Por Rubens Nóbrega (jornalista)
Publicado originalmente no Jornal da Paraíba - Edição de 22/03/2012
Lembrei ontem os lindos versos com que Chico Buarque verteu para o português a letra de Joe Darion em The impossible dream, tema de ‘O homem de la Mancha’. Lembrei particularmente Betânia cantando o trecho de ‘O sonho impossível’, exatamente quando a letra incentiva “lutar, quando é fácil ceder” ou “negar, quando a regra é vender”.
Lembrei isso tudo quando lia a Carta Aberta em que a Reitora Marlene Alves, da UEPB, repele com toda a veemência d’alma a deselegância agressiva do governador Ricardo Coutinho. Refiro-me à reação do monarca à vaia que levou sexta última de professores e alunos da UEPB em pleno Paulo Pontes, o teatro do Espaço Cultural de João Pessoa.
Coincidência digna de registro: a casa onde aconteceu o incidente homenageia o genial paraibano que traduziu e trouxe para os palcos brasileiros ‘O homem de la Mancha’. Pois bem, furibundo porque a vaia estragava-lhe a solenidade armada para ele brilhar como magnânimo empossador de professores concursados, Sua Majestade chamou Marlene e equipe de “casta usurpadora de dinheiro público”.
A acusação, gravíssima, somou-se a uma anterior não menos grave atribuída à secretária Aracilba Rocha (de Finanças, do Estado), segundo a qual Marlene teria se apropriado, “de forma criminosa, de 15 milhões de reais”. Contra esses ataques diretos, secundados por insinuações e perfídias de bajuladores do governo que ocupam espaços importantes na mídia, a Reitora Marlene Alves foi à Justiça.
“Muito em breve, através de uma ação judicial que impetramos, saberemos quem cometeu um crime: roubo ou calúnia”, ressalta, em um dos pontos altos de sua magnífica Carta. Mas o que tem a ver isso tudo com lutar, em vez de ceder; com negar, quando a regra é vender. Tem porque é assim que age Marlene Alves, uma reitora que – digo sempre – faz jus ao título de Magnífica que lhe adorna o cargo.
Caráter e integridade
Faltou dizer, contudo, mas digo agora, que o qualificativo dado à reitora no caso dela vai além do posto, porque veste feito luva também o caráter e a integridade dessa grande mulher e cidadã exemplar. Admiro Marlene Alves por tudo que ela é representa e também porque ela enfrentou e enfrenta com destemor e altivez, pela segunda vez, um governador que por miopia ou mesquinharia política não enxerga a importância da UEPB.
Não enxerga, não percebe nem valoriza suficientemente a Universidade Estadual como ferramenta valiosa e essencial para construirmos a verdadeira transformação que a Paraíba precisa.Primeiro foi José Maranhão, que no Maranhão II tratou com arrogância e intransigência uma greve de fome liderada por Marlene contra um governante que se recusava até mesmo a receber representantes da UEPB para ao menos ouvir suas justíssimas reivindicações por melhores salários e mais verbas para a Instituição.
Agora, vem Ricardo Coutinho, que no Ricardus I dispensa igual arrogância e intransigência a um pleito fundamental de Marlene e da imensa maioria da comunidade universitária.
Respeito à autonomia
Marlene, seus pró-reitores, alunos, técnicos e professores não querem outra coisa do governador além de respeito à autonomia da UEPB e à verdade sobre os atos desse governo que deliberadamente tentam fragilizar a Instituição. Admiro Marlene Alves ainda não porque ela hoje se destaca no Índex do nosso despótico gestor-mor.
Admiro também porque ela não hesita nem hesitou um segundo sequer em postar-se ao lado e à frente de seus pares na luta em defesa daquela que é a maior conquista de uma instituição de ensino superior pública e gratuita. Digo isso porque sei que ela poderia muito bem ter cedido, contemporizado e se acertado nos bastidores com o monarca, de quem já teria promessa de apoio velado, mas significativo, na campanha para prefeita de Campina Grande.
Ressalte-se que esse cargo Marlene pode vir a disputar legitimamente e se o fizer será pelo PCdoB, partido no qual milita há mais de 30 anos. Mas, quando viu a sua Universidade ameaçada, Marlene não barganhou nem piscou.Na hora do vamos ver, entre o seu projeto político e o compromisso com a UEPB, sabemos todos onde a Reitora ficou. Já Ricardo Coutinho... Entre o seu projeto de poder e o compromisso com os eleitores, inclusive o de preservar a autonomia da UEPB, adivinha onde está o governador?
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