sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Amazônia só tolera mais 3% de desmate


Se o desmatamento da Amazônia -que já consumiu 17% da floresta- atingir a marca de 20%, o aquecimento global se encarregará de destruir o que sobrou, afirma uma compilação de estudos sobre a região feita pelo Banco Mundial.

As conclusões do documento, que reúne vários estudos publicados nos últimos anos, levam em conta simulações do comportamento da Amazônia em diferentes cenários projetados pelo IPCC (painel do clima da ONU). Os cientistas identificaram que o efeito conjunto de incêndios, desmatamento e mudança climática empurra a floresta para um estado onde ela perde sua "massa crítica" para sobrevivência.
Como as árvores tropicais são importantes para regulação do clima e do regime de chuvas, forma-se uma espécie de efeito dominó que afeta todo o bioma.
No pior cenário, a floresta da Amazônia encolhe 44% até 2025. O volume das precipitações tende a aumentar durante o período de chuvas e diminuir nos de seca, afetando a vazão dos rios de toda a bacia.
O leste da Amazônia -que é contíguo ao Nordeste- terá as consequências mais graves. O período de seca aumentará e o clima mais quente contribuirá para o avanço da vegetação típica do semiárido. Até 2025, a região poderá perder 74% de sua atual área de floresta.
Já no sul da Amazônia, pelo menos 30% dessa área de floresta tropical terá sido substituída por cerrado até 2025.
Assim como a caatinga, esse tipo de vegetação tem árvores menores, que absorvem menos gás carbônico da atmosfera. Mais carbono no ar, então, contribui para o aquecimento global, expandindo os impactos para o resto do país. No Nordeste, por exemplo, as estiagens devem se tornar ainda mais prolongadas, prejudicando a agricultura e a geração de energia elétrica na região.
"É a primeira vez que um trabalho avalia esses abalos [aquecimento global, incêndios e desmatamento] conjuntamente. A situação é grave. Precisamos tomar medidas imediatas", avalia Thomas Lovejoy, presidente do Comitê Científico Consultivo Independente do relatório do Banco Mundial.
Embora indique que parte das perdas na Amazônia sejam inevitáveis, o documento propõe ações de reflorestamento como solução. Estudioso da região há mais de 30 anos, Lovejoy afirma que elas são "imprescindíveis" e devem começar pela Amazônia oriental.
Para Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o reflorestamento é importante, mas insuficiente. "Não adianta nada se os países não diminuírem as emissões de gases-estufa", diz.

Do jornal O Globo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Chico, o motorista e meu primeiro provedor de galináceos"


Muito querido na UEPB, Chico deixa boas lembranças na história da Instituição (crédito da foto: Paizinha Lemos)

O sujeito é mais ou menos assim: fama de corredor, boa conversa, voz macia e em tom sempre baixo. Agora que não será mais multado posso confessar que nunca senti insegurança com ele ao volante, mesmo na faixa dos 150 a 160km/h.

Cinquenta e poucos anos, às portas da aposentadoria, a história dos bastidores da UEPB em sua memória, dono de sítio, trabalhador incansável, foi o responsável pelo início da minha atividade de criador de galinhas. Deu-me uma preta (ainda viva), uma do pescoço pelado e um galo. A "granja" evoluiu e tomei gosto pela coisa.

Pois bem! Final de tarde... Chico vai saindo do banho, lá no seu sítio em São José da Mata, onde morava e considerava um pequeno paraíso, dois sujeitos aparecem armados, anunciam o assalto que termina com vários tiros e seu corpo inerte estendido no chão.

Assim, sem mais nem menos, com a mulher e sua filhinha de 6 anos em casa.

Lá se foram um montão de sonhos e planos que ele me havia confessado há uma semana em viagem a João Pessoa.

Eis o absurdo da vida nos tempos atuais, valendo assim, mais ou menos uma meia pataca...

Isso parece reforçar a tese de que devemos viver tudo ao mesmo tempo agora, até o limite do possível, pois a vida não espera e cada vez espera menos.

O sonho de morrer velhinho (simpatizo com a idéia da velhice), numa cama limpa, rodeado de carinho e atenção, ou então dormindo impunemente numa rede na varanda já era! Tá ficando cada dia mais distante...

Afinal, quem está seguro?
 
Texto de autoria do professor Antônio Guedes Rangel Junior, pró-reitor de Planejamento da UEPB
(Veja mais textos no blog: rangeljunior.blogspot.com)

Sem Zilda Arns, Pastoral do Idoso teme por sua sobrevivência



Diferentemente da Pastoral da Criança, fundada há 26 anos pela médica Zilda Arns e que ajudou a tornar a saúde na infância tema prioritário na política pública brasileira, a Pastoral da Pessoa Idosa, projeto também legado por ela, ainda patina na celebração de convênios. A médica morreu há duas semanas no terremoto que atingiu o Haiti, aos 75 anos.

O motivo para as dificuldades, apontam assessores da entidade, é a falta de políticas públicas voltadas para o idoso. Em novembro passado, "a muito custo", segundo Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da pastoral, Zilda fechou um convênio de R$ 600 mil com o Ministério da Saúde, que ajudará a manter a instituição por um ano.

O valor é irrisório, se comparado ao convênio com a Pastoral da Criança, da qual o Ministério da Saúde é o principal mantenedor desde 2000: no ano passado, repassou R$ 34 milhões à instituição.
"Infelizmente, na área da saúde, temos um subfinanciamento crônico. Não dá para atender a todas as demandas", diz a secretária-executiva do ministério, Márcia Bassit.

No Orçamento federal para 2010, há dez ações orçamentárias voltadas à atenção ao idoso, num total de R$ 4,6 milhões. Para a criança, são 12, em um total de R$ 517 milhões.

Futuro

Sem Zilda, que era a única coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada em 2004, há preocupação quanto ao sucesso de futuros convênios. Era a médica quem estava à frente do processo de celebração de novas parceiras.

Hoje, a pastoral atende 158 mil idosos em 770 municípios. A meta para este ano é aumentar em 15% o número de pessoas acompanhadas. "Ficamos quase quatro meses sem mandar recursos para as comunidades", lembra Ana Carolina Costa, assessora administrativa da Pastoral da Pessoa Idosa.

Quem deu continuidade ao trabalho, diz ela, foram os próprios voluntários, que assumiram despesas e fizeram até rifas para arrecadar dinheiro.

