Ilustríssimos senhores deputados, “a mão que toca um violão se preciso canta um hino…”
Em qual único espaço é possível conhecer em detalhes o engenho de José Lins do Rego, discutir as teorias e a atualidade do pensamento de Celso Furtado, a riqueza poética de Augusto dos Anjos, a riqueza musical de Jackson do Pandeiro e Geraldo Vandré, a importância de Margarida Maria Alves?
Em qual único espaço é possível ter a convivência de Edvaldo do Ó, Vital do Rêgo, Itan Pereira e tantos tantos outros de cores, matizes e tendências plurais?
O que hoje aqui se discute é muito mais que percentuais de repasses. O impasse criado pelo atual governo do Estado para com a UEPB é muito mais do que uma briga por valores. Faz parte de um projeto para uma região pobre e desigual, em que mais de 60% dos paraibanos sobrevivem com apenas meio salário mínimo, ou mais de um terço com até um quarto de um salário mínimo. O que se discute aqui é o que talvez esteja sendo um dos projetos mais democráticos de inclusão social.
O que se discute aqui é o futuro da UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, universidade pública, que desde o seu início tem um perfil de Universidade de trabalhadores para trabalhadores. É a Universidade que se expandiu a partir da lei da autonomia financeira, promulgada em 2004 e chega hoje a possuir oito campi.
Universidade que não é só da região de campina grande, mas que também transforma a realidade das regiões polarizadas por Lagoa Seca, João Pessoa, Gurabira, Catolé do Rocha, Araruna, Monteiro e Patos. É preciso conhecer cada uma dessas regiões, para entender que sem a presença da Universidade seria impossível para muita gente cursar um curso superior, viver o dia a dia de uma Universidade. São pessoas do campo e da cidade que passaram a investir no futuro, sendo candidatas a melhores empregos e, principalmente, a serem elas mesmas agentes de transformação do quadro local de ignorância e necessidade.
Universidade que é difícil dimensioná-la. Difícil dimensionar sua expansão, a partir da autonomia financeira. Expansão que se manifesta no aumento considerável de projetos de Iniciação Científica, a estudar temas do interesse de paraibanos. Em cada edital do PIBIC é possível ver que o investimento em iniciação científica tem representado em transformações importantes, que possibilitam a muitos estudantes não só a publicação, não só o ingresso em programas de pós-graduação em todo o país, mas em contribuições importantes para a transformação da realidade local.
A UEPB é também uma Universidade marcada pelos projetos de extensão. Universidade que não se fecha em suas fronteiras, que não se julga acima dos grupos, dos diversos atores que compõem um determinado lugar. É a UEPB que está presente nos lugares mais distintos da Paraíba, envolvendo pessoas, movendo sentimentos, autoestima, futuro.
Palavras que não expressam o que é a UEPB. Que nos digam talvez os caboverdeanos, os espanhóis, os cubanos, estudantes de diversos lugares do mundo que conosco estiveram. Ou os professores nossos, saídos das brenhas da Paraíba, que se tornaram cidadãos do mundo, voltando depois para mudarem a nossa realidade.
Que nos digam os mestrados que surgem a cada dia, os nossos doutorados, a nossa central de aulas a ser inauguradas, as nossas revistas científicas, os filmes já premiados produzidos a partir da UEPB, os profissionais egressos presentes em todo o mundo, os museus, os beneficiados do presídio do serrotão…
Em todos esses capítulos, a UEPB passou a ter prazer em contar o seu passado, a sentir orgulho pelo presente e a poder ver claramente um belo futuro. Hoje, professores e funcionários sentem orgulho de serem da UEPB, de estamparem esta marca, de fazerem uma Universidade que é única, que constrói uma história absolutamente original.
Futuro que está neste momento ameaçado.
É o momento de decidir se deveremos retroceder, ao aceitar que todos os recursos de uma Universidade autônoma passem a ficar presos junto à conta única do governo estadual.
É o momento de se decidir se esta Universidade está pronta, se já podemos considerá-la construída, completa.
É importante dimensionar que há muito o que construir. E que só há um caminho para isto: a AUTONOMIA. Autonomia em seu sentido amplo. Que nós, professores, estudantes e funcionários possamos decidir nosso futuro. Que continuemos livres para transmitir conhecimentos, sem medo, sem amarras, sem um cala boca. Que possamos realizar a pesquisa que é necessária, com o apoio. Pesquisa que acontece com um custo muitíssimo baixo, mas que demanda o ônibus para o evento, a compra dos equipamentos e do material necessário, a bolsa para o jovem estudante. Que possamos atingir todos os cantos da Paraíba.
Ao chegar em todos os lugares, a UEPB tem contribuído para a preservação da nossa identidade. Que possamos continuar chegando a todos os lugares, inserindo, transformando, nutrindo de conhecimento e de inquietações milhões de paraibanos e de pessoas de outros estados que nos procuram, na ânsia de serem livres.
Por que, como diria José Marti, ser culto é a única forma de ser livre.
Que não permitamos que um projeto desta magnitude seja interrompido pela decisão de se fazer caixa para o governo estadual. Que a decisão mesquinha não cale um projeto tão importante para a Paraíba. Que a decisão de fazer caixa não sepulte um projeto, de inserção social, de transformação, de libertação.
Que a UEPB permaneça autônoma e que possamos continuar colhendo os frutos do investimento na Universidade Estadual da Paraíba.
Que respeitem a autonomia.
Que respeitem a UEPB.
Que respeitem a história e o povo da Paraíba.
Viva a UEPB!
Viva a autonomia!
Viva a pequena e heróica Paraíba, que sofre, mas também luta.
Autonomia… Governador, respeite a UEPB.
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