Antônio, um dos protagonistas da trama
Por Oziella Inocêncio
Um estado com mesa farta, cultura rica, clima ameno, recursos naturais conservados e diversos, e uma formação étnica que gerou um povo belo e forte. Alguém conhece esse paraíso? É a Paraíba aos olhos do cineasta campinense Aluizio Guimarães, retratada em seu novo curta metragem, "Borra de café". Um dos propósitos do projeto é justamente mostrar um estado diferente daquele que é exibido nos meios de comunicação de massa, segundo explicou o diretor. A exibição acontece às 20h, gratuitamente, no Teatro do SESC Centro, em Campina GRande.
Borra tem a duração prevista para 20 minutos, tendo como cenário as belas paisagens do Brejo paraibano. De lá, será contado o drama de Antônio (Chico Oliveira), que no início do século XX (1908 a 1923), depois da morte da esposa, Maria (Suzi Lima), se depara com a difícil situação de criar sozinho sua única filha, Ana Beatriz (Rayanne Araújo). “Isolados em uma vale, recebendo esporadicamente a visita de dois amigos tropeiros, os dois desenvolvem uma forma peculiar de relação, que trará grandes consequências em suas vidas. A estrutura dramática gira em torno de um núcleo familiar complexo e sugeridamente incestuoso”, adiantou Aluizio.
O cineasta acredita que muitos conceitos e preconceitos são formados e podem ser modificados a partir de uma obra de arte. Sobre os personagens, o diretor contou que Ana Beatriz é uma criança normal, até ter um sentimento despertado no decorrer de sua vida. “Antônio, seu pai, católico praticante, plantador de café, se vê cercado pelas cruéis brincadeiras do destino”, antecipou. A história segue a linha trafegada por Guimarães, desde o início de sua carreira, abordando as relações interpessoais. Outro tema comum, segundo acrescentou, é a religião.
O primeiro contato de Aluizio com o cinema aconteceu na Faculdade de Comunicação - ele é jornalista, graduado pela UEPB - conhecendo Rômulo Azevedo e, logo depois, fazendo um curso com o seu irmão, Romero Azevedo, sobre o Cinema Novo Brasileiro. “Comecei a me apaixonar pelo Cinema Nacional graças a estes momentos, mas só agora, é que resolvi fazer um empreendimento mais ousado, graças a uma equipe espetacular que está comigo”, apontou.
Aluizio Guimarães começou sua trajetória artística no teatro
Aluizio Guimarães, que começou sua trajetória artística no teatro e já efetuou diversas outras inscursões no fabuloso mundo da sétima arte, adorou a experiência de lidar com o contexto de uma outra época. “É bom fazer um filme assim porque ele desperta, através das pesquisas, o quanto somos um hommo distantis daqueles que foram os nossos avós. Estamos presos em casa, cercados por uma cerca elétrica e achamos que entramos em contato com todo mundo por um MSN. Fato é que, mesmo no início do século passado, em pleno Brejo paraibano, distante de tudo, as pessoas eram mais humanas, mais próximas, menos burocráticas no abraço e no adeus”, disse o diretor. A equipe de Borra de café é composta ainda por mais de 56 pessoas.
Cria do teatro, Aluizio Guimarães já dirigiu O mistério da pedra maliciosa, As três, Hades - uma história de fé e revolta, Água, areia e as maçãs, Inferno e Solteira, casada, viúva e divorciada, entre outros. Quando se trata de cinema teve participação efetiva em diversas produções, a exemplo de Uma curta chama, A incrível história do homem que levou fumo da Cumade Fulozinha e O bolo. Na direção geral, esteve à frente de Máscaras (experimental), Batalhão 41 de Cajazeiras (documentário), Vilma (ficção) e Memórias de Maria (ficção).
Para ele, a sétima arte é a simbiose de todas as outras, é a convergência de várias manifestações artísticas em um mesmo suporte, e nesse sentido, é, acima de tudo, um desafio fazer com que cada uma destas manifestações estejam bem dosadas. “Cinema é fantasia para quem vê e aventura para quem faz - pois fazer cinema em nosso estado não é fácil. Gostaria muito de estar vivo para assistir a uma grande produção genuinamente nossa, subsidiada por empresários sensíveis à arte”, resumiu.
Entre os cineastas que admira, figuram Abbas Kiarostami, Almodóvar, Antonioni, Nagisa Oshima, Beto Brant e Nélson Pereira dos Santos, dentre outros. “Acredito que nos influenciamos por tudo que degustamos, quando escrevo, vejo o resultado de tudo aquilo que absorvi nestes quase 40 anos de vida”, disse.
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