quarta-feira, 31 de março de 2010

A trapaça do rastreador da Oi no Velox

Por Elio Gaspari  (da Folha de São Paulo)

A Operadora Oi anunciou na semana passada o lançamento de uma ferramenta para a internet chamada "Navegador". Trata-se de um rastreador dos caminhos percorridos na rede pelo cliente de seu serviço Velox. A novidade é apresentada aos consumidores de maneira trapaceada, deselegante. (A operação já começou, pequena e felizmente sujeita a correções, no Rio.)
 
O mimo é oferecido como uma "facilidade", omitindo que é um rastreador. Quando o "Navegador" entra num computador que usa o serviço Velox, os endereços por onde o cliente passa são registrados pelo programa. 
 
A Oi garante que o rastreador passa longe de alguns sítios, inclusive dos que pedem senhas. Além disso, assegura que a identidade do cliente será preservada, pois o "Navegador" atribui ao computador rastreado um algoritmo de 24 dígitos que não pode ser decifrado.
 
O rastreamento interessa à Oi e aos seus parceiros porque permite a segmentação de público para o mercado publicitário. Assim, uma empresa de turismo pode anunciar só para pessoas que pesquisaram preços de pousadas, e todos ganham com isso. É o que faz o Google. Quando uma pessoa entra nas suas páginas, seus interesses são registrados e, a partir daí, selecionam-se os anúncios que lhe serão oferecidos na barra lateral da tela.
 
Há uma diferença entre o Google e o "Navegador" Oi/Velox. No Google, o sujeito entra se quiser, quando quiser, para usar ferramentas que lhe são oferecidas de graça. Velox e Oi são fornecedoras de um serviço remunerado e vendem o acesso à banda larga a 4,5 milhões de clientes.
 
A Oi trapaceia na maneira como oferece o "Navegador". O sujeito liga a máquina, aciona o Velox e vê uma tela que lhe apresenta a "facilidade" (em relação a quê?). A lisura recomendaria que a empresa mencionasse, de saída, a função rastreadora do "Navegador".
 
Até aí, manipulam a comunicação. No lance seguinte, recorrem a uma pegadinha para capturar clientes. Quando a tela do "Navegador" aparece, o mimo é oferecido com o aviso de que ele "já está ativo". A tela do "Navegador" permite que o consumidor desative a ferramenta, mas não é assim que se faz. Uma pessoa não pode ser obrigada a desativar algo que não solicitou.
 
Pouco custaria à Oi informar, com clareza que o "Navegador" rastreará o freguês, garantido-lhe a privacidade. Em seguida, como fazem as boas casas do ramo, ofereceria duas caixinhas: "Quero" e "Não quero". O freguês escolhe e não há mais o que discutir.
 
A relação entre um consumidor e sua operadora de internet baseia-se em algum tipo de confiança. Se a "facilidade" manipula o idioma e recorre a uma pegadinha, arrisca-se a estimular a suspeita de que, algum dia, não respeitará sua privacidade.
 
Nesse lance a Oi está associada à empresa Phorm que, em 2008, meteu-se num escândalo na Inglaterra quando se descobriu que rastreava os clientes da British Telecom sem que eles tivessem sido avisados. Teve que fechar a barraca.
 
Na empreitada do "Navegador" juntaram-se à Oi e à Phorm alguns dos principais portais de comunicação do país. Lá estão o UOL (empresa do Grupo Folha), o iG, o Terra e "O Estado de S. Paulo". Todos deveriam rastrear melhor a maneira como usam suas marcas.

terça-feira, 30 de março de 2010

A cultura de resistência do quilombo ganha o País


Do Portal Vermelho

“O quilombo é a essência da cultura de resistência de um povo”, diz Marcus Vinícius Ferreira, integrante da comunidade quilombola de Salinas, a cerca de 550 km de Teresina (PI). Ciente da responsabilidade de ser herdeiro de uma história de luta libertária, esse pedacinho do Brasil tem trabalhado com afinco na preservação e divulgação da identidade negra.
 
Há mais de 100 anos, o quilombo de Salinas criou o movimento cultural “Samba de Cumbuca”, para valorizar uma expressão cultural que passou de geração em geração, e garantir que ela não se perca no tempo e na história. “Samba de Cumbuca é a nossa identidade enquanto negros. O grupo é responsável por guardar a cultura quilombola”, diz Marcus Vinícius.
 
Ele conta que a manifestação surgiu a partir de seis negras, que foram arrancadas da África para serem escravizadas no Brasil e terminaram fugindo para o quilombo. No local, tiveram contato com as cabaceiras, árvores cujos frutos eram utilizados como cumbucas no dia-a-dia do quilombo.

“Elas voltavam da lida cantarolando coisas sobre o cotidiano e, um dia, descobriram que a cabaça produz o mesmo som dos tambores. Daí veio essa manifestação que mantemos até hoje”, conta Marcus Vinícius. No “Samba de Cumbuca”, só quem toca a cabaça é a mulher e as cantigas são passadas de pai para filho. Como antigamente.