Este ano, a pastoral aguarda o retorno sobre quatro propostas de convênio feitas a governos estaduais e municipais, o que pode garantir cerca de R$ 250 mil para a instituição.


Da Agência Folha, em Curitiba

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Fidel Castro critica "ocupação" do Haiti pelos Estados Unidos



O ex-presidente cubano Fidel Castro criticou os Estados Unidos por enviar milhares de soldados ao Haiti depois do terremoto que devastou o país caribenho. Ele se uniu ao coro de líderes de esquerda ao condenar a "ocupação". O presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o boliviano, Evo Morales, dois aliados de Castro, denunciaram a "ocupação militar" do Haiti após o tremor que demoliu Porto Príncipe em 12 de janeiro e que deixou até 200 mil mortos e dezenas de milhares de feridos.

"Em meio à tragédia haitiana, sem que ninguém saiba como nem por qual motivo, milhares de soldados das unidades dos fuzileiros navais dos EUA, tropas aerotransportadas e outras forças militares ocuparam o território do Haiti", escreveu Castro na coluna publicada neste domingo pela imprensa estatal.

"Pior ainda, nem as Nações Unidas nem o governo dos EUA ofereceram uma explicação à opinião pública mundial desses movimentos de forças", acrescentou o líder cubano de 83 anos.

Castro disse que o envio de soldados norte-americanos e de outras nações ao Haiti tornaria mais caótica a distribuição de ajuda humanitária para os sobreviventes.

"É necessário discutir seriamente o assunto e garantir à ONU um papel direcionador que corresponde a ela nesse delicado assunto", escreveu o líder cubano.

Castro acrescentou que Cuba, em vez de enviar soldados ao Haiti, reforçou sua ajuda com cerca de 400 médicos e paramédicos que trabalhavam no país caribenho antes do terremoto.

Cuba autorizou os EUA a usarem seu espaço aéreo para missões de retirada de feridos do Haiti , algo que analistas interpretaram como sinal positivo nas estremecidas relações entre os países. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, agradeceu o gesto cubano.

Do Portal Vermelho (http://www.vermelho.org.br)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Nota sobre o falecimento do funcionário da UEPB, Francisco Alves de Oliveira



O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual da Paraíba DCE-UEPB, vem apresentar sua solidariedade aos familiares do servidor da UEPB, Francisco Alves de Oliveira. Estamos, ainda, transtornados com o estúpido e brutal assassinato de um trabalhador e companheiro. À família enlutada, nossas condolências.


Da Diretoria Executiva  do DCE /UEPB

Haiti - A maldição branca



Texto  escrito em 2004, de autoria do escritor e jornalista Uruguaio, Eduardo Galeano, com um pouco do contexto histórico da situação atual no Haiti, ignorado pela grande imprensa.

No primeiro dia deste ano a liberdade completou dois séculos de vida no mundo. Ninguém se inteirou disso, ou quase ninguém. Poucos dias depois, o país do aniversário, Haiti, passou a ocupar algum espaço nos meios de comunicação; não pelo aniversário da liberdade universal, mas porque ali se desatou um banho de sangue que acabou derrubando o presidente Aristide.

O Haiti foi o primeiro país onde se aboliu a escravidão. Contudo, as enciclopédias mais conhecidas e quase todos os livros de escola atribuem à Inglaterra essa histórica honra. É verdade que certo dia o império que fora campeão mundial do tráfico negreiro mudou de idéia; mas a abolição britânica ocorreu em 1807, três anos depois da revolução haitiana, e resultou tão pouco convincente que em 1832 a Inglaterra teve de voltar a proibir a escravidão.

Nada tem de novo o menosprezo pelo Haiti. Há dois séculos, sofre desprezo e castigo. Thomas Jefferson, prócer da liberdade e dono de escravos, advertia que o Haiti dava o mau exemplo, e dizia que se deveria “confinar a peste nessa ilha”. Seu país o ouviu. Os Estados Unidos demoraram 60 anos para reconhecer diplomaticamente a mais livre das nações. Por outro lado, no Brasil chamava-se de haitianismo a desordem e a violência. Os donos dos braços negros se salvaram do haitianismo até 1888. Nesse ano o Brasil aboliu a escravidão. Foi o último país do mundo a fazê-lo.

O Haiti voltou a ser um país invisível, até a próxima carnificina. Enquanto esteve nas TVs e nas páginas dos jornais, no início deste ano, os meios de comunicação transmitiram confusão e violência e confirmaram que os haitianos nasceram para fazer bem o mal e para fazer mal o bem. Desde a revolução até hoje, o Haiti só foi capaz de oferecer tragédias. Era uma colônia próspera e feliz e agora é a nação mais pobre do hemisfério ocidental. As revoluções, concluíram alguns especialistas, levam ao abismo. E alguns disseram, e outros sugeriram, que a tendência haitiana ao fratricídio provém da selvagem herança da África. O mandato dos ancestrais. A maldição negra, que empurra para o crime e o caos.

Da maldição branca não se falou.

A Revolução Francesa havia eliminado a escravidão, mas Napoleão a ressuscitara:
- Qual foi o regime mais próspero para as colônias?
- O anterior.
- Pois, que seja restabelecido.

E, para substituir a escravidão no Haiti, enviou mais de 50 navios cheios de soldados. Os negros rebelados venceram a França e conquistaram a independência nacional e a libertação dos escravos.

Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram “a dívida francesa”. A França cobrou caro a humilhação imposta a Napoleão Bonaparte. Recém-nascido, o Haiti teve de se comprometer a pagar uma indenização gigantesca, pelo prejuízo causado ao se libertar. Essa expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos-ouro. O novo país nasceu estrangulado por essa corda presa no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a US$ 21,7 bilhões ou a 44 orçamentos totais do Haiti atualmente. Muito mais de um século demorou para pagar a dívida, que os juros multiplicavam. Em 1938, por fim, houve e redenção final.

Nessa época, o Haiti já pertencia aos bancos dos Estados Unidos.

Em troca dessa dinheirama, a França reconheceu oficialmente a nova nação. Nenhum outro país a reconheceu. O Haiti nasceu condenado à solidão. Tampouco Simon Bolívar a reconheceu, embora lhe devesse tudo. Barcos, armas e soldados lhe foram dados pelo Haiti em 1816, quando Bolívar chegou à ilha, derrotado, e pediu apoio e ajuda. O Haiti lhe deu tudo, com a única condição de que libertasse os escravos, uma idéia que até então não lhe havia ocorrido. Depois, o herói venceu sua guerra de independência e expressou sua gratidão enviando a Port-au-Prince uma espada de presente. Sobre reconhecimento, nem uma palavra.

