quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por que cortou? Cortou por quê?


do blog Emerson Saraiva  

Em sua linda manifestação pelo meio ambiente, “Querelas do Brasil”, imortalizada na voz de Elis Regina, Aldir Blanc denuncia:

“O Brasil não conhece o Brasil, O Brasil nunca foi ao Brasil”.

“O Brasil não merece o Brasil, O Brasil tá matando o Brasil”.

Aqui na Paraíba, na verdadeira querela que se transformou a discussão sobre a quebra da autonomia da UEPB pelo Governo do Estado, algo de muito bonito, tal qual a música de Blanc, também vem surgindo a partir de um ato de violência.

A UEPB está começando a conhecer a UEPB.

A Paraíba está começando a conhecer a UEPB.

É impressionante perceber a reação de algumas pessoas da própria universidade – me incluo – ao descobrir projetos absolutamente fantásticos, como a escola de música da comunidade Guabiraba, em Lagoa Seca, a escolinha de educação física dos meninos da Vila dos Teimosos, o grupo de balé com meninas de várias comunidades carentes, a maravilhosa Universidade Aberta da Melhor Idade, as bandas filarmônicas que estão sendo formadas na Liberdade e em Bodocongó, em Campina Grande, e mais, literalmente, um “monte” de iniciativas, atividades e projetos desenvolvidos em todos os câmpus da UEPB e que, me arrisco a dizer, atendem hoje talvez mais pessoas fora dos cursos de graduação do que eles próprios.

Sim, é isso mesmo que estou dizendo: a Universidade da Paraíba provavelmente atende, direta e indiretamente, mais pessoas das comunidades do entorno de seus câmpus do que aquelas que são matriculadas em seus cursos superiores. Interessante isso, não?

Só na extensão, são centenas de projetos desenvolvidos por professores, funcionários e alunos com o principal objetivo de levar a universidade ao encontro daqueles que não fazem parte de seu público primário, mas que recebem formação e informação que tem mudado de maneira efetiva o rumo de muitas vidas e comunidades.

A partir deste ano a UEPB inicia de fato um projeto de alfabetização, protagonizado pelos alunos das licenciaturas, que promete atingir de maneira decisiva os altos índices de analfabetismo que a Paraíba ainda ostenta e que ainda são responsáveis pela manutenção política de muitas “lideranças” afeitas às práticas ultrapassadas de fazer política. O próprio governo divulga o projeto como “um reforço na luta contra o analfabetismo no Estado”. Só não divulga que outras ações, principais, empreendidas pelo Estado, seriam as que estariam recebendo esse “reforço”.

A verdade é que essas e muitas outras iniciativas da UEPB, é preciso reconhecer, jamais foram divulgadas com o destaque merecido. Ao contrário de governos que anunciam com pompa e circunstância ações absolutamente prescindíveis de qualquer destaque midiático, a instituição sempre optou pela discrição e restringiu a divulgação de seus atos e projetos a uma estratégia mais passiva, através da publicitação de seus atos para o público interno, em seus canais institucionais ou com a atuação cotidiana de sua assessoria de comunicação.

E como projetos de alcance social sem políticos envolvidos, sem exploração da pobreza e sem escândalos éticos e morais não são lá grandes atrativos para a mídia, a cobertura dessas atividades jamais teve o destaque merecido, principalmente em um cenário político como o da Paraíba, onde a imprensa prefere ocupar todo o seu espaço de debate com polêmicas e rame-rames.

No final das contas, foi preciso que a UEPB fosse envolvida, mesmo depois de um ano de tentativas de não chegar ao confronto, em uma querela político-administrativa para que fosse dado aos seus dirigentes o espaço e a oportunidade para que, como forma de defender a necessidade de sua autonomia, possam estar hoje, a cada entrevista, debate, assembléia, encontro, audiência, enfim, contato com o público, interno ou externo, apresentando o que a universidade tem feito de bom. E isso tem calado tanta gente...

O que me parece descompensado a essas alturas do debate, e com possibilidade de descompensar ainda mais, é que enquanto a UEPB utiliza os espaços concedidos para apresentar provas documentais (lei, orçamento, correspondências protocoladas etc.) e o já citado “monte” de ações, projetos e atividades com beneficiamento direto da população, da alfabetização à pós-graduação, o governo não conseguiu, até agora, apresentar sequer um papel que lhe consubstancie o que afirma – a manutenção da autonomia. São, indiscutivelmente, apenas palavras ao vento, quase sempre pronunciadas por assessores escalados para dar “a cara à tapa” e por pessoas com inconfessáveis interesses e relações com a administração pública estadual.

No máximo, o Governo tenta insinuar mal uso dos repasses, mas também não apresenta sequer algum indício de irregularidade cometida pela atual administração.

Foi sua maior besteira nesse processo. Acusar uma instituição de um crime do qual não tem provas e, muito pior, sequer indícios.

Diz que pretende usar o dinheiro retido para benefício de pessoas que não têm acesso à universidade e termina entrando numa tripla contradição.

Primeiro porque ao diminuir os recursos propicia justamente o aumento das pessoas sem acesso ao ensino superior, segundo porque tem dado repetidas declarações de que as receitas estão crescendo muito acima da média (o que tornaria injustificado o corte e, pelo contrário, deveria resultar em maiores investimentos) e, terceiro, porque ao invés de estar aumentando os investimentos na educação está é fechando escolas.

Sendo assim, a conclusão óbvia a que se pode chegar é que o pensamento do governo é: “Se a gente encolhe a estrutura da educação básica vai ter menos alunos aptos ao ensino superior. E como não vai ter aluno, não precisa dinheiro para a universidade”.

Inteligente, não?

E enquanto isso, como comporia Aldir Blanc...

“A Paraíba conhece a UEPB...”

“A Paraíba gosta mais da UEPB...”

“A Paraíba defende a UEPB...”

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