por Tim Appenzeller, National Geographic Brasil
Toda a vez que expiramos, damos a partida no automóvel, acendemos uma lâmpada – ou fazemos qualquer outra coisa – lançamos dióxido de carbono na atmosfera. O carvão, o petróleo e o gás natural que movimentam a economia são originários do carbono incorporado as plantas há centenas de milhões de anos – e esse carbono agora está voltando à atmosfera através das chaminés, dos canos de escapamento e das queimadas. O CO2 é o principal, dentre os diversos gases gerados por atividade humana, que aumenta a capacidade da atmosfera em reter calor. O metano emitido por rebanhos de gado e aterros sanitários, assim como os clorofluorcarbonetos (CFC) usados em alguns modelos de geladeira e aparelho de ar condicionado, são outros desses gases. O derretimento de geleiras, o início antecipado da primavera e a elevação constante na temperatura média são apenas os sinais mais óbvios do aquecimento global a cada dia mais nítido no século 21.
Por ano, a humanidade despeja na atmosfera cerca de 9 bilhões de toneladas de carbono (são mais de 30 bilhões de toneladas de CO2). Desse total, 88% vêm da queima de combustíveis fósseis e da fabricação de cimento. O resto é desflorestamento. No entanto, menos da metade dessa emissão bruta permanece na atmosfera e contribui para o aquecimento do planeta. Para onde vai o resto? “Quando se pensa nisso, é um mistério e tanto”, revela o cientista Steven Wofsy. A sua estação de pesquisa na floresta Harvard, no estado de Massachusetts, não é o único local em que a natureza está respirando fundo e, com isso, ajudando a nos salvar de nós mesmos. Pois são as florestas, os campos e os oceanos que funcionam como sorvedouros de carbono. Eles reabsorvem metade do CO2 que emitimos, freando o seu acúmulo na atmosfera e adiando os efeitos no clima.
O problema é que os cientistas não sabem com certeza se esse processo benéfico vai continuar ou se, com o aumento das temperaturas globais, ele não poderia até mesmo virar algo prejudicial – com as florestas e outros ecossistemas se convertendo em fontes de emissão de carbono, lançando na atmosfera mais do que conseguem absorver. Tais dúvidas levaram os pesquisadores às florestas e aos campos, às tundras e aos oceanos, com o objetivo de monitorar e entender o carbono desaparecido.
Não se trata apenas de questão de curiosidade intelectual. Verões causticantes, tempestades violentas, padrões alterados de precipitações e deslocamentos de espécies são algumas das mudanças climáticas que podem ser ocasionadas pelo aquecimento global. E a humanidade está a caminho de acrescentar à atmosfera do planeta outras 200 a 600 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono até o fim deste século. Nesse nível, segundo o ecologista Steve Pacala, “coisas terríveis poderiam acontecer, e o universo de possibilidades negativas é tão amplo que algumas delas são inevitáveis”. Entre tais perspectivas estão o fim dos recifes de coral, o crescimento das áreas desertificadas, a alteração no curso das correntes marinhas que transportam calor, talvez provocando, por exemplo, o resfriamento das ilhas britânicas e da Escandinávia enquanto o resto do mundo fica cada vez mais quente.
Se a natureza deixar de dar a sua contribuição – ou seja, se os sumidouros de carbono deixarem de reter parte do nosso excesso de dióxido de carbono –, poderemos enfrentar mudanças drásticas antes mesmo de 2050, em um desastre súbito demais para ser evitado. Porém, se os sumidouros mantiverem ou aumentarem sua atividade, poderíamos contar com mais algumas décadas para substituir as fontes energéticas emissoras de carbono que hoje sustentam a economia mundial. Alguns cientistas e engenheiros acreditam que, se entendermos o funcionamento dos sumidouros naturais, seremos capazes de torná-los mais eficientes ou até mesmo criar nossos próprios reservatórios para armazenar com segurança essa ameaça ao clima planetário.
O pano de fundo dessas esperanças é um ciclo natural tão concreto quanto a nossa respiração e tão abstrato quanto os números coletados por Steven Wofsy. Em 1771, ainda nos primórdios da Revolução Industrial e do seu apetite voraz por combustíveis fósseis, um clérigo inglês identificou as etapas cruciais do ciclo natural do carbono. Em uma série de engenhosos experimentos, Joseph Priestley constatou que o fogo e a respiração dos animais “maculavam” o ar em um jarro selado, tornando-o insalubre. Mas ele também descobriu que um ramo viçoso de hortelã era capaz de restaurar a saúde do ar. Priestley não chegou a dar nome aos gases relevantes, mas hoje sabemos que o fogo e a respiração consomem oxigênio e emitem dióxido de carbono. O ramo de hortelã revertia ambos os processos. Na fotossíntese, o CO2 é absorvido e convertido em tecido vegetal, eliminando o oxigênio como um subproduto.
O nosso mundo não passa de um jarro semelhante, ainda que bem maior. Dezenas de bilhões de toneladas de carbono circulam por ano entre a terra e a atmosfera: eliminado na expiração dos seres vivos, é em seguida degradado e absorvido pelas plantas, que então produzem oxigênio. Um tráfego similar de carbono ocorre nos mares.
Em comparação com essas vastas trocas naturais, os poucos bilhões de toneladas que os seres humanos lançam no ar anualmente parecem insignificantes. Mas, como um dedo apoiado no prato de uma balança, nossas incessantes emissões vêm desequilibrando o ciclo. O carbono acumulado na atmosfera está aumentando: subiu 30% desde a época de Priestley. E hoje atingiu um nível mais elevado que em qualquer outro momento nos últimos 20 milhões de anos. Chegou a hora de tentar reverter essa tendência.
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