Na realidade, as colônias espanholas que passaram a ser países independentes continuavam tendo escravos, embora algumas também tivessem leis que os proibia. Bolívar decretou a sua em 1821, mas, na realidade, não se deu por inteirada. Trinta anos depois, em 1851, a Colômbia aboliu a escravidão, e a Venezuela em 1854.

Em 1915, os fuzileiros navais desembarcaram no Haiti. Ficaram 19 anos. A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que este assinasse a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York. O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas.

E mataram muito. Não foi fácil apagar os fogos da resistência. O chefe guerrilheiro Charlemagne Péralte, pregado em cruz contra uma porta, foi exibido, para escárnio, em praça pública.

A missão civilizadora terminou em 1934. Os ocupantes se retiraram deixando no país uma Guarda Nacional, fabricada por eles, para exterminar qualquer possível assomo de democracia. O mesmo fizeram na Nicarágua e na República Dominicana. Algum tempo depois, Duvalier foi o equivalente haitiano de Somoza e Trujillo.

E, assim, de ditadura em ditadura, de promessa em traição, foram somando-se as desventuras e os anos. Aristide, o cura rebelde, chegou à presidência em 1991. Durou poucos meses. O governo dos Estados Unidos ajudou a derrubá-lo, o levou, o submeteu a tratamento e, uma vez reciclado, o devolveu, nos braços dos fuzileiros navais, à Presidência. E novamente ajudou a derrubá-lo, neste ano de 2004, e outra vez houve matança. E de novo os fuzileiros, que sempre regressam, como a gripe.

Entretanto, os especialistas internacionais são muito mais devastadores do que as tropas invasoras. País submisso às ordens do Banco Mundial e do Fundo Monetário, o Haiti havia obedecido suas instruções sem pestanejar. Eles o pagaram negando-lhe o pão e o sal.

Teve seus créditos congelados, apesar de ter desmantelado o Estado e liquidado todas as tarifas alfandegárias e subsídios que protegiam a produção nacional. Os camponeses plantadores de arroz, que eram a maioria, se converteram em mendigos ou emigrantes em balsas. Muitos foram e continuam indo parar nas profundezas do Mar do Caribe, mas esses náufragos não são cubanos e raras vezes aparecem nos jornais.

Agora, o Haiti importa todo seu arroz dos Estados Unidos, onde os especialistas internacionais, que é um pessoal bastante distraído, se esquecem de proibir as tarifas alfandegárias e os subsídios que protegem a produção nacional.

Na fronteira onde termina a República Dominicana e começa o Haiti, há um cartaz que adverte: o mau passo.

Do outro lado está o inferno negro. Sangue e fome, miséria, pestes…

Nesse inferno tão temido, todos são escultores. Os haitianos têm o costume de recolher latas e ferro velho e, com antiga maestria, recortando e martelando, suas mãos criam maravilhas que são oferecidas nos mercados populares.

O Haiti é um país jogado no lixo, por eterno castigo à sua dignidade. Ali jaz, como se fosse sucata. Espera as mãos de sua gente.

Galeano é autor de "As Veias Abertas da América Latina" e "Memórias do Fogo"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"Fermez La Bouche!"

Em meio de uma situação caótica, de uma tragédia, algo nesta catástrofe do Haiti me pareceu diferente do que se podia esperar. Alguém, no meio de uma multidão (porque tudo agora no Haiti é multidão – só é indivíduo o morto), para ajudar uma sobrevivente gritou para o povo: “Fermez la bouche!” (Calem a boca!).Uso-a apenas como mote.

A cronologia vai longe. Primeiro, os espanhóis. Mandaram nos índios Aruaque, se calarem como o rei da Espanha fez recentemente com Hugo Chaves “por que não te callas!?” Mas os nativos continuaram a falar o nome de sua terra Ahiti e passaram a seus herdeiros de sofrimento, os escravos. Depois vieram os franceses e devem ter implantado por dois séculos o 'fermer la bouche' sobre os crioulos, os quais, por vingança ou não, transformaram o francês língua em criolle. Mas houve um dia em que Toussaint Louverture mandou os franceses fermer la bouche também. Não ficou um só vivo naquela parte da ilha de Hispaniola. Os franceses estrebucharam porque perdiam a melhor das colônias e lá veio Dom Napoelon e arrasou os haitianos. Eles deram o troco (change?) em 1802/04, tornando-se a primeira colônia (fora os Estados Unidos) a ficar independente. Foi uma luta que começou publicamente em 1758 onde se destacaram Mackandal, Boukman, o próprio Toussaint, Dessalines, e Henri Christophe. O nome deste último inspirou revoltas pelas ruas do Recife, em 1824 numa rebelião liderada pelo comandante mestiço Mundurucu, que gritava: “Qual eu imito a Cristóvão/ Esse imortal haitiano/ Eia! Imitai ao seu povo,/ Ó meu povo soberano!”.


Os haitianos também devem ter desconfiados daqueles muy amigos que chegaram em 1915. Não diziam “fermez la bouche!” e sim “Shut up!” e que ficaram até 1934. Daí por diante, os haitianos tentaram ouvrir la bouche, se constituir como Estado, nação, país sempre em meio a discordâncias e distúrbios, como ocorreu também com os países da América Latina. Em 1957, foi eleito Duvalier que ficou no poder ditatorialmente até a morte em 1971, deixando seu filho Jean-Claude como ditadorzinho (era chamado de Baby Doc) mas mantendo a truculenta polícia 'tonton macoute' (nome derivado ironicamente de uma expressão, algo como 'meu irmão, escute”... e tome porrada). Foi derrubado, até que enfim, em 1986. Em 1990, houve eleições e assumiu o padre Jean-Bertrand Aristide que foi derrubado um ano depois. Voltaria a ser eleito em 1994 e em 2001, mas foi derrubado em 2004, quando havia dissolvido exército, marinha e aeronáutica. Além deste caos político, o país com seu irmão República Dominicana, tem sido o epicentro de tufões e terremotos.

