sexta-feira, 28 de maio de 2010

Professor da UEPB comenta anistia concedida esta semana a Glauber Rocha

 
Perseguido e censurado nos anos da Ditadura Militar (1964-1985), o cineasta Glauber Rocha, pai do Cinema Novo, autor de clássicos do cinema nacional, foi oficialmente anistiado em cerimônia realizada esta semana, no Teatro Vila Velha, em Salvador (BA). Para o coordenador do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UEPB, Rômulo Azevedo, admirador do legado de Rocha, a decisão foi justa e acertada.

A 37ª Caravana da Anistia, organizada pela Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, decretou o perdão político do Estado 29 anos após a morte do cineasta, em 1981. “Antes tarde, do que nunca”, disse Rômulo, que também domina o fazer artístico da Sétima Arte.

Azevedo acredita que a decisão se configura como uma afirmação da liberdade, para aqueles que, a exemplo de Glauber, foram contra a Ditadura. Ele destacou que Glauber revolucionou a linguagem cinematográfica com um talento ímpar, alcançando grande prestígio internacionalmente, o que atraiu os olhares do mundo todo para o cinema brasileiro. Profundo conhecedor da profícua obra de Glauber, Rômulo acrescentou que seus filmes favoritos, advindos da genialidade do cineasta baiano são Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967). 

Acusado de querer implantar o cinema político como forma de subversão, Glauber foi investigado, vigiado e perseguido pelo regime. “O filme político, através de técnicas minuciosamente estudadas, tem como fim precípuo influenciar a opinião pública, destruindo psicologicamente o espectador. Glauber Rocha e seus seguidores no Brasil querem implantar o cinema político, para com isso enganar o povo e levá-lo à agitação, à desordem política e à revolução”, dizia documento oficial do Ministério da Aeronáutica, datado de 1974.

A filha de Glauber, Paloma Rocha, deu entrada ao processo da anistia em maio de 2006. A vitória da família Rocha no julgamento compreende também o pagamento de indenização: o retroativo de R$ 234 mil, e mais R$ 2 mil de prestação mensal continuada. “Além de ser um ato de anistia, é também uma homenagem a este baiano criativo, ícone da cultura nacional”, declarou a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais na Bahia, e uma das três conselheiras responsáveis pelo julgamento do requerimento de anistia, Ana Guedes.


Comissão já anistiou mais de 36 mil

A Comissão de Anistia julgou, até hoje, 55 mil requerimentos de anistia política, segundo dados do Ministério da Justiça. Em 14 mil casos, houve algum tipo de reparação econômica e, em 22,5 mil processos, houve apenas o pedido oficial de desculpas do Estado. O número de pedidos negados é de 18,5 mil e ainda existem 11 mil processos aguardando definição em primeira instância, e mais 3.5 mil com solicitação de recurso. No total, o Governo já concedeu R$ 2,4 bilhões em reparações econômicas.

Antes de Glauber, o Ministério da Justiça já havia concedido anistia a outras personalidades do meio artístico, a exemplo dos escritores e cartunistas Ziraldo e Jaguar, em 2008; e, em abril deste ano, ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, contemplado com uma pensão vitalícia de R$5 mil e mais R$569 mil retroativos.

De acordo com a Lei, são anistiáveis, com reparação financeira, as pessoas que sofreram perseguição no período de 18 de setembro de 1946 a 05 de outubro de 1988. As reparações por causa de violações a direitos humanos podem ser requeridas a qualquer tempo.

Mais sobre Rômulo Azevedo


Rômulo Azevedo trabalha com o fazer cinematográfico há mais de 30 anos. Sua trajetória artística conta com mais de 20 filmes, entre documentários e ficção, sendo muitos deles premiados em festivais. A última produção de Rômulo, intitulada Biu do Violão e o Diamante Cor de Rosa (2010), foi muito bem recebida pela crítica.
 
Formado em Direito, com especialização em Comunicação, o professor é um dos fundadores do Movimento Cineclubista em Campina Grande, pioneiro do telejornalismo paraibano e, há décadas, vem formando profissionais que atuam na imprensa paraibana.
 
Ano passado, ele completou 25 anos de carreira na televisão, mas é ao cinema que  atribui os rumos que sua vida seguiram.

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