quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Morte de Jimi Hendrix completou 40 anos neste mês


Por Tanara de Araújo



No dia 18 de setembro, completaram-se 40 anos da morte de Jimi Hendrix, um dos maiores guitarristas de todos os tempos.

As circunstâncias de sua morte são até hoje cercadas de mistérios e teorias conspiratórias. Aos 27 anos, ele foi encontrado morto em um quarto de hotel pela namorada Monika Dannemann, após ingerir pílulas para dormir com vinho tinto. A autópsia revelou que Hendrix foi asfixiado pelo próprio vômito.

Monika, porém, mudou seu depoimento várias vezes. Em uma das ocasiões, chegou a afirmar que encontrou o namorado ainda vivo e que ele teria morrido na ambulância. Já em 2009, o ex-roadie James “Tappy” Wright publicou o livro "Rock Roadie" onde afirmava que Michael Jeffrey, ex-empresário de Hendrix, teria assassinado o músico.


Ícone da contracultura

Eleito como o melhor guitarrista da história do rock por diversas publicações especializadas, Hendrix também foi um dos grandes ícones da contracultura dos anos 60.

Sua apresentação mais famosa ocorreu no festival de Woodstock, em 1969, quando tocou o hino americano em versão elétrica. Ele também é lembrado por ter colocado fogo em sua própria guitarra durante uma apresentação.

Dono de sucessos como "Hey Joe", "Crosstown Traffic" e "Purpke Haze", Hendrix conquistou diversos dos mais prestigiosos prêmios concedidos a artistas de rock. Postumamente, passou a integrar o Hall da Fama do Rock and Roll americano, no ano de 1992. Em 2005, foi a vez do Hall da Fama da Música do Reino Unido.

Uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood foi dedicada a ele em 1994. Já em 2006, seu álbum de estreia nos Estados Unidos, “Are You Experienced”, foi inserido no Registro Nacional de Gravações.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Projetos de inclusão digital terão recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia


Da Agência Brasil

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou edital para selecionar projetos de extensão que tenham como suporte as redes e tecnologias de informação e comunicação. Serão investidos nas propostas aprovadas R$ 5,5 milhões. A iniciativa será viabilizada por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os projetos devem contribuir para a inclusão digital e social e para o desenvolvimento sustentável local, por meio da disseminação e transferência de tecnologia em comunidades. As propostas devem estar claramente caracterizadas como projeto de extensão inovadora nas áreas de comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia e produção e trabalho.

Cada projeto pode solicitar o valor de até R$ 68,7 mil e ter prazo máximo de execução de 12 meses. Caso haja acréscimo de recursos, o prazo de execução do projeto pode ser prorrogado por igual período. O projeto não pode ter duração superior a 24 meses.

O proponente deve ser professor de instituição de ensino superior pública ou privada, sem fins lucrativos, ter currículo cadastrado na Plataforma Lattes e ainda ter vínculo celetista ou estatutário com a instituição de execução do projeto. O pesquisador aposentado pode apresentar projeto desde que comprove manter atividades acadêmico-científicas.

As propostas devem ser encaminhadas ao CNPq, exclusivamente pela internet, por meio do Formulário de Propostas Online, disponível na Plataforma Carlos Chagas, até 20 de outubro.

A íntegra do edital pode ser acessada no portal http://www.cnpq.br/editais/ct/2010/049.htm

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Coleções de brinquedos




Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB


Quando eu era criança, tive a feliz oportunidade de brincar muito, além de poder desenhar e pintar, subir na goiabeira do quintal, brincar de esconde-esconde com os amigos da rua, cuidar de coelho, cachorro, peixinho, tartaruga, pintinho, porquinho da índia, ler meus gibis da Turma da Mônica e livrinhos infantis, e tantas coisas legais. No entanto, o que eu mais gostava era de brincar de boneca.

Hoje vejo o quanto eu era agraciada nas festas de Natal, aniversários e Dias das Crianças, pois sempre ganhava um brinquedo novo, que começava a usar no mesmo dia. Uma das minhas maiores surpresas foi receber a primeira Barbie. Passava horas brincando de casinha e inventando novas histórias para aquela boneca magrela. Um dia, esqueci-a no jardim de casa e quem passou a noite brincando foi o cachorro, Rex, que a deixou completamente mastigada.

Depois de chorar um dia inteiro, meus pais trouxeram a solução: a Barbie acidentada seria levada ao Hospital de Brinquedos e poderia ter as “cicatrizes” amenizadas. Dias depois, o “doutor” a devolveu, recuperada. Eu achei estranho o fato dela ter, agora, pernas mais escuras que o restante do corpo, mas como eu fiquei feliz! Ainda brinquei com ela por muitos anos.

Outra lembrança marcante era uma conversa periódica que eu tinha com minha mãe. Nessas ocasiões, ela me ensinava que, enquanto eu ganhava brinquedos novos, havia crianças no mundo todo que não tinham sequer uma bola. Então, em conjunto, selecionávamos os brinquedos que eu não usava mais e entregávamos em campanhas de arrecadação, geralmente próximas ao Natal ou Dia das Crianças.

O que vejo, hoje, em casas com crianças pequenas, é exatamente o contrário. São estantes repletas de verdadeiras coleções de bonecos “Max Steel”, “Polly Pocket”, carrinhos “Hot Wheels”, bichos de pelúcia e pilhas de jogos de tabuleiro intocados. Normalmente, há também um vídeo-game “PlayStation” ligado, com um menino em estado de transe diante dele.

Ninguém se preocupa mais em consertar uma boneca velha: é mais fácil comprar uma nova e jogar a antiga no lixo. Nem sei mais se ainda existe aquele “Hospital de Brinquedos”. Para as novas crianças, o brinquedo vem fácil e perdeu seu valor. Se não interessa mais, basta deixá-lo perdido em algum lugar do porão.

As crianças estão, desde muito cedo, se tornando acumuladoras egoístas e insaciáveis, que não recebem o devido ensinamento a respeito de partilha e distribuição. Elas não aprendem a DIVIDIR com os mais carentes aquilo que receberam em excesso e os pais perdem uma excelente oportunidade de mostrar que é possível diminuir desigualdades sociais e amenizar o sofrimento de crianças tão pequenas quanto as suas.

No mesmo momento em que os pais começassem as primeiras lições de economia, ensinando a somar moedas no cofrinho, já deveriam ensinar a dividir os pertences com aqueles que nada têm, mostrando que isso, na verdade, não é uma subtração, mas uma real multiplicação de valores humanos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Espetáculo de dança integra o Projeto Palco Giratório em Campina Grande



O Serviço Social do Comércio da Paraíba desenvolve neste sábado (25) uma programação voltada para a Dança, integrante do projeto Palco Giratório e promovida pelo Sesc Paraíba, em parceria com o Departamento Nacional da instituição. "Conceição", do Grupo Experimental, proveniente de Pernambuco, começa a partir das 20h, no Cine Teatro do Sesc Centro, em Campina Grande.

O espetáculo mergulha nas crenças e no comportamento do povo recifense, através da famosa festa do Morro da Conceição. A proposta é investigar a intersecção entre o sonoro, o gestual, os sentimentos, o visual e o simbolismo presentes nessa festividade.

A entrada para todas as apresentações será um quilo de alimento não-perecível, que será repassado ao Banco de Alimentos do Sesc e doado a instituições carentes. Para obter mais informações, o interessado pode ligar para o telefone (83) 3341-5800, ou se dirigir ao Sesc Centro Campina Grande, que fica localizado na Rua Giló Guedes, Santo Antônio, 650.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Professor visitante da UEPB discorre acerca do Direito e as Relações Internacionais



Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB


Confira, abaixo, a entrevista que o professor visitante do Mestrado em Relações Internacionais (MRI) da Universidade Estadual da Paraíba, Marcílio Toscano Franca Filho, concedeu à ASCOM/UEPB acerca da Conferência “Ciência, Tecnologia e Inovação e seu Impacto sobre o Direito e as Relações Internacionais”, evento promovido em parceria com a International Law Association (ILA-Brasil). Está, no momento, como um dos organizadores e responsáveis por este evento na cidade de João Pessoa.


