quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sugestão de leitura da ASCOM UEPB: "Plumagem", de Fidélia Cassandra

Crédito da foto: Sandoval Fagundes

por Oziella Inocêncio, da ASCOM/UEPB

Tarde comum em Campina Grande. Passava das 13h30 e num restaurante  localizado no centro da cidade, à Rua Maciel Pinheiro, chamado Vila Antiga, muitos comerciários almoçavam. Uma mulher, de presença marcante, adentrou o recinto, acompanhada de um rapaz com violão. E o que poderia ser somente um almoço trivial de segunda-feira, tornou-se um espetáculo de beleza. Era Fidélia Cassandra, com batom vermelho e microfone na mão. Para além da voz melodiosa que ecoou no restaurante da cidade, a cantora, bastante conhecida na Rainha da Borborema e também em outras paragens do mundo, dedica-se com esmero ao ofício de poeta. 

Seu último livro, Plumagem, leitura recomendada pela Assessoria de Comunicação da UEPB, foi lançado em novembro de 2008. A obra teve boa receptividade junto ao público, detêm 140 páginas e ganhou a apresentação do poeta e jornalista Astier Basílio que destaca em seu texto: "Fidélia é da família dos simples, prima de Quintana, irmã de Cecília. Transita, cambiando entre o corriqueiro e o milagre." Possuidor de uma poesia madura e bem trabalhada, Plumagem passeia pelos mais variados matizes, a exemplo de erotismo, amor, desencontros, dor e a alegria. 

Das vozes femininas mais representativas da poesia paraibana atual, Fidélia vem transmitir aos leitores, na publicação, escritos que pulsam: desejo, angústia, celebração da vida e do feminino. Boa parte de seus poemas falam do cotidiano, fazendo uso constante de poderosas metáforas, com ecos metalinguísticos.
Plumagem também revela que a mulher, em Fidélia Cassandra, é uma mulher distinta: conhece a si mesma, gosta de si e se respeita, sabe de seus contornos e delizadeza.  

Mas, parodiando Freud, afinal o que deseja Fidélia? A leitura de Plumagem poderá responder, mas a ASCOM UEPB, antecipa uma interpretação: o desvendamento da consciência erótica feminina e, sobretudo, da fantástica sensibilidade que as mulheres posssuem. A mesma sensibilidade que faz Fidélia cantar. A mesma sensibilidade que ela fez brotar nos comerciários, que abandonaram sua refeição,  por um momento, para ouvir sua voz encantadora.

Confira uma das poesias de Plumagem, intitulada Luma:

Corpo nu de mulher...
Densas savanas douradas,
Emaranhadas cabeleiras florestais,
Grutas carnais revelando inscrições
Indecifráveis.

Nua mulher

Contornos de aveludada aurora
Do deserto.
Ardentes dunas,
Úmida concha com pingos de areia.

A mulher nua...

Seios pontiagudos...
Plumas roçando os pelos
De luma
De homem nu.


A poesia está para Fidélia, assim como a Música para Cassandra


A escritora e cantora, Fidélia Cassandra Pereira de Araújo nasceu em Campina Grande, em 1962. Segundo a poeta, quando menina, seu pai sempre lia poemas para ela, antes de dormir. Daí, esse amor sem tamanho pela poesia. Aos doze anos, começou a escrever poemas. Aos dezoito, começou sua trajetória musical. Foi bancária e sindicalista, cursou Jornalismo na UEPB e Letras na UFCG.  Fez ainda o curso de Radialismo pelo Sindicato dos Radialistas da Paraíba. Trabalhou na TV Borborema (local), na Rádio Campina FM e no www.paraibaonline.com.br.
A convivência com grandes músicos, compositores e poetas nordestinos, como Bráulio Tavares, Hildeberto Barbosa Filho, entre outros, consolidou a concretização de mais aprendizado e de parcerias riquíssimas. No início da década de oitenta, participou de vários festivais de MPB. 
Desde então, tem feito shows coletivos e solos autorais. Entre 2004 e 2007, participou do Projeto Sete Notas do SESC - Campina Grande, nas apresentações privilegiou o repertório de grandes nomes da MPB como: Tom Jobim, Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa e Ary Barroso. Em 2009, foi convidada para cantar no sul da França, fez show nas cidades de Valbonne e Marselha. 
Em 2002, lançou Amora, o primeiro livro de poemas que traz à tona um exercício poético iniciado aos 12 anos.
Atualmente, além do fazer poético, dedica-se à sala de aula - ministra aulas de inglês – e ao exercício contínuo da leitura. 

quarta-feira, 28 de abril de 2010

"A Rita Como Ela É"

por Marcus Preto, do Caderno Serafina, da Folha de São Paulo
Serafina passa um fim de semana com a artista e assiste à mutação da mulher de 62 anos -noveleira, carente, insegura - na rainha do rock nacional

"Eu devia ter dado outro nome pra ela. Ter separado bem onde começa uma e termina a outra, como fez a Fernanda Montenegro [o nome de batismo da atriz é Arlette Pinheiro]. Não dá pra dizer 'eu sou uma e a Rita Lee é outra' -estamos juntas o tempo inteiro. Eu tenho controle, não é mediunidade. Mas eu não sou 'ela'. Sou boazinha, obedeço, tenho medo de ser rejeitada. E a Rita Lee é o oposto disso. Tem domínio absoluto da situação -o que me mata de inveja. Pra ser sincera, acho que gosto mais dela do que de mim.

Belo Horizonte, 17 de abril de 2010

12h17
Quando abriu os dois olhos azuis, tudo o que viu em volta era nuvem. Esticou a mão até o criado-mudo e, tateando, reconheceu o joguinho eletrônico portátil que lhe fizera companhia na madrugada, a garrafinha d'água mineral, o maço de cigarros e, agora sim, os óculos de grau. Encaixou as lentes no rosto, desbravando os cabelos vermelhos com as hastes de metal. Olhou de novo em volta e percebeu onde estava: a suíte presidencial de um hotel em Belo Horizonte, Minas Gerais. Sentiu imediatamente um frio bem conhecido na barriga. Era dia de estreia e, apesar de ter ensaiado exaustivamente por quase um mês para esse momento, estava, como sempre, muito insegura.

Olhou o relógio na cabeceira: já passava um pouco do meio-dia. Fez as contas e concluiu que ainda carregaria essa sensação desconfortável por pelo menos mais dez horas, até finalmente pisar no palco do estádio mineiro onde faria a estreia de seu show. Já sabe bem como esse processo funciona: sofre sozinha até entrar em cena, o último momento em que é ela mesma. Atrás das cortinas, como uma Cinderela, transforma-se em alguém que sabe exatamente o que fazer dali em diante. Alguém que, ao contrário dela, não tem medo de barata. Não tem muita autocrítica nem sente o fisgar das duas hérnias de disco. O palco pode até desabar. "Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma", escreveu em uma canção, pensando nisso. Alguém que o Brasil conhece melhor do que ela.

Rita Lee, aquela do palco, gosta de mentir a idade -para mais. Anuncia sempre ter 65 anos, contra os 62 comprovados no documento de identidade da Rita original. Odeia cigarro. Diz que ele lhe rouba o fôlego, que limita o desempenho cênico. Já a outra Rita não se importa com isso. De todos os vícios que já constaram de sua longa lista, o tabaco é o único do qual não pretende se livrar jamais. De todo modo, não fuma no quarto -nem em casa, nem no quarto do hotel.