Por que tanta pobreza, tanto atraso? O mundo ocidental relegou o Haiti a sua própria sorte. Trata-se de um país totalmente africano no Caribe. Não houve mestiçagem nem para com os indígenas nem para com os africanos, não houve libertos, ao que parece. Era uma grande fábrica de açúcar dos franceses. Parece que, como país negro e que cultua quase que oficialmente religiões afro-haitianas (o Vodu) o mundo cristão lhe virou as costas. Não é novidade o que andou agora dizendo um reverendo protestante norte-americano de que este terremoto era castigo de Deus. Ignorância e racismo. Mas que o ocidente virou as costas, virou. Como diz o estudante haitiano no Recife, Franck Seguey, no Diário de Pernambuco de 16/01/10 por que, nestes anos em que a Missão da ONU tem ocupado o país (desde 2004) com mais de 10 mil pessoas, não reconstruíram ainda o Haiti?


Voltando ao mote do título, não era de se esperar que diante de tal tragédia, simplesmente alguém pedisse: “Silence, s'il vous plaît!”. É a memória coletiva que se constituiu por repressão e por acomodação, no caso de lá. Calar a boca tem muitas vertentes e o sentido é o da entonação. Ali, ao contrário da história, não era uma submissão, mas uma chamada à solidariedade, nem que seja por uma só vida. No entanto, pode agora o mundo se calar e arregaçar as mangas para reconstruir esta República negra no Caribe?


Por Josemir Camilo,  professor visitante da UEPB. Texto gentilmente cedido pelo Paraibaonline

Design Vitorioso



Nunca dantes, talvez no mundo, no Brasil com certeza, foi realizada uma inclusão social por meio de um único e simples objeto de vestuário.

Praticamente todos os segmentos da sociedade se reuniram numa mesma tribo: a dos que usam Havaianas.

Faz 50 anos que as primeiras foram fabricadas, em Campina Grande (PB). Ali se situa a única fábrica de Havaianas do mundo, onde são produzidos 162 milhões de pares ao ano. Só 22 milhões deles são exportados -o restante faz parte da nossa particular revolução de inclusão.

Não aconteceu tudo de repente. Desde a inauguração da fábrica, venho viajando sistematicamente de automóvel, jipe e ônibus para o Nordeste pelas mais variadas estradas.

Naqueles velhos tempos, viam-se pelas estradas dois tipos de pessoa: os descalços e os calçados. Era o tempo do amarelão do jeca-tatu. Nesses 40 anos, tudo mudou. O Jeca Tatu, figura emblemática do homem descalço, criada por Monteiro Lobato, praticamente desapareceu. Pobre Monteiro Lobato, virou figura datada. Escreveu sobre o que vimos desaparecer.

De São Paulo ao Nordeste, ricos, pobres e remediados calçam uma placa de borracha, de onde saem tiras que prendem o pé, eliminando os desconfortos. Poeira, água, pedrinhas, assim como entram, saem. Serve para caminhar no plano e no levemente inclinado. Não se atrapalha no estribo do jegue nem na bicicleta. Pode existir algo melhor para a geografia do nosso país?

Para nosso clima, nosso cerrado, nossos imensos planaltos, ela é perfeita. Serve na praia, no campo, em casa e dura uma eternidade, o que não é pouco para uma população pobre.

Não é um calçado universal -não atende às necessidades dos esquimós ou de alpinistas. Para dar conta da nossa diversidade, não poderíamos ter recebido presente melhor do que as Havaianas, inspiradas na sandália de dedos japonesa.

Outros povos desenvolveram tamancos, tênis e botas. Quase nunca -se é que alguma vez- esses calçados atravessaram tão amplamente todas as classes sociais. Sem minimizar a importância do tamanco na Europa ou do tênis americano, minha intenção é chamar atenção para um fato que, contado assim, parece que estamos chovendo no molhado.

Minha experiência vem sendo mais do que isso. Tenho visto o lento desaparecimento do homem descalço. Após minha viagem mais recente, que terminou ontem, senti vontade de dar valor ao que vale muito.

Não sou capaz de aferir a importância mercadológica dos 10% da produção que é exportada. Prefiro lembrar uma foto de Rodrigo Petrella que focaliza um grupo de índias jovens, pintadas para alguma festa. Se olharmos para o chão, ei-las de Havaianas. Nem os índios se sentem aviltados ao se proteger do contato direto com o chão.

E as Havaianas vão entrando, ficando, sem que se preste muita atenção a esse segundo pé de todos nós. Elas chegaram de mansinho e, quando acordei, o jeca-tatu já estava morto.


Da Folha de São Paulo - Por Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora) amautner@uol.com.br

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Chorei pelo Haiti


     
(chorei por dona Zilda Arns),
       pelas crianças
       - salvas e não salvas . . .

  chorei pelo Haiti,
                             "preciso estar lá,
                               preciso chorar junto com meus pais.
                                           meu país precisa de mim!"
  lamenta estudante haitiano ora estudando no Brasil.
  por que chorar pelo  Haiti ?
  por que sofre tanto o Haiti ?

                                              país das américas,
                                              - exemplo para o mundo -
                                              libertado pelos próprios escravos.
         exemplo temido pelo colonizador.
         o massacre foi iminente (tipo Canudos, Paraguai)
                               prá não se por de pé: nunca mais.
         Chorei pelo Haiti,
         onde a elite corrupta aprendeu rápido a lição: da traição, do saque e do massacre.
         de pé, nunca mais: a dor da opressão.

   somado a tirania, a baixa qualidade de vida, os desastres naturais.

         chorei pelo Haiti,
                                     "meu país precisa de mim,
                                     quero chorar junto com meus pais."   



De autoria do professor José Benjamim Pereira Filho, membro do Neab-í

Haiti! Haiti! Haiti!


 
Quantas contradições, quantos enigmas reunidos em uma tragédia!
   
Uma longa história de dominação e de resistência.

Não me sai da memória o filme "Queimada", ainda que fictício...

Não me sai da memória a esperança de que foi tomado sua Gente, por ocasião da eleição de Aristide, simpático da Teologia da Libertação!

Não me sai da memória sua "renúncia", a implicar inclusive algo como seu forçado consentimento...

Não me sai da memória a intromissão dos Estados Unidos - mais uma! - a envolver a própria ONU, e, por essa via, o próprio Brasil do Governo Lula...

Não me sai da memória a contraditória presença de brasileiros por lá, por ocasião da tragédia...

Não me sai da memória a magnitude da tragédia, pelos mortos que se foram e pelos vivos a penarem...

Não me sai do coração a esperança de que um novo amanhecer há de vir, pois  "Quanto mais escura é a noite, mais carrega dentro de si a madrugada."