Marcilio Toscano Franca Filho é procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da Paraíba. Possui Pós-Doutorado em Direito pelo Instituto Universitário Europeu (Florença, Itália); é doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal), e mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).


Como se deu a parceria da ILA-Brasil com a UEPB para este evento?

A Conferência foi uma ideia inicial da ILA que encontrou no Programa de Pós-Graduação de Relações Internacionais da UEPB e na pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, Marcionila Fernandes, uma pronta disposição para co-organizar o evento. Como sempre tem ressaltado a professora Dra. Susana Vieira, diretora de estudos da ILA/Brasil, há tempos que a instituição queria fazer um evento no Nordeste, pois já havia feito vários eventos no Sul, Sudeste e até em Brasília, mas nunca nesta região.

A ILA procurava uma instituição séria, em uma das capitais nordestinas, que oferecesse as necessárias condições de respeitabilidade, qualidade e acessibilidade para um evento desse porte. Como sócio da ILA desde 2007, convidei a ILA para um Seminário sobre Criminalidade Eletrônica, em 2009, ocorrido em João Pessoa. A professora Susana Vieira participou do seminário e ficou impressionada com a capacidade de movimentação dos organizadores e com o interesse de alunos e professores da Paraíba. Quando a ILA resolveu fazer essa Conferência nacional, em 2009, a professora Susana propôs à Presidência da ILA João Pessoa como localização. O professor Eduardo Grebler, presidente da ILA/Brasil, aceitou em princípio a sugestão, solicitando um projeto para apresentação à Diretoria da ILA. Então, Susana Vieira, que já conhecia a Paraíba desde 1976 e também a fama de seus avanços tecnológicos e qualidade acadêmica, passou uma semana em João Pessoa em abril de 2010, fazendo contatos com diversas instituições, intermediados também por mim.

Elaboramos então um o projeto detalhado, que foi apresentado à Diretoria da ILA e unanimemente aprovado. Ao mesmo tempo, surgiu e foi incorporada ao projeto a proposta da parceria com o Mestrado em Relações Internacionais da UEPB, que contou com o rápido e efetivo apoio de todos os demais professores do programa. Essa parceria com o Mestrado em RI permitiu que a Conferência ganhasse um caráter interdisciplinar (Direito e Relações Internacionais), e a possibilidade de que se apresentasse um projeto de financiamento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Conseguiu-se o apoio fundamental do CNPq, importante não só pelo aporte financeiro, mas também pelo selo de qualidade que conferiu ao evento. Estabeleceu-se a contribuição financeira da ILA, e conseguiu-se uma série de patrocínios locais e não locais, a exemplo da cessão gratuita da Estação Ciência por parte da Prefeitura de João Pessoa.

De acordo com o portal do evento, a International Law Association existe desde 1873 e a ILA-Brasil, há 40 anos. Porque tanto tempo para esta I Conferência?

Isso aconteceu porque Direito Internacional e Relações Internacionais - os temas de interesse da ILA - não eram então tão valorizados como hoje por nossas academias e governos. Durante muito tempo, o Ramo Brasileiro da ILA sobreviveu graças ao financiamento pessoal do Embaixador Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, que pagava de próprio bolso o mínimo de anualidades de sócios necessário para que o ramo continuasse existindo oficialmente.

Só a partir de 1993, e sempre por iniciativa do Embaixador Nascimento e Silva, o segmento começou a se organizar de maneira mais autônoma, angariando novos membros, todos pagantes, e nomeando seus integrantes para os Comitês Internacionais da ILA. Dezoito anos e três administrações depois, a ILA Brasil está hoje consolidada, com representantes na maioria dos Comitês Internacionais - que são o cerne da ILA - enquanto organização mundial, reunindo estudiosos de todas as formações nacionais e culturais para discutir os grandes assuntos da comunidade internacional. Além disso, foi proposta a criação de um Comitê sobre o Direito Internacional do Consumidor, aprovado pelo Conselho Executivo da ILA Mundial em 2008 e presidido por uma brasileira, a professora Dra. Cláudia Lima Marques, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

Entre diversos eventos regionais, nacionais e internacionais promovidos pela ILA-Brasil, a instituição foi se consolidando. Consolidação esta que culmina nessa I Conferência Nacional - mas que também terá palestrantes estrangeiros - em parceria com a UEPB: a primeira universidade pública do Nordeste a ter uma graduação em Relações Internacionais, em João Pessoa: cidade que nos deu Epitácio Pessoa, primeiro juiz brasileiro na então Corte Permanente de Justiça Internacional de Haia.


O que o senhor destacaria deste evento ou entre os conferencistas?

É um evento grande e que, por isso mesmo, tem demandado muito trabalho em equipe, com gente da organização espalhada por Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e João Pessoa. Somos um comitê organizador composto por professores daqui e de fora: Eduardo Grebler, Lauro Gama, Susana Camargo Vieira, Arnaldo Sobrinho, Bruno Teixeira de Paiva, Alexandre Belo, Fernando Vasconcelos, Rodrigo Azevedo Greco.

Estou certo de que será um evento sem precedentes na Paraíba, a começar pelo fato de que, ao permitir que essa discussão tome lugar na Paraíba, a ILA-Brasil e a UEPB reafirmam o desvalor contemporâneo da ultrapassada dialética “global x local” e sublinham o perfil inovador do pólo tecnológico do Nordeste. Teremos nomes importantes da Diplomacia e do Direito nacionais, tratando de temas muito importantes nos dias que correm: tecnologia e desenvolvimento nacional, paz, invasão de privacidade, bio-pirataria global, o plano nacional de banda larga, transgênicos, satélites, entre outros.

Teremos alguns especialistas internacionais de enorme relevo, de universidades européias e americanas que estão no topo do ranking divulgado semana passada, e a Conferência de encerramento, com o Ministro Ásfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), abordará um tema fascinante: a digitalização da jurisdição. Outro grande momento da Conferência será a entrega do Prêmio Epitácio Pessoa de melhor artigo científico sobre os temas da Conferência, um enorme incentivo, sem dúvida, para a participação de alunos e jovens pesquisadores.


Para saber mais sobre o professor Marcilio Toscano, acesse http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797467Y0. O endereço da Conferência “Ciência, Tecnologia e Inovação e seu Impacto sobre o Direito e as Relações Internacionais” é http://www.iccrime.com.br/ila.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Filmes a Granel: cineclube em João Pessoa exibirá o português ‘A Outra Margem’


Homossexualidade - Exclusão é um dos temas tratados no filme

O longa metragem A Outra Margem (2007, drama, Portugal), dirigido pelo cineasta Luís Filipe Rocha, é o segundo a ser exibido na programação do projeto ‘Filmes a Granel’, sessão de cineclube realizada uma vez por mês no Espaço Cine Digital, anexo ao cine-teatro Bangüê, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. O filme, vencedor de dois prêmios (Canadá e México), aborda homossexualidade e a Síndrome de Down. A sessão está marcada para esta quinta-feira (23), às 19h30, com entrada gratuita.

A sessão de cineclube mensal é uma iniciativa da cooperativa paraibana ‘Filmes a Granel’ e acontece sempre na penúltima quinta-feira do mês. O tema desta primeira temporada é ‘Um Cinema sob Influência’, onde os cineastas participantes da cooperativa apresentam filmes que influenciaram seu trabalho e falam de suas produções antes mesmo de estarem prontas.

Após a sessão , o cineasta paraibano Bertrand Lira vai falar sobre o seu projeto viabilizado pela cooperativa Filmes a Granel, o curta documental  Diário de Márcia. As sessões do projeto acontecem mensalmente, seguindo a ordem do cronograma de gravação de cada projeto sorteado.

 A Outra Margem conta a história de um travesti que perdeu o gosto pela vida e é confrontado com a alegria de viver de um adolescente com Síndrome de Down. No elenco estão Filipe Duarte, Maria D’Aires, Tomás Almeida, Horácio Manuel e Sara Graça, entre outros atores portugueses.

O filme foi destaque no Festival de Cinema do Mundo de Montreal, no Canadá (2007), com o prêmio de melhor ator (Filipe Duarte e Tomás de Almeida) e recebeu o prêmio especial do júri e o de melhor atriz (Maria D’Aires) no Festival de Cinema de Guadalajara, no México (2008).


