quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Luz para a terra e para os homens


Por Ana Cristina Santos, Jornalista

Posso dizer, sem medo de exagero, que realmente descobri o mundo no dia em que pisei na UEPB. Era uma menina lá do fim do mundo que arriscou demais e deu sorte. Cheia de estigmas, de medo, de preconceitos enraizados. Esperando assustada numa fila de matrícula, coração aos pulos, vendo a hora que alguém diria: você se enganou, seu lugar não é aqui.

Nunca aconteceu. A UEPB me acolheu, me descobriu, me incentivou. Entre uma aula e outra descobri a lauda e a democracia, o lead e a revolução. Pintei as paredes da faculdade, fiz pedágio para consertar o telhado, distribui panfletos e entendi que precisava mais.

A foto do Vlado* assassinado colada na parede do Centro Acadêmico, o filme do Lamarca, o gosto amargo na boca ao me dar conta das atrocidades cometidas pelo meu país, o sangue pulsando forte me dizendo: que jamais se repita!

A amizade, a solidariedade, a música e a alegria de fazer parte de um sonho de futuro também são lembranças quase palpáveis que guardo em mim. Na UEPB a moleca, negrinha, pobrezinha, feinha e incapaz se percebeu uma mulher, negra, cidadã, com consciência de classe, um horizonte de descobertas diante dos olhos e uma vontade avassaladora de transformar.

A luta por uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade nunca foi para uma utopia. Foi construção; passo-a-passo em reuniões intermináveis, em passeatas frustradas, nas grandes e pequenas manifestações, nos congressos estudantis, nas cirandas, nas palestras, greves, acampamentos e nas viagens intermináveis com mais coragem do que planos…

Refazendo o DCE; Pro que der e vier; Matar essa história é crime; Muda UEPB! Tantos slogans, campanhas, choros, risadas, discursos, discussões… Era a gente se organizando para desorganizar. Tudo isso está tatuado em minha alma e numa história coletiva de luta e conquista.

Um processo que não começou comigo e que não terminou em mim. As bandeiras históricas de acesso e permanência, de inclusão social, de derrubada dos muros de uma universidade cada vez maior, mais ampla e mais identificada com seu povo foram levadas por outros personagens, e eu tenho orgulho de, olhando os documentos de uma década atrás, dizer que a UEPB foi mais longe do que propúnhamos, do que imaginávamos no início dos anos 2000. E, que beleza,  continua avançando!

A política instituída a partir da conquista da autonomia abriu um horizonte de possibilidades inesgotáveis, levou a universidade para além das fronteiras dos presídios, libertou mentes e corações nos recantos mais isolados, foi combustível para um desenvolvimento técnico e intelectual jamais visto no estado da Paraíba.

Aquele homem, aquela mulher, de mãos calejadas e aparência humilde que com seus impostos pagaram a minha faculdade hoje podem entrar em qualquer um dos seus campi com a intimidade de quem entra em sua casa. Dizem com orgulho: essa Universidade é minha, eu ajudo a construir!

Essa identidade do povo paraibano com sua universidade não se apaga, é soberana, não se submete ao equívoco de governo algum. Assim como não se apaga a esperança que se acendeu em meu peito ao ver a assinatura do diretor naquela ficha de matrícula. Era real. É real.

A UEPB é do povo paraibano. Lutaremos por ela até que se dissipem todas as trevas da ignorância e da mediocridade. Terrae Viroque Lumen.

Ana Cristina Santos é jornalista, e comunista, graças à UEPB e ao povo paraibano. Foi presidente e coordenadora-geral do DCE UEPB entre 2002 e 2004.

* Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar.

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