Calçou os chinelos e levou o maço para o banheiro, onde acendeu o primeiro do dia.

13h13
"Mazinho, já acordei", disse ao telefone para um dos produtores que sempre a acompanham em viagens. Ele encomenda o desjejum. Café com leite, granola, pão de sete grãos, queijo branco e um ovo cozido. Junto, chegam os jornais. Passa o olho nas páginas, roendo as unhas compulsivamente. Até que sangram, e ela ri. Sozinha, já que o quarto está vazio. Viaja em família, mas passa boa parte do tempo longe deles. Roberto de Carvalho, 57, marido e parceiro, dorme em suíte igual, do outro lado do corredor. Beto Lee, 33, o filho e guitarrista, em um hotel mais simples, junto com os outros integrantes da banda.

Volta para a cama. Os lençóis, trouxe de casa. Também as fronhas e dois dos quatro travesseiros que usa -o par que apoia a cabeça é seu. Os controles remotos estão sempre por perto, mas a televisão -como o ar-condicionado- permanece desligada. Ela prefere retomar o livro que estava lendo em casa, um romance policial do americano Harlan Coben. As histórias dele são boas, ela acha. Mas todas sofrem do mesmo problema: o desfecho previsível deixa a desejar. Seu escritor preferido nessa seara é, de longe, Rex Stout, que morreu em 1975. Em seus livros, não há como adivinhar o assassino antes que o autor o revele, e é disso que ela gosta. Mas, pena, já leu a obra completa de Stout. Não ouve música.

"Meu, o [maestro] Rogério Duprat é que estava certo. Um dia, ele me disse: 'Rita, descobri que não gosto de música, mas agora é tarde demais'. Fiquei igualzinha. Não acompanho nada dessas novidades -nem aqui dentro, muito menos lá fora. Os gringos, quando investem num lançamento que, acreditam, irá vender, cercam-se dos melhores produtores, arranjadores, instrumentistas, figurinistas, bailarinos etc. Não dá para sair um trabalho ruim. A Lady FormiGaga -reparou como ela tem cara de formiga?- é fabricada, sim, mas desempenha bem o papel. A piada é se dizer uma mulher contestadora. Alguém tem que lembrar a ela que Sinead O'Connor também se dizia uma mulher guerreira. Afff...

Passados cinco capítulos do livro, Roberto chega para o almoço: comida vegetariana, como é regra. O carro passaria às 17h para levá-los à passagem de som. Comeram e cada um voltou para o seu quarto. Ela acendeu outro cigarro. Ao mesmo tempo, vestiu uma touca plástica (os cabelos tinham sido lavados na noite anterior), arrancou a camiseta e a calcinha que usa para dormir e entrou no banho. A água quente ajudou a relaxar um pouco, mas não deu conta de liquidar com a ansiedade. As toalhas, vale frisar, também vieram de casa.

17h33
Roberto se senta no banco da frente do carro blindado, ao lado do motorista. Ela vai atrás, jogando paciência no Iphone. Outro carro menor os segue, levando o segurança e dois produtores. "Olha, Gungun, tem um monte de gente comprando ingresso para o seu show", diz Roberto quando chegam à porta do ginásio.

A Gungun a quem ele se dirige é outra das personalidades de Rita, "uma órfã de três anos e meio, carente e chatinha", segundo definição da própria. Há outras, que surgem em diferentes ocasiões, cada uma com características bem delineadas. A roqueira vampira Lita Ree, a solteirona Regina Célia ("que, dizem, teve um romance com Ulisses Guimarães"), o corintiano mulherengo Aníbal ("ele morre de tesão na Gal Costa"). Além, é claro, da própria Rita Lee, a principal de todas elas.

"Como você pode ser uma pessoa só? Ninguém é. Mas as pessoas não se dão conta de que estão usando um personagem pra cada situação -um com o marido, um com a sogra, um com o chefe... E uma persona equilibra a outra, elas se cuidam e se provocam o tempo todo. Quer um exemplo? Rompi os tendões do ombro, recentemente -essas coisas de corpo usado, a parte chata da velhice. Estava fazendo aquele papel de vítima, cheia de autopiedade, 'não quero mais nada, é hora de aposentar'. E, como não podia tocar [o violão], fiquei morrendo de medo de fazer show daquele jeito. Mas, quando a Rita Lee se viu no palco com aquela tipoia, tirou vantagem total da situação. Usou o ombro quebrado como piada, charme, riu da própria cara. E depois pra eu voltar pra casa fazendo a coitadinha de novo? Ninguém acreditava mais no meu drama, né?"

18h01
O camarim é espaçoso. Uma geladeira pequena guarda alguns tipos de suco, água mineral e sanduíches naturais. Na mesa ao lado, queijos, frutas, pães de muitos tipos, bebida isotônica, mais água. Em frente ao espelho, está armado uma espécie de "altar", com dezenas de embalagens de cosméticos. Enquanto fala, vai desenhando a boca com um lápis vermelho, que depois será recheado com batom da mesma cor. Passa rímel preto em torno dos cílios e um pouco de sombra azulada nas pálpebras e em volta. Vavá, o camareiro, entra para ajudá-la com a chapinha, que alisa ainda mais os cabelos finos. Ela deita em seguida no sofá forrado de toalhas (também trazidas de casa) e vai pingando, até acabar, um pequeno tubo de soro fisiológico nas narinas. A voz sai com mais facilidade depois desse processo de desentupimento. É agora, na maquiagem, que as duas Ritas começam a se confundir.

"Eu sei a boca que ela gosta, a roupa... É um divãzinho de Freud que ninguém faz ideia. O que às vezes me assusta é a importância que as pessoas dão pra Rita Lee [a do palco]. Vêm me dizer: 'Ah, você mudou a minha vida, escutei 'Ovelha Negra' e resolvi sair da casa do meu pai, por sua causa eu casei, separei...' Fico pensando: será que conto a verdade? Que não sou quem elas pensam que sou, que não tenho a segurança da Rita Lee, que mal sei o que fazer da minha vida e não sirvo pra guiar a de ninguém? Mas acabo nunca falo nada disso.

21h45
Pouca coisa acontece no camarim entre o final da maquiagem e a entrada em cena. Beto entra algumas vezes e puxa conversa. Fala de Ziza, 4, filha dele e neta dela, um dos temas prediletos da família. Sai em seguida. Vavá volta ao camarim e a ajuda a vesti-la de Rita Lee. Está pronta, com uma hora de antecedência. A espera pré-show costuma ser menos cansativa quando a novela das 21h é boa. Mas ela não está achando a menor graça na trama que está no ar agora, "uma chatice". "Até Lilia Cabral está canastrona, como isso é possível?". Mas a TV fica ligada com o volume bem baixo, quase no mudo, e ela dá umas olhadas enquanto não chega a hora. Fuma um cigarro atrás do outro.

22h19
Dez minutos antes de ir para as coxias, chama toda a banda para a "concentração" no camarim. Acende uma vela branca e todos se abraçam. É o único ritual que têm nessas ocasiões. Os músicos saem em direção ao palco, posicionam-se e atacam os primeiros acordes. As cortinas se abrem. O segurança a acompanha até seu ponto de entrada. Ela se senta ali atrás, fazendo caretas para alongar os músculos do rosto -método ensinado pelos professores de técnica vocal. Ainda tem tempo de tragar o cigarro algumas vezes antes que ela o entregue na mão do segurança.