E, por isso mesmo, a vontade de seguir lutando, em busca de um novo horizonte, mas por vias também alternativas.


POR UM NOVO AMANHECER NO HAITI
E NA AMÉRICA LATINA!



Por Alder Júlio Ferreira Calado,  sociólogo e educador popular.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

I Festa Literária de Boqueirão



Acontecerá em Boqueirão, de 18 a 21 de março, a I Festa Literária da região. Com os objetivos de mostrar a importância da literatura boqueirãoense para a cultura regional, promover através da leitura o resgate da cidadania e possibilitar a formação de uma comunidade mais consciente, o evento será aberto a todos os interessados.

Abordando o tema "A Importância da Leitura para a Sociedade", a programação constará de oficinas, palestras, lançamentos de ivros, debates, programação cultural, estandes, e Concurso Literário, entre outras iniciativas propostas.

Para o organizadores da Feira, a leitura, além de ser uma fonte inesgotável de conhecimento, é um dos elementos mais importantes na construção da cidadania. A leitura tem o poder de mudar a realidade do indivíduo, fazê-lo crescer enquanto pessoa e dá a ele a oportunidade de mudar sua própria realidade. Os autores boqueirãoenses, hoje, desempenham um forte papel no processo de formação desses leitores para que estes tenham uma visão melhor de mundo e de si mesmos, segundo destacou a organização.

Criar nos cidadãos a consciência de que através da leitura e conseqüentemente do conhecimento, é que se pode transformar o meio em que vivem, é uma das ações desenvolvidas nesse projeto, que pretende, através dos escritores que fazem parte da Associação Boqueirãoense de Escritores (ABES) e demais convidados, provocar nos cidadãos o gosto pela literatura e ainda o prazer de se ler os grandes clássicos.

Mais informações podem ser obtidas no site http://flibo2010.blogspot.com/


Site publica manuscrito de 1752 sobre maçã de Newton


 
Está agora digitalizado e disponível ao público na internet o manuscrito original onde pode ser encontrada a história do dia em que uma maçã despencou perto de Isaac Newton e mudou a história da ciência.
 
O autor é William Stukeley, contemporâneo e conhecido de Newton, que escreveu uma biografia do cientista em 1752 (mais de 20 anos após a morte dele). O documento, "Memórias de Sir Isaac Newton", escrito em letra cursiva, pode ser encontrado nos arquivos online da Royal Society de Londres no endereço eletrônico http://royalsociety.org/Turning-the-Pages .

Stukeley conta que, em uma tarde de primavera em 1726, foi tomar um chá "embaixo da sombra de algumas macieiras" com Newton, então já perto da morte.

Segundo o biógrafo, o cientista disse então que a noção de gravidade surgiu na sua mente quando ele estava em uma situação parecida, nos anos 1660, quando Newton tinha perto de 20 anos.

"Ele estava lá em estado contemplativo, e uma maçã caiu. Ele questionou por que a maçã sempre desce perpendicularmente ao chão. Por que não vai para os lados, para cima? Por que sempre em direção ao centro da Terra? Seguramente, a razão é que a Terra a atrai. Deve existir um poder de atração na matéria", escreveu Stukeley no seu manuscrito.

Folha de São Paulo com Associated Press

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Poesia em Evidência

José Laurentino será paraninfo das turmas concluintes da UEPB 2009.2


A escolha do poeta José Laurentino Silva para ser paraninfo da geral das turmas de concluintes 2009.2 da Universidade Estadual da Paraíba, campus I, localizado em Campina Grande, está sendo bastante elogiada pela comunidade em geral.
Uma das que comemorou a escolha foi a cantora campinense Fidélia Cassandra, grande conhecedora da imensidão e da doçura da palavra poética. "Ele merece. É um homem tão criativo e tão gentil. Foi uma das melhores amizades que fiz quando trabalhei nos Diários Associados. Gosto quando homens "simples" são homenageados. Por que sempre jogar pétalas de rosas sempre nos mesmos grupos e pessoas já agraciadas? Devemos reconhecer os valores que há em nossa terra, em nossa vizinhança, na nossa escola, na nossa casa!", disse, entusiasmada.
A cerimônia acontece no próximo dia 16, às 17h30, no Clube Spazzio, tendo a presença da reitora Marlene Alves e representantes da Universidade, além, claro, da presença dos atores principais da solenidade, os formandos e seus familiares.

Sobre José Laurentino

José Laurentino Silva nasceu na cidade paraibana de Puxinanã e desde cedo, em sua cidade natal, já tinha contato com música e poesia, tendo como primeira influência os próprios pais. Sua mãe cantava, seu pai lhe trazia cordéis.
Mesmo depois de se mudar para Campina Grande, após passar em um concurso e tornar-se funcionário público do hoje chamado INSS, Laurentino nunca deixou a poesia de lado. Atualmente, Laurentino prossegue dividindo sua vida entre as obrigações de servidor público (hoje prestando serviço ao Ministério da Saúde) e a poesia, muito embora seja conhecido como poeta e assim se identifique pessoalmente. Sua carreira abrange nove livros publicados e cerca de cinco CD’s gravados.


Sobre Fidélia Cassandra

Fidélia Cassandra começou a cantar, ainda criança, no Mosteiro das Clarissas, onde sua tia, freira daquela ordem, a levava para cantar para as noviças enclausuradas. Na tentativa de imitar seu pai, ficava em frente ao espelho, fazendo da vassoura o seu microfone.
A música é seu grande sonho. Mas, teve que trilhar outros caminhos sem nunca, porém, abandonar a sua arte. Foi bancária, sindicalista.
Fidélia Cassandra não se contenta e se arrisca a “inventar” música, pois diz que “só quem compõe é quem conhece. Quem não domina a música, nem na sua teoria nem na prática, não passa de um inventor. Compor é com os compositores”. Vários shows fazem parte da sua extensa carreira que se iniciou na década de 80. Em 2002, lança seu livro de poemas “Amora”, que traz à tona um exercício poético iniciado aos 12 anos. Pesquisa do baião à bossa nova, do clássico ao blues, do choro ao jazz, numa procura incessante da melhor forma, da melhor canção.

