segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Diretores do cinema paraibano homenageiam Linduarte Noronha

Por Krystine Carneiro, do G1 PB

“Não é apenas um cineasta, não é apenas um personagem famoso. É o símbolo da realização do cinema que busca ser brasileiro, que busca ser nordestino”. Foram essas as palavras usadas pelo presidente da Academia Paraibana de Cinema, Wills Leal, para descrever o cineasta Linduarte Noronha, que morreu na madrugada desta segunda-feira (30) em João Pessoa.

Precursor do movimento Cinema Novo com o documentário ‘Aruanda’, de 1960, Linduarte morreu aos 81 anos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Memorial São Francisco. Segundo informações da família do cineasta, ele sofreu uma parada respiratória. A morte dele foi repercutida por vários nomes do cinema paraibano na manhã desta segunda. “O falecimento do Linduarte é um marco, um acontecimento lamentável sobre todos os aspectos”, completou Wills Leal. O corpo está sendo velado no Parque das Acácias, na capital, onde também acontece o enterro às 18h.

Apesar de ser pernambucano, Linduarte construiu sua carreira na Paraíba. “Ele era uma referência maior do cinema paraibano, historicamente falando, e uma referência do cinema documental brasileiro e latino americano”, explicou o jornalista e cineasta Lúcio Vilar.

Para Lúcio, a importância dele não se restringia apenas ao Brasil. “'Aruanda' teve uma alcance que extrapolou as fronteiras nacionais”. Como estudioso do cinema, Lúcio Vilar explicou que o documentário influenciou diretamente jovens cineastas brasileiros, como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, na década de 60 e que essa influência deu força para que o Cinema Novo passasse a existir.

Glauber Rocha chegou a publicar um artigo elegendo ‘Aruanda’ como o filme que introduziu o ‘Moderno Documentário Brasileiro’. “Esse é o legado. Nosso reconhecimento não é ufanismo, é reconhecido por especialistas”, disse Lúcio.

Em 2005, o jornalista batizou o principal festival de cinema da Paraíba com o nome do documentário Aruanda de Linduarte. “Ele era muito generoso. Quando decidimos mudar o nome para Aruanda, fui perguntar se ele autorizava. Ele riu muito e disse que aquilo já era domínio público, que não tinha nada que pedir autorização. Ele já tinha noção que o filme dele não era mais dele, era do público, dos estudiosos, dos pesquisadores”.

A jovem jornalista Larissa Claro também lamentou a morte de Linduarte nesta manhã. Larissa é diretora do documentário ‘Lição de Fogo’, de 2007, que mostra o processo de produção do filme ‘Salário de Morte’, filmado no início da década de 70 em Pombal, a 377km de João Pessoa. “Tive a grande honra e privilégio de bater na porta de Linduarte e ouvi-lo dizer que aquela seria última vez que ele iria falar sobre ‘Salário de Morte’, que é um filme muito polêmico”, disse Larissa. “Todo mundo que teve algum trabalho ligado ao cinema paraibano lamenta a morte dele. É uma perda irreparável”.

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