quarta-feira, 30 de março de 2011

Entrevista com Braulio Tavares, que publicou a "Nuvem de Hoje" pela EDUEPB

Por Juliana Marques, da ASCOM/UEPB

Ocorreu na tarde de ontem (29) o lançamento do livro "A Nuvem de Hoje" do escritor campinense Braulio Tavares. A obra foi publicada pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), através do Selo Latus. Confira na íntegra a entrevista realizada com o autor, na ocasião:


UEPB - Como surgiu a ideia desse projeto do livro "A Nuvem de Hoje" e a publicação pela Editora da Universidade Estadual? 

Braulio Tavares - Na verdade eu tenho uma relação antiga com a UEPB desde o tempo da Universidade Regional do Nordeste. Fui funcionário da URNe, entre 1967 e 1969. Meu pai foi chefe de gabinete de vários reitores da URNE, então tenho uma relação afetiva com essa instituição. Também já passei muitos anos da minha vida mexendo com cinema aqui nesse museu de arte, nessa sala aqui eu já projetei muitos filmes no tempo que a gente tinha cineclube, no tempo que o diretor do museu era José Umbelino Brasil, grande amigo meu, antes dele Chico Pereira, outro grande amigo meu. Então a minha relação com a UEPB é antiga e quando recebi uma proposta do diretor da EDUEPB, Cidoval, pra fazer uma coletânea das minhas crônicas, fiquei muito satisfeito porque pensei: “vai sair não por uma editora do Rio ou São Paulo, mas sim por uma editora de Campina Grande, não só de Campina, mas da UEPB”. Meu objetivo foi justamente fazer um livro que fosse destinado aos estudantes universitários, campinenses, paraibanos e ao público em geral.

O que o leitor vai encontrar nesta obra?

Eu fiz uma mistura de crônicas onde tentei colocar metade  voltada à cultura nordestina, paraibana e campinense, falando de cordel, de forró, de cantadores, histórias antigas, personagens folclóricos de Campina Grande, o futebol de Campina, mas ao mesmo tempo tratando de cinema em geral, ficção científica, viagens espaciais, ciências contemporâneas, todos assuntos que me interessam, então acho que tá uma mistura interessante com um pouco de tudo para todos.

Você é uma pessoa conhecida por desenvolver vários trabalhos como escritor, compositor, teatrólogo, roteirista, mas qual destas vertentes lhe dá mais satisfação, em qual área você prefere atuar?

Gosto mais de escrever e falar, também gosto de cantar, mas cantar dá mais trabalho. Na verdade eu me considero escritor, escrevo artigos, roteiros, peças, romances, letras de música, assim por diante, então diria que a minha atividade principal, a que me dá mais prazer é escrever. Eu gostaria de ganhar dinheiro só escrevendo que é o que me dá mais prazer.

Seu primeiro livro foi “A pedra do meio-dia, ou Artur e Isadora”, uma obra em cordel. Qual a sua relação com esse tipo de literatura?

Pesquisei muito cordel no tempo em que morava aqui em Campina, meados da década de 70. Estudava Ciências Sociais na UFPB, em Bodocongó, e convivia muito com os cantadores e cordelistas daqui, eu conheci grandes cordelistas, então pela convivência com esse pessoal resolvi escrever meu primeiro folheto, “A pedra do meio-dia, ou Artur e Isadora”. Esse folheto foi publicado em 1975 e meu objetivo era que quem lesse sem conhecer o meu nome, sem conhecer o autor, pensasse que era um cordelista tradicional, das antigas, quando na verdade eu era um estudante universitário, cabeludo, meio hippie de aparência, roqueiro e tudo mais, mas que também gostava de cordel. Então esse livro foi publicado aqui em forma de folheto, e em 1998 ele foi republicado em São Paulo pela Editora 34, e curiosamente ele é o meu livro mais vendido até hoje, dos mais de vinte livros que publiquei. Esse cordel já passou de 30 mil exemplares vendidos, com ele já ganhei um prêmio de melhor livro do ano da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), já fiz palestras, viajei, falei pra milhões de crianças principalmente em São Paulo, falando sobre esse cordel. É uma coisa interessante porque não escrevi com a intenção de que fosse um livro infantil, eu tava escrevendo um folheto de cordel, que não é propriamente literatura infantil, só que mais de vinte anos depois, acabou tendo sucesso com esse público. Na esteira dele eu fiz outros, “O Flautista Misterioso e os Ratos de Hamelin”, depois fiz um outro livro infantil que não é cordel, mas é uma coisa que eu sempre achei interessante, porque o que é literatura de cordel pra todas as idades no Nordeste, lá em São Paulo acabou tendo sucesso  como literatura infantil.

Como é que você analisa o cenário atual da literatura nordestina e paraibana?

Eu acho que a literatura nordestina, mais especificamente a paraibana, está num momento bom, talvez porque literatura é uma das formas de arte que você faz a custo zero. Com caneta e papel você escreve um conto, um romance, o custo é mínimo se você for comparar ao custo de montar um show completo de música,  o custo de fazer um filme, montar uma peça de teatro com vários atores, trilha sonora, iluminação. O custo da literatura é pequeno e por isso essa talvez seja uma das formas de expressão mais espontâneas que existem, porque qualquer sujeito com um pedaço de carvão e um muro branco escreve poema e se ele não tiver nada disso ele  faz o poema na cabeça, decora, e fica recitando aquele poema por anos e poema existe desde que ele possa recitar. Então eu sempre acho que o melhor termômetro de uma comunidade de uma juventude é a literatura e eu acredito que o momento atual tem sido positivo para a literatura nordestina.

Qual o seu principal desejo daqui pra frente?

Continuar escrevendo até cair o elevador!!!

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