Na comunidade, vivem hoje 106 pessoas, tendo a mais velha 98 anos. Destas, 40 estão ligadas diretamente ao samba. “Nós consideramos que a comunidade é uma só família”, explica ele. O trabalho do grupo cultural, somado à agricultura familiar, é o que mantém o quilombo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Mundo apaga a luz contra as mudanças climáticas


Da Folha de São Paulo

No mundo inteiro, em protesto contra o aquecimento global, monumentos, prédios e locais famosos tiveram as suas luzes apagadas. Foi a edição de 2010 da "Hora do Planeta", na noite de sábado.
Participaram 3.483 cidades em 125 países, deixando seus marcos no escuro. Entre eles, no exterior, a torre Eiffel, o Coliseu, o Big Ben, o Empire State Building, em Nova York, e as pirâmides do Egito.
No Rio, entre outros pontos, a luz se apagou na orla de Copacabana, no Cristo Redentor e no Pão de Açúcar. Em São Paulo, na Ponte Estaiada e no Pacaembu. Em Brasília, no Congresso Nacional. No total, 72 cidades do país participaram.
É a quarta edição da "Hora do Planeta" e a segunda da qual o Brasil participa. Ela é organizada pela ONG WWF. A ideia é simbolicamente reduzir o consumo de energia no planeta.
O evento começou pequeno, em 2007, apenas em Sydney. "Nós nunca, nem em nossos mais loucos sonhos, imaginávamos que se espalharia dessa forma", diz o inglês Andy Ridley, diretor da iniciativa.
Em 2008, 35 países participaram. Em 2009, 88. O ano de 2010 teve, portanto, uma adesão recorde, com 125 países.
A edição de 2010 ocorre três meses após o fracasso da cúpula do clima de Copenhague. Na época, países como Estados Unidos, China e Índia, que apagaram juntos as luzes no sábado, não chegaram a um acordo consistente, com força de lei, contra as emissões globais de gases-estufa.
A próxima cúpula do clima ocorre no final do ano, no México. Negociadores importantes em Copenhague se mostram pessimistas. O ex-secretário-executivo da ONU para o clima Yvo de Boer disse  em fevereiro que não acredita que um acordo expressivo possa ser finalizado por lá.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Walter Benjamin, Deus e a História

Por Jomar Ricardo (professor de História da UEPB e membro do Neab-í)
Walter Benjamin (1892 – 1940) no texto “Sobre o conceito de História,” em sua primeira tese, discorre a respeito da relação entre teologia e práxis revolucionária. Para o filósofo alemão, a alegoria do jogo de xadrez, travado por um fantoche e um jogador, supõe que no tabuleiro da história o fantoche é guiado por um anão escondido por debaixo da mesa, que faz movê-lo sempre com um determinado lance, levando-o a vitória. “Um fantoche vestido à turca, com um narguilé na boca, sentava-se diante do tabuleiro, colocado numa grande mesa. Um sistema de espelhos criava a ilusão de que a mesa era totalmente visível, em todos os seus pormenores. Na realidade, um anão corcunda se escondia nela, um mestre no xadrez, que dirigia com cordéis a mão do fantoche.” O fantoche representa o materialismo histórico e o anão corcunda a teologia. Aquele pode enfrentar os desafios e vencer desde que tenha o auxílio desta, que estava “reconhecidamente pequena e feia e não ousa mostrar-se”.
Os intérpretes  dessa tese a compreendem como sendo a posição, em que para a ocorrência da ação revolucionária no contexto da história, seria imprecindível o conhecimento religioso, a teologia. Ao saber da trajetória do autor, de sua relação com o marxismo, podemos considerar que nessa afirmação encontra-se em germe o que mais de vinte anos depois viria a se constituir a Teologia da Libertação. Com ela a religião perde seu caráter conformista e assume a tarefa de propor as transformações engendradas pelos oprimidos.

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Guardo na memória desde a adolecência uma frase de Dom Hélder Câmara: - não penses meu caro amigo ateu que estejas esquecido, vais traduzindo em tuas palavras o que digo nas minhas. Talvez o que eu chamo de Deus, digas natureza ou desenvolvimento.

A citação de memória não traz a precisão do extrato do poema - prosa. Mesmo assim leva-me a refletir sobre qual Deus eu acredito. Há tempos, a presença de um deus árbitro que julga os atos humanos, conforme critérios doutrinários de justiça, desvaneceu-se.  E isso a muito custo. Ninguém se desfaz dos valores arraigados desde a infância sem impetrar uma força contra si.

A própria trajetória existencial que palmilhei, permitiu-me, à medida que se desfazia as representações firmadas, o encontro com outras possibilidades de saber Deus.

A história dos Judeus, registrada em relatos bíblicos demonstra que a caminhada dos pobres está inconclusa e que o processo vivenciado pode ser modificado a depender das orientações tomadas no presente. No livro do êxodo, um trecho muito forte, apela para a consciência de libertação. Deus escuta o clamor do sofrimento do povo que estava escravo no Egito: “Eu ouvi o clamor do meu povo”. Assume as dores dos oprimidos e compromete-se com sua causa.

Nessa aventura profundamente humana, uma das descobertas foi a dimensão revolucionária do Evangelho, mais precisamente as atitudes do seu protagonista, uma pessoa chamada Jesus. Impressionou-me a compreensão Dele a respeito das necessidades daquelas pessoas que os arrodeavam, seguiam ou arrostavam-lhe.

