segunda-feira, 31 de outubro de 2011

70 anos de sacerdócio de Dom José Maria Pires



Com informações de Sampaio Geraldo Lopes Ribeiro

O Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires celebrará 70 anos de sacerdócio em dezembro. Dom José se notabilizou, sobretudo, pela sua presença e defesa junto aos perseguidos e oprimidos. Nos conflitos de terra, nas greves, invasões e até rebeliões carcerárias, ele levava sua palavra amiga e conciliadora para os excluídos. Em 2 de dezembro de 1965, com menos de 47 anos de idade,  Dom José foi escolhido Arcebispo da Paraíba. O fato é que permaneceu como Arcebispo Metropolitano da Paraíba até 29 de novembro de 1995, retirando-se, portanto, com a idade de quase 77 anos. Foram trinta anos dedicados a esse ofício e outros mais em favor do próximo.

Dom José veio de Minas Gerais, em março de 1966, transferido da Diocese de Araçuaí, no norte daquele estado, num tempo muito especial. Havia terminado há pouco o Concílio Vaticano II, que introduziu profundas mudanças na Igreja Católica. Dom José participou ativamente daquele Concílio e era, portanto, um dos responsáveis pela nova Igreja que então surgia. De outro lado, o Brasil, acabava de entrar no Regime Militar, que através do golpe de 31 de março de 1964, interrompeu o processo democrático em nosso país, seguindo-se diversos governos comandados por militares, por longos e tenebrosos anos, que levaram o Brasil ao caos: Inflação galopante, perseguições, prisões, torturas, pessoas desaparecidas, mortes de brasileiros que corajosamente enfrentavam o “monstro” tentando derrotá-lo para retornar o país ao caminho normal da democracia. As terras estavam nas mãos de poucos, enquanto muitos agricultores iam sendo expulsos do campo para as periferias das grandes cidades. A agricultura de subsistência foi sendo substituída pela plantação de capim e cana-de-açúcar.

Dentro deste contexto, portanto, chegou à Paraíba, Dom José Maria Pires. Um arcebispo negro, filho de pais pobres e que mais uma vez, em sua vida, iria encontrar obstáculos a ser ultrapassados, ante essa sua origem e mais, junto a um clero conservador, ainda resistente às novas mudanças. Diante desse clima, o novo Arcebispo logo se posicionou ao lado do mais fraco. Despojou-se de seu Palácio, onde sempre moraram os arcebispos, manteve, durante todo o episcopado um carro simples, sem nenhum acessório de luxo, a não ser um rádio AM para notícias e futebol enquanto viajava. Era sempre dirigido por ele. E com a violenta censura imposta à impressa falada e escrita, Dom José era a voz que se podia ouvir. Bradou aos quatro cantos, contra as injustiças que aconteciam. Denunciava prisões, perseguições, expulsões dos agricultores de suas terras, citava nomes, cobrava dos políticos. O povo ficava atento, pois de outro canto não se tinha como obter informações seguras daquilo que verdadeiramente acontecia no país.

Às missas da 19h30, na Catedral, aos domingos, sempre celebradas por Dom José, acorria uma multidão de pessoas, nem sempre fiéis católicos e muitas vezes ateus. Mas estavam atentos ao sermão pronunciado. Era ali, naquele momento da missa, que obtinham inúmeras informações preciosas. Em nenhum momento Dom José titubeou. Não houve general, exército, telefonemas anônimos, ameaças, perseguições, que o fizessem hesitar um momento sequer. Era, justamente, aquela firmeza, que impedia que os militares fizessem qualquer coisa contra a pessoa do Arcebispo da Paraíba, ou com os pobres da região. A muitos pais de família ou jovens, perseguidos, ajudou para que fugissem, não por covardia, mas diante da repressão militar, do complexo armado no país, que os levariam à tortura, à morte certa. A tantos outros apoiou incondicionalmente, na luta de cada um, em busca de justiça, de casa, terra, alimento, de uma vida digna, enfim. 

Através do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, fornecia aos pobres, advogados, assistentes sociais e outros profissionais, que os ajudavam na defesa de seus direitos, de suas vidas. Adepto da Não-violência liderava todas essas lutas, incentivando o diálogo, a persistência, a paciência e a desobediência às leis e ordens superiores, prejudiciais à vida do povo. Os estudantes, vivendo aquele momento político, sempre viram no Arcebispo o grande exemplo. 

Ele falava aquilo que estava atravessado na garganta de tantos brasileiros, de estudantes sufocados nas universidades. O "paraibano", nascido em Minas Gerais, após tornar-se arcebispo emérito, em 1996 regressou para sua terra e hoje reside em Belo Horizonte, onde tem uma vida agitada, com agenda cheia, e inúmeros compromissos pelo país e pelo mundo. 

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