Por Pedro Corrêa do Lago, Questões Manuscritas
Segundo seus familiares, Mário nunca se recuperou desse grande amor desfeito e nunca casou-se. Carmem, por sua vez, engrenaria outras histórias de amor e finalmente um casamento infeliz com o americano David Sebastian, mas chegou a confidenciar a íntimos que o grande amor de sua vida havia sido de fato Mário Cunha, e que ela deveria ter esperado sua volta dos Estados Unidos e casado com ele.
No tempo do namoro – iniciado quando Carmem tinha menos de 20 anos, - Mário e ela trocaram inúmeras cartinhas e cartões postais, nos quais Carmem o chamava de “Marinho” e assinava muitas vezes “tua Bituquinha”. Sobreviveram dezenas de fotos nas quais Carmem fala como criança e se declara com frases como: “Marinho eu vivo só, só, só para o meu maridinho sim”? ou: “tu despertaste em meu coração um amor tão puro e sincero e por isso eu me julgo a mais feliz das mulheres” ou ainda, numa foto de maiô: “Para o Marinho ofereço esta uvazinha para ele”, e no verso: “esta menina muito feia, sim?”. Outras fotos trazem dedicatórias ingênuas como: “Ao Marinho do meu coração, com toda minha alma” ou ainda, nos primórdios de seu sucesso: “Bituca, todo meu sucesso será para você se eu tiver, sim? Bituquinha”.
Em meio a essas mensagens curtas – quase sempre infantis - destaca-se a foto em cartão-postal aqui reproduzida, na qual Carmem aparece “mignon”, maquiada e de cachos cuidadosamente penteados sob um chapéu, ao lado de um Mário alto e atlético, de terno claro.
Na foto Carmem faz a dedicatória habitual “Para meu Marinho, recuerdo de Petrópolis, Carmencita Bituca” e no verso escreve: “Mário Cunha, Bituquinha, meu só, só meu, Rio 30 Maio 29, Meu Bituquinha, meu Marinho, bonitinho, fica muito direitinho aqui no Rio, sim? Senão eu choro ouviu? E não faço mais nada pensando em ti, sabe? Bituquinha, um beijinho bem chupadinho, meu Bituca.”
Mário conservou as dezenas de cartas, fotografias e cartões carinhosos e pueris de Carmem por mais de sessenta anos guardados numa caixa de sapatos, e um sobrinho lembra-se de tê-lo visto chorar ao reencontrar a caixa por ocasião de uma mudança, e reler algumas cartas. Após sua morte, seus descendentes desfizeram-se das cartas e fotografias, dispersadas entre vários colecionadores e admiradores de Carmem, mas Ruy Castro chegou a ter acesso a um certo número dessas peças que utilizou para seu livro definitivo.
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