terça-feira, 29 de junho de 2010

São João em Campina Grande: passos lentos a caminho da sustentabilidade

Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

Uma boa ação sustentável observada neste grande festejo junino que ocorre em Campina Grande é o fato de a Prefeitura - pela primeira vez - ter colocado agentes de limpeza para o recolhimento do lixo durante a festa, e não só quando de seu fim ou no dia seguinte. Um ponto positivo. Porém, nem tudo são flores. Vemos aquelas pessoas decentes fazendo seu trabalho e outras tantas jogando lixo no chão inconseqüentemente.

A Universidade Estadual da Paraíba possui profissionais que lutam pelo meio ambiente, que estudam as conseqüências da falta de sustentabilidade e da não reciclagem do lixo, entre outros. E vem, nos últimos anos, divulgando estas causas. Especialmente, a dificuldade política para fazer ações saírem do papel. Ou pior que isso, de entrarem no papel de qualquer agenda política. Não há, neste caso, motivo para divergências políticas. Boas ações devem ser reconhecidas e divulgadas.

Campina Grande sofre, e muito, com problemas ambientais. Déficit de árvores; falta de um sistema de tratamento de esgoto; não existência de uma política de proteção ao bem estar animal; falta de preservação da Mata do Louzeiro, localizado no bairro do Alto Branco. Há ainda o Açude Velho, um cartão-postal da cidade que também não recebe o devido tratamento de despoluição e tratamento dos esgotos que ali são despejados. As praças e jardins precisam ser mais bem cuidados e preservados por nossa população. Estes foram alguns problemas enumerados pela professora do Departamento de Serviço Social da UEPB, Fátima Araújo.

A professora Fátima também é coordenadora do projeto de extensão "Catamais", que denomina, igualmente, uma cooperativa de catadores de material reciclável da cidade, que participa do projeto. Este é outro problema local. Falta de manejo do lixo. Não há separação domiciliar de material. Quase não há reciclagem. Catadores não são reconhecidos ou amparados pelo poder público.

Cidades Sustentáveis

Jaime Lerner, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, tem uma opinião sobre a sustentabilidade nas cidades. Ele também é arquiteto e conselheiro do movimento Planeta Sustentável e numa entrevista dada em maio deste ano para o site www.planetasustentavel.com.br ensina como se faz uma metrópole com mais qualidade de vida.

Em sua opinião, qualquer cidade - em qualquer parte do mundo - pode melhorar sua qualidade de vida em menos de três anos. “Isso é possível porque nem sempre a resposta vem com dinheiro público, mas com ações coletivas. É importante ter decisão política, mas é fundamental a visão estratégica para promover uma mudança e fazer com que todas as forças da comunidade atuem a favor”, opinou o político e arquiteto.

Questionado sobre os principais problemas das grandes cidades atuais, ele diz que são vários, mas três deles são essenciais às próprias cidades e à humanidade: mobilidade, sustentabilidade e diversidade social. Segundo ele, o maior entrave para a sustentabilidade é a falta de visão do que realmente é sustentável. “Hoje, a grande dificuldade é a dependência excessiva do automóvel, a moradia afastada do trabalho, a divisão da cidade por função, enfim, tudo o que dificulta a qualidade de vida dos cidadãos”, disse.

Como ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, uma cidade brasileira modelo de qualidade de vida, ele também descreve as boas ações alcançadas. “Há 20 anos, entre 60% e 70% da população de Curitiba separa seus rejeitos para reciclagem. É o mais alto índice do mundo”, afirmou Jaime Lerner. Para ele, um dos maiores exemplos que Curitiba tem a dar é a implantação pioneira, em 1974, do BRT (Bus Rapid Transit), o sistema de transporte coletivo em corredores exclusivos com pagamento antecipado de passagem. “Hoje, 80 cidades em vários países já implantaram esse sistema. Curitiba acaba de ganhar o prêmio Globe Award Sustainable City 2010, oferecido por uma entidade sueca de empreendedores sustentáveis”, disse Jaime, com orgulho.

Inovar é a palavra de ordem para o arquiteto sustentável. “Idéias simples e baratas são as que trazem inovação. Inovar é, sobretudo, colocar a idéia em prática o mais rápido possível para provocar a mudança. A criatividade vem quando se corta um zero do orçamento, mas a sustentabilidade é quando se cortam dois zeros”, afirmou, brilhantemente.

Portanto, voltando a nossa realidade local, agentes de limpeza trabalhando n' O Maior São João do Mundo, com vistas a evitar o acúmulo de lixo, pode ser uma boa iniciativa. Todavia, que eles estejam sendo bem remunerados, que sejam respeitados pelos freqüentadores e que os usuários cooperem não jogando lixo a torto e a direito. Que isto não seja apenas maquiagem. Que o lixo recolhido seja reciclado e tenha destino certo. Que não vá para o lixão a céu aberto. O maior problema ambiental do município, provavelmente, e que não vai entrar no artigo porque isso dá pano pra manga... Então, amigos: lixo no lixo e sustentabilidade na cabeça!

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