quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sem Zilda Arns, Pastoral do Idoso teme por sua sobrevivência



Diferentemente da Pastoral da Criança, fundada há 26 anos pela médica Zilda Arns e que ajudou a tornar a saúde na infância tema prioritário na política pública brasileira, a Pastoral da Pessoa Idosa, projeto também legado por ela, ainda patina na celebração de convênios. A médica morreu há duas semanas no terremoto que atingiu o Haiti, aos 75 anos.

O motivo para as dificuldades, apontam assessores da entidade, é a falta de políticas públicas voltadas para o idoso. Em novembro passado, "a muito custo", segundo Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da pastoral, Zilda fechou um convênio de R$ 600 mil com o Ministério da Saúde, que ajudará a manter a instituição por um ano.

O valor é irrisório, se comparado ao convênio com a Pastoral da Criança, da qual o Ministério da Saúde é o principal mantenedor desde 2000: no ano passado, repassou R$ 34 milhões à instituição.
"Infelizmente, na área da saúde, temos um subfinanciamento crônico. Não dá para atender a todas as demandas", diz a secretária-executiva do ministério, Márcia Bassit.

No Orçamento federal para 2010, há dez ações orçamentárias voltadas à atenção ao idoso, num total de R$ 4,6 milhões. Para a criança, são 12, em um total de R$ 517 milhões.

Futuro

Sem Zilda, que era a única coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada em 2004, há preocupação quanto ao sucesso de futuros convênios. Era a médica quem estava à frente do processo de celebração de novas parceiras.

Hoje, a pastoral atende 158 mil idosos em 770 municípios. A meta para este ano é aumentar em 15% o número de pessoas acompanhadas. "Ficamos quase quatro meses sem mandar recursos para as comunidades", lembra Ana Carolina Costa, assessora administrativa da Pastoral da Pessoa Idosa.

Quem deu continuidade ao trabalho, diz ela, foram os próprios voluntários, que assumiram despesas e fizeram até rifas para arrecadar dinheiro.

Este ano, a pastoral aguarda o retorno sobre quatro propostas de convênio feitas a governos estaduais e municipais, o que pode garantir cerca de R$ 250 mil para a instituição.


Da Agência Folha, em Curitiba

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