SERVIÇO

Sessão Filmes a Granel - 1ª temporada (Um Cinema Sob Influência),
Filme: A Outra Margem, de Luis Filipe Rocha (Portugal, 2007, drama, 106’);
Quando: Quinta-feira (23/09), às 19h30;
Onde: Espaço Cine Digital (anexo ao Bangüê, no Espaço Cultural José Lins do Rego (Rua Abdias Gomes de Almeida, 800 – Tambauzinho – João Pessoa),
Quanto: Entrada gratuita;
Informações: (83) 3211-6281.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entrevistando B.B King


Por Paulo Cavalcanti, da Revista Rolling Stone

Um dos últimos remanescentes da geração de ouro do blues que floresceu depois da Segunda Guerra Mundial, Riley B. King, mais conhecido como B.B. King, , 84 anos, ainda está na ativa e sem previsão de descansar - pelo jeito só vai fazer isso quando morrer. Nessa entrevista, acompanhado de sua guitarra Lucille, o ícone advindo do Mississipi recorda o seu início de carreira, falando de ídolos, influências e pessoas que o ajudaram em sua longa trajetória. E, apesar de ser o embaixador do blues, King também confessa seu envolvimento e paixão por outros estilos musicais correlatos, como gospel e jazz.


Como o senhor se sente ainda rodando o mundo e tocando o blues?

Bem, eu já pensei em me aposentar, eu até cheguei a anunciar isso há alguns anos, mas eu pensei: na verdade não preciso me aposentar. Enquanto tiver forças e saúde, eu vou estar no palco. Além disso, tenho uma banda formidável, a melhor que você pode imaginar. Essa gente precisa de trabalho. Eles têm que trabalhar, isso me motiva a trabalhar também! Moro em Las Vegas, mas ninguém vai ver o B.B. King espreguiçando numa cadeira ao redor de uma piscina!


Como foi a sua descoberta do blues?

É engraçado, porque existe a lenda de que as pessoas ouviam o blues no campo de algodão, mas não foi o meu caso. Minha primeira exposição ao verdadeiro blues foi ouvindo o estilo no fonógrafo de uma tia. Era sempre uma ocasião especial ir para a casa dela, quando eu era adolescente, e ouvir discos de 78 rotações de Blind Lemon Jefferson, Lonnie Johnson e Mississippi John Hurt. Eles eram meus ídolos, na verdade ainda são.


Como foi seu envolvimento com a música gospel?

É, eu quase me tornei um cantor gospel! Quando eu era garoto, minha mãe me levava a uma igreja no Mississippi. Hoje eu sei que era um truque dela, ela queria muito que eu me tornasse pregador. Isso nunca foi minha intenção, mas eu observava muito o pregador, ele também tocava guitarra, ele era um showman. Aprendi muita coisa com ele. Eu cantei e toquei guitarra em quartetos de música gospel por um certo tempo. Viajamos por todo o sul, mas, quando chegou a hora de gravar, rumamos para Memphis, já que lá existiam os melhores estúdios do sul dos Estados Unidos.


O senhor diz que ter ido para Memphis foi um ponto de virada em sua carreira...

Sim, definitivamente, minha carreira efetivamente nasceu lá. Memphis era o lugar para onde a música que eu conhecia e amava convergia. Por lá passavam os melhores artistas de country, blues, gospel e jazz. Eu visitei a cidade pela primeira vez depois da Segunda Guerra, senti o ambiente e voltei para o Mississippi, para me preparar melhor. Lá tinha muita gente boa no ramo, a competição era dura, principalmente na Beale Street, a "Broadway do blues". O tempo que trabalhei lá como DJ serviu para conhecer muita gente, o que me ajudou muito a me profissionalizar. E foi graças a um senhor chamado Sam Phillips [produtor e fundador da Sun Records] que as coisas começaram a acontecer. Ele produziu alguns dos meus primeiros discos e graças a ele aprendi a me movimentar no estúdio, buscar o melhor de mim e da minha guitarra. Deixei minha marca na música de Memphis. Anos depois, conheci lá em Memphis o jovem Elvis Presley, que confessou ser meu fã. Eu não sabia que tinha tantos garotos brancos que rota ouviam o blues!


Fora o gospel, o senhor também sempre teve uma forte ligação com o jazz. Como é isso?

Eu acho que na verdade eu sou um trompetista frustrado [risos]. Em minhas primeiras gravações usei um naipe de metais e eu mantenho isso até hoje, gosto do som de trompetes e saxofones se misturando à minha guitarra e complementando minha voz. Minha primeira grande influencia, antes mesmo de outros nomes do gospel e do blues, foi Louis Armstrong. Eu conheci todos os grandes nomes do jazz, como Benny Goodman, Duke Ellington e Count Basie, eles foram verdadeiros exemplos. Aprendi com eles como ser um bom músico e também tudo o que você precisa saber sobre disciplina e profissionalismo. Ter ouvido as gravações da orquestra do Benny Goodman nos anos 40 foi outro momento importante para mim. Charlie Christian era o guitarrista da banda de Goodman, foi um músico que influenciou toda uma geração.


O seu álbum de maior vendagem é Riding with the King (2000), que gravou com Eric Clapton. Como foi trabalhar com Clapton?

Eu sempre fiquei surpreso quando nos anos 60 todos esses jovens músicos ingleses diziam que eu era o mestre deles. Quando eu conheci Eric Clapton, ele não tinha nem 20 anos. É o maior guitarrista do rock e toca blues como ninguém. Foi uma boa experiência fazer esse disco, não seria nada mal repetir a dose. Riding with the King ganhou disco de platina, ainda está vendendo.


O que significa o blues para o senhor?

Não acho que o blues seja diferente de qualquer outro tipo de música. Eu nunca ouvi música de que eu não gostasse. Desse jeito, também nunca iria tocar música que não me dissesse nada. O blues não é tristeza, não é pobreza, ele deve ser tocado em salas sinfônicas. Para mim, é um aprendizado, um estilo de viver e é como eu ganho meu sustento. Acho que melhoro a cada dia nesse ofício que é tocar o blues.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Prêmio Sesc de Literatura inscreve até o dia 30 de setembro


Os interessados em participar da edição de 2010 do Prêmio Sesc de Literatura podem se inscrever gratuitamente até o dia 30 de setembro. O concurso, que é realizado em parceria com a editora Record, é direcionado a obras inéditas nas categorias romance e conto e tem como principal finalidade revelar novos talentos da literatura nacional.

Lançado pelo Sesc em 2003, o concurso identifica escritores inéditos, cujas obras possuam qualidade literária para edição e circulação nacional.

Cada com corrente pode participar com uma obra. Os vencedores terão seus livros publicados e distribuídos pela editora Record para toda a rede de bibliotecas e salas de leitura do Sesc e Senac no Brasil.

Doze escritores já foram premiados desde a criação do concurso, em 2003. A edição 2009 da premiação teve 667 inscrições, maior número desde sua criação. No ano passado, os ganhadores foram Gabriela Guimarães, de Minas Gerais, com o romance "Prosa de Papagaio", e Sergio Tavares, do Rio de Janeiro, com a coletânea de contos "Cavala".

Para mais informações acesse o edital do prêmio, disponível no endereço eleltrônico: http://www.sesc.com.br/premiosesc/

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os 120 anos da dama do crime


Do UOL Educação

Considerada a "Rainha do Crime", Agatha Christie aliou uma imaginação brilhante à sua grande habilidade como narradora, para conquistar gerações de público para suas histórias de mistério e suspense. Seus livros já venderam mais de 2 bilhões de exemplares.

Nascida dia 15 de setembro de 1890 em Torquay na Inglaerra, Agatha May Clarissa Miller, se casou em 1914, com o Coronel Archibald Christie, um aviador da Força Aérea britânica. Com ele, teve sua única filha, Rosalind. Durante a Primeira Guerra, Agatha trabalhou como farmacêutica, o que lhe proporcionou, segundo consta, grandes conhecimentos sobre poções e veneno, que seriam mais tarde empregados em suas obras.