Entra em cena aos pulos. "Um belo dia resolvi mudar/ Fazer de tudo o que eu queria fazer/ Me libertei daquela vida vulgar/ Que eu levava estando junto a você..." O povo delira com a entrada de uma, enquanto a outra, aliviada, volta sozinha ao camarim e retoma o capítulo da novela.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Confessionário: Matheus Nachtergaele

Por Armando Antenore, da Revista Bravo


NEM ''AMARCORD'', nem Casablanca. O filme mais bonito que já viu não tinha nome. Uns parentes insistiram em exibi-lo. O curta-metragem caseiro, antiqüíssimo, retratava uma reunião de família, absolutamente trivial. Em meio à banalidade, uma menina de 12 ou 13 anos se destacava, miúda e tão morena que, às vezes, parecia negra. "Sabe como se chama aquela pretinha?", perguntaram. "Não, não sei." Chamava-se Maria Cecília. Era a mãe de Matheus.
A garota corria, pulava, sorria. Um assombro indescritível para o filho crescido que quase não conheceu a mãe. Ele estava com míseros três meses quando Maria Cecília morreu. Agora, num lance de mágica, podia observá-la em movimento, elétrica e brincalhona. Uma criança linda que, dizem, virou uma mulher igualmente linda, idêntica à que Matheus sempre imaginou.

QUEM MAL conheceu a mãe precisa inventá-la. A mãe que ele inventou não esbanjava só beleza. Também se mostrava muito corajosa e covarde demais. Covarde porque o deixou, corajosa porque ousou desafiar os deuses e proclamar: "Para mim, chega!". Maria Cecília, a construída e a real, se suicidou.

DE ASCENDÊNCIA belga, herdou dos antepassados paterno o sobrenome flamengo. "Nachtergaele, Nachtergaele...", costumava repetir o tio Kiko diante dos sobrinhos. "Lembra uma palavra judaica, não? Talvez tenhamos sangue judeu." Matheus e os primos, todos moleques, se enchiam de curiosidade: será? Para tirar a dúvida, ocultavam-se nas imediações do banheiro e tentavam espiar o avô urinando. Um dia, conseguiram surpreendê-lo. Não havia nada de judeu ali.
Mais ou menos na mesma época, Matheus odiava que o tratassem assim. "Assim como?", indagava o pai, engenheiro. "Por Matheus!'', respondia, e depois arrematava, sério: "O que deu em você para me batizar de Matheus se existe Rodrigo?". Hoje se apaziguou com o nome, que julgava demasiadamente adulto.

CONTINUA, no entanto, detestando cafunés e afagos do gênero. Acontece que, em razão de medir apenas 1m64, freqüentemente lhe acariciam a cabeça. A gentileza dos desavisados o desnorteia. Derruba-lhe a  pressão, e uma inexplicável tontura o assalta de imediato.
Há cinco anos, em companhia do cantor Seu Jorge, tomava uns goles no Boteco Taco, lendário pé-sujo do Rio de Janeiro. Às tantas, um fã se aproximou e, sem nenhuma cerimônia, ultrapassou a delicada fronteira corporal. O cantor, solidário com o mal súbito do amigo, se queimou. Escorraçou o fulano e ainda o alertou: "Nunca mais bote a mão no cocoruto de um filho de Oxalá".

MATHEUS, de fato, supõe que o santo o ilumina. Certa vez, lhe contaram que, se ninguém quer uma criança, Oxalá a acolhe. Ele acreditou.
Acredita também que Hamlet, Dom Quixote, Jó e outros ícones da literatura e do teatro existem de verdade. Como os orixás, passeiam por aí, à espera de um "cavalo'' que os aceite e incorpore.
João Grilo, por exemplo. Os acadêmicos afirmam e reafirmam que o protagonista ardiloso de O Auto da Compadecida deu as caras em 1955, quando Ariano Suassuna redigiu a peça. Matheus, que encarnou o personagem no cinema, pensa diferente. Acha que Grilo já perambulava pelo mundo bem antes de Suassuna sonhar em viver.

O MUNDO, aliás, não está completamente perdido. O que ocorre é o seguinte: a Terra anda à deriva apenas porque Deus se ocupa demais em fazer os aviões funcionarem. Ou alguém presume que boeings e assemelhadosse mantenham no céu sem ajuda divina? Para Matheus, poucos fantasmas se revelam piores do que viagens aéreas. O terror só não o afasta definitivamente dos aeroportos graças à benevolência de Deus, que descuidou de todo o resto em nome da segurança nos vôos.
O céu com letra minúscula, dos aviões, impõe-se como uma realidade inescapável. O outro, com letra maiúscula, dos cristãos, talvez não se concretize no post mortem. Quem sabe se materialize dentro do invólucro uterino. Matheus carrega a remota desconfiança de que o Paraíso é antes, não depois.

A IDÉIA de suicídio, claro, o aterroriza e fascina desde sempre. Mas ele nunca cogitou abortar o próprio caminho. Prefere o suicídio vagaroso.
Fuma dois maços de Marlboro por dia e foge de exercícios físicos. Caso não fique de olho, bebe mais do que deveria. Suspeita-se um alcoólatra em potencial. "Viver acaba nos fazendo morrer", ouviu do ator Paulo José. Considera a frase irretocável.

VAI COMPLETAR 39 anos e ainda alimenta a possibilidade de se tornar biólogo. Lê muito sobre o assunto. A biologia é sua verdadeira religião e Charles Darwin, o seu pastor.
Só entra em cena após entoar baixinho O Compositor me Disse, de Gilberto Gil: "O compositor me disse que eu cantasse ligado no vento/ Sem ligar/ Pras coisas que ele quis dizer/ Que eu não pensasse em mim nem em você/ Que eu cantasse distraidamente como bate o coração".
Por influência dos avós belgas, aprendeu o francês antes do português. A primeira palavra que balbuciou foi guarda-chuva (parapluie). Não se atreve a apontar o motivo. Mas cultiva uns palpites: guarda-chuvas protegem, especialmente àqueles que, como ele, nasceram em São Paulo, a capital das tempestades. Vai ver é isso; vai ver a primeira palavra que desejou falar tenha sido proteção.

sábado, 24 de abril de 2010

"A Cabruêra tá em casa!"


Visagem. Este é o nome do novo trabalho da Cabruêra, banda que nasceu em Campina Grande, no final da década de 90, e percorreu o mundo mostrando a riqueza musical que a Paraiba tem. Os cabras estarão apresentando seu som vanguardista na Rainha da Borborema, neste domingo (25), na Praça da Bandeira. O inconfundível forró esferográfico, comandado pelo vocalista Arthur Pessoa, e aliado aos mais distintos matizes musicais, começa a partir das 19h. A banda campinense Sex on the Beach fará o show de abertura.


Depois de haver recebido o  Kikito de "Melhor trilha sonora", no Festival de Cinema de Gramado, pelo som do quarteto haver integrado a trilha do curta-metragem "A Canga", de Marcus Villar e das turnês a diversos países da Europa, a Cabruêra vem revelar, em Visagem, influências dos mestres da música instrumental, a exemplo de Hermeto Pascoal, Sivuca, Gismonti, entre outros. Os elementos regionais, como de costume, se misturam com toda sorte de tendências musicais.

