A saga dos judeus na Paraíba contada por uma das maiores dramaturgas contemporâneas. O texto está pronto, só que a mais nova peça de Lourdes Ramalho, só será montada no segundo semestre. Ela está esperando o Teatro Municipal Severino Cabral reabrir suas portas para formar o elenco e montar o espetáculo.
Aos 80 anos de muito talento Lourdes Ramalho não pára. A dramaturga, que tem até um teatro com o seu nome, já escreveu mais de 100 peças. Na sala de sua casa, na Rua João Tavares, no Centro, ela solta a imaginação e cria histórias surpreendentes. Este ano, pretende montar só no primeiro semestre quatro novos espetáculos, sendo dois para serem apresentados em Portugal e dois em João Pessoa.
Os doidos de santidade e Eva e Adão, foram escritos por Lourdes para serem apresentados em Portugal. Os dois espetacúlos estão em fase de montagem. Lourdes também é autora de Fiel espelho meu e Uma visão de mulher, que devem estrear em breve na capital paraibana. Esses dois últimos espetáculos estão em fase de ensaio. Fiel espelho meu, conforme contou Lourdes, é um monólogo que trata do desabafo de uma mulher no dia da morte do marido. Já Uma visão de mulher, encenado por funcionárias da Associação de Magistrados da Paraíba, revela toda amplitude da mulher paraibana.
Lourdes Ramalho não consegue se imaginar longe da máquina de escrever. Mesmo tendo computador em casa e todas as ferramentas da modernidade, ela não se "desgruda" da máquina. A arte de escrever corre nas suas veias.
Numa das manhãs de quarta-feira de janeiro deste ano, quando, por telefone, concedeu entrevista ao Diário da Borborema, Lourdes estava triste. A mulher que mexeu com sentimentos de plateias inteiras com seus textos, que já fez o público rir e chorar estava com lágrimas jorrando dos olhos. Recebeu a notícia de que um sobrinho que ela considera filho, estava muito doente. Horas depois ficou sabendo que o rapaz havia morrido. Uma dor para a dramaturga. "Estou muito triste", revelou com a voz mansa.
Maria de Lourdes Nunes Ramalho, ou Lourdes Ramalho, como é conhecida literariamente, é uma escritora nascida no início da década de 1920, em Jardim do Seridó, fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba, numa família de artistas e educadores. Ela contou que seu bisavô era violeiro e repentista, a mãe professora e dramaturga, e os tios atores, cordelistas e violeiros. Assim, cresceu ouvindo cantorias de viola e histórias contadas por vendedores de folhetos.
A relação de Lourdes com a poesia popular é muito forte. Está ligada umbilicalmente ao passado. O seu bisavô, Hugolino Nunes da Costa, é um dos expoentes da primeira geração de cantadores surgida no Sertão paraibano, em meados do século XIX, dando sequência a uma linhagem iniciada por Agostinho Nunes da Costa, considerado o pai da poesia sertaneja nordestina. É deste contato com cantadores, cordelistas e contadores de história que vem o aprendizado dos procedimentos próprios da literatura popular, mais tarde assimilados em sua dramaturgia.
A maior parte da produção literária de Lourdes Ramalho é de textos para teatro. Seu fazer literário passa, entretanto e desde sempre, pela poesia e, ultimamente, contempla, ainda, a área da genealogia.
Por Severino Lopes, do Diário da Borborema
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