Deu-se em 1920 a publicação do seu livro de estréia, "O Misterioso Caso de Styles", protagonizado pelo detetive belga Hercule Poirot, que se tornaria um dos mais famosos personagens de toda a história da literatura. Poirot seria protagonista de mais 33 romances e dezenas de contos.


Em 1926, Christie desapareceu por onze dias, fato que causou comoção na imprensa e toda sorte de especulações. Agatha foi encontrada num hotel e até hoje não se sabe ao certo o motivo do desaparecimento: supõe-se que ela estivesse deprimida por descobrir um caso adúltero do marido. Nesse ano, ela escreveu uma de suas obras-primas "O Assassinato de Roger Ackroyd".


Dois anos mais tarde, Agatha Christie divorciou-se de seu primeiro marido. Em 1930, publicou o primeiro romance com a sagaz personagem Miss Marple, "O Assassinato na Casa do Pastor". Marple, uma simpática velhinha que se arvora a detetive e é uma espécie de alter-ego da autora, foi protagonista de doze romances de Agatha Christie.


Ainda em 1930 Agatha casou-se pela segunda vez, com Max Mallowan, um arqueólogo que havia conhecido numa viagem à Mesopotâmia. Com Mallowan a autora realizou uma série de expedições arqueológicas, que lhe renderam inspiração para novas histórias, como "Morte no Nilo".


Em 1934, foi lançado o célebre romance "Assassinato no Expresso do Oriente", depois transformado num filme de grande sucesso. Na década de 1930, a abundante produção literária de Agatha Christie se consolidou junto ao público, transformando a autora num perene "best-seller". Christie escreveu mais de vinte títulos de ficção, entre eles o famoso "O Caso dos Dez Negrinhos".


Em 1952, estreou em Londres sua peça "A Ratoeira" - a peça que ficou mais tempo em cartaz na história do teatro. Numa carreira de mais de meio século, Agatha Christie escreveu 79 romances e livros de contos, além de doze peças de teatro. Além das peças, contos e romances de mistério, Agatha publicou seis romances românticos, com o pseudônimo de Mary Westmacott.


A escritora recebeu a mais alta condecoração do Reino Unido em 1971, tornando-se "Dame Agatha Christie".

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Umberto Eco transita com desenvoltura em variados campos do pensamento

Por Gabriela Longman, da Revista Cult

Umberto Eco percorre, com naturalidade, a semiótica, a estética, a linguística, a história da literatura e a cultura de massas. Seu pensamento mora em algum lugar entre São Tomás de Aquino e Pierce; Abelardo e Karl Popper. Salta do texto à imagem; da Idade Média às redes informáticas. Se cai nos abismos da controvérsia, sabe como sair deles. Autor de cinco romances, ganhou fama mundial ao publicar, em 1980, O Nome da Rosa, thriller com páginas inteiras em latim, reflexões sobre a escolástica e a lógica e uma imersão na atmosfera monástica do medievo europeu.

Hoje, aos 77 anos, o intelectual italiano afirma que fica entediado se não faz muitas coisas ao mesmo tempo. Tradutor de textos ingleses e franceses do século 19, é autor de mais de 200 prefácios e um notório especialista em James Joyce (“Economizar em Cima de Joyce” é um dos principais ensaios de seu livro Os Limites da Interpretação). Atualmente assina a curadoria de um projeto artístico no Museu do Louvre, em Paris, juntando arte, história e música. A programação inclui um olhar “contemporâneo” sobre as coleções clássicas do museu e uma série de espetáculos que dialogam com seu trabalho.

Graças ao convite, Eco passa os meses de novembro e dezembro na capital francesa, onde presidiu um colóquio sobre a vanguarda italiana dos anos 1960 – afinal, foi baseado no contato com artistas como Lucio Fontana, Alberto Burri e Piero Manzoni que elaborou o conceito de “obra aberta” (1962), seu modelo teórico para explicar a arte contemporânea. Convidou o compositor e DJ francês Laurent Garnier para o encerramento do evento, num concerto-projeção que pretende misturar John Lee Hooker, Charles Trenet, música eletrônica, música concreta. Finalmente, lotou a livraria do museu nas duas sessões de autógrafos de seu novo livro, Vertige de la Liste, que percorre a história da arte e da literatura com base na ideia da lista, da enumeração.

Da Wikipédia a Berlusconi

Nascido em Alexandria – não a do Egito, fundada em homenagem a Alexandre, o Grande, mas a do Piemonte, às margens do Rio Pó, fundada em homenagem ao papa Alexandre III –, Eco passou boa parte de sua vida na Universidade de Bolonha, a mais antiga da Europa, fundada em 1088. Titular e professor de honra da cadeira de semiótica (aposentado), é hoje diretor da Escola de Ciências Humanas da mesma universidade. Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard e no Collège de France. Sua vida desenvolve-se, então, numa alternância constante entre as atividades na academia, a carreira literária e a imprensa – é colunista da revista semanal italiana L’Espresso, na qual escreve, entre uma infinidade de temas, sobre Berlusconi e Wikipédia. A Wikipédia ele aprova com ressalvas e garante que corrige, pessoalmente, as imperfeições que encontra no verbete a seu respeito. “A Wikipédia confirma as teorias do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce, de uma comunidade (científica) que através de um tipo de homeostase elimina os erros e legitima novas descobertas, continuando assim a carregar o que ele chamou de tocha da verdade (…) Quando eu uso a Wikipédia, emprego as técnicas utilizadas pelos acadêmicos profissionais: leio sobre um determinado tópico e depois comparo a informação com material encontrado em três ou quatro outros sites.” Quanto a Berlusconi, ele reprova, também com ressalvas: “O problema da Itália não é Berlusconi, são os italianos como um todo”, escreveu o escritor num artigo recente em que convidava a intelectualidade italiana a se posicionar.

“Em 1931, o fascismo impôs aos professores universitários – 1.200 na época – um juramento de fidelidade ao regime. Apenas 12 recusaram e perderam seus empregos. Talvez os 1.188 que ficaram tivessem razões nobres. Mas os 12 que disseram não salvaram a honra da universidade e, definitivamente, a honra do país.”

Eco diz ter conhecido Berlusconi no tempo em que este era ainda um homem jovem que fazia negócios no setor da construção, mas que cogitava passar às mídias de massa e, para sondar o terreno, marcou um almoço com intelectuais. O escritor esteve presente junto com um amigo. “Encontramos este tipo que não diz praticamente nada na mesa, a não ser algumas pequenas besteiras. Partimos com o pretexto de que já era tarde. Na escada, disse a meu amigo: ‘Que imbecil que nos fizeram encontrar…’ E foi assim que perdi a chance de tornar-me o número 2 da Itália.” (A propósito, o italiano é o “número 2” na eleição da revista norte-americana Prospect em torno do maior intelectual vivo do mundo, atrás de Noam Chomsky).

Paixão pelos livros

Independentemente dos números, Umberto Eco é um homem que circula. Dizem as más línguas que tirou a barba para poder passear com mais tranquilidade na última Feira de Frankfurt. Residente em Milão, passa de três a quatro dias por semana em Bolonha, onde é uma espécie de mito – quase todas as vitrines ostentam seus títulos, como uma mãe orgulhosa do filho pródigo. Os moradores da cidade garantem que ele praticamente não sai da universidade, mas de vez em quando é visto comendo pizza cercado por seus estudantes em alguma trattoria barata do centro. A maior parte das antigas livrarias de que gostava foi substituída pela megastore da rede Feltrinelli, que ocupa o número 1 da Piazza di Porta Ravegnana. Ele lamenta e não lamenta: “As velhas livrarias tinham livreiros sábios, que davam bons conselhos, mas havia certo ar de sobriedade que intimidava os leitores iniciantes. Atualmente, vejo a juventude mais à vontade ao folhear os livros dentro destes prédios de oito andares”.

Pois que, à parte toda a circulação e apesar do carrossel de atividades, Eco é, indiscutivelmente, um homem dos livros – do recolhimento, portanto. A quase totalidade de seus escritos romanescos ou teóricos fala de livros, sobre livros ou sobre bibliotecas. Bibliófilo inveterado, tem em sua estante 1.200 obras raras. É dessa dialética da reclusão e da circulação que nasce sua figura.