Formada em 1998 por alunos da Universidade Federal da Paraíba, a banda reúne quatro músicos com som que abrange diversas influências, desde o cancioneiro popular do estado, até a música eletrônica. Cabruêra é formada por Arthur Pessoa (voz e violão), Pablo Ramires (bateria), Chico Correa (DJ), Edy Gonzanga (baixo). O nome Cabruêra se origina de um termo do cangaço, que significa bando de cabras – tal qual o bando de Lampião – tendo como fundamento a capacidade extraordinária de adaptação do animal e a resistência as intempéries de áridas situações.

Desde o seu surgimento, a Cabruêra se firmou como um grupo independente, sempre participando de festivais desse circuito e estabelecendo parcerias com selos e veículos alternativos de divulgação diversos, recebendo críticas positivas dos principais jornais e revistas do país. É um dos grupos independentes mais conhecidos do circuito de festivais no Brasil e no exterior.



quinta-feira, 22 de abril de 2010

Oscar Niemeyer, Brasília, Campina Grande e a UEPB

 Museu dos Três Pandeiros da UEPB - Genialidade de Niemeyer a serviço da Arte 
na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande

Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

No feriado do último dia 21 de abril, já é sabido de todos, comemorou-se o Dia de Tiradentes. Contudo, no mesmo dia, outra efeméride foi comemorada pelos brasileiros: 50 anos da capital do País, Brasília. Mas o que isso tem a ver com Campina Grande e a Universidade Estadual da Paraíba?

É que muitas das construções da Capital Federal foram projetadas pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer. Este mesmo profissional, reconhecido internacionalmente, é o autor do mais novo projeto arquitetônico e cultural da Rainha da Borborema: o Museu do Artista Popular, apelidado de Museu dos Três Pandeiros, obra da UEPB.

Niemeyer também idealizou outra obra para a Universidade Estadual: um projeto para uma nova Biblioteca Central. Em ambas os projetos, o acompanhamento fica a cargo de arquitetos integrantes da equipe do escritório de Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro (RJ), entre eles, Cydno Silveira, que esteve diversas vezes em Campina Grande.

A obra que se encontra mais adiantada é a do Museu dos Três Pandeiros, já licitada e em início de construção. O Museu irá adornar as margens do Açude Velho - ponto turístico da cidade - acolherá trabalhos de artesãos populares e prestará uma homenagem aos mais talentosos artistas da música nordestina, a exemplo de Sivuca, Jackson do Pandeiro e Marinês.

Para Niemeyer, “Arquitetura é invenção. Tem que causar impacto e ter desafio”, disse certa vez. Na década de 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek, ele se juntou ao arquiteto Lucio Costa, ganhador do concurso público nacional do projeto que deu início à construção da Capital federal. Entre os edifícios residenciais, comerciais e administrativos que Niemeyer projetou para a capital, estão a Catedral de Brasília, o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, os prédios dos ministérios e o Congresso Nacional.

Oscar Niemeyer foi e continua sendo um homem que marcha em seu próprio ritmo, tendo, muitas vezes, atitudes e opiniões que vão de encontro ao status quo. Além disso, fez diversos projetos gratuitamente, em benefício das causas que inspiravam sua construção, entre eles está o projeto do Museu dos Três Pandeiros, projeto doado à Universidade.

Construindo os Três Pandeiros

O funcionário da Prefeitura Universitária da UEPB, engenheiro civil Aderson Rodrigues,  e  responsável pela fiscalização desta obra em particular, nos conta sobre o andamento da construção. “Surgiram alguns imprevistos durante a escavação para a preparação da obra. Agora, estamos executando o bloco anexo e a nova base, modificada com o novo projeto estrutural e de engenharia”, explicou Aderson. No entanto, é bom lembrar, o projeto arquitetônico continua o mesmo.
A reitora Marlene Alves reitera a importância cultural da obra. “Tudo que é relacionado à cultura também faz parte da educação. Ao construir espaços culturais, a Universidade pretende contribuir para uma sociedade mais humanitária através do favorecimento da arte”, disse, à época da apresentação do projeto. 

E acrescentou que a outra obra de Niemeyer é outro grande projeto e por isso mesmo, deverá vir posteriormente. “É uma obra que custará cerca de R$40 milhões. No momento, a prioridade é a construção do bloco Central de aulas e dos outros três campi: de João Pessoa, Monteiro e Patos. Mas que ele será feito, será!”, relatou Marlene,  entusiamada.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Quando a máscara se prende ao rosto

  
Por Wilker Sousa, da Revista Cult
 
 
Fim de tarde em São Paulo, março de 2010. Pouco mais de três horas antes do espetáculo, uma senhora chega ao hall de entrada do teatro. Não havia muitos por ali, à exceção de alguns frequentadores entretidos com suas leituras e fones de ouvido, e duas funcionárias no setor de atendimento. Acompanhada por um rapaz que empurra a cadeira de rodas, a senhora segue lentamente rumo ao elevador. As portas ainda não tinham se fechado, quando, em voz alta, ela pergunta a uma das funcionárias:
– Como estamos de público?
– Metade dos lugares estão ocupados – responde a moça.
– Como ainda são 6 horas, o público até que é bom, não é? – comenta a senhora com o rapaz que lhe faz companhia.

Fecham-se as portas.
Em seguida, uma das moças não contém a curiosidade e consulta a colega:
– Quem é ela?
– É a Norma Bengell.
– Essa é a Norma Bengell?
– Sim, ela está assim provisoriamente, porque eu acho que teve um acidente doméstico.
Às 21 horas, a atriz interpretaria Winnie, personagem de Dias Felizes, de Samuel Beckett. Abertas as cortinas, e após o som estridente de uma campainha, diria: “Outro dia divino”.

De paródia de Brigitte Bardot a musa do Cinema Novo
Naquela noite carioca de 1959, o cineasta Carlos Manga assistia a mais uma apresentação do teatro de revista de Carlos Machado. Entre as divas que participavam do espetáculo, uma lhe despertou atenção particular. Vestida de escrava branca acorrentada, ela descia a escada do teatro, quando roubou o olhar do diretor: “Eu fiquei extremamente impressionado com a beleza e com o porte dela”, recorda. Manga notou uma semelhança da jovem com a musa Brigitte Bardot (“para melhor”, afirma) e convidou-a para participar do longa-metragem que estava produzindo, intitulado O Homem do Sputnik. Aquela seria a porta de entrada de Norma Bengell no cinema nacional. Aceito o convite, durante um mês a jovem atriz, então com 24 anos, dividiu-se entre os ensaios do longa e suas apresentações no teatro. Estrelado por Oscarito, o filme estreou ainda naquele ano e trazia Norma interpretando BB, sedutora femme fatale que satirizava Brigitte Bardot.

A consagração, porém, viria em 1962 – ano que simbolizou um divisor de águas em sua carreira. Sob a direção de Ruy Guerra, atuou em Os Cafajestes, cujo elenco trazia Jece Valadão e Hugo Carvana. Primeiro longa de Ruy Guerra, o trabalho foi saudado pela crítica como “o primeiro grande impacto do cinema novo” (Ely Azeredo, Tribuna da Imprensa, 1962), dada sua linguagem inspirada na nouvelle vague e sua ousadia temática. O filme, porém, causou alarde junto a setores mais conservadores da sociedade, como a TFP (Tradição, Família e Propriedade), ligada à Igreja Católica. Protagonizada por Norma, a primeira cena de nu frontal da história do cinema brasileiro chocou o cardeal do Rio de Janeiro, que solicitou ao então governador Carlos Lacerda a proibição do filme, e este atendeu ao pedido. As projeções foram subitamente interrompidas e o filme só voltaria às salas de cinema depois de efetuados alguns cortes.