Conta-se em uma das passagens das novas escrituras, que certa vez uma multidão O escutava. Era formada por pobres vindos de várias partes longínquas da região. Após escutar os ensinamentos, crianças, mulheres e homens esperavam famintas a dispersão. Mas Ele teve compaixão do povo  que padecia, sendo condolente com a situação dos deserdados que até então tinham sido alimentados apenas da Palavra. Não ficou indiferente, chamou o problema para Ele. Perguntou aos  discípulos o que havia de comer nos alforjes dos que se encontravam ali. Foi-lhe dito: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes”.

O milagre consistiu em dividir o pouco que se tinha de alguns, com todos que tinham fome. A divisão, fruto da boa vontade, fez saciar a fome dos presentes, fazendo sobrar muitos pães e peixes. Hoje, quando a produção de alimentos atinge patamares nunca vistos na história da humanidade, contraditoriamente, aumenta-se o número de pessoas que passam fome. 

Com razão, ainda acretido que possa vingar a justiça na face da terra e que todos homens e mulheres possam construir relações baseadas na paz e na solidariedade, com respeito incondicional pela vida. Uma vertente teológica denomina esse desiderato de Reino de Deus na terra, e tenho grandes amigos que, sem querer e saber, seguem Jesus a seu modo próprio, denonimam-no de Socialismo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

E-lixo e seus perigos

Por Amanda Demetrio e Bruno Romani ( da Folha de São Paulo)

O Brasil tem a maior produção per capita de lixo eletrônico vindo de computadores entre 11 países emergentes e em desenvolvimento selecionados para um estudo conduzido pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). A pesquisa da agência da ONU foi divulgada no final de fevereiro pela organização.

Com o número de 0,5 quilo de e-lixo per capita por ano, o país está em piores condições que o Quênia, Uganda, o Senegal, o Peru, a Índia, a China, a África do Sul, o Marrocos, a Colômbia e o México.

Além do índice, a ONU criticou a legislação brasileira: "Informações sobre e-lixo no Brasil são escassas; em termos de políticas e legislação, a falta de uma lei abrangente de gestão de resíduos pode ser vista como o maior obstáculo para uma regulação específica do lixo eletrônico no Brasil."

Quantidades

Os valores foram calculados pelo Pnuma com base em avaliações sobre lixo eletrônico de cada país, mas alguns dados foram estimados. Foi avaliado o mercado de PCs (incluindo computadores de mesa com seus monitores e notebooks), impressoras, celulares, televisões e refrigeradores.

Dados de 2005 citados pelo estudo da ONU mostram que o país gera 96,8 mil toneladas por ano de lixo oriundo de PCs, 17,2 mil toneladas por ano de restos de impressoras, 2.200 toneladas por ano de descartes de celulares, 137 mil toneladas por ano de lixo vindo de TVs e 115,1 mil toneladas por ano de restos de refrigeradores.

Contaminação

Os resíduos de lixo eletrônico, quando não descartados corretamente, acabam por contaminar solo e lençóis freáticos, já que aparelhos eletrônicos trazem mais de 60 tipos diferentes de substâncias. Entre elas, muitas são tóxicas.

No Brasil, a questão se agrava por não haver regulamentação específica para o assunto. Para minorar o problema, diversas organizações recebem doações de computadores e algumas empresas providenciam o descarte ou reciclagem de produtos usados.

Mas a logística reversa (o fabricante ou comerciante receberem de volta o que venderam) ainda não é prevista em lei -a não ser nos casos das pilhas. Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos -projeto em andamento no Congresso-, a logística reversa deverá se tornar obrigatória.

Nesta edição, saiba como descartar corretamente seus eletrônicos e conheça as doenças que podem ser causadas pelo descaso com o e-lixo.

96,8 mil toneladas por ano é a produção total, no Brasil, de lixo eletrônico proveniente de computadores de mesa e seus monitores e notebooks

terça-feira, 23 de março de 2010

Cineasta Akira Kurosawa faria 100 anos nesta terça-feira


Texto de Paulo Camargo ( da Gazeta do Povo)

Nesta terça-feira (23) é  comemorado o centenário de nascimento do japonês Akira Kurosawa, um dos maiores nomes do cinema mundial de todos tempos. Autor de clássicos como Rashomon, no qual uma mesma história, um crime, é narrada da perspectiva de diversos personagens, colocando em xeque o conceito de verdade, e de Ran, releitura brilhante da peça Rei Lear,de Wil­­liam Shakespeare, transposta para o Japão feudal, Kurosawa era um gênio da mise-en-scène. Mas não desfrutava no Japão do mesmo prestígio que tinha no Ocidente.

Embora o cinema de Kurosawa tivesse quase sempre o Japão como cenário, seu olhar ultrapassava as fronteiras do arquipélago asiático. Mergulhava em dilemas da condição humana – o que o aproximou da obra de Shakespeare, também relida em Trono Manchado de Sangue, sua versão para Macbeth. O cineasta japonês soube beber do cinema clássico ocidental e tinha paixão confessa pelos westerns de John Ford, influência visível em seu épico samurai Kagemusha (1980), Palma de Ouro no Festival de Cannes.
 
