terça-feira, 15 de março de 2011

"Um bom entrevistador tem estilo de James Bond"

Por Vaguinaldo Marinheiro, de Londres para o Caderno Ilustríssima

O Reino Unido tem uma tradição de entrevistadores duros com seus convidados, como Jeremy Paxman, do "Newsnight", ou Stephen Sackur, do "Hardtalk", ambos da BBC inglesa.
Paxman é capaz de repetir uma mesma pergunta mais de dez vezes se o entrevistado enrola e não responde. Esse não é o estilo de Piers Morgan, que estreia em janeiro na norte-americana CNN.
"Muitos jornalistas gostam de dizer que você tem sempre que ser duro, mas se for muito duro com todos, vai acabar falando com uma cadeira vazia. Numa boa entrevista, você age como um assassino charmoso. Como James Bond. Quando o entrevistado acha que você é amigo dele, você vai lá e dá um tiro em sua cabeça."
Morgan também já tem resposta na ponta da língua para aqueles que vão acusar seu programa de ser frívolo.
"Se for para contentar parte da mídia, você terá que entrevistar só o Julian Assange [fundador do WikiLeaks]. Aí dirão que você é sério. Mas isso tornaria o programa chato. Eu tenho muita experiência em editar tabloides no Reino Unido, quando é preciso misturar assuntos sérios e celebridades. É o que quero fazer na CNN. Não quero ser excessivamente sério, nem fútil. Quero ser relevante."

ESCÂNDALO E DEMISSÃO

Experiência com tabloides ele tem mesmo e também uma demissão muito comentada quando era editor-chefe de um dos jornais de maior circulação do país.
Morgan começou na profissão aos 19 anos numa espécie de jornal de bairro no sul de Londres. Aos 24, foi contratado como editor de show business do "Sun" (2,9 milhões de exemplares durante a semana).
Foi quando iniciou a aproximação com celebridades. Em muitos dias publicava fotos suas ao lado de cantores e atores. Aos 28 anos, Rupert Murdoch o convidou para ser o editor-chefe do "News of the World", jornal dominical mais vendido no país (2,8 milhões de exemplares). É outro tabloide que repete um pouco a receita do "Sun": celebridades e crimes.
Um ano depois, foi editar o "Daily Mirror", jornal que ainda hoje vende mais de 1,2 milhão de exemplares/dia. Foi lá que aconteceu o escândalo e a demissão. O "Mirror" resolveu colocar em sua primeira página, em 2004, fotos que seriam de soldados britânicos torturando iraquianos.
O problema é que o Exército garante que as fotos são falsas. O jornal não conseguiu provar que eram verdadeiras, publicou uma manchete pedindo desculpas, e Morgan foi demitido.
"Ainda não estou convencido de que eram falsas. Quem diz que elas são falsas é o governo britânico, que mentiu para a opinião pública para nos levar à guerra. Não há dúvidas de que soldados britânicos cometeram atrocidades contra iraquianos. Então, continuo orgulhoso do que fizemos no "Daily Mirror". Eu fui demitido por causa dessas fotos, mas nunca me desculpei por tê-las publicado e nunca me desculparei. Faria a mesma coisa de novo amanhã."
Depois da demissão, partiu para a televisão com a ajuda de amigos. Foi jurado do "Britain's Got Talent", onde apareceu Susan Boyle, e até hoje continua no "America's Got Talent", exibido na TV americana.
"Se eu levar para a CNN parte das pessoas que assistem a esses programas, e hoje estão longe da TV a cabo, terei alcançado meu objetivo." É o que a CNN espera.

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