 Da Ascom/UEPB (por Oziella Inocêncio)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Zabé da Loca será homenageada no Festival de Cultura Popular de Monteiro


 Zabé da Loca, um dos maiores talentos regionais

Os artistas monteirenses Novinho da Paraíba, Dejinha de Monteiro e Luciene Melo confirmaram na tarde deste domingo, 10, participação especial na abertura do Festival de Cultura Popular do Cariri Paraibano – Zabé da Loca, na quarta-feira, 13.

Eles se apresentarão com um repertório de música regional, cantando sucessos de raiz nordestina. O trio será acompanhado por um grupo de forró pé-de-serra, onde cada um fará uma participação especial, como parte da programação de homenagem a pifeira Zabé da Loca que estará completando nova idade.

Para Novinho da Paraíba, será uma enorme satisfação subir no palco principal e prestar homenagem a Zabé, pela sua história e pelo o que ela representa para a região. “Zabé é o nome forte da música regional. Ela representa os grupos de cultura popular do nosso Cariri e nada mais justo fazer essa homenagem a Rainha do Pífano”, disse Novinho.

Dejinha de Monteiro disse que a história de Zabé se confunde com a de inúmeros nordestinos, mas pelo seu espírito forte venceu e hoje representa a cidade de Monteiro nos principais palcos da vida. “A história de Zabé é a de uma nordestina vencedora. A sua força e vontade de vencer, hoje pode ser presenciada pelo o seu sucesso”, afirmou.

A cantora Luciene Melo, que estará homenageando a Rainha do Pífano, interpretando músicas e sucessos do forró pé-de-serra, relatou que será uma honra prestar homenagem a Zabé da Loca, por ela representar a mulher forte nordestina. “O Festival é uma verdadeira homenagem a ela, que representa muito bem a mulher nordestina, pela sua vontade de vencer”, afirmou Luciene.

Luciene, Dejinha e Novinho estarão fazendo uma apresentação especial na abertura do Festival, a partir das 20h, na Praça João Pessoa. Na programação da noite do dia 13, estão previstas as apresentações da Cia de Artes da Jubalite, Pedro, João da Gaita e Bereta, Coco de Roda da Mestre Midinha e Sandra Belê.

O Festival de Cultura Popular é uma realização da Prefeitura Municipal de Monteiro, com patrocínio do Banco do Nordeste e Governo Federal, tendo como parceiros Sebrae, projeto Vínculus, Embrapa, projeto Dom Helder e IPHAN.

Da assessoria do evento

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Museus têm novos papéis na vida urbana


 Museu de Artes da UEPB, que está sendo construído no bairro do Catolé - mais uma iniciativa cultural da Universidade


O surgimento de inúmeros novos museus sobre os mais variados temas e aspectos da vida humana jogam luz sobre a própria ideia de museu. Os museus vêm, há alguns anos, transformando-se, mudando seu papel na cena da complexa vida das cidades.
Em vez de depósitos privilegiados de valores artísticos ou históricos do passado, assumem novos programas, funções e usos diferenciados.
Fluxos cada vez maiores de pessoas se deslocam pelo mundo em busca do que é novo e desconhecido, e os museus são alvos privilegiados nessa busca.
Vivemos hoje numa encruzilhada: por um lado, é cada vez menor a possibilidade de se constituirem importantes acervos artísticos, históricos ou documentais pela falta de oferta ou pelo alto valor a se despender para a obtenção de algo significativo -boas peças- na formação de uma coleção com nexo e conteúdo; por outro, a demanda de acesso democrático aos museus aumenta, seja pela implementação de programas escolares de visitação, seja pela necessária abertura de suas portas à entrada de gente que nunca havia botado os pés nesses espaços de ares restritivos e inibidores, espaços para poucos iniciados.
Os museus são hoje parte indissociável das cidades modernas e estão integrados à vida cotidiana. Espaços de reflexão e convivência por excelência, os novos museus se guiam cada vez mais pelo olhar antropológico, ferramenta de grande utilidade nos dias de hoje, em que os conflitos dos encontros são a marca da época, e as cidades, o palco principal.
Assim, ou os museus se transformam para falar a nova língua da "urbis", para refletir sobre o que se passa na vida do cidadão a partir de seus acervos, ou estarão fadados ao fracasso e ao isolamento. E, hoje, terminam por responder também por importante fatia do turismo sadio, não predador, o chamado turismo cultural.
Está claro que, em tempos de comunicação rápida, o desafio aos criadores e gestores de museus redobra. É preciso encontrar novos meios, novas linguagens para os tempos atuais. E para isso não há regras, cada caso é um caso, cada tema ou assunto demanda soluções próprias de comunicação. Deveríamos tomar, quem sabe, algumas lições do cinema, que conta velhas histórias sem se esgotar.
Os museus também contam histórias, múltiplas, cruzadas, entrecruzadas. E estão à procura de uma gramática própria em sua conversa com a sociedade -que deve ser cada vez mais abrangente e democrática.
Assim, novos experimentos aparecem e nos instigam a criar e a avançar mais -e não importa se com "high-tech" ou "low-tech"; a questão é como contar boas histórias diferentemente dos livros, dos filmes, das escolas e das igrejas. É provocar estímulos, fazer com que cada pessoa, após uma visita, saia com novas dúvidas, muitas questões e perguntas.
Museu como instrumento de humanização, expansão das fronteiras do conhecimento e da poesia, um alimento do espírito; partindo do lugar -socioambiental ou físico e humano, mas sempre com uma linguagem universal e contemporânea. A comunicação é e continua sendo a chave do sucesso da conversa que se quer travar.
Um museu deve ser ponto de honra e orgulho para qualquer comunidade ou cultura que venha a representar. Deve também ser um grande atrativo para os forasteiros, que se deslocam para ver algo original, com força e caráter próprios. Assim, a força motriz de um museu bem idealizado e inteligente movimenta a economia local e coloca cidades no mapa cultural.
Hoje, o cidadão que viaja quer uma experiência arquitetônica, antropológica, sensitiva e intelectual diferenciada; uma experiência nova, e não simulacros disfarçados em museus.
Nossos novos museus devem responder às novas demandas da vida, lugares de encontros cada vez mais inusitados e originais. Podem ser instrumentos transformadores da vida nas comunidades, instrumentos eficazes de atração de novos negócios e desenvolvimento econômico e social, dentro de uma lógica que deve partir do lugar e da convivência humana.