Junto com o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, lançou N’Espérez pas vous Débarrasser des Livres (“Não Espere se Livrar dos Livros”, publicado em Portugal com o título A Obsessão do Fogo e ainda inédito no Brasil), uma conversa dos dois mediada pelo jornalista Jean-Philippe de Tonac. Ali, insiste no ponto que defende desde o começo das mídias eletrônicas: o livro como objeto não vai desaparecer, é insuperável, tal qual a roda ou o martelo:

“Você pode levá-lo para sua banheira sem ter medo de morrer eletrocutado; pode ler numa ilha deserta, enquanto o pobre Robinson Crusoé não saberia o que fazer com as baterias descarregadas de um e-book. Este livro em papel sobrevive mesmo que o deixemos cair do 5º andar de um prédio, mas tente fazer o mesmo com um livro eletrônico!” 
 
ORDEM DA MULTIPLICIDADE

Em seu novo livro, Umberto Eco busca dar ordem a um mundo multifacetado

La Vertige de la Liste (Vertigine della Lista, no original em italiano) é um ensaio inteiramente construído em torno de listas, catálogos, relações, enumerações. Ao longo de exemplos visuais e literários, Umberto Eco propõe-se a dissecar o uso dessa espécie particular de representação e analisar as diferentes formas de listagem criadas ao longo dos séculos. Publicado na França, o livro estrutura-se com base na ideia de enumeração como recurso recorrente na história do registro verbal e visual, por ser hábito próprio da mente humana e ferramenta de compreensão.

Na Europa, o volume foi publicado nos mesmos parâmetros editoriais que História da Beleza (2004) e História da Feiúra (2007), como se formassem uma trilogia sobre história da arte. Fartamente ilustrados, seduzem pelo caráter visual, mas deixam frustrados dois tipos de leitores: aqueles que esperavam do autor um novo trabalho de semiótica ou filosofia da linguagem e aqueles, em maior número, que aguardavam ansiosamente um novo romance labiríntico – o último foi A Misteriosa Chama da Rainha Loana, em 2004.

Neste Vertige de la Liste, o argumento desenvolve-se com base em uma separação fundamental aos olhos do autor: uma divisão entre listagens “finitas” (como a lista de convidados de um jantar ou a dos mandamentos) e um segundo tipo, criado apenas para dar a dimensão do incomensurável ou mesmo do infinito. Enquanto o primeiro grupo nasce da necessidade de enumerar as partes de um todo, o segundo surge, ao contrário, porque o todo é extenso demais para ser enunciado/representado, mas pode ser “entrevisto”. É por essa segunda espécie que Eco se interessa especialmente, estabelecendo em torno dela o que define como uma “poética do et cætera”.

Para ilustrar seus propósitos, o volume abre um leque bastante amplo de exemplos. Começando com uma enumeração da Ilíada (a lista de navios feita por Homero para tentar descrever a imensidão do exército grego), o autor percorre 75 trechos literários de diferentes épocas: de Dante a Calvino, de Rabelais a Rimbaud. Está lá, por exemplo, o desfile de diferentes tipos humanos criado por Edgar Allan Poe para descrever a metrópole moderna em seu “O Homem da Multidão”. Está lá, também, uma série de textos medievais, grande especialidade do autor.

Ritmo e redundância

“Existem listas, por exemplo, em que, menos que o conteúdo ou os elementos citados, importa mais o ritmo ou a redundância. L’enumeratio é uma forma recorrente na literatura medieval, mesmo quando os termos da lista não parecem coerentes, pois trata-se de definir as propriedades de Deus, que, por definição, não podem ser anunciadas por meio de ‘similitudes dessemelhantes’”.

Numa reunião de exemplos tão ou mais interessante, Eco busca mostrar como a forma do “etc.” pode ser aplicada à pintura ou à fotografia: “A Monalisa tem como fundo uma paisagem que certamente continua para além da moldura, mas ninguém se pergunta até onde vão os bosques (…) ninguém pensa que Leonardo teria sugerido que eles se prolongam ad infinitum. Outras obras figurativas, porém, nos deixam com a impressão de que o que vemos não é um todo, mas uma amostra de uma totalidade maior que é impossível de ser ali abarcada.”

Partindo desse princípio, o livro é inteiramente ilustrado por obras cujo conteúdo parece escorregar para além do representado, do Jardim das Delícias, de Bosch, até uma vista aérea da cidade de Los Angeles fotografada em preto e branco. No capítulo especial sobre as enumerações em tempos de mass media, as embalagens de sopa reunidas por Warhol são o principal exemplo.

Reunião de todos os tipos de listas desordenadas, caóticas, despropositadas, Vertige de la Liste faz descobrir uma língua sem um objetivo, procurando ordenar de todas as maneiras possíveis um mundo em sua extensão e multiplicidade. Ironias à parte, trata-se, enfim, de uma grande lista de listas – mais uma das acrobacias teóricas do autor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

MCT vai destinar R$ 5,5 milhões para projetos de inclusão digital

Edital lançado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) visa destinar R$ 5,5 milhões a projetos de extensão inovadora que tenham como base as redes informacionais e as tecnologias de informação e comunicação (TICs). O edital será realizado por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT).

Segundo o MCT, os projetos devem contribuir para a inclusão digital e social e para o desenvolvimento sustentável local, por meio da disseminação e transferência de tecnologia em contextos comunitários. O ministério frisa que as propostas devem estar claramente caracterizadas como projeto de extensão inovadora em uma das áreas temáticas principais, que entre outras envolvem a de comunicação e tecnologia e produção. O valor máximo a ser solicitado por projeto é de R$ 68,7 mil e o prazo máximo de execução é 12 meses.

"Excepcionalmente, caso haja aumento de recursos, o prazo de execução dos projetos pode ser prorrogado por igual período. O projeto não pode ter duração superior a 24 meses", diz comunicado do MCT.

O proponente deve ser professor de instituição de ensino superior (IES) pública ou privada, sem fins lucrativos, ter currículo cadastrado na Plataforma Lattes e ainda ter vínculo celetista ou estatutário com a instituição de execução do projeto. A instituição de execução do projeto ou a instituição parceira deve garantir a disponibilidade, no período de execução do projeto, de espaço físico com a estrutura de Unidade de Inclusão Digital (UID), além de serviços de conexão à internet de maneira a atender a demanda do projeto. Outras exigências são que a atividade seja de uso público e gratuito, que as condutas no âmbito do projeto sejam laicas, apartidárias e sem fins lucrativos, e que o atendimento ao público na UID seja realizado em jornadas semanais mínimas de 40 horas.

As propostas devem ser encaminhadas ao CNPq, exclusivamente via internet, por intermédio do Formulário de Propostas Online , disponível na Plataforma Carlos Chagas, até 20 de outubro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Samba Groove de Toninho Borbo no Sertão

Da assessoria do músico
Crédito da foto: Iramaya Rocha



O show Experimental Samba Groove, do músico Toninho Borbo, estará pela primeira vez no Sertão paraibano. A cidade de Sousa apresentará o músico nesta quarta-feira (15), a partir das 19h, no Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBN) pela IV Mostra BNB da Canção Brasileira Independente. Toninho fará o show com o Sound System fHz0, criador dos bits do novo som do músico.

O show Experimental Samba Groove, que traz um trecho do poema "Navio Negreiro", de Castro Alves, possui no começo um suspense instrumental, remetendo a um ambiente repleto de nuances, vinhetas e colagens. Misto de mãos e mentes orgânicas colados a bits eletrônicos e uma poesia aguda.  O repertório é seguido por um baixo, que liga tudo num som de peso, acompanhado por uma bateria de groove reto, dialogando com o violão, criando uma textura moderna que define a música de Toninho Borbo.

Pelo Myspace dá pra ouvir um pouco do que é esse trabalho já reconhecido por brasileiros perfeccionistas, inspirados nos sons do mundo. Quem pensaria em ouvir uma poesia regional, da Feira de Campina Grande, com o arrastado elétrico do bit? É o eletrococo (mistura da batida tradicional do coco de roda com música eletrônica) composto a partir de um trecho de "A feira", da escritora Lourdes Ramalho.

