Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB
Quando eu era criança, tive a feliz oportunidade de brincar muito, além de poder desenhar e pintar, subir na goiabeira do quintal, brincar de esconde-esconde com os amigos da rua, cuidar de coelho, cachorro, peixinho, tartaruga, pintinho, porquinho da índia, ler meus gibis da Turma da Mônica e livrinhos infantis, e tantas coisas legais. No entanto, o que eu mais gostava era de brincar de boneca.
Hoje vejo o quanto eu era agraciada nas festas de Natal, aniversários e Dias das Crianças, pois sempre ganhava um brinquedo novo, que começava a usar no mesmo dia. Uma das minhas maiores surpresas foi receber a primeira Barbie. Passava horas brincando de casinha e inventando novas histórias para aquela boneca magrela. Um dia, esqueci-a no jardim de casa e quem passou a noite brincando foi o cachorro, Rex, que a deixou completamente mastigada.
Depois de chorar um dia inteiro, meus pais trouxeram a solução: a Barbie acidentada seria levada ao Hospital de Brinquedos e poderia ter as “cicatrizes” amenizadas. Dias depois, o “doutor” a devolveu, recuperada. Eu achei estranho o fato dela ter, agora, pernas mais escuras que o restante do corpo, mas como eu fiquei feliz! Ainda brinquei com ela por muitos anos.
Outra lembrança marcante era uma conversa periódica que eu tinha com minha mãe. Nessas ocasiões, ela me ensinava que, enquanto eu ganhava brinquedos novos, havia crianças no mundo todo que não tinham sequer uma bola. Então, em conjunto, selecionávamos os brinquedos que eu não usava mais e entregávamos em campanhas de arrecadação, geralmente próximas ao Natal ou Dia das Crianças.
O que vejo, hoje, em casas com crianças pequenas, é exatamente o contrário. São estantes repletas de verdadeiras coleções de bonecos “Max Steel”, “Polly Pocket”, carrinhos “Hot Wheels”, bichos de pelúcia e pilhas de jogos de tabuleiro intocados. Normalmente, há também um vídeo-game “PlayStation” ligado, com um menino em estado de transe diante dele.
Ninguém se preocupa mais em consertar uma boneca velha: é mais fácil comprar uma nova e jogar a antiga no lixo. Nem sei mais se ainda existe aquele “Hospital de Brinquedos”. Para as novas crianças, o brinquedo vem fácil e perdeu seu valor. Se não interessa mais, basta deixá-lo perdido em algum lugar do porão.
As crianças estão, desde muito cedo, se tornando acumuladoras egoístas e insaciáveis, que não recebem o devido ensinamento a respeito de partilha e distribuição. Elas não aprendem a DIVIDIR com os mais carentes aquilo que receberam em excesso e os pais perdem uma excelente oportunidade de mostrar que é possível diminuir desigualdades sociais e amenizar o sofrimento de crianças tão pequenas quanto as suas.
No mesmo momento em que os pais começassem as primeiras lições de economia, ensinando a somar moedas no cofrinho, já deveriam ensinar a dividir os pertences com aqueles que nada têm, mostrando que isso, na verdade, não é uma subtração, mas uma real multiplicação de valores humanos.
Parabéns pelo texto e pela importante reflexão!
ResponderExcluirParece mesmo que a nossa sociedade está se tornando cada vez mais individualista e cada vez menos solidária. O que vai de encontro a tese segundo a qual estaríamos vivenciando um indiscutível período de progresso.
caro J.M. Luiz :
ResponderExcluirAcredito que estamos constantemente vivenciando um período de progresso e que, com o passar do tempo, as pessoas vão aprendendo a ser mais participativas e mais solidárias.
São passos lentos mas, se cada um fizer sua parte, surtirá grande efeito.
Obrigada por seu comentário e participação neste Blog.
Abs, Giuliana.