A atriz, por sua vez, ainda sofreria mais reveses por conta de sua “ousadia”. Ainda em 1962, foi impedida por padres de cantar em um show de bossa nova na PUC-Rio, pois defendia o uso da pílula anticoncepcional.

Naquele mesmo ano, estaria nas grandes telas com a personagem Marli, de O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme se tornou um dos maiores sucessos do cinema brasileiro e abriu caminhos para a carreira internacional de Norma.

Foi por meio de sua atuação em O Pagador de Promessas que a atriz conheceu Dino de Laurentis, produtor responsável por inseri-la no cinema italiano. Ao lado de estrelas como Renato Salvatore, Alberto Sordi, Catherine Deneuve, atuou em Una Bella Grinta, I Cuori Infranti e O Mafioso (o mais relevante dos trabalhos, segundo a opinião do crítico de cinema José Carlos Monteiro). No mais, “Norma foi quase sempre desaproveitada em produções insignificantes, mesmo quando se impunha pela beleza e/ou a capacidade dramática”, conclui o crítico.
Após dois anos de sua temporada italiana, a atriz voltou ao Brasil em 1964 e encontrou um país ainda mais cerceado pelo autoritarismo.

Instaura-se a repressão
De minissaia e botinhas, Norma estava pronta para o encontro que teria logo após o espetáculo que encenaria naquela noite. O ano era 1968 e atriz estava em cartaz no Teatro de Arena, com a peça Cordélia Brasil, sob a direção de Emílio di Biasi. Ao sair do hotel, a atriz foi surpreendida por quatro homens que a colocaram violentamente dentro de um Fusca.

– Vocês estão loucos? O público está me esperando! – esbravejava.
Emílio, que a aguardava na portaria, tentou defender a amiga, porém recebeu um golpe de um dos homens e caiu no chão, assistindo à partida do carro. Atordoado, voltou ao teatro e comunicou ao administrador da casa:
– Não vai ter mais espetáculo porque levaram a Norma. Eu vou tentar falar com a Cacilda Becker e ver o que ela pode fazer – relembra Emílio.
Cacilda tinha muitos contatos, transitava com desenvoltura entre artistas e políticos, logo sua ajuda parecia ideal naquele momento de pânico. Emílio seguiu para a casa de Cacilda e, juntos, passaram a madrugada ao telefone, na tentativa de localizar a amiga.

Norma só se deu conta de onde estava, quando, através do vidro do carro, viu o estádio do Maracanã. Pouco depois, ao chegar ao Segundo Batalhão do Exército, na Rua Barão de Mesquita, ouviu quando alguém perguntou onde estava o preso. De minissaia, botas e urinada de tanto lutar contra a truculência daqueles homens, foi apresentada ao coronel Luiz Helvécio Leite, que perguntou:
– Quem são os comunistas do teatro?
– Eu não sei – negava reiterada-mente.

Embora não tenha sofrido violência física, ela ficou em poder dos militares durante 48 horas, sendo interrogada acerca dos supostos comunistas que estariam infiltrados no teatro. Foi libertada sem denunciar ninguém. “Se soubesse, eu não diria, porque a gente não pede carteira de ideologia”, recorda.

Sua personalidade combativa em tempos de repressão ainda lhe traria consequências severas, e aquela não seria a única vez que a prenderiam. Certa ocasião, entre as muitas que se sucederam, foi reconhecida pelos presos, que cantaram em coro a música “Corisco”[trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol]. “Foi muito bonito”, relembra. Colocada em uma cela grande, Norma batia contra a porta usando suas botas de hípica, enquanto ouvia alguém do outro lado ameaçá-la:
– Isso é café pequeno. Ela só usa arma 32! – em referência possível ao tamanho das botas.
– Eu não preciso ver sua cara. Um dia eu vou te reconhecer pela voz – retrucava.

Passaram-se os anos e, em 1986, desta vez como diretora, ela voltou à mesma cela para filmar um cena de Pagu, estrelado por Carla Camurati. Na ocasião, ouviu a mesma voz que lhe ameaçara e, ao abrir porta da cela, encontrou o militar:
– Foi você!
– É, fui eu.
Tomada de ligeira frieza, Norma ainda o convidou a comer uma pera, mas, diante das atrocidades que o militar enumerava em meio à conversa, foi convidado a se retirar.

Em 1971, após seguidos sequestros, já não havia condições de permanecer no país. “Fui para o exílio porque eu não aguentava mais isso aqui. Achei que não tinha mais espaço para gritar contra a ditadura, então fui para a França.” A recente temporada no cinema italiano serviu de vitrine para a carreira francesa. Eram tempos de glamour, festas, amores e amigos – ares radicalmente opostos àqueles que eram respirados por aqui.

Em solo francês, Norma pôde trabalhar com grandes nomes do cinema e do teatro, como Patrice Chéreau e Jean Genet.
Ainda que estivesse longe do Brasil, não deixou de dar suas “alfinetadas” no regime militar. Quando questionada por jornalistas franceses sobre a situação política de seu país, dizia que o Brasil estava nas mãos de uma ditadura, o que obviamente não agradou aos militares, sobretudo a Médici, que foi chamado pela atriz de “urubu- rei” em uma de suas entrevistas à imprensa europeia. “Foi quando a barra pesou e fiquei sem passaporte”, conta. Somente anos mais tarde, ao saber da abertura promovida pelo então presidente Geisel, a atriz telefonou para o Palácio do Planalto e, após falar com o general, conseguiu a liberação de seu passaporte.

Foi então que regressou ao país aquela que, por assumir causas antiburguesas, “serviu de paradigma para uma revolução dos costumes numa época em que o Brasil, sob a égide do conservadorismo, não era propriamente um ‘mar de rosas’, em termos de tolerância a comportamentos transgressivos”, segundo José Carlos Monteiro.

Entre palcos e câmeras

Nas décadas seguintes, Norma Bengell alternou trabalhos nacionais e internacionais no cinema, no teatro e na televisão, além de ingressar na carreira de diretora. Com Paulo César Sarraceni, protagonizou uma aristocrata em crise em A Casa Assassinada (1971), inspirado no romance Crônicas da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso. Muitos foram os diretores com quem trabalhou nesse período (Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Walter Hugo Khouri, Antonio Calmon, entre outros), mas foi com Glauber Rocha que a atriz acredita ter realizado um de seus maiores trabalhos: A Idade da Terra, de 1980. “O filme vai ser entendido daqui a alguns anos”, acredita.

Adquirida a experiência ao longo de dezenas de filmes, Norma decidiu enveredar-se na direção. O tema escolhido para seu primeiro longa foi a adaptação para as telas da trajetória da intelectual de vanguarda Pagu. “Apesar das oscilações estilísticas e das incorreções históricas, o filme concretiza as pretensões da diretora”, analisa José Carlos Monteiro. A escolha de Pagu não foi gratuita, pois nota-se no filme uma grande admiração de Norma pela escritora, bem como uma visível identificação entre ambas, como apontou o crítico Ely Azeredo: “Se Bengell jamais escrever sua biografia, se for esquecida, restarão os fotogramas desse filme, de recôndita pureza, exigente amor, desafiadora visão da vida afetiva e social, para testemunhar sobre a mulher e a artista”.