Essa originalidade e experimentação são variantes nos atuais trabalhos de MPB que circulam no Brasil. E nelas o cantor e compositor paraibano Toninho Borbo vem dedilhando seu violão, mas fusionado no agora. Os experimentos com samba na Serra da Borborema começaram a partir de 10 letras feitas entre 2006 e 2009 e hoje caminham para um CD.

O novo show surgiu em 2010, um dos mais elogiados em sua carreira, segundo o músico. Toninho continua divulgando-o no Estado e os músicos que o acompanham fizeram a obra se tornar rica, musical e esteticamente pronta para qualquer palco.


DISCOGRAFIA

2003 – Do Beco ao Eco
2005 – EP
2007 – Para Fins de Mercado


LINKS:

www.myspace.com/toninhoborbo
www.flickr.com/toninhob

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

MinC anuncia inscritos ao Oscar 2011 e público pode votar

Surreal - "Reflexões de um liquidificador" é um dos filmes brasileiros disputando a vaga ao Oscar

Do Portal Vermelho

O Ministério da Cultura divulgou a lista de filmes que vão disputar a vaga para representar o Brasil no Oscar 2011, entre os possíveis indicados a melhor longa estrangeiro. Vinte e três produções se inscreveram na Secretaria do Audiovisual, entre eles sucessos de público como Nosso Lar e O Bem Amado, e duas cinebiografias, Chico Xavier e Lula, o Filho do Brasil. Uma comissão irá escolher o finalista, mas, este ano, o público também participará da decisão.

A comissão que indicará o filme para pleitear a indicação ao Oscar é composta por nove membros, indicados pelo MinC, Agência Nacional do Cinema (Ancine), Secretaria do Audiovisual e Academia Brasileira de Cinema, vai escolher o finalista. São eles: Cássio Henrique Starling Carlos, Clélia Bessa, Elisa Tolomelli, Frederico Hermann Barbosa Maia, Jean Claude Bernardet, Leon Kakoff, Márcia Lellis de Souza Amaral, Mariza Leão Salles de Rezende e Roberto Farias.

Este ano, contudo, pela primeira vez, o processo de eleição conta com a participação popular. Entre 8 e 20 de setembro o público poderá votar, no site do MinC, no filme que considerar mais adequado para ser o representante brasileiro na corrida pelo Oscar. Mas não se trata de uma votação decisiva, ela apenas auxiliará os membros na hora da decisão. Para participar basta acessar o endereço eletrônico http://www.cultura.gov.br/site/2010/09/08/enquete-oscar/

O número de inscritos, 23, superou e muito o de 2009, quando apenas 10 filmes se candidatarm para concorrer. O nome do escolhido será divulgado em 23 de setembro. Os cinco indicados na categoria de melhor filme estrangeiro serão divulgados no dia 25 de janeiro pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela organização do prêmio, e a cerimônia de entrega do Oscar acontecerá em 27 de fevereiro.

Veja abaixo os filmes inscritos na disputa:

As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky
A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor
Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo
Bróder, de Jeferson De
Carregadoras de Sonhos, de Deivison Fiuza
Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca
Cinco Vezes Favela, Agora Por Nós Mesmos, direção coletiva
Chico Xavier, de Daniel Filho
É Proibido Fumar, de Anna Muylaert
Em Teu Nome, de Paulo Sacramento
Hotel Atlântico, de Suzana Amaral
Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto
Nosso Lar, de Wagner de Assis
Olhos Azuis, José Joffily
Ouro Negro, de Isa Albuquerque
O Bem Amado, de Guel Arraes
O Grão, de Petrus Cariry
Os Inquilinos, Sérgio Bianchi
Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho
Quincas Berro D’água, de Sérgio Machado
Reflexões de um Liquidificador, de André Klotzel
Sonhos Roubados, de Sandra Werneck
Utopia e Barbárie, de Silvio Tendler

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Triste Fim de Lima Barreto



Por Yudith Rosenbaum, do Caderno Ilustríssima

RESUMO

Um diário e um romance inacabado narram as duas internações manicomiais por alcoolismo de Lima Barreto entre 1914 e 1920. Reeditados no mesmo volume, com fotos e aparato crítico, revelam seu alto valor literário e iluminam vida e obra do escritor, bem como aspectos da história social e da psiquiatria no Brasil.


POUCOS ESCRITORES brasileiros terão mais legitimidade para narrar a experiência asilar do louco do que Lima Barreto, internado duas vezes por delírios alcoólicos no Hospital Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro: a primeira entre agosto e outubro de 1914 e a segunda do Natal de 1919 a fevereiro de 1920.

O testemunho da segunda reclusão, decidida por seu irmão após dias de agônicas alucinações, constitui o relato profundo e lúcido do "Diário do Hospício". Ao lado dessas impactantes anotações autobiográficas, o leitor poderá ler o seu duplo ficcional, o romance inacabado "O Cemitério dos Vivos", escrito a partir daquelas, e que poderia ter sido, para alguns críticos, a sua obra-prima.

A edição atual, "Diário do Hospício e O Cemitério dos Vivos" [Cosac Naify, 352 págs., R$ 55], organizada pelos professores de literatura brasileira da USP Augusto Massi e Murilo Marcondes de Moura, com prefácio notável do crítico Alfredo Bosi, enriquece o texto com notas esclarecedoras e reacende a discussão em torno de duas obras ainda cativantes. A edição ainda traz textos de autores como Machado de Assis, Raul Pompeia e Olavo Bilac sobre o hospício carioca.

A reunião de memórias e romance recupera a unidade da publicação original, de 1953, em que "O Cemitérios do Vivos" era uma espécie de prolongamento do "Diário Íntimo" (que viria a ser o "Diário do Hospício"). Nas "Obras Completas de Lima Barreto" (1956), seu biógrafo, Francisco de Assis Barbosa, publicou história e ficção em volumes separados, enfraquecendo sua inextricável ligação.


CARGA DRAMÁTICA O efeito de continuidade da presente edição potencializa, portanto, a carga dramática dos textos. Encontram-se, na face da ficção, trechos inteiros destacados do relato documental, perdendo-se às vezes o limite claro entre o que é próprio do imaginário romanesco e o testemunho da experiência vivida. Mas, para quem buscava na literatura apagar tais fronteiras, idealizando a representação crua e direta da realidade, não há surpresa na mistura dos dois planos.

O material, na força mesma de sua duplicidade e interpenetração, comove e instiga a uma reflexão sobre o território extremo da loucura, onde a razão se contorce e o sentido da vida se perde.

A leitura do "Diário", com sua "serena lucidez" e "ácida clareza", nas palavras do prefaciador, revela o confronto duro e a indisfarçável revolta do escritor com um quadro social de mazelas, desigualdades e opressão, que o olhar sociológico do recém-internado no setor de indigentes do manicômio não tarda a identificar:

"Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres. São imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros, os roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida: são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social".


INFERNO Não será essa a única associação entre hospício e inferno, como se lê no lúgubre e lírico trecho do romance que descreve os doentes negros escurecendo o pátio da Seção Pinel:

"Só vemos uma grande abóbada de trevas, de negro absoluto. Não é mais o dia azul cobalto e o céu ofuscante, não é mais o negror da noite picado de estrelas palpitantes; é a treva absoluta, é toda ausência de luz, é o mistério impenetrável e um não poderás ir além que confessam a nossa própria inteligência e o próprio pensamento".

Comentando essa passagem, Alfredo Bosi contrasta a construção do edifício alvo e "de equilibradas linhas neoclássicas", terminado em 1852, com a população que ali se abrigava:

"As luzes do neoclassicismo trazido pela missão francesa no tempo do rei queriam ser racionais e modernas, mas dentro do solene edifício que construíram reinaria uma treva absoluta onde deveria ser encerrada a desrazão do negro e do pobre".

Na descrição romanceada da cena patética em que Lima é levado ao hospício pelas mãos da polícia, a carriola que transporta o louco "arfa que nem uma nau antiga", remetendo à nau dos loucos da Renascença, em que os insanos errantes na cidade eram embarcados para viajar sem destino ao longo dos canais flamengos e dos rios da Renânia. A impotência de quem "talvez fosse mais bem transportado num coche fúnebre de dentro de um caixão que naquela antipática almanjarra de ferro e grades" conhece, então, sua marca mais perene, que a memória precisaria exorcizar sob a forma de diário e de romance:

"Imaginei-me amarrado para ser fuzilado, esforçando-me para não tremer nem chorar, imaginei-me assaltado por facínoras e ter coragem de enfrentá-los [...], mas por aquele transe eu jamais pensei ter de passar".