Para os nipônicos, entretanto, Kurosawa tinha um sotaque estrangeiro no seu cinema, algo que os incomodava. O grande mestre do País do Sol Nascente, no entender de seus habitantes, era Yasojiro Ozu,. Sua visão da sociedade japonesa do pós-Segunda Guerra, sob o impacto da presença invasiva (em todos os sentidos) norte-americana, e a sensibilidade para retratar a vida privada, os códigos familiares do país, justificam essa reputação. Outra das marcas registradas de Ozu era a câmera inconfundível, que enquadrava a ação muitas vezes ao nível do chão, onde os japoneses se sentam para as refeições,

Comparar Kurosawa e Ozu é uma bobagem, se o intuito é escolher o melhor – ou o maior. Não precisamos optar entre Orson Welles e John Ford, ambos americanos. Ou escolher quem era o mais brilhante, Jean Renoir ou Roberto Bresson, expoentes do cinema francês pré-Nouvelle Vague.

Kurosawa é um tesouro japonês, mas, sobretudo, um mestre da imagem em movimento, um esteta que, antes de rodar, tinha o hábito de desenhar, em cores, todos planos de seu filme em story boards. E sua capacidade de absorver traços da produção ocidental sem perder a identidade – um defeito, para alguns de seus detratores japoneses – foi uma virtude que possibilitou a degustação de sua obra mundo afora.

É difícil apontar um título que resuma a vasta filmografia de Kurosawa, o melhor filme de todos. Além dos já citados, há outras obras-primas, como Dersu Uzala, realizado numa coprodução com a União Soviética, e Os Sete Samurais, espetacular épico que eletriza e hipnotiza até hoje, dando um banho em grande parte do que se faz no gênero e influenciando. Em 1960, o longa teve um ótimo remake americano, o western Sete Homens e Um Destino, de John Sturges, mas também se veem ecos dos samurais de Kurosawa em Quentin Tarantino, um apaixonado pelo cinema japonês.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Chico Buarque e Lula em dois tons

Por Jomar Ricardo (professor de História da UEPB e membro do Neab-í)

Chico Buarque na canção “com açúcar, com afeto”, uma música feita a pedido para Nara Leão, revela as relações amorosas configuradas em duas personagens, um operário e sua mulher, em que as queixas são expressas na voz feminina.

Seria de bom alvitre dizer que um texto, uma música estão abertos às interpretações múltiplas. Os sentidos que lhes são atribuídos obedecem ao conjunto de experiências que o leitor/ouvinte adquire através de vivências em formas de dores, alegrias e sofrimentos. Podemos conhecer as motivações que levaram a construção de um poema, mas elas pertencem apenas ao autor, enquanto o direito do leitor reside no fato de sugerir outros significados, a partir de inesperadas impressões.

O autor da música fala de um lugar social que não é o seu próprio, pois pertence a um grupo de estratificação de classe média, porém expressa os valores de setores subalternos. Em sua sensibilidade consegue estabelecer uma empatia com setores marginalizados a tal ponto de revelar as condições de vida do povo, concebendo os dilemas cotidianos com lirismo. Essa incursão artística possibilita uma percepção do modo de vida daqueles que constitui a maior parcela dos brasileiros, os trabalhadores, no aspecto que viria a ser, a partir da década de 1980, a temática a reunir na historiografia as categorias de classe social e gênero.

 Os trabalhadores possuem condutas que foram forjadas ao longo do processo histórico, trazendo não só as vicissitudes do período em que passaram a se constituir mão de obra-livre, mas também costumes incrustados no inconsciente que remontam à época da escravidão, a exemplo do patriarcalismo, entendido como a organização familiar em que a vontade do homem sobressai à da mulher. Desse modo, a letra da música aponta para relações assimétricas entre o chefe da família e a dona de casa. Sair de casa “em busca de um salário” para sustentar a família pode ser uma justificativa baseada na necessidade, porque ele apresenta-se como o único provedor da família enquanto ela se responsabiliza das tarefas domésticas.

Podemos afirmar que Chico Buarque ao tematizar essas categorias, o faz sob a perspectiva do que poderíamos chamar do conceito sociológico de “compreensão”. Esta permite a emissão de um ponto de vista, ao colocar-se no lugar do outro, o operário, referenciado em sua realidade e representado na aventura protagonizada pelas personagens, a partir de situações comuns compartilhadas pelos homens e mulheres assalariados, emergidas na criação do poeta, transmitidas pela canção e interpretadas pelos ouvintes. A inter-relação proporcionada na veiculação de mensagens intenciona uma comoção através dos apelos a faculdade de gosto de quem as recebe, provocando sensibilização e conhecimento.

A canção assim cumpre o papel de socializar, por meio da estética de um segmento social, para um público mais amplo, que, em virtude disso, permiti-se a apreensão do estilo de vida, no modo de sentir e fazer um rendilhado de emoções, conjugadas pelas diferenças. Desse modo, a música em referência não concebe o real do casamento proletário, mas retrata apenas a recriação pelo compositor do viver a dois e em família a respeito dessa relação.

Por outro lado, a música de Chico remonta a um período crítico da sociedade brasileira. Mais especificamente a repressão impetrada pela ditadura militar. Nesse contexto, como todo período de exceção, exacerbaram-se os preconceitos de classe e aumentou-se a intolerância em relação às pessoas de baixa renda, identificadas pelo local de moradia, pertencimento étnico, modo de vestir-se.

