segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os jornalistas, os cidadãos, a democracia e a liberdade de imprensa


Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

O mês de maio traz efemérides pra dar e vender. Bem, acho que todo dia tem efeméride. Mas vamos lá. Mês de maio é mês das noivas (breguice), das mães (transformado em capitalismo); tem dia do museu, dia da luta antimanicomial, nascimento de Karl Marx... Enfim, a lista seria longa.

O que interessa para nós, profissionais da mídia, e mais ainda, como conseqüência, a toda a população, é que no início do mês, mais precisamente no dia 03, comemora-se o Dia da Liberdade de Imprensa. Coladinho à data, no dia 04, estreou no Brasil um programa que expressa a liberdade da comunicação, o Observatório da Imprensa, programa exibido em TVs públicas e apresentado por um dos mais antigos profissionais do ramo, Alberto Dines. O jornalista e escritor foi o primeiro ombudsman (na época, não assim chamado ou considerado) do país, outra ocupação símbolo de democracia e liberdade de imprensa.

Aí vem a célebre pergunta: temos liberdade de imprensa? No Brasil ou no mundo? O professor do Departamento de Comunicação da UEPB, Rômulo Azevedo, comentou que o ofício de jornalista é, ainda, uma das profissões mais perigosas do mundo. E que em muitos lugares este trabalho (ou o profissional) não é visto com bons olhos. Ele reforçou que em alguns países, como o Brasil, supostamente democráticos, não existe mais censura prévia, mas ainda não há uma plena liberdade de opinião, há uma espécie de censura econômica. Em sua opinião, deveria haver no país uma maior participação do público e que este deveria ser mais atuante e participativo, “menos apenas consumidor”, disse.

Questionado se o Brasil é mais democrático que outros países da América Latina, ele explanou que talvez a Argentina seja um pouco mais. Será? Bem, quiçá o povo argentino é mais politizado que o brasileiro, porém o “pacote regulador da imprensa” lançado pela atual presidente argentina Cristina Kirchner nos faz pensar o contrário. Que, de uma maneira menos explícita que seus colegas latinos, como Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel ou Raúl Castro, ela também deseja controlar o que se fala do governo e, quem sabe, deseje uma opinião única. A favor do Estado, claro.

Isso nos faz pensar noutro país do continente americano, mas não latino, os Estados Unidos. O suposto e auto-intitulado país mais democrático do mundo tem dado provas contrárias disso. E isso não é recente. Não foi apenas no pós 11 de setembro. Atitudes reacionárias e antidemocráticas rondam a história dos EUA há bastante tempo. Uma das suposições para o assassinato do presidente Kennedy (pasmem: até hoje não solucionado) atribui-se a atitude democrática e anti-bélica do então presidente. O que, claro, vai de encontro ao sistema altamente beligerante do país, forte ponto no qual sua potência econômica se sustenta. Ou de onde você acha que estes inúmeros países em guerra civil ao redor do mundo compram suas armas?

Mas, voltemos à liberdade de imprensa (como se política, economia e liberdade de imprensa não estivessem conectados... mas vamos lá...). Em 20 de julho de 2009, o famoso jornalista americano Gay Talese, mais especialmente conhecido como um dos expoentes do Novo Jornalismo, esteve no Brasil e participou do famoso (e democrático) programa da TV Cultura Roda Viva.

Discorrendo sobre assuntos midiáticos, uma hora ele falou - sem ser diretamente perguntado – “Então, existe liberdade de imprensa nos Estados Unidos? Sim e não. Sim e não”. E deu exemplos. Vários.
 
A data

O dia 03 de maio foi proclamado Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1993, seguindo recomendação adotada na 26ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, realizada em 1991.

Todos os anos, o dia 03 de maio é a data que celebra os princípios fundamentais da liberdade de imprensa, avalia a liberdade de imprensa no mundo, defende a mídia de ataques à sua independência e presta homenagem a jornalistas que perderam suas vidas no exercício de suas profissões.

Há quatro anos atrás, o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, afirmou que “devemos nos conscientizar de que a mídia não pode se limitar a informar sobre as mudanças ocorridas, mas deve ser também, ela própria, um agente de mudança”. Sabemos que, entre políticas, políticos, cabrestos e correligionários tal atitude muitas vezes é difícil de manter, mas lutar contra as agruras do status quo é dever de todo jornalista e cidadão que acredita na democracia.

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