segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O flerte do gênio Isaac Newton com a alquimia

Mistura - Especialista argumenta que investigações do físico ajudaram a resultar  
na descoberta de que luz branca é uma miscelânea de raios coloridos

Por Natalie Angier, do The New York Times

Sir Isaac Newton sabia que era um gênio e não gostava de perder seu tempo. Nascido em 25 de dezembro de 1642, o grande físico e matemático inglês tinha pouca vida social e raramente viajava para longe de sua casa.
Não praticava esportes nem tocava um instrumento musical. Não se casou, nem teve envolvimentos românticos dos quais se tenha conhecimento.
Não era fácil ser Newton. Ele formulou as leis universais do movimento e da atração gravitacional, incluindo equações usadas até hoje para mapear as trajetórias de sondas espaciais enviadas a Marte, descobriu as propriedades espectrais da luz e inventou o cálculo, mas não foi só isso. Sir Isaac tinha outra paixão em tempo integral da qual se ocupava: a alquimia.
As dimensões de seus estudos alquímicos estão vindo à tona apenas agora, à medida que historiadores da ciência reveem os escritos extensos de Newton sobre o tema -mais de 1 milhão de palavras dos arquivos newtonianos que, até agora, vinham sendo em grande medida ignorados.
Como é possível que o homem que disputa com Albert Einstein o título de maior físico da história tenha se deixado envolver de tal maneira por uma ilusão medieval?
Na opinião de William Newman, professor de história e filosofia da ciência na Universidade Indiana, havia razões para que se levasse a alquimia a sério, motivos para acreditar que compostos pudessem ser decompostos, chegando-se a seus componentes básicos, e que esses componentes pudessem então ser reconfigurados em substâncias outras, mais desejáveis.
Mineiros estavam arrancando do solo feixes emaranhados de cobre e prata com formatos semelhantes aos caules de plantas, sugerindo que veios de metais e minerais proliferavam debaixo da terra com pujança quase vegetal. Lagoas encontradas em volta de outras minas pareciam possuir propriedades extraordinárias.
Quando se mergulha uma barra de ferro nas águas azuis das fontes vitriólicas da Eslováquia moderna, por exemplo, ela emerge com brilho de cobre, como se as partículas escuras e opacas da barra original tivessem sido reinventadas com novos elementos. "Fazia sentido que Newton acreditasse na alquimia", disse Newman. "A maioria dos cientistas experimentais do século 17 acreditava."
Newman argumenta que as investigações alquímicas de Newton ajudaram a resultar em uma de suas descobertas importantes na física: a de que a luz branca é uma mistura de raios coloridos.
Com os solventes certos e as reações perfeitas, pensavam os pesquisadores, deveria ser possível reduzir uma substância a seus componentes básicos e então criar configurações novas desses componentes.
A descoberta de veios de metais com aparência de árvores e raízes, feita por mineiros, levou os alquimistas a concluir que os metais não apenas deveriam crescer embaixo da terra, mas amadurecer ali.
Não poderia o chumbo ser prata ainda não maduro? Não existiria uma maneira de fazer com que as raízes metálicas desenterradas brotassem no laboratório?
Na verdade, não. Se os veios minerais, às vezes, se assemelham a ilustrações botânicas, isso pode ser atribuído à natureza liquefeita da Terra e à mecânica dos fluidos.
Mas os alquimistas tiveram triunfos, como a invenção de pigmentos novos e brilhantes. O laboratório químico tomou o lugar da horta dos mosteiros como fonte de medicamentos.
Os alquimistas também se tornaram especialistas em identificar fraudes. Foi um alquimista renomado quem comprovou que as propriedades supostamente milagrosas das fontes vitriólicas não tinham relação alguma com a verdadeira transmutação. Na realidade, o vitríolo da água, ou sulfato de cobre, fazia átomos de ferro na superfície de uma barra de ferro submersa passar para a água, deixando poros que eram rapidamente ocupados por átomos de cobre presentes na fonte.
Newton mostrou-se igualmente intolerante com fraudes quando, em seus últimos anos de vida, ocupou o cargo de mestre da Casa da Moeda.
"Ele era brutal", comentou Mark Ratner, químico de materiais da Universidade Northwestern, em Evanston, Illinois. "Sentenciou pessoas à morte por tentarem raspar o ouro da superfície de moedas."
Isaac Newton pode ter sido o melhor cientista de todos os tempos. Mas que ninguém se iluda, disse Ratner: "Ele não era um sujeito legal".

Nenhum comentário:

Postar um comentário