Por Antônio Vicente Filho, da Redação DiárioPB
Em apenas 29 anos de carreira, o paraibano Jackson do Pandeiro costurou uma das bandeiras mais sólidas da música brasileira. Hoje, quando o calendário registra a data do seu nascimento (em 31 de agosto de 1919, na cidade de Alagoa Grande), seu nome continua sendo venerado e homenageado como um dos maiores ritmistas da Paraíba 28 anos após sua morte (em 10 de julho de 1982).
Na música nordestina, ele está no mesmo patamar que Pixinguinha ocupava no choro entre outros bambas. “Nasci com uma sina de cigarra/Aonde eu chegar, tem farra...”. Talvez o menino de onze anos de idade tenha despertado seu talento quando acompanhava sua mãe Flora Mourão dando o passo no coco sob o comando do zabumbeiro João Feitosa, na região do Brejo paraibano.
Jackson do Pandeiro não limitou-se a mostrar versatilidade para cantar somente no repertório da música nordestina - sua genialidade com malícia, malandragem, suingue das emboladas e do coco, entre outros tipos atestam sua criatividade. Nos anos 50, participou como artista de filmes ao lado de grandes nomes como Dercy Gonçalves, Zé Trindade, entre outros, nas fitas: “Batedor de carteira”, “Cala boca, Etelvina”, “Tira a mão daí”, “Viúvo alegre”, entre outras.
Na década de 60, mostrou que também tinha cadência para marcar o passo no carnaval. Gravou com sucesso a música “Me segura que eu vou dar um troço”. Na sua carreira Jackson conviveu com a nata da música brasileira. Além de canções próprias, ele teve como compositores nomes consagrados, como Rosil Cavalcanti, Antonio Barros, Zé Dantas, Elino Julião, Gordurinha, Edgar Ferreira, Genival Macedo, entre outros. Deixou duas viúvas, Almira Cavalcanti, sua parceira em gravações de discos e shows, e Neusa Flores dos Anjos, que viveu com ele até o último mo.
Sobre sua carreira, Jackson no auge do sucesso declarou: “Eu não queria ser quinto ou quarto baterista. Por causa do suingue, um fox meio ligeiro que tinha antigamente, eu deixei de tocar bateria. Eu queria ser um baterista que todo mundo se admirasse. Eu toda vida gostei de ser assim. Não gostava de ser o último lugar. Eu gostava de ser segundo pra primeiro, e tal. Então era um baterista que só gostava de tocar a nossa música. Então abandonei e fui treinar um pouquinho de pandeiro. E sempre cantando. Cantando samba, cantando marcha de arrasta-pé, cantando coco, essa coisa toda”. A primeira e única biografia foi lançada em 2001, com o livro “Jackson do Pandeiro, o rei do ritmo”, de minha autoria em parceria com o jornalista Fernando Moura. A obra é fruto de uma pesquisa de dez anos colhendo dados com familiares, amigos, parceiro, pesquisadores, artistas e pessoas anônimas.
Todo material se encontra no Memorial Jackson do Pandeiro na cidade de Alagoa Grande. A memória está espelhada em discos, fotografias, chapéus, roupas, pandeiros, documentos, entre outros objetos.
Artistas falam sobre Jackson
Zé Ramalho – “Fui muito influenciado por Jackson do Pandeiro. Tinha uma grande voz, era uma espécie de João Gilberto do forró. Fiz um show ao lado dele em 1976, no Teatro João Caetano, no Rio, e fiquei impressionado com o ritmo e a energia dele em cima do palco. O sobrinho dele, o José Gomes, que herdou o nome do tio, toca na minha banda há muito tempo”.
João Bosco – “Sempre fui fascinado por ele. A gente tinha um projeto de fazer vários shows junto pelo País, mas acabou não dando certo por causa de falta de grana. Tive a oportunidade de dizer ao Jackson o quanto admirava o seu trabalho. Gravei uma música em homenagem a ele – “Batiumbalaio – Rockson do Pandeiro. Coloquei Rockson porque achava que o som dele tinha muito de rock-and-roll”.
Alceu Valença – “Quando criança ouvia muito Jackson do Pandeiro nos alto-falantes da feira de São Bento. A música dele é a trilha sonora da minha infância, tem cheiro de fumo de rolo. |Talvez eu tenha sido o músico que mais se aproximou de Jackson no fim da carreira. Viajei o Brasil inteiro com ele em 1977, com o Projeto Pixinguinha. Depois dessa excursão, fiquei deslumbrado e resolvi compor o meu primeiro forró: “Coração Bobo”.
Elba Ramalho – “Na minha opinião existem duas escolas de canto no Brasil: a de João Gilberto e a de Jackson do Pandeiro. Eu tive o privilégio de conviver com Jackson e ser amiga dele.Foi o meu grande professor ao lado do Gonzagão. Os dois sempre gostaram muito do meu trabalho. O Jackson tocou em quase todos os meus primeiros discos”.
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