Um relato trazido no livro Eder Sader, “Quando novos personagens entraram em cena”, exemplifica a realidade enfrentada pelo trabalhador naquele período. Você diz que é operário / Sai em busca do salário / Pra poder me sustentar, qual o quê. Quando tinha emprego, o operário não tinha direito de reivindicar melhores condições de salário, pois havia a ameaça: “Quando a gente fez greve lá da hora extra, a primeira coisa que o gerente falou foi isso: ‘vou mandar o DOPS vir até aqui’”, dizia um trabalhador industrial.

No momento em que ele estava desempregado enfrentava outro problema: “Nos dias de hoje está desempregado significa correr perigo, pois se somos presos a polícia nos registra como marginais, vagabundos. A carteira registrada é sinal de boa conduta para a polícia”. A repressão atuava na esfera da produção, onde o trabalhador esfalfa-se para conseguir seus meios de sobrevivência, inibindo as ações que os levassem a qualquer tipo de emancipação através da organização sindical. Na fábrica estava constantemente a vigilância do encarregado.

Enquanto isso, na esfera da reprodução, o controle estava no âmbito da família. Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto / Pra você parar em casa, qual o quê. P. Torres, integrante da Ação Popular, afirma que ao pleitear um emprego, o candidato preenchia um formulário com informações sobre suas aptidões profissionais e familiares.

O barzinho, espaço de liberdade, onde se encontravam amigos, teciam-se confidências e contavam-se aventuras eivadas de fantasias, era um ponto de confluência dos que saem do trabalho massacrados pela alienação.  É também lugar procurado pelos desempregados, humilhados por não conseguirem prover os filhos e a mulher das necessidades básicas, “e alguns preferem ficar gastando os últimos cruzeiros em bares do que voltar para casa e sofrer a pressão da família”. Há um bar em cada esquina / pra você comemorar, sei lá o quê / Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto / Discutindo futebol.

E por falar em futebol, no final da década de 1970, os trabalhadores foram capazes de encher um estádio de futebol, em razão de uma greve por aumento salarial. Luís Inácio da Silva, presidente do sindicato dos metalúrgicos que recebera intervenção, assim se referia à organização dos operários: “conseguimos dar uma demonstração de que não somente futebol consegue trazer gente para um estádio, que não é só futebol que dá público”.

Imbrincam-se nesta textura a ficção e a realidade, a arte e a política, o cantor popular e o trabalhador. Ambos, em condições diferentes, atribuindo sentidos à vida. Chico Buarte recriando a realidade em forma de poesia, o operário organizando-se  para recriar a vida. Cada qual à sua maneira, negando o que a construção da sociedade lhes impusera.   Com muito trabalho e um pouco de cachaça,  porque se não for  assim ninguém aguenta esse rojão.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mais um serviço provedor de Internet chega a Paraíba, gerando empregos


Mais um serviço provedor de Internet chegará , em breve, a Paraíba. É que a população de João Pessoa e Campina Grande poderá contratar a GVT, depois que a empresa fizer o lançamento comercial dos serviços, previsto para o mês de abril. Os consumidores de Campina Grande - que é atendida pela rede de longa distância - poderão contar com toda a linha de produtos da empresa, tanto residencial como comercial, e com a banda larga Power, com opções de velocidades de 3 Mbps, 10 Mbps, 15 Mbps, 35 Mbps, 50 Mbps e 100 Mbps a R$ 49,90, R$ 69,90, R$ 99,90, 199,90, R$ 299,90 e R$ 499,90, respectivamente.

João Pessoa terá, inicialmente, as velocidades Power de 3 Mbps, 10 Mbps e 15 Mbps a R$ 49,90, R$ 69,90 e R$ 99,90, respectivamente.

Os preços valem para a compra de banda larga juntamente com planos de telefonia. Nas opções com velocidades iguais ou superiores a 10 Mbps, o modem é grátis. Os preços praticados pela GVT na Paraíba são os mesmos das demais cidades onde a empresa atua em todo o país.

No segundo semestre deste ano, as outras velocidades serão lançadas na capital paraibana. No primeiro momento, essa restrição acontece porque o backbone, rede de longa distância de fibra óptica da empresa, não passa pela capital paraibana, o que impede o oferecerimento do portfólio completo de serviços. A GVT está trabalhando na ampliação dessa rede para que chegue a João Pessoa.

As obras de implantação estão em ritmo intenso para atingir a área de cobertura de 32% em João Pessoa e 20% em Campina Grande. Os investimentos realizados nas duas cidades são de R$ 32,6 milhões e a geração de empregos diretos e indiretos chega a 320 postos de trabalho.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Trajetória de Margarida Maria Alves será exibida neste sábado (20), em Bayeux

Obstinada e guerreira, são as qualidades  mais atribuídas a figura da ex-líder e mártir sindical paraibana, Margarida Maria Alves, que foi assassinada, brutalmente, na defesa da partilha justa por terra. Com o intuito de retratar  a  trajetória da  ativista social,  nascida em Alagoa Grande, o Cineclube Atitude Cultural: O Cinema Comunitário de Bayeux, abre a programação deste sábado (20), às 19h30, com o documentário “Uma Flor na Várzea” (PB, 20min), de Mislene Santos e Matheus Andrade. As exibições do cineclube ocorrem todos os sábados, no Salão de Eventos da Associação Comunitária do Alto da Boa Vista e a entrada custa 1 Kg de alimento não perecível ou R$ 2 (contribuição de manutenção).

