Por Aurelio Munhoz, da Revista Carta Capital
Recebi do companheiro Antonio Eduardo Loureiro Duarte um novo texto, brilhante, sobre um assunto do qual você talvez nunca tenha ouvido falar, mas que tem tudo a ver com seu cotidiano: a obsolescência planejada. Trata-se da estratégia de marketing, orquestrada por indústrias de bens de consumo, cujo propósito é induzir as pessoas a consumirem seus produtos continuamente, no menor intervalo de tempo possível.
Isto é feito com o emprego de um álibi sofisticado: a tecnologia. Alegando a necessidade de aprimorá-la continuamente e de baixar os custos das mercadorias, as fábricas produzem-nas com data de validade curta, mas jamais declarada ao freguês.
Se você já teve contato com mercadorias produzidas há 50 anos, quando o caldeirão de maldade das empresas ainda não havia incluído esta molecagem no cardápio dos brasileiros, sabe do que estou falando. Duravam décadas.
O problema é que a obsolescência planejada invadiu, há muito tempo, o campo da cultura. Por mais legítimas, ricas e populares que sejam, certas práticas culturais ganharam também uma aura exageradamente comercial, descartável, e se renderam ao pragmatismo do capital.
O Carnaval é uma delas. Não é apenas nossa maior manifestação cultural; é também um grande negócio, conduzido pela batuta da mídia, dos clubes e das escolas de samba. Estas, por sua vez, não são somente produto da aspiração popular; tornaram-se grandes empresas do entretenimento, engrenagens acionadas pelo lucro.
Em sua grande maioria, o Carnaval continua sendo feito por gente honesta, humilde, trabalhadora – foliões de alma e coração. Embalada por sua paixão, esta turma vara madrugadas nos barracões das escolas ensaiando seus sambas-enredo e confeccionando adereços e fantasias. Mas as escolas ganharam um ar mais artificial, caricato, teatral. Converteram-se também em vitrine para toda sorte de aventureiro do samba.
Não há nada de errado no fato de as escolas visarem lucros. O problema é outro: terem convertido os desfiles de Carnaval em passarelas para o brilho de celebridades midiáticas sem nenhuma vinculação com o samba, que muitas vezes pagam para mostrar suas curvas na TV, em detrimento dos verdadeiros e únicos heróis dos barracões: o povão.
Os donos das grandes escolas transformaram o Carnaval em um fetiche, no sentido marxista do termo: mercadoria que oculta a desigualdade pela aparência de igualdade. Afinal, as celebridades não vivem em favelas. O fato de estes personagens distintos dividirem a mesma avenida torna o Carnaval democrático, sem dúvida, mas, também, cínico.
Neste grande teatro criado em torno de uma das nossas maiores festas populares, os mass media atuam ainda como arlequins do capital, personagens da commedia dell’arte cujo propósito era faturar um troquinho divertindo a massa nos intervalos das apresentações. Como hoje em dia.
“Para tudo se acabar na quarta-feira” é o nome de um samba de Martinho da Vila, um dos grandes do gênero. Assim como o Carnaval que ele homenageia na música, os personagens famosos da festa também desaparecem, depois do desfile das escolas. Pena que, alavancados pelo dinheiro e pela grande mídia, estes foliões de fachada ressurgem das cinzas da quarta-feira, no ano seguinte.
Se você já teve contato com mercadorias produzidas há 50 anos, quando o caldeirão de maldade das empresas ainda não havia incluído esta molecagem no cardápio dos brasileiros, sabe do que estou falando. Duravam décadas.
O problema é que a obsolescência planejada invadiu, há muito tempo, o campo da cultura. Por mais legítimas, ricas e populares que sejam, certas práticas culturais ganharam também uma aura exageradamente comercial, descartável, e se renderam ao pragmatismo do capital.
O Carnaval é uma delas. Não é apenas nossa maior manifestação cultural; é também um grande negócio, conduzido pela batuta da mídia, dos clubes e das escolas de samba. Estas, por sua vez, não são somente produto da aspiração popular; tornaram-se grandes empresas do entretenimento, engrenagens acionadas pelo lucro.
Em sua grande maioria, o Carnaval continua sendo feito por gente honesta, humilde, trabalhadora – foliões de alma e coração. Embalada por sua paixão, esta turma vara madrugadas nos barracões das escolas ensaiando seus sambas-enredo e confeccionando adereços e fantasias. Mas as escolas ganharam um ar mais artificial, caricato, teatral. Converteram-se também em vitrine para toda sorte de aventureiro do samba.
Não há nada de errado no fato de as escolas visarem lucros. O problema é outro: terem convertido os desfiles de Carnaval em passarelas para o brilho de celebridades midiáticas sem nenhuma vinculação com o samba, que muitas vezes pagam para mostrar suas curvas na TV, em detrimento dos verdadeiros e únicos heróis dos barracões: o povão.
Os donos das grandes escolas transformaram o Carnaval em um fetiche, no sentido marxista do termo: mercadoria que oculta a desigualdade pela aparência de igualdade. Afinal, as celebridades não vivem em favelas. O fato de estes personagens distintos dividirem a mesma avenida torna o Carnaval democrático, sem dúvida, mas, também, cínico.
Neste grande teatro criado em torno de uma das nossas maiores festas populares, os mass media atuam ainda como arlequins do capital, personagens da commedia dell’arte cujo propósito era faturar um troquinho divertindo a massa nos intervalos das apresentações. Como hoje em dia.
“Para tudo se acabar na quarta-feira” é o nome de um samba de Martinho da Vila, um dos grandes do gênero. Assim como o Carnaval que ele homenageia na música, os personagens famosos da festa também desaparecem, depois do desfile das escolas. Pena que, alavancados pelo dinheiro e pela grande mídia, estes foliões de fachada ressurgem das cinzas da quarta-feira, no ano seguinte.
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