanas para escrever suas reportagens e que grava todas as suas entrevistas -uma assistente faz o trabalho de transcrição.
A fama também trouxe críticas ácidas. Há quem diga que suas teses são facilmente derrubadas ou superficiais e para isso foi criado até um termo, "Gladwellian" ("gladwelliano").
"Eu me vejo como um tipo de tradutor das coisas que se passam no mundo acadêmico", explica o jornalista. "Cada vez mais vejo que preciso deles. Eles me indicam a direção certa, me trazem coisas incríveis e me explicam o que não entendo."
Gladwell diz que leva entre um mês e seis semanas para escrever suas reportagens e que grava todas as suas entrevistas -uma assistente faz o trabalho de transcrição.
A fama também trouxe críticas ácidas. Há quem diga que suas teses são facilmente derrubadas ou superficiais e para isso foi criado até um termo, "Gladwellian" ("gladwelliano").
"Não acho que seja possível escrever de maneira que agrade a todos. É um fato constante na vida de qualquer escritor", rebate. "Quando acho que são válidas, tento incorporar as críticas e fazer um trabalho melhor. Ou as ignoro."
Seu livro "Blink" teve os direitos vendidos para virar filme com direção de Stephen Gaghan ("Syriana"), mas está parado no momento. "Eu me concentro nos meus textos. Hollywood é muito complicado", diz.
Seu livro "Blink" teve os direitos vendidos para virar filme com direção de Stephen Gaghan ("Syriana"), mas está parado no momento. "Eu me concentro nos meus textos. Hollywood é muito complicado", diz.
RAIO-X
MALCOLM GLADWELL
VIDA
Tem 47 anos, nasceu na Inglaterra e cresceu no Canadá
CARREIRA
É repórter da "New Yorker" desde 1996. Antes, trabalhou de 1987 a 1996 no jornal "Washington Post"
TÍTULOS
Foi eleito pela "Time" uma das cem pessoas mais influentes em 2005. Em 1999, ganhou o National Magazine Award
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