O vídeo sugere novos pontos de vista sobre o 'Caso Margarida', como ficou conhecido o seu assassinato em agosto de 1983, quando ela exercia o cargo de liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. A partir dos depoimentos, obtidos com moradores da cidade em que ela faleceu e com historiadores paraibanos, o documentário estabelece um panorama questionador sobre a sua ação sindical e sua complexa liderança política, tida, por vezes, como contraditória.

Filme “Amanda e Monick”, de autoria de ex-aluno da UEPB, também será exibido
 
Em seguida, volta as telas do cine Atitude Cultural “A Canga” (2001, 12 min, PB), ficção paraibana dirigida por Marcus Vilar e, para finalizar a sessão de sábado, “Amanda e Monick” (Doc, 2007, 18min, PB) do ex-aluno da UEPB, o cineasta e jornalista André da Costa Pinto. 

O cineclube Atitude Cultural foi implantado na Associação Comunitária do Alto da Boa Vista, através da contemplação do Edital Cine Mais Cultura, publicado pela Secretaria do Áudio Visual, órgão vinculado ao  Governo Federal. A Associação fica localizada na Rua Justiniano Monteiro, no Bairro Alto da Boa Vista, em Bayeux, próxima à Igreja Batista daquela comunidade. Mais informações pelo fone (83)8899-1913 ou www.portalbayeux.com.


Da assessoria do Cineclube com ASCOM/UEPB

terça-feira, 16 de março de 2010

Jessier Quirino abrirá I Festa Literária de Boqueirão nesta quinta-feira (18)


O poeta paraibano Jessier Quirino abrirá, nesta quinta-feira (18), a I Festa Literária de Boqueirão. O artista se apresentará no Hitz Shows e Eventos, a partir das 19h, e a entrada será um quilo de alimento não perecível.

A Festa se estenderá até o domingo (21) e contará ainda com a presença do poeta campinense Bráulio Tavares e do escritor pernambucano André de Sena, entre outros. Um dos objetivos do evento é promover, através da leitura, o resgate da cidadania e possibilitar a formação de uma comunidade mais consciente e sensível.

Abordando o tema "A Importância da Leitura para a Sociedade", a programação constará de oficinas, palestras, lançamentos de ivros, debates, programação cultural, estandes e Concurso Literário.

Mais informações podem ser obtidas no site http://flibo2010.blogspot.com/


Da ASCOM/UEPB

segunda-feira, 15 de março de 2010

Apoio a intercâmbio científico na Holanda recebe inscrições


Equipes de pesquisa interessadas em realizar intercâmbio científico entre instituições de ensino superior brasileiras e holandesas têm até o dia o dia 30 de abril para inscrever projetos no edital Capes/Nuffic.

Parceria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com a Netherlands Organisation for International Cooperation in Higher Education (Nuffic), o edital seleciona projetos conjuntos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento, com foco nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Humanas, Biológicas, médicas (Ciências da Saúde), agrícolas, além de Engenharias e Artes. Confira o edital.

Para participar, as propostas devem estar vinculadas a programa de pós-graduação avaliado pela Capes, preferencialmente com conceito 5 a 7. Outro requisito é que o projeto contemple a formação de pós-graduandos e o aperfeiçoamento de docentes e pesquisadores vinculados aos referidos programas. Também é importante apresentar um caráter inovador, que leve em conta o desenvolvimento da área no contexto nacional e internacional, de maneira que as vantagens de uma parceria internacional fiquem explícitas.

Cada proposta deve planejar as atividades considerando que a duração máxima de financiamento dos projetos será de quatro anos, sendo a concessão inicial de financiamento de um ano. As prorrogações são condicionadas à aprovação dos relatórios de atividade, prestação de contas e justificativas.

Apoio
 
As equipes terão direito a duas missões de trabalho por ano por projeto. Elas consistem no financiamento de viagens para docentes doutores da equipe, com duração máxima de 60 dias. Além da passagem aérea de ida e volta.
 
Os grupos também podem realizar duas missões de estudo por ano por projeto. Trata-se de concessão de bolsas de estudo no exterior aos estudantes participantes dos projetos, nas modalidades doutorado sanduíche e pós-doutorado. Missões de estudo também contam com seguro saúde, auxílio instalação e passagem aérea de ida e volta.

(Publicada pela Assessoria de Imprensa da Capes)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sugestão de Entretenimento, na Rainha da Borborema, hoje!


Lançamento do livro Antologia Poética de Zé Laurentino

Local: Restaurante Mororó, próximo ao CPTRAN, localizado no bairro da Palmeira,em Campina Grande

Data: Hoje (11)
 

Hora: 20h
 

Convidados Presentes: Amazan, Chico Pedrosa, Ivanildo Vila Nova, Severino Feitosa, Arnaldo Cipriano, Ronaldo Cipriano, Iponax Vila Nova, Zé Laurentino e muitos amigos e admiradores da poesia.

Quanto custa: Entrada Franca

quarta-feira, 10 de março de 2010

Salvem nosso patrimônio!


