terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O recado de Immanuel Kant aos chineses



Do Caderno Ilustríssima

Alemães e chineses tinham objetivos diferentes ao negociar "Arte do Iluminismo", a primeira exposição internacional do Museu Nacional da China após uma ambiciosa reforma que durou quatro anos e consumiu US$ 380 milhões.
Para o lado europeu, o objeto da mostra representa "um fenômeno universal que simboliza diversidade, abertura e tolerância", como define a apresentação da série de palestras "Iluminismo em Diálogo", paralela à mostra.
Já os chineses viram no convênio com três grandes acervos alemães uma oportunidade para dar um ar de "classe mundial" ao museu, anunciado como o maior do mundo e localizado na supervigiada praça da Paz Celestial, onde qualquer manifestante está sujeito a anos de prisão. A aposta é na opulência, e não na ousadia.
Em abril passado, as diferentes expectativas produziram uma vítima. Escalado para o ciclo de palestras, o sinólogo alemão Tilman Spengler teve o visto negado pelas autoridades chinesas. O motivo: ter participado de um evento em homenagem a Liu Xiaobo, o dissidente preso que ganhou o Prêmio Nobel da Paz. "Ele não é um amigo do povo chinês", justificou um porta-voz do Ministério da Cultura.
Já a exposição caminha para os seus últimos três meses sem provocar maiores polêmicas e com público garantido pelas hordas diárias de turistas do interior. Com cerca de 450 peças, inclui pinturas, móveis e roupas da época e está dividida em nove partes.
Na seção mais ousada, "Emancipação e a Esfera Pública", há um busto do filósofo Immanuel Kant onde se lê: "Tenha a coragem de usar a sua própria compreensão". O veto a Spengler e as centenas de policiais e câmeras do lado de fora sugerem que não.

A ARTE E OS RISCOS
Um dos maiores entusiastas da arte chinesa sai de cena. O bilionário belga Guy Ullens vem se desfazendo de sua coleção de arte do país, tida como a maior do mundo, e desistiu de administrar a pioneira galeria UCCA, localizada no 798, o distrito das artes em Pequim.
As obras estão sendo leiloadas em grandes lotes em Hong Kong, com preços surpreendentes. O maior exemplo foi o quadro "Amor Eterno", de Zhang Xiaogang. Estimado inicialmente em até US$ 4,5 milhões, foi arrematado por US$ 10,1 milhões, recorde para um artista contemporâneo chinês.
Já o UCCA (Centro Ullens para Arte Contemporânea, na sigla em inglês), é um dos maiores espaços culturais de Pequim. Inspirado na Tate Modern, de Londres, reúne três grandes salas de exposição, auditório, biblioteca, loja e restaurante, tudo financiado pelo belga.
"No longo prazo, este lugar precisa ser administrado por chineses", disse Ullens, em recente entrevista ao jornal "China Daily". "Quem vai assumir o risco? É muito comum no resto do mundo. O que queremos demonstrar para a China é que é possível existir um lugar assim."

ÓPERA SINO-PERNAMBUCANA
Recém-formado pela Escola de Ópera de Bolonha, o tenor recifense Max Jota, 34, se apresentou no último dia 12 de dezembro no Teatro Nacional de Pequim, o palco mais prestigiado da China. Na programação, nada de Puccini ou Verdi -ele cantou em mandarim.
Jota é o único brasileiro entre 20 selecionados pelo programa "I Sing Beijing" (eu canto Pequim) em disputadas audições pela Europa e pelos EUA. Em meados de 2011, por 40 dias, eles receberam mais de oito horas diárias de aula para cantar em mandarim e conhecer a história da música chinesa.
"O estilo é muito diferente", explica Jota, depois da apresentação. "É muito pela entonação das palavras. Há cinco tons para a mesma palavra. Tecnicamente, é muito difícil, principalmente para quem vem de uma língua latina."
O programa incluiu professores do Metropolitan, de Nova York, e tem o ambicioso objetivo de "apresentar a emergente ópera moderna chinesa com um novo gênero na ópera de estilo ocidental". Para os escolhidos, é a chance de entrar num mercado novo e em expansão, em contraste com os centros de ópera tradicionais da Europa.
"A partir de agora, sou um embaixador da música chinesa", afirma Jota, ex-aluno da Universidade Federal da Paraíba. "Podemos ser chamados a qualquer instante para cantarmos em qualquer lugar do mundo e apresentar a cultura do país."

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