ESPETÁCULO FAMILIAR O convívio com a loucura já era, há décadas para o escritor, um espetáculo familiar. Tendo perdido, aos seis anos, a mãe tuberculosa, desde a adolescência Lima presenciava a demência do pai, antigo enfermeiro de loucos, a quem assistiu por 18 anos oscilar do mutismo absoluto aos gritos dementes. Foi a moléstia do pai em 1903 que o impediu de finalizar o curso na Escola Politécnica, sendo obrigado a sustentar a família como amanuense da Secretaria de Guerra.

A vida atormentada na casa da Vila Quilombo (assim apelidada pelo ficcionista) teria solapado seus sonhos de glória e realização, frustrados tanto pela pobreza sem remédio quanto pelo desprezo que lhe tinham os representantes do cânone beletrista da época.

Estes, aliás, nunca seriam poupados pela pena ácida desse mulato anarquista na República pós-abolicionista, em romances e crônicas, bradando contra "os sabichões enfatuados, abarrotados de títulos e tiranizados na sua inteligência pelas tradições de escolas e academias e por preconceitos livrescos e de autoridades", nas palavras do narrador de "O Cemitério dos Vivos".

Dos encontros que teve com os especialistas em doença mental, Lima Barreto soube discriminar afetos e competências. Do talentoso dr. Juliano Moreira, à frente do sanatório de 1903 a 1930, um dos primeiros a trazer a modernidade da psicanálise para a psiquiatria brasileira, o paciente guarda boas recordações.

Quanto aos jovens alienistas, de "fé inabalável na ciência", critica-lhes a falta de um olhar compreensivo sobre a diversidade de patologias, "mais livre de construções lógicas a priori, para se chegar à verdade".

Aguda consciência, sem dúvida, deste que ocupa um lugar peculiar em meio a doentes de todo tipo, por ser e não ser ele mesmo um insano (pelo menos no sentido da estreita taxonomia psiquiátrica), atribuindo seus delírios ao alcoolismo:

"De mim para mim, tenho certeza que não sou louco; mas devido ao álcool, misturado com toda espécie de apreensões, que as dificuldades de minha vida material há seis anos me assoberbam, de quando em quando dou sinais de loucura: deliro".

É na condição de um "estranho familiar" que o memorialista transita pelo sombrio espaço do casarão da praia da Saudade, na baía de Guanabara, reconhecendo-se um solitário entre iguais:

"Estou entre mais de uma centena de homens, entre os quais passo como um ser estranho. Não será bem isso, pois vejo bem que são meus semelhantes. Eu passo e perpasso por eles como um ser vivente entre sombras -mas que sombras, que espíritos?!".


DENTRO E FORA Talvez seja justamente por habitar esse incômodo intervalo entre o dentro e o fora -espaço mesmo dos desarrazoados, mas não propriamente dos loucos- que pode Lima Barreto descortinar, nas bizarras cenas que presenciou, uma visão própria e mais avançada da loucura do que supunha o modelo psiquiátrico tradicional, ainda vigente na República Velha (1889-1930).

Em primeiro lugar, sua mirada flagra a singularidade que rege a demência, onde é impossível uma impressão geral, mas apenas fatos individuais: "Não há espécies, não há raças de loucos, mas loucos só". Opõe-se, assim, o alienado à visão determinista da ciência mental da época, propensa a classificações reducionistas.

Em segundo lugar, sua fina observação acusa a insensibilidade de profissionais do hospital na relação com os doentes. Numa passagem do romance, lê-se todo o terror diante de um dos médicos, desejoso de testar novidades no seu tratamento de alcoolismo:

"Pela primeira vez, fundamentalmente, eu senti a desgraça e o desgraçado. Tinha perdido toda a proteção social, todo o direito sobre o meu próprio corpo, era assim como um cadáver de anfiteatro de anatomia".

Notando a pluralidade das manifestações da loucura, a certo momento comenta o narrador do "Diário": "Debruçar sobre o mistério dela e decifrá-lo parece estar acima das forças humanas. Conheço loucos, médicos de loucos, há perto de trinta anos, e fio muito que a honestidade de cada um deles não lhes permitirá dizer que tenha curado um só". Ceticismo apenas comparável ao de Machado de Assis no conto "O Alienista".

E completa com este comentário sobre as práticas reformistas, mas atrasadas, dos alienistas ainda herdeiros das teses racistas e preconceituosas da antropologia criminal de Cesare Lombroso, na Itália, e Nina Rodrigues, no Brasil:

"Amaciado um pouco, tirando dele a brutalidade do acorrentamento, das surras, a superstição das rezas, exorcismo, bruxarias etc., o nosso sistema de tratamento da loucura ainda é o da Idade Média: o sequestro".


SONDAGEM DE SI MESMO A ausência quase total de uma atitude mais humana na instituição manicomial, relegando a subjetividade dos doentes ao vazio, impele o autor a uma corajosa sondagem de si mesmo, como para compensar as lacunas de uma interlocução inexistente:

"Como é que eu, em 24 horas, deixava de ser um funcionário do Estado, com ficha na sociedade e lugar no orçamento, para ser um mendigo sem eira nem beira, atirado ali que nem um desclassificado?"

E aqui se coloca, com a maior pertinência, a pergunta de Alfredo Bosi: "Sem o exame dos sentimentos e ressentimentos do escritor frustrado como poderiam os psiquiatras de plantão entender os motivos que levaram o suposto alienado a embriagar-se até chegar às raias do delírio?".

Para o crítico, "é da relação íntima entre os gestos e palavras dos alienados e as violências e arbítrios da sociedade abrangente que deve ser extraída a matéria da contraideologia rebelde de Lima Barreto".

Quando a introspecção melancólica do narrador cede lugar à percepção da exterioridade, surge um inventário multiforme das idiossincrasias e peculiaridades dos loucos, delirantes, megalômanos, paranoicos e criminosos psicopatas com quem Lima Barreto conviveu durante as internações. De uns, destaca a "inteligência formidável", de outros "as rezas estapafúrdias", "a terminologia escatológica", "os delírios de grandeza", sempre atento, no que tange à sua escrita, "para não quebrar a lógica mórbida com a qual articulavam seus desatinos".


VOCAÇÃO Aliás, o interesse de Lima pelas alterações da linguagem dos loucos denuncia a vocação do literato, instigado por estranhas combinações semânticas, pela língua trôpega, por balbucios e tatibitate da fala regredida, por interpretações hostis inesperadas. Tudo isso lhe causa perplexidade e descrença em algum possível sentido unificador. A síntese dessa babel da linguagem, porém, aparece nas páginas de "O Cemitério dos Vivos": "O horror misterioso da loucura é o silêncio, são as atitudes, as manias mudas dos doidos".

Destaco uma passagem do "Diário" que traz um fulgor poético inesperado para um relato confessional. Assim o escritor descreve o mutismo de um matuto de Cabo Frio (RJ), atônito e silencioso: "Ama o silêncio e estar de pé. Encostado à parede, hirto, olhos parados, sem brilho nem expressão qualquer, parece uma estátua egípcia, um cimélio de templo".

Sobre um outro louco, engenheiro, "com presunção de anelado brasileiro", anota um traço digno de seu Policarpo Quaresma: "O seu orgulho não parecia vir do título, mas de um sentimento desmedido da sua aptidão para endireitar a pátria".

Mas não só o triste major de seu grande romance padecia de ilusões. Lima Barreto sabia-se talentoso e almejava glória e reconhecimento. Inconformado em não tê-los na medida de seu sacrifício, desesperava-se: "Arrependo-me de tudo, de não ter sido um outro, de não seguir os caminhos batidos e esperar que eu tivesse sucesso, onde todos fracassaram. [...] Tenho orgulho de me ter esforçado muito para realizar o meu ideal; mas me aborrece não ter sabido concomitantemente arranjar dinheiro ou posições rendosas que me fizessem respeitar. Sonhei Spinoza, mas não tive força para realizar a vida dele; sonhei Dostoiévski, mas me faltou a sua névoa".