O patrimônio histórico e arqueológico brasileiro constitui uma história de gerações do passado. Compete a nós, gerações do presente, segundo a Constituição Brasileira, valorizar e proteger essa história que é avaliada como “recurso cultural finito e irrenovável”. Infelizmente, não é este instinto de proteção que vem ocorrendo na cidade de Campina Grande, a ‘Rainha da Borborema’, no interior da Paraíba.

O patrimônio histórico de Campina não é o mesmo há bastante tempo. É comum em Universidades da cidade, diversas discussões sobre o prejuízo inestimável que, ano após ano, vêm engolindo o passado, a história e a memória campinense.

Prédios demolidos, monumentos destruídos e diversos momentos da história da cidade que estão sendo perdidos para sempre. Não é de hoje que professores e intelectuais denunciam a lástima que vem consumindo o patrimônio de nossa cidade, sem que haja uma ação preventiva ou punitiva para os responsáveis.

Recentemente, perdemos alguns prédios em estilo Neoclássico e Inglês no centro, principalmente na Rua Irineu Jóffily (a antiga Rua da Estação); perdemos o prédio da antiga SAMIC (próximo ao Açude Velho, por muito tempo residência da família Rique) que foi totalmente demolido, existindo em seu lugar apenas um amontoado de escombros; a vila operária da empresa têxtil, em Bodocongó, que também foi demolida, sem falar em outras várias edificações e monumentos que desapareceram em épocas de veraneio, quando a cidade está com parte de sua população em deleite no litoral.

Temos acompanhado o definhamento dos antigos armazéns da Estação Velha, sem teto, sem janelas e até as dobradiças vem sendo roubadas - um lugar centenário que abrigou, outrora, a riqueza da cidade na época do ‘ouro branco’ (o algodão) e que hoje refugia consumidores de entorpecentes. O Cine São José, cinema popular de Campina, que evoca a memória de um interessante período da cidade, também está irreconhecível. O Cine Capitólio, outro famoso cinema da cidade, teve seu piso de interessantes lajotas perdido e só Deus sabe onde se encontra.

Esta semana tem ocorrido outro desastre, uma empresa está cavando o nosso Centro Histórico para a introdução de dutos para telefonia, estão sendo abertas valetas com quase 1mt de profundidade e poços ou bueiros com mais de 2 metros.

Foi feito nestes últimos dois dias, uma extensa valeta que cruza a Avenida Floriano Peixoto (na altura da Venâncio Neiva), seguindo em paralelo à calçada da Recebedoria de Rendas do Estado até defronte ao Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande. Dois poços estão em processo de finalização, um defronte a Biblioteca Municipal, antiga Casa Félix Araújo (Câmara Municipal) e outro bem próximo da Arca Catedral. Tudo isso já está marcado, como uma cicatriz, no rosto de nossa cidade, exatamente onde possuímos um significativo conjunto em estilo art-déco, denominado pela pesquisadora Lia Mônica de ‘art-decó sertanejo’, além do mais, esta área é a mais antiga da cidade, nas cercanias da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.

O solo sagrado do epicentro de nossa cidade está sendo remexido, cavado, profanado sem nenhum acompanhamento arqueológico. Neste sedimento, sem dúvidas, há uma infinidade de vestígios de nossos pretéritos habitantes, antigas fundações e estruturas, louças, faianças, objetos de metal e outros vestígios que podem ‘falar’, nos dando informações preciosíssimas sobre a história da cidade. São páginas de um passado que estão sendo rasgadas sem mesmo terem sido lidas.

A legislação vigente impõe um acompanhamento em obras como esta onde é empreendido um salvamento arqueológico, da mesma forma que está ocorrendo na Praça Rio Branco, no Centro Histórico de João Pessoa, onde desde o último dia 25 de janeiro está havendo um levantamento arqueológico no lugar, que foi o centro político e econômico da Província durante mais de 300 anos. Ali, já foram encontradas faianças finas, porcelanas e terracota utilitárias, provavelmente dos séculos XVII e XVIII. Os trabalhos estão sob responsabilidade do arqueólogo Iago Albuquerque e vem trazendo uma série de informações acerca do passado da capital.

Portanto, por que em Campina Grande não está acontecendo o mesmo? Por que não se tem o mesmo cuidado? Até quando nosso patrimônio será perdido? SALVEM NOSSO PATRIMÔNIO!


Thomas Bruno (Professor de História, graduado pela UEPB)

terça-feira, 9 de março de 2010

Aluna concluinte do Curso de Arquivologia é aprovada em primeiro lugar no concurso público do Ministério da Saúde

A aluna concluinte do curso de Arquivologia da UEPB, Aryelli Stephany, vinculada ao Grupo de Estudos em Arquivística e Sociedade (GEAS), foi aprovada em primeiro lugar no concurso público do Ministério da Saúde. A aluna irá ocupar a única vaga oferecida no Estado da Paraíba.

Para os docentes, que fazem parte da formação destes alunos, torna-se muito significativa esta aprovação, vez que é o resultado do empenho do aluno e das bases de excelência acadêmica que vem sendo perseguidas, por aqueles que integram a Universidade Estadual da Paraíba.