Em 1996, viria a grande mágoa de sua carreira, o imbróglio envolvendo O Guarani, sob sua direção e produção. Segundo o Ministério da Cultura, houve irregularidades na prestação de contas e Norma foi indiciada por evasão de divisas, lavagem de dinheiro e apropriação indébita. Hoje há dois processos ganhos pela atriz, além de um arquivado e outro em andamento. “Agora eu já estou gozando do assunto.”

Na televisão, seu trabalho mais recente foi a participação na série Toma Lá, Dá Cá, da Rede Globo, emissora onde também atuou em novelas e minisséries. Para o futuro, planeja desenvolver um filme baseado em sua vida.

Apagam-se as luzes

No segundo ato de Dias Felizes, Winnie está melancólica. Sem a companhia do marido, Willie, a personagem luta contra a solidão: “Pensava antigamente que eu aprenderia a falar sozinha (…) mas não”. Norma, ao contrário, diz ter aprendido a viver só, embora enfatize a importância dos amigos. Sem filhos e após a morte da amiga Sônia Nercessian, com quem morou por 25 anos, atualmente vive sozinha em uma casa na região nobre do Rio de Janeiro. “Quando se apagam as luzes, é uma solidão enorme. (…) Eu sou uma pessoa muito forte, senão já teria sucumbido.”

Amparada em sua força, o otimismo permanece. Fechadas as cortinas e cessadas as luzes, é possível que a mulher Norma Bengell leve consigo a última frase de Winnie: “Mais um dia feliz, apesar de tudo”.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cineasta campinense lançará curta "Borra de Café" neste sábado em Campina Grande

 Antônio, um dos protagonistas da trama

Por Oziella Inocêncio

Um estado com mesa farta, cultura rica, clima ameno, recursos naturais conservados e diversos, e uma formação étnica que gerou um povo belo e forte. Alguém conhece esse paraíso? É a Paraíba aos olhos do cineasta campinense Aluizio Guimarães, retratada em seu novo curta metragem, "Borra de café". Um dos propósitos do projeto é justamente mostrar um estado diferente daquele que é exibido nos meios de comunicação de massa, segundo explicou o diretor. A exibição acontece às 20h, gratuitamente, no Teatro do SESC Centro, em Campina GRande.

Borra tem a duração prevista para 20 minutos, tendo como cenário as belas paisagens do Brejo paraibano. De lá, será contado o drama de Antônio (Chico Oliveira), que no início do século XX (1908 a 1923), depois da morte da esposa, Maria (Suzi Lima), se depara com a difícil situação de criar sozinho sua única filha, Ana Beatriz (Rayanne Araújo). “Isolados em uma vale, recebendo esporadicamente a visita de dois amigos tropeiros, os dois desenvolvem uma forma peculiar de relação, que trará grandes consequências em suas vidas. A estrutura dramática gira em torno de um núcleo familiar complexo e sugeridamente incestuoso”, adiantou Aluizio.

O cineasta acredita que muitos conceitos e preconceitos são formados e podem ser modificados a partir de uma obra de arte. Sobre os personagens, o diretor contou que Ana Beatriz é uma criança normal, até ter um sentimento despertado no decorrer de sua vida. “Antônio, seu pai, católico praticante, plantador de café, se vê cercado pelas cruéis brincadeiras do destino”, antecipou. A história segue a linha trafegada por Guimarães, desde o início de sua carreira, abordando as relações interpessoais. Outro tema comum, segundo acrescentou, é a religião.

O primeiro contato de Aluizio com o cinema aconteceu na Faculdade de Comunicação - ele é jornalista, graduado pela UEPB - conhecendo Rômulo Azevedo e, logo depois, fazendo um curso com o seu irmão, Romero Azevedo, sobre o Cinema Novo Brasileiro. “Comecei a me apaixonar pelo Cinema Nacional graças a estes momentos, mas só agora, é que resolvi fazer um empreendimento mais ousado, graças a uma equipe espetacular que está comigo”, apontou.

Aluizio Guimarães começou sua trajetória artística no teatro

Aluizio Guimarães, que começou sua trajetória artística no teatro e já efetuou diversas outras inscursões no fabuloso mundo da sétima arte, adorou a experiência de lidar com o contexto de uma outra época. “É bom fazer um filme assim porque ele desperta, através das pesquisas, o quanto somos um hommo distantis daqueles que foram os nossos avós. Estamos presos em casa, cercados por uma cerca elétrica e achamos que entramos em contato com todo mundo por um MSN. Fato é que, mesmo no início do século passado, em pleno Brejo paraibano, distante de tudo, as pessoas eram mais humanas, mais próximas, menos burocráticas no abraço e no adeus”, disse o diretor. A equipe de Borra de café é composta ainda por mais de 56 pessoas.

Cria do teatro, Aluizio Guimarães já dirigiu O mistério da pedra maliciosa, As três, Hades - uma história de fé e revolta, Água, areia e as maçãs, Inferno e Solteira, casada, viúva e divorciada, entre outros. Quando se trata de cinema teve participação efetiva em diversas produções, a exemplo de Uma curta chama, A incrível história do homem que levou fumo da Cumade Fulozinha e O bolo. Na direção geral, esteve à frente de Máscaras (experimental), Batalhão 41 de Cajazeiras (documentário), Vilma (ficção) e Memórias de Maria (ficção).

Para ele, a sétima arte é a simbiose de todas as outras, é a convergência de várias manifestações artísticas em um mesmo suporte, e nesse sentido, é, acima de tudo, um desafio fazer com que cada uma destas manifestações estejam bem dosadas. “Cinema é fantasia para quem vê e aventura para quem faz - pois fazer cinema em nosso estado não é fácil. Gostaria muito de estar vivo para assistir a uma grande produção genuinamente nossa, subsidiada por empresários sensíveis à arte”, resumiu.

Entre os cineastas que admira, figuram Abbas Kiarostami, Almodóvar, Antonioni, Nagisa Oshima, Beto Brant e Nélson Pereira dos Santos, dentre outros. “Acredito que nos influenciamos por tudo que degustamos, quando escrevo, vejo o resultado de tudo aquilo que absorvi nestes quase 40 anos de vida”, disse.

Grupo recolhe 10 milhões de fragmentos de lixo das águas pelo mundo


Da Folha de São Paulo

Mais de 10 milhões de peças de lixo foram colhidas das correntes marítimas do mundo em um único dia ano passado, divulgou nesta terça-feira (13) o grupo Conservação Oceânica.

Para Philippe Cousteau, chinelos de praia que apareceram no Ártico da Noruega simbolizam a natureza global do problema do lixo marinho.

"Nós vimos as sandálias chegando à costa destas ilhas, no extremo norte da Noruega, próximo ao Círculo Ártico, disse Costeau, conservacionista e neto do famoso oceanógrafo Jacques Cousteau.

"As pessoas não usam chinelos de praia no Ártico, pelo menos se elas são sãs", disse ele. "Acho que o mundo está começando a perceber que este é um problema global".

O relatório detalhou a quantidade e tipo de lixo que voluntários juntaram em um único dia de 2009, ao longo das costas de seis continentes e em correntes dentro dos continentes. Também informa que cerca de 80% do lixo marinho é gerado nos continentes.

Meio milhão de voluntários

"O lixo viaja, e nenhuma praia, ou margens de lagos ou rios, ficam intocados --não importa o quão remotos", escreveu na introdução do documento Vikki Spruill, executiva-chefe da Conservação Oceânica.