Por Marcelo Ferraz, da Folha de São Paulo

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Aluno e ex-aluno da UEPB desenvolvem blog para resgatar a memória de Campina Grande


O aluno da Universidade Estadual da Paraíba, Emmanuel do Nascimento Sousa, que cursa Ciências Contábeis e o ex-aluno da UEPB, Adriano Figueiredo de Araújo, graduado em Direito e Administração, desenvolveram o blog  http://cgretalhos.blogspot.com.
O objetivo da iniciativa é o resgate da memória histórica de Campina Grande. Bonito e interativo, o espaço conta com fotos, textos e vídeos da Rainha da Borborema de outrora e da era contemporânea.
De acordo com Adriano, o blog está aberto a contribuições de toda a comunidade interessada. Contudo, há dificuldades para encontrar material das décadas de 60, 70 e 80. O blog é denominado "Retalhos", por unir depoimentos e fundamentações teóricas no que concerne aos temas tratados, além de todo o conteúdo imagético, construindo uma verdadeira "trama" de fragmentos históricos de Campina.
Criado em agosto de 2009, o blog já conta com mais de 4.867 visitas dos internautas e dispõe de uma média de 45 acessos por dia. Mais informações sobre o blog podem ser obtidas pelo e-mail manneh_afb@hotmail.com.

Da Ascom/UEPB (Por Oziella Inocêncio)

Universidade do Século 21

No início do século passado, o renomado sociólogo alemão Max Weber observou que somente por acaso se poderia encontrar em um mesmo homem as vocações de cientista e professor. Apenas em situações fortuitas teríamos a felicidade de entrarmos em uma sala de aula e depararmos com o acadêmico igualmente "vocacionado" para o ensino e para a pesquisa.
O dilema weberiano ainda angustia aspirantes e mestres de diversas áreas do conhecimento. De um lado, estudantes decepcionados por não compreenderem o brilhantismo dos seus professores-pesquisadores. De outro, pesquisadores-professores amargurados por não conseguirem transmitir seus conhecimentos para diligentes alunos.
Se já era difícil conciliar ensino e pesquisa, o que dizer da combinação entre ensino, pesquisa e extensão? As atividades extensionistas exigem dos docentes universitários uma vocação pouco desenvolvida no meio acadêmico: a de colocar em prática as investigações teóricas e os achados das pesquisas.
Se considerarmos ainda o desigual reconhecimento atribuído às atividades universitárias -a publicação dos resultados de pesquisa confere mais status do que a dedicação à sala de aula ou a projetos de extensão-, é compreensível a predileção pelos laboratórios entre os jovens postulantes aos mais prestigiosos títulos acadêmicos.
Contudo, cada vez mais a sociedade contemporânea reclama um papel engajado das instituições de ensino superior, em particular das universidades públicas, das quais se exigem retornos não só na forma de publicações internacionais mas também em produtos e processos aplicáveis ao desenvolvimento econômico e social.
Nesse contexto, ganha força o conceito de extensão inovadora, isto é, a prática extensionista capaz de levar à sociedade os conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos no intramuros universitário.
Mas, para tanto, é necessário um duplo movimento: 1) de um lado, as universidades devem promover o reconhecimento mais equitativo das práticas de ensino, pesquisa e extensão; 2) de outro, as práticas extensionistas devem eleger a difusão do conhecimento científico e tecnológico como atividade prioritária.
O conceito de extensão inovadora implica a superação da ideia da prática extensionista como consultoria empresarial ou assistencialismo comunitário. Não se trata apenas de atender demandas de setores sociais específicos, mas de levar o conhecimento científico e tecnológico à sociedade como um todo. A extensão deve constituir o núcleo promotor daquilo que os cientistas sociais chamam de "meios de inovação", isto é, um conjunto específico de relações com foco na produção de novos conhecimentos, novos produtos e novos processos. O lócus da sinergia entre os atores acadêmicos, o poder público e o setor produtivo.
O velho modelo humboldtiano (ensino e pesquisa) é condição necessária, mas não suficiente para a universidade contemporânea. A superação desse paradigma, por sua vez, é condição imprescindível para a prática da extensão inovadora. Não se trata de minimizar a importância da fórmula ensino-pesquisa, mas de maximizar o alcance dos seus resultados para além dos campi universitários.
Somente assim a universidade poderá cumprir o seu papel científico e tecnológico de forma plena. Será na relação profícua com os atores sociais inovadores (representantes do poder público, dos empresários e dos trabalhadores) que a universidade do século 21 encontrará a base social para superar os dilemas vividos pelas universidades do século 20.

Adalberto Fazzio e Sidney Jard da Silva, professores e colunistas da Folha de São Paulo

Saudações aos funcionários da UEPB!

Enquanto brilhavam as luzinhas de Natal e se aproximava o fim do ano de 2010, os funcionários da Universidade Estadual da Paraíba trabalhavam incansavelmente para o bom andamento das atividades da Instituição.

Toda a equipe da Pro-Reitoria de Finanças (Profin), por exemplo, constituída por 16 funcionários, trabalhou em dias geralmente destinados às comemorações de final de ano, a exemplo da véspera de Natal. A reitora da UEPB, Marlene Alves Luna, também fez questão de acompanhar de perto as conclusões das atividades.

Na Profin, em ao menos oito dias do final de dezembro de 2009, a labuta começou as 7h30 e terminou às 21h, de acordo com a coordenadora da Pró-Reitoria, a professora Maria Ronilda C. Braga Vasconcelos.
A UEPB saúda ao esmero e esforço de todos os funcionários, que deram sua grande contribuição neste período, para que a nova e dinâmica música criada pela Universidade, não desafine ou perca o veio da composição!

Da Ascom/UEPB (Por Oziella Inocêncio)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Após 50 anos, obra de Albert Camus permanece atual



Janeiro, mais especificamente o último dia 04, assinala os 50 anos da morte de um dos escritores e intelectuais mais influentes do século 20: Albert Camus. Nascido em 1913 em Mondovi, Argélia, Camus era filho de um francês morto na Primeira Guerra e de uma descendente de espanhóis. Era, portanto, um "pied noir", "pé-negro", termo que designa a população de origem francesa que vivia na Argélia.
Sua infância, em Argel, foi pobre: trabalhou com o tio, tanoeiro, e a muito custo estudou. Cursou filosofia e doutorou-se com uma tese sobre Santo Agostinho. Poderia ter seguido a carreira docente, mas a tuberculose da qual sofria (como muitos artistas e intelectuais à época) agravou-se, impedindo-o de trabalhar na área.
Em 1939, mudou-se para a França e, em 1940, aderiu ao movimento da resistência contra a ocupação nazista. Ainda em 1940, fundou, com outros, a revista "Combat", da qual foi redator-chefe de 1944 a 1946. Simultaneamente, dava início à uma carreira literária que lhe valeria o Nobel de literatura em 1957. Na Argélia, publicara "O Avesso e o Direito" e "Bodas em Tipasa". Seguiram-se "O Estrangeiro", "A Peste", "O Mito de Sísifo" e "O Homem Revoltado". Também escreveu para o teatro "Calígula", "Os justos" e "O Estado de Sítio".