Sobre o GEAS

A iniciação na pesquisa cientifica é a possibilidade de colocar o educando desde cedo em contato direto com a atividade científica e engajá-lo no desenvolvimento e produção de conhecimento. Permite a formação de novos pesquisadores, privilegiando a participação ativa de estudantes em projetos de pesquisa e extensão.

Nesta perspectiva, o Grupo de Estudos em Arquivística e Sociedade (GEAS) objetiva, através de reflexão e produção, estimular os estudantes do curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba a inserir-se no universo de produção científica. Formado há dois anos, O Grupo conta, atualmente, com dez pesquisadores.

O Grupo promove a interação dos participantes no universo da pesquisa, trabalhando os diversos métodos, incentivando o olhar para temáticas pouco discutidas, trocando experiências educativas. Esse tipo iniciativa quer servir, antes de tudo, como base para o desenvolvimento do potencial crítico, interpretativo, dialógico e humano dos estudantes, possibilitando o desenvolvimento de mecanismos para construção do conhecimento, o qual é objetivo precípuo da Universidade, vez que o desafio da mesma, hoje, é formar sujeitos capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los em prol da sociedade. 

segunda-feira, 8 de março de 2010

Muitas barreiras a romper


Quinze anos se passaram desde que mulheres de todo o mundo se reuniram na China para a Conferência Mundial da Mulher, na qual foi firmada a Declaração de Pequim. Notamos grande progresso no caminho à igualdade de gênero. Os avanços exigiram trabalho e engajamento tremendos, e agradecimentos são devidos a todos os que contribuíram com seus esforços.

Contudo, ainda há muitíssimas mulheres em todo o mundo que não se beneficiaram desse progresso na esfera política, econômica ou social.

Como ex-chefe de governo, sei que existem mulheres ocupando os mais altos cargos na política mundial, mas sei também como essa conquista é difícil. As nove mulheres que hoje são chefes de Estado ou de governo merecem ser elogiadas por sua ascensão até o topo, e o mesmo se aplica às mulheres que são parlamentares.

No entanto, com as mulheres hoje representando apenas 18% dos legisladores em todo o mundo, estamos muito distantes da meta de 30% fixada 15 anos atrás. No ritmo atual, serão precisos outros 40 anos para chegarmos à paridade de gêneros nos Legislativos nacionais em todo o mundo.

Assim, aplaudo iniciativas que são hoje tomadas em alguns países para elevar o número de mulheres nos Parlamentos e exorto outros países a estudar a adoção de tais medidas.

Um número crescente de mulheres vem ingressando na força de trabalho, mas quase dois terços delas no mundo em desenvolvimento trabalham em condições vulneráveis, ou como autônomas ou trabalhando para famílias, sem pagamento. No sul da Ásia e na África subsaariana, esse tipo de trabalho representa mais de 80% do trabalho exercido por mulheres.

A crise econômica vem impelindo mais mulheres para esse tipo de trabalho, que tem pouca proteção social. É preciso que a ótica do gênero seja aplicada às medidas para promover a recuperação econômica, para que as mulheres possam ser beneficiadas.

Os progressos na educação têm sido desiguais. Em alguns países, mulheres vêm avançando em todos os níveis de educação, chegando a compor a maioria dos estudantes em programas de ensino superior. Em outros países, porém, o ensino primário e secundário para meninas é de qualidade inferior ou inexiste, impedindo novas gerações de mulheres -e, de fato, países inteiros- de realizar seu potencial pleno. Isso precisa mudar.

A saúde das mulheres, em especial a saúde reprodutiva, ainda é uma questão séria que, com frequência, é deixada de lado. Mais de meio milhão de mulheres por ano -uma por minuto- morrem de complicações relacionadas à gestação e ao parto.

Após 25 anos da chegada da epidemia de HIV/Aids, a desigualdade de gêneros e as relações de poder desiguais deixam as mulheres em risco.

Cerca de metade das pessoas que vivem com HIV/AIDS é mulher, mas na África subsaariana a cifra é de 60%.

Em certas áreas, a probabilidade de uma menina ser infectada é de duas a 4,5 vezes maior que a de um menino.

Em 2008, a resolução 1.820 do Conselho de Segurança da ONU tornou-se a primeira a reconhecer a violência sexual relacionada a conflitos como um problema de paz e segurança internacional. É preciso que esse passo importante seja seguido por ações concretas para assegurar que os responsáveis pela violência sexual e baseada no gênero sejam levados à Justiça. A nomeação recente de Margot Wallstrom como primeira sub-secretária-geral da ONU contra Violência Sexual em Conflitos vai assegurar que essas questões continuem a ser uma prioridade importante para a ONU.

As mulheres de baixa renda possuem acesso limitado a recursos e informações e têm direitos restritos e mobilidade limitada, fatos que as tornam especialmente vulneráveis às consequências das mudanças climáticas. Pelo bem delas -e do planeta-, precisamos avançar em direção a um novo pacto climático neste ano.

Para conquistar a igualdade real para as mulheres, precisamos continuar a trabalhar em prol do empoderamento político, econômico e social das mulheres. A nova entidade de gênero proposta para ser criada pela ONU vai garantir uma voz poderosa para mulheres e meninas nessas áreas, e antevejo com otimismo que fará uma diferença real para as mulheres do mundo nos anos futuros.

Sinto-me verdadeiramente inspirada