No ano passado, 10.239.538 fragmentos de lixo foram recolhidos das costas e margens em um dia, 19 de setembro de 2009. Cerca de meio milhão de voluntários contribuíram para essa limpeza anual.

O dia da limpeza previsto para 2010 é 25 de setembro.

Mais de 40% do total foi coletado nos Estados Unidos, incluindo coisas como tampas de garrafas, embalagens de latas de cerveja, pontas de cigarro, máquinas de lavar, materiais de construção, fraldas, preservativos e lixo médico.

Os Estados Unidos tinham a maioria dos voluntários, quase o triplo do número nas Filipinas, país que compôs o segundo maior total deles.

Perigo

Cerca de 20% dos itens coletados representa ameaça à saúde pública, incluindo lixo médico contaminado por bactérias, ferramentas em geral, carros e tambores químicos, informa o relatório.

Alguns dos itens também são ameaça para animais marinhos, que podem ficar presos em redes e linha de pesca jogadas fora ou ingerir lixo plástico flutuante.

Enquanto os plásticos vão se acumulando nos oceanos, se parecem muito com organismos do plâncton, que formam a base da cadeia alimentar, diz Cousteau.

"Peixes e outros animais estão ingerindo esse material e assim também as toxinas que estes plásticos absorvem", explica. "E então adivinha que come o peixe?"

Costeau diz que esses plásticos contêm altos níveis de dioxinas, PCBs e outros compostos químicos que podem afetar os hormônios, e também impedir a ingestão de nutrientes, já que as criaturas marinhas acabam morrendo com os estômagos cheios de plásticos.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mensagem da reitora da UEPB, a respeito do I Festival Internacional de Música de Campina



Por Marlene Alves Luna

Evento é realizado em parceria com a UEPB, que reafirma seu desejo de incentivar a disseminação e valorização da cultura


Ao longo dos seus quase cinqüenta anos de história nesta cidade e na região, desde a criação do Museu de Arte Assis Chateaubriand, onde se reunia a vanguarda da cultura local, a UEPB, inicialmente URNe, tem empreendido esforços no sentido de incentivar o desenvolvimento da cultura em geral e, em particular, das artes em suas diferentes manifestações, como cinema, teatro, música, dança e literatura.

Temos participado das mais importantes manifestações culturais desta cidade, exemplarmente os Festivais de Inverno, os Congressos de Violeiros e os Congressos Internacionais de Crítica Literária. Temos, assim, buscado valorizar tanto expressões da cultura chamada erudita, quanto da cultura dita popular.

Neste sentido, os investimentos mais recentes da UEPB reafirmam sua vocação histórica, pois se prepara para presentear a nossa cidade com duas jóias da arquitetura brasileira, dois museus, que com certeza impulsionarão mais ainda a produção cultural local, além de se constituir espaço de integração e incentivo às expressões de diferentes culturas, representativas de diversas regiões do Brasil e do mundo. Referimo-nos ao novo prédio do Museu de Arte Assis Chateaubriand, obra dos arquitetos Acácio Gil Borsoi e Janete Costa  e ao Museu de Artes Populares da Paraíba, obra de Oscar Niemeyer. O primeiro, no bairro do Catolé, em adiantada fase de construção; e o segundo, nas margens do Açude Velho, obra iniciada recentemente. Este, pelo seu formato e por seu destino, já começa a ser chamado pela população de “Museu dos Três Pandeiros”. Isto porque integra três edificações circulares que comporão o conjunto arquitetônico. Um se destinará à Literatura de Cordel; outro ao Artesanato Paraibano; e o terceiro bloco será destinado à música nordestina, numa simbólica síntese cultural.

Portanto, senhoras e senhores, promotores e participantes deste I FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA DE CAMPINA GRANDE, músicos de rica e diversificadas competências, integrantes das Américas do Norte e do Sul, a Universidade Estadual da Paraíba, que já tem histórico compromisso com eventos do porte deste Festival, tem a honra de receber carinhosamente a todos no aconchego do clima serrano e junino da Rainha da Borborema.

Sintam-se acolhidos!


* Mais informações podem ser obtidas no portal do evento, no endereço http://www.fimcg.com

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Artista campinense realiza espetáculo Experimental Samba Groove neste sábado (10)



Uma apresentação com requinte e destacáveis sonoridades para todos ouvirem. Este será o show Experimental Samba Groove, do músico campinense Toninho Borbo, pela primeira vez no teatro do Sesc Centro, na Rainha da Borborema. O evento será neste sábado (10), a partir das 20h30, e a abertura será da banda A Valsa de Molly. 

O show é uma realização em parceria e cooperação com a Plural Marketing Cultural, para dar visibilidade a novos compositores da música popular, e o apoio ao evento é do Sesc e do Sebrae Paraíba. O Experimental Samba Groove é o quarto trabalho de Toninho. Desde o início deste ano, o músico faz shows com o baterista Edmar Travassos e o baixista Orlando Freitas.
Com o repertório, Toninho ainda pretende gravar o quarto CD até 2011. Mas, nos palcos, a apresentação vem despertando o interesse de consumidores exigentes. O trabalho é o somatório da trajetória do artista, que teve a liberdade de experimentar música eletrônica com mpb. “Preparamos um super show, com a participação da Valsa de Molly, outro trabalho autoral da cidade. Sou de uma geração nova de compositores paraibanos”, diz Toninho.

Natural de Campina Grande, o artista começou sua história musical num festival realizado na cidade em 1990. Em 2001, realizou o seu primeiro show solo, Razão Profana, no 26° Festival de Inverno de Campina. A partir daí, Toninho não parou mais e atualmente circula no Brasil e numa coletânea musical no Exterior, o Brazil more than samba.

Toninho surgiu como fenômeno local em 2003 e gravou o primeiro trabalho, Do Beco ao Eco. Em 2005, gravou um CD demo que teve a 3ª faixa vencedora de uma promoção nacional de uma habilitadora de celular. A partir de então, marcou presença em vários Festivais de Inverno e Bienais de arte e cultura pelo país.

Em 2007, lançou o álbum Para Fins de Mercado, pelo Fundo Municipal de Incentivo a Cultura, com boa aceitação da crítica. O terceiro trabalho levou Toninho a fazer turnê de ocupações das salas dos Centros Culturais Banco do Nordeste no interior da Paraíba e Ceará (2008) e, no mesmo ano, à Feira de Música de Fortaleza.

SERVIÇO:
Ingresso: R$10 (inteira) e R$ 5 (estudante).

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A União Editora publica livro sobre líder camponês paraibano


O livro “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo” é composto por duas importantes obras escritas por Fábio Mozart, jornalista, dramaturgo e poeta paraibano


Sob os títulos “Biu Pacatuba” e “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, os dois trabalhos do livro foram escritos em versos de cordel. Narra a história de Biu Pacatuba, o primeiro presidente das Ligas Camponesas de Sapé, falecido em 1975. Na mesma linha, a publicação faz um itinerário poético e histórico da cidade de Mari.

O livro será editado em regime de “Copyleft”, ou seja, sem restrições quanto aos direitos autorais. É a primeira obra produzida na União Editora com essa característica. “Todo mundo está autorizado a fotocopiar parte desta obra ou o todo e distribuir com quem desejar. Só não pode fazer uma reimpressão sem autorização do autor. Material livre também para circular na internet, desde que citada a fonte”, explicou o autor.