Mãos sujas
Em 1942, conheceu Jean-Paul Sartre, de quem foi amigo por dez anos e com quem manteve uma das polêmicas mais famosas do pensamento contemporâneo, vinculada às grandes transformações ocorridas após a Segunda Guerra.
Com a vitória da União Soviética no fronte oriental, o comunismo stalinista expandiu-se, tomando o poder em vários países. Porém, a entusiástica adesão de muitos intelectuais à Revolução Russa, de 1917, agora dava lugar à decepção, quando não à franca revolta, como mostram os depoimentos de Arthur Koestler, Ignazio Silone, Richard Wright, Louis Fischer e Stephen Spender em "O Deus que Falhou" (1949).
Koestler, autor de "O Zero e o Infinito", romance anti-stalinista, influenciou muito Camus. Sartre, mais velho que Camus e visto como o expoente maior do existencialismo, só se aproxima da política em 1941, mas, então, sua postura é bem mais rígida. Ele de certa forma justifica os excessos do stalinismo e do regime maoista sob o argumento de que política exige "mãos sujas" ( "Les Mains Sales", título da peça teatral claramente autobiográfica descrevendo os conflitos de um jovem intelectual burguês).
Antes sujar as mãos, diz o filósofo, do que ficar em cima do muro, uma questão, como vemos, muito atual. Ao mesmo tempo, Sartre manifestava-se contra o domínio francês na Argélia que havia desencadeado uma luta de libertação. Camus era a favor da independência, mas contra o terrorismo usado pela guerrilha. A polêmica entre os dois é descrita em "Camus e Sartre - O Fim de uma Amizade", de Ronald Aronson, publicado no Brasil pela Nova Fronteira (2007).

Jogo de futebol
Àquela altura, a reputação de Camus já estava consolidada e ele viajava pelo mundo inteiro. Veio ao Brasil, em 1949, e pediu para assistir a uma partida de futebol e deu conferências em várias cidades, apesar de sentir-se doente -pode ter havido uma reexacerbação da tuberculose.
Manoel Bandeira, que esteve com ele e também era tuberculoso, conta que falaram sobre a doença e outros temas com simplicidade: "Não havia nenhum vestígio dessa personagem odiosa que é a celebridade itinerante. Não parecia um homem de letras. Era um homem da rua, um simples homem".
A autenticidade, associada à profundidade do pensamento e ao domínio da forma literária, torna a obra de Albert Camus, morto em 1960 em um acidente de carro, sempre atual.

Moacyr Scliar

Historiador tem mais opções de atuação

Foi-se o tempo em que quem fazia faculdade de história tinha a sala de aula como destino líquido e certo. Hoje, as instituições de ensino continuam sendo opções muito frequentes para os graduados desse curso, mas elas têm dividido espaço cada vez maior com atividades bem diversificadas, como os ramos da memória empresarial, da museologia e da restauração.
As empresas, por exemplo, têm requerido mais e mais profissionais formados em história para organizar e montar o acervo de sua própria trajetória.
O ramo da consultoria, com análises especializadas e pontuais, feitas sob encomenda, também tem movimentado o mercado de historiadores, segundo apontam especialistas. O trabalho de restauração é outra atuação possível e é realizado com equipes multidisciplinares, em parceria com arquitetos.
Além dessas áreas, os museus são outros destinos recorrentes para os historiadores. Entre suas funções diárias, está o acompanhamento e a monitoria de grupos de estudantes, além da elaboração de roteiros e de oficinas no museu.
Embora a educação não formal e outras atividades recentes tenham ajudado a alargar o mercado de trabalho para o formado em história, a sala de aula continua sendo o principal destino desse profissional, posto que com a expansão das universidades federais, cresceu a demanda por professores de nível superior.
No entanto, se o destino é tradicional, as exigências para o recém-formado são novas. É que o mercado contemporâneo dá preferência ao professor que domine as novas tecnologias, as plataformas do ensino a distância, a lousa digital. Ele precisa saber aliar o conhecimento teórico ao tecnológico.
Seja qual for a atuação no mercado, os professores dos cursos de história são unânimes: quem escolhe prestar vestibular para essa carreira deve saber que enfrentará uma graduação com uma carga muito grande de leitura sobre uma ciência que não para nunca. Afinal, a cada dia que passa, a história fica um dia mais longa.

Da Folha de São Paulo

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Professores do Museu de História Natural da UEPB realizam coleta de calcário fossilífero no litoral sul da Paraíba


Os professores Doutores Juvandi Santos (arqueólogo) e Márcio Mendes (paleontólogo), visitaram, recentemente, parte do litoral sul da Paraíba, com dois objetivos básicos: primeiro, localizar e coletar fósseis em rochas calcárias no litoral da Paraíba, bem como identificar os principais pontos de afloramentos desse tipo de material; e, em segundo lugar, investigar se os afloramentos de amontoados de conchas tratam-se ou não de sítios arqueológicos do tipo Sambaqui - denominação dada à sítios pré-históricos formados pela acumulação de conchas e moluscos, ossos humanos e de animais, que foram descobertos em várias regiões do Brasil.

Com relação aos amontoados de conchas, os professores chegaram, depois de uma análise preliminar, a conclusão de que configuram-se como depósitos recentes, feitos por pescadores e barraqueiros locais. Mas, segundo eles, nada está comprovado acerca da existência dos Sambaquis na Paraíba. É possível, afirma Juvandi Santos, que na época do contato, fosse mais fácil localizá-los, pois progressivamente, os Sambaquis foram destruídos em todo o Brasil para o fabrico da cal a ser empregado nas construções.

Outro fator que dificulta a identificação dos Sambaquis na Paraíba, é o mar que, nitidamente, tem avançado continente adentro o que, possivelmente, ou destruiu ou cobriu esses depósitos de conchas pré-históricas. O material coletado em campo irá compor o acervo do Museu de História Natural da UEPB.