Há 20 anos, a luta pela democracia no Brasil, após décadas de regime ditatorial, era o ímã que agregava movimentos civis voltados cada qual à sua bandeira - a social, a ecológica, a sindical. Uma grande cúpula mundial promovida pelas Nações Unidas (a Eco 92) funcionou como caldeirão no caloroso Rio de Janeiro, dando liga, formato e agenda a esses movimentos.
A Agenda 21, sob os auspícios de um Brasil mais aberto, propunha adequar a economia a um ideário de justiça social e equilíbrio ambiental, bases do chamado desenvolvimento sustentável. Era preciso redesenhar a forma de produzir, consumir, descartar e estimular a inclusão social por meio desses novos processos econômicos.
A efervescência da Eco 92 no entanto, foi seguida de crises econômicas e o mundo se curvou à onda neoliberalizante. O desenvolvimento sustentável que esperasse.
Vinte anos passados, a Rio+20, a ser realizada no em junho de 2012, retorna ao local de origem sem que o mundo tenha conseguido colocar aquela agenda em prática, e de novo mergulhado em crise econômica. Quem sabe agora haja uma percepção de que o desenvolvimento sustentável não deve esperar e, sim, ser usado como instrumento para a superação dos problemas que mal foram minimamente solucionados.
No Brasil, os movimentos da sociedade civil tanto cresceram, se diversificaram e se institucionalizaram, que isso passou a representar, de certa forma, um problema: em meio a tantas bandeiras, qual seguir? Que ímã usar para agregar e articular as diversas alas, organizações e movimentos da sociedade em torno de objetivos comuns? Há uma insatisfação com tudo o que o que está aí - de crise ambiental, à social, passando pela representatividade política e pela forma como a sociedade se organiza em termos de trabalho e distribuição de oportunidades. Mas o que pode dar liga a todas essas insatisfações?
Quem faz esse diagnóstico é Aron Belinky, coordenador de processos internacionais do Instituto Vitae Civilis e integrante do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira na Rio+20. (pagina22.com.br/index.php/2011/10/procuram-se-bandeiras). Sem um rumo muito bem definido, sem um inimigo claro, a mobilização é mais difícil. Se ontem lutávamos contra a ditadura, quem hoje representa o pivô em torno do qual podem se arregimentar as pessoas?
O aquecimento global , como diz o nome, é difuso, e todos nós, em maior ou menor grau, somos causadores do problema. Todos também estamos ligados, de alguma forma, à destruição das florestas e da biodiversidade, à poluição, à contaminação, à destruição de hábitats. A consciência global globalizou os problemas. O mundo virou uma só rede complexa de inter-relações e interdependências, na qual não existe mais tanta clareza de quem seja o mocinho e o bandido. Somos produtores e consumidores de crises. E agora? Agora, eis que surge uma causa com formato, cara e proporção . São 99% versus 1%. Estamos falando de desigualdades, e aí isso vale para qualquer lugar do mundo além de Wall Street. Não se trata apenas do 1% de grandes investidores que representam a parte mais nefasta do "sistema". A concentração de renda dá também o tamanho da pegada ecológica - os ricos tendem a ser os maiores emissores de carbono, os maiores geradores de resíduos, a parte que garfa a maior fatia de bolo do mundo em todos os seus sistemas ambientais e recursos naturais e energéticos. A desigualdade está também entre aqueles que desperdiçam água e os que nem esgoto têm, por exemplo.
Como afirma o professor José Eli da Veiga, também em entrevista à "Página22", os muito ricos terão de parar de crescer e rever o que entendem por prosperidade, de forma a abrir espaço ecológico para que os menos ricos possam se desenvolver (pagina22.com.br/index.php/2011/10/a-questao-e-macro).
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