A multimídia Clotilde Tavares, que assina a apresentação da obra, escreveu que “em boa hora Fábio Mozart faz esse registro biográfico para que a saga de nossos heróis não caia no esquecimento, alimentando com sua poesia, no peito dos verdadeiros brasileiros, a chama da liberdade.”

O lançamento está previsto para 20 de abril, dia do Poeta Paraibano, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana/PB.

terça-feira, 6 de abril de 2010

CNPq apóia pesquisa na área de Biodiesel


Da assessoria de comunicação do CNPq

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) abre Edital para selecionar projetos de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação para o desenvolvimento da cadeia produtiva do Biodiesel. As propostas apoiadas serão financiadas no valor global estimado de R$ 15 milhões, provenientes do orçamento do FNDCT/Fundos Setoriais, a serem liberados em duas parcelas, de acordo com a disponibilidade orçamentária do CNPq.

O Edital apoiará duas linhas de pesquisa: a Linha 1, que abrange a cadeia de Produção e Uso de Biodiesel que contemplem obrigatoriamente e de forma integrada, as fases de produção e obtenção de matérias primas graxas; produção de biodiesel via rotas metílica e/ou etílica; caracterização e controle da qualidade do óleo e do biodiesel produzido e controle de processos de extração do óleo e obtenção dos mono-ésteres; estratégias e formas de armazenamento; e utilização de co-produtos das fases de obtenção de matéria prima, de extração do óleo e produção do biodiesel.

Já a linha de Pesquisa 2 é voltada para projetos que abrangem a cadeia produtiva do biodiesel com foco na sustentabilidade ambiental, envolvendo pelo menos uma das seguintes linhas: Recuperação de áreas degradadas com a utilização de culturas oleaginosas endêmicas e não convencionais como fonte de matéria prima para produção de biodiesel, envolvendo a extração do óleo e a utilização de co-produtos da fase agrícola; Avaliação de impactos ambientais e estratégias de remediação ambiental; Análise do ciclo de vida de processos associados à produção de biodiesel.

Terão preferência em ambas às linhas, propostas de cooperação interinstitucionais submetidas por pesquisadores que atuem no estudo da cadeia do biodiesel e/ou possuam parceria com empresas com atuação no setor de biodiesel. Opcionalmente, recomenda-se para as duas linhas, que os projetos envolvam também estudos de viabilidade econômica e ambiental.

Do recurso global R$ 10 milhões serão distribuídos para a Linha de Pesquisa 1 e R$ 5 milhões para a Linha de Pesquisa 2 . Os projetos terão o valor máximo e mínimo de financiamento de acordo com a Linha de Pesquisa em que for submetido e aprovado, R$ 900 e R$ 600 mil, respectivamente, para linha 1 e R$ 600 e R$ 400 mil para Linha 2. Lembrando que, a parcela mínima de 30% dos recursos serão destinadas a projetos coordenados por pesquisadores vinculados a instituições sediadas na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

O pesquisador interessado deve possuir o título de doutor, ter experiência de pesquisa na área, currículo cadastrado na Plataforma Lattes e vínculo formal com a instituição de execução do projeto. Serão concedidas bolsas, por até 24 meses, nas seguintes modalidades: Iniciação Tecnológica Industrial (ITI-A e ITI-B), Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI), Especialista Visitante (EV), Extensão no País (EXP) e Apóio técnico em Extensão no País (ATP). A implementação das bolsas deverá ser realizada dentro dos prazos e critérios estipulados para cada uma dessas modalidades, que estão indicadas no endereço http://www.cnpq.br/bolsas/index.htm .

As propostas devem ser acompanhadas de arquivo contendo o projeto e devem ser encaminhadas ao CNPq exclusivamente via Internet, por intermédio do Formulário de Propostas Online , disponível na Plataforma Carlos Chagas, até o dia 20 de maio.

Para mais informações acesse o Edital: http://www.cnpq.br/editais/ct/2010/003.htm

Capes seleciona professores para atuar no Timor Leste

Da assessoria de imprensa da Capes

Estão abertas as inscrições para mais uma edição do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste. Ao todo, serão oferecidas 15 bolsas para professores brasileiros interessados em contribuir com a formação de timorenses. As candidaturas podem ser realizadas até dia 15 de maio, exclusivamente pelo site da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Há oportunidades nas áreas de Matemática, Física, Química, Pedagogia, Letras, Lingüística, Educação Científica e Tecnológica e Geografia. Para participar é preciso ter nacionalidade brasileira, diploma de nível superior, experiência comprovada em uma das áreas relacionadas ao edital. A seleção dará preferência a professores da rede pública.

Além do Formulário de Inscrição devidamente preenchido, os candidatos devem apresentar o currículo na Plataforma Lattes, cópia do diploma acadêmico e certificado médico de saúde física e mental. Será exigida ainda a apresentação de uma justificativa para a participação no programa.

O processo seletivo será composto por análise da consistência documental, avaliação curricular e entrevista. Os aprovados terão direito a bolsa no valor de 1,3 mil euros, seguro saúde, passagem aérea de ida e volta e auxílio instalação. As atividades deverão ter início em agosto deste ano e terão duração de até oito meses.

Mais informações podem ser obtidas no edital do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste, disponível no site da Capes.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vladimir Carvalho e a memória cultural


Por Fábio Mozart  (teatrólogo) - Texto escrito em 31 de março

Aos setenta e cinco anos de idade, o cineasta itabaianense Vladimir Carvalho doou todo seu acervo cultural, inclusive a casa onde vive em Brasília. Nessa casa, Vladimir como que construiu um roteiro cinematográfico. Na sua morada, o documentarista montou um pequeno museu do cinema brasileiro e entregou tudo à Universidade de Brasília. O criador do “País de São Saruê” juntou mais de 3 mil livros, seus 21 filmes, todas as fotografias e os equipamentos, dando de mão beijada à cidade onde vive, tudo pela preservação da memória brasiliense.

Do acervo de Vladimir também constam cartazes, câmeras raras, fitas de vídeo, revistas, negativos, cartas e imagens de mestres como Mário Peixoto, Glauber Rocha e Rogério Sganzerla. Em 1954, ainda garoto, ele comprou o “Dicionário ACB Cinematográfico”. Foi um dos seus primeiros livros. Está lá na sua biblioteca que agora é da comunidade brasiliense.
 
Em Itabaiana, Paraíba, sua terra natal, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar vai inaugurar o Cineclube Vladimir Carvalho em 23 de maio, com a presença do próprio. Na cidade paraibana de Cajazeiras existe, há 34 anos, um Cineclube Vladimir Carvalho, criado pelo ator Ubiratan de Assis, que foi colega do meu irmão Sosthenes Costa. Cineclubes são opções de cinema para quem gosta de filmes com conteúdo mais profundo e questionador. Com moderno equipamento digital, teremos condições de mostrar boa parte da produção audiovisual da Paraíba e do Brasil, como contribuição para a cultura de Itabaiana, destinado principalmente aos estudantes.

Coincidentemente, hoje é 31 de março, aniversário de 46 anos do golpe militar que proibiu o filme “País de São Saruê” por mais de 20 anos. A obra é um documentário sobre a vida de lavradores, garimpeiros e outros moradores do nordeste brasileiro, filmado em preto-e-branco e realizado no fim da década de 1960.

Não vou falar de outros acervos para não sofrer censura, que ainda existe apesar do fim da ditadura.