sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Língua em água fervente?! Quanto por isso?


Por Diego Schaun, do Terra Magazine
E dizem que a faculdade de comunicar-se com a fala é o que diferencia o homem dos demais animais. Pensamento arcaico! Latidos, miados e urros têm mais emoção e perfeita comunicação do que o MSN. Entre os bichos, se não há entendimento, pelo menos existe respeito, silêncio, atenção ao diferente.
Para quem trabalha com mídias, e qualquer tipo de comunicação, dizer o que pensa ou o que pensam é uma tentativa quase que suicida. É como colocar o pescoço embaixo da guilhotina à cada frase no twitter ou em cada verso que posta no blog.
As pessoas não se entendem mais. Aliás, nunca se entenderam. As palavras são sempre as mesmas, os significados também, o conformismo é sempre igual e até o sinal de igualdade é conhecido por linhas gêmeas, paralelas, sem a menor graça, pois são iguais. Expressar-se, clamar, cutucar, curtir, lançar os dados e tirar a sorte com a imaginação do outro pode ser um risco terrível, mas muito instigante para os amantes da escrita.
Nos tempos do ginásio, lembro de ter estudado pela primeira vez as figuras de linguagem. A que mais me chamou a atenção foi a ironia. Era como se eu me enxergasse nela. E o pior era que eu não achava graça alguma nas ironias. Ironia sempre foi coisa séria. Sempre.
Quando se diz intencionalmente o contrário do que se pensa, para fazer o outro sentir a realidade escondida no antagonismo, o choque é imediato (para o outro). Mas esse imediatismo não é corriqueiro. Além de saber falar, andar ereto e às vezes assinar nome, o bípede mais presente no planeta ainda aprendeu a ser inconstante. Tudo é quando convém. E também quando não convém.
Facilmente as opiniões trocam de lugar quando um benefício é garantido por esse ato. É o escambo nosso de cada dia. E muitos ainda afirmam, ironicamente, que detestam o troca-troca.
Falar em público é um perigo. Perigoso mas não tanto danoso, pois a morte não é o fim de tudo, sabendo que a palavra é perene. Viver como Schopenhauer não é a solução, afinal, quem é que gostaria de morrer solitário, sentado numa árvore e ainda vigiado por um cachorrinho?
Por isso que ainda tento entender o porquê de comemorar datas específicas em determinados anos também específicos. Fazem um alarde pelos dez anos do atentado às torres gêmeas. E nos onze anos? Será que farão também? E nos dezessete anos? Esses serão mais importantes que os vinte e cinco anos? Afinal, são bodas de prata! Muita gente que nem se lembra do ocorrido afirmaria agora que essas "comemorações" ou "hashtags" no twitter são necessárias e importantes para quem perdeu os parentes e amigos em tal hecatombe.
Claro que devemos relembrar, mas o que menciono é o fato de relembrar e dar mais ênfase em números específicos. Aí é que entra a seriedade da ironia. Se o mundo vive assim, como se pode dizer que na maioria dos países o governo é laico? Com todo o respeito, o planeta está numa numerologia misturada com matemática "pitagórica" incrível. "Incrível"!
Então, o melhor a se fazer é ir para o porão, levar velas, chocolates, livros, um violão e um smartphone, caso queira dar um último tweet. 2012 vêm aí com gosto de gás. Como será o gosto do gás? Quem já bebeu? Bem, o fim dos tempos está próximo, então, escrever o que pensa hoje ou amanhã não fará diferença. Não dá mais tempo para entender! Buh!

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