Fonte: Blog de Emerson Saraiva
Na última sexta-feira (16), por volta do meio-dia, começaram a pipocar nas redes sociais e programas de rádio, repercutindo mais tarde nos sites de notícias e telejornais, notícias sobre uma possível “agressão moral” sofrida pelo Governador Ricardo Coutinho durante a solenidade de posse dos professores aprovados no último concurso do magistério.
Os algozes, dessa vez, teriam sido alunos, professores e funcionários da Universidade Estadual da Paraíba, que teriam invadido o local da solenidade empunhando faixas de protesto e gritando frases em defesa da UEPB.
Pelas redes sociais, assessores do governo começaram a denunciar o desrespeito dos protestantes utilizando a hashtag #vergonhauepb. Não sei se foi por causa do pouco tempo para pensar na resposta, mas os assessores acertaram em cheio no “mote”. Os vídeos divulgados no youtube mostram exatamente isso. Dá pra ver no semblante do Governador o quanto ele está com VERGONHA DA UEPB. Afinal, um cara que fez o que ele fez com a ÚNICA Universidade brasileira que possui uma LEI garantindo sua Autonomia Financeira, tem é que estar morto de vergonha mesmo.
Mas o que a agilíssima assessoria de comunicação do Governo esqueceu de divulgar foi que a última sexta-feira transformou-se, na verdade, em um “Batismo de Fogo” para os mais de 800 professores que estavam presentes ao Espaço Cultural, a maioria deles de outras cidades, que receberam convite para tomar posse de seus cargos e não para uma maratona de espera, desorganização, desrespeito e maus tratos, como mostra o relato que recebi de um dos novos professores do Estado, que estava presente à “solenidade” e que transcrevo a seguir:
7h00 – Peguei o ônibus de Campina para João Pessoa, após ter sido obrigado a chegar na rodoviária às 5h30 para garantir minha vaga, me perguntando porque o Estado não descentralizou essa posse e obrigou gente de muito mais longe a ter que se locomover centenas de quilômetros apenas para assistir ao seu discurso quando ele podia dar posse diretamente nas diversas regiões de ensino espalhadas pelo Estado. Porque é tão importante que tenhamos que vê-lo pessoalmente no ato da posse se fomos todos aprovados por nossos próprios méritos e ele não nos presta favor nenhum empossando-nos? Será que ele faria tanta questão de nos ver se fossemos para reivindicar nossos direitos?
9h00 – Cheguei correndo no Espaço Cultural, exatamente no horário marcado para a solenidade de posse.
12h00 – Depois de duas horas esperando, finalmente disseram que o Governador havia chegado e a solenidade seria iniciada. Nesse momento me veio à cabeça pela primeira vez que nós, professores, não éramos, de fato, as pessoas mais importantes da solenidade.
13h00 – Durante o discurso do Governador, entra no auditório uma galera da UEPB, segurando faixas e entoando palavras de ordem em defesa da UEPB. O Governador os saúda e os convida para sentar e acompanhar a solenidade, mas eles não sentam, até porque não havia mais lugares, pois, além de nós professores e de alguns familiares, havia um monte de gente do Governo do Estado e até uma candidata a Prefeita de João Pessoa, que na verdade é secretária da Prefeitura da Capital, acompanhada de um monte de assessores. O Governador, então, tentou seguir com o discurso e os manifestantes, também, continuaram com o protesto. A certa altura um dos manifestantes pediu a palavra, dando a entender que se o Governador os ouvisse eles falariam o que tinham a dizer e sairiam. Neste momento alguns assessores do Governo saíram de seus lugares e foram em direção aos manifestantes fazendo gestos para que eles se retirassem e outros correram para fora do auditório, voltando logo em seguida com reforço policial. Àquela altura, nós, depois de várias horas de estrada e outras de espera, já tínhamos perdido a paciência com os protestantes e passamos a pedir também para que eles saíssem, enquanto a polícia os conduzia para fora do recinto.
14h00 – Terminada a solenidade – e a confusão – pensei: “finalmente vou-me embora, já como professor empossado.” Que nada! O Governador terminou seu discurso e foi embora, acompanhado de seus muito assessores e, inclusive, da secretária-candidata, e nos deixou entregues a uma equipe de poucos funcionários que, então, nos envolveram em uma verdadeira teia de burocracia e desorganização. Primeiro nos dividiram por letras. Bom para mim, ruim para todos os “J” e todas as “M”, mas aí nos colocaram em uma fila única. Como assim, fila única para atendimento por letras?
17h00 – Nem metade dos concursados havia sido atendida. Alguns desistiram ou tiveram que ir embora por terem que pegar ônibus para suas cidades (duas meninas saíram chorando), uma senhora que estava com a filha passou mal e teve que ser levada a um hospital e várias pessoas foram impedidas de tomar posse porque havia problemas em seu cadastramento. Sacanagem fazer uma pessoa esperar cinco horas para só depois dizer que ela deveria ter trazido determinado documento que não havia sido pedido antes.
18h00 – Começa um movimento estranho no auditório. Policiais militares chegam e se dirigem à sala onde está sendo feito o atendimento. Ficamos todos tensos pensando que alguém poderia ter agredido os funcionários lá dentro. Depois os policiais saem e ficam diante da porta de acesso ao local de atendimento. Alguns funcionários saem andando rapidamente, sem olhar para nós, professores, achando que não estávamos percebendo o que estava acontecendo.
18h30 – Notando que não ia ser possível simplesmente nos mandar embora porque “o expediente dos funcionários acabou”, chega ao local uma equipe de policiais com boinas vermelhas, que logo apelidamos de BOPE Paraíba, provavelmente para garantir a integridade física dos funcionários que queriam encerrar o expediente. Impressionante como em poucas horas passamos de "bem vindos companheiros" para "se eles reagirem, desçam o pau"!
19h00 – Depois de muitos protestos e de, segundo um dos seguranças, orientação da Secretaria de Comunicação (não deveria ser de Educação?), talvez pelo fato de muita gente estar gravando tudo com seus celulares, fomos avisados que os funcionários permaneceriam trabalhando e que seríamos todos atendidos.
22h30 – Exatamente 17 horas depois de ter saído de casa, finalmente fui atendido por pessoas que pareciam muito mais cansadas do que eu e nada satisfeitas de estar ali numa noite de sexta-feira. Entreguei tudo que tinha levado, assinei o que me pediram e corri para a rodoviária para tentar voltar para Campina. Não consegui e tive que me socorrer de um amigo pessoense que me deu abrigo. Ainda nem sei quando começo a trabalhar e já gastei boa parte de meu primeiro salário apenas para tomar posse.
23h40 – Uma amiga que ficou esperando me liga para dizer que ainda estava na fila, sem previsão de ser atendida.
Fim da História.
Ou, melhor, início de uma nova história na vida de mais de mil novos funcionários públicos paraibanos, que, alguns, foram obrigados a gastar o que não tinham para participar de um evento onde foram desrespeitados e usados, sem nenhuma culpa, como massa de manobra contra pessoas que se defendem de ataques que eles mesmos, com certeza, deverão ser vítimas pelo menos pelos próximos três anos.
Mas o tempo ensina e eles terão a chance de se arrepender por terem caído na lábia do Governador assim que precisarem do apoio dos companheiros da UEPB em suas próprias batalhas e a Universidade, como sempre fez, oferecer-lhes seu apoio incondicional.
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