Cindido entre aspirações e condições limitantes, o protagonista do "Diário" e da ficção inverte o anelo glorificante e chega a desejar uma "vida plácida, serena, medíocre e pacífica, como a de todos". Ou ainda: "Queria matar em mim todo desejo, aniquilar aos poucos a minha vida e suprir-me no todo universal". A autodestruição pela bebida vem atender ao apelo das pulsões de morte. Assim ele relata o suicídio de um dos internos, que quebra a monotonia do hospício:

"Suicidou-se no Pavilhão um doente. O dia está lindo. Se voltar a terceira vez aqui, farei o mesmo. Queira Deus que seja o dia tão belo como o de hoje".

Como diz o biógrafo Assis Barbosa em "A Vida de Lima Barreto": "No álcool procurava anular-se por completo, ser esquecido, desaparecer. Na literatura, ao inverso, tentava afirmar-se, ser alguém, deixar em suma a marca de sua passagem na terra". Para um apologeta da autonomia política e estética, resistindo aos desmandos de qualquer cartilha, soa irônica a ruína a que foi levado pela dependência absoluta da bebida.


DA MEMÓRIA À FICÇÃO Resta, ainda, comentar a curiosa passagem das memórias à ficção. Há, obviamente, certos expedientes que ficcionalizam os acontecimentos do "Diário", como por exemplo a criação da personagem protagonista Vicente Mascarenhas, alter ego do escritor, além de uma tênue construção da história do seu matrimônio com Efigênia, sem paixão e por demanda de uma jovem necessitada, um filho com sinais de retardamento e uma sogra demente -tudo isso inexistente na vida real de Lima Barreto, que não teria tido um único caso amoroso.

Chama a atenção, portanto, a aparição algo enigmática dessa esposa fictícia também no "Diário", quebrando o tom factual e realista das memórias: "Não amei nunca, nem mesmo minha mulher que é morta e pela qual não tenho amor, mas remorso de não tê-la compreendido".

É com a morte da mulher Efigênia que o romance propriamente se inicia, deixando o sentimento de culpa do viúvo como fator movente de sua narrativa. "Ao mesmo tempo", comenta Alfredo Bosi, "é essa aparição-fantasma, que a psicanálise poderia interpretar em termos de Thânatos sobrepondo-se a Eros".

O vulto feminino só vem à luz em toda a sua integridade pelo olhar de compaixão do intelectual frustrado, o que nos lembra, "mutatis mutandis", a Madalena de Paulo Honório, em "São Bernardo", de Graciliano Ramos, ela também redescoberta em sua sublime humanidade pela escrita amargurada do marido, que não a soube amar.


DANÇA DOS NOMES Notam-se, ainda, as mudanças constantes, nos manuscritos de "O Cemitério dos Vivos", dos nomes das personagens: Flamínio, Fortunato e Torres se intercabiam no lugar do protagonista Mascarenhas, Candinha para Clementina, Misael por Messias, entre outros.

Em se tratando de um relato da exclusão manicomial, poderíamos inferir que a dança dos nomes reflete desdobramentos de uma personalidade flutuante, que busca, de forma penosa, firmar-se pela narrativa.

Quem é a personagem? Quem é o autor do romance? Quem são os inúmeros sujeitos que habitam o escritor? Estamos na emergência do "zeitgeist" psicanalítico, que traz novas feições para o homem do início do século 20, dividido e conflituado, e que perpassam as amargas lembranças do hospício para se insinuarem, com seus recalques e dissimulações, nas malhas da ficção.

Por fim, cabe sublinhar a recorrência das imagens marítimas, tanto no "Diário", quanto no romance, refletindo sobre o seu belo e triste simbolismo. A primeira aproximação é degradante e acusatória: "O doente é um náufrago, um rebotalho da sociedade".

A seguinte toma a paisagem entrevista pelas grades do hospício e faz da navegação metáfora da alforria do doente encarcerado:

"Um grande transatlântico sai, vai vagaroso, vai para o mar largo que se estende pelas cinco partes do mundo; beija-lhes e morde-lhes a praia. Corre perigo, mas está solto, entre dois infinitos: como diz o poeta: o mar e o céu".

Na sequência, outro trecho significativo: "Sonhei-me um Capitão Nemo, fora da humanidade, só ligado a ela pelos livros precisos, notáveis ou não, que me houvessem impressionado, sem ligação".

A evasão pelo mar é inequívoca: anseio simultâneo de vida e morte pela dissolução absoluta. Retornamos à figura inicial da nau dos loucos, explorada pelo filósofo Michel Foucault em sua "História da Loucura".

Assim ele a comenta: "A navegação entrega o homem à incerteza da sorte; nela, cada um é confiado ao seu próprio destino; todo embarque é, potencialmente, o último. É para outro mundo que parte o louco em sua barca louca; é do outro mundo que ele chega quando desembarca".

O navegante Lima Barreto afogou-se em outras águas, muito distantes de seu sonho. Morreu aos 41 anos, no ano modernista de 1922, dois dias antes de seu pai. Deixou no "Diário" e no romance uma prosa viva de denúncia e de íntimas descobertas. Na última frase do manuscrito de ficção, a marca da exclusão, da solitude e do lugar intervalar que nunca soube ultrapassar:

"Fiquei só no vão da janela".

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Empresa multinacional inscreve para trainee e premia estudantes

Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB


A Universidade Estadual da Paraíba recentemente recebeu informações sobre dois programas da empresa multinacional General Eletric (GE) do Brasil que podem interessar ao público da Instituição: o de Trainee e o Eco Challenge. A ideia da divulgação é levar tais informações aos departamentos de interesse e estimular não apenas o desenvolvimento do mercado de trabalho brasileiro, como também a pesquisa e ciência no Brasil. As inscrições se encerram já neste dia 10 de setembro para o programa de Trainee e seguem até 30 deste mês para o Eco Challenge.


O primeiro programa é focado em profissionais graduados a partir de 2008, preferencialmente nos cursos de Administração, Economia, Ciências Contábeis, Ciência da Computação, Engenharias de sistemas de Informação, de Computação, de Produção, Mecânica, Elétrica, de Controle e Automação, e Ambiental. Já o Eco Challenge irá premiar com 200 milhões de dólares (US$ 200.000.000) as melhores ideias e pesquisas sobre desafios sustentáveis no setor de energia e projetos para estimular o desenvolvimento de energias renováveis. Estudantes, pesquisadores e empreendedores poderão encaminhar suas propostas para o programa. As inscrições podem ser feitas através do site www.ecomagination.com/challenge e qualquer pessoa a partir de 18 anos pode participar.

A iniciativa visa soluções para um dos principais problemas do futuro: a geração de energia limpa e a diversificação das matrizes energéticas existentes. A ação faz parte da estratégia Ecomagination da companhia: plataforma de negócios que pesquisa, desenvolve e comercializa produtos e soluções com maior eficiência energética e menor impacto ao meio-ambiente.

O programa busca propostas em três categorias principais: Energias Renováveis, Rede Elétrica e Casas e Prédios Ecológicos. Os participantes selecionados receberão um aporte de investimentos para tornar a ideia realidade no valor inicial de US$ 100 mil, e estabelecerão relações comerciais com a GE, trabalhando em conjunto com os mais renomados cientistas, técnicos e pesquisadores da companhia em seus centros de pesquisa. Os selecionados poderão ainda desenvolver grandes projetos em escala global.

GE no Brasil

No Brasil há mais de 90 anos, a GE inicia agora um programa para alavancar as inscrições de talentos locais no Eco Challenge por meio da aproximação aos institutos de pesquisas e grandes universidades para estimular ideias que ajudem a modernizar o uso da energia.

No Brasil, a GE mantém atividades desde 1919, com escritórios de vendas e marketing distribuídos em diversos estados e com unidades industriais em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Todos os cinco grandes negócios da GE estão presentes no Brasil, empregando cerca de 6.000 funcionários. Para mais informações, visite o endereço eletrônico da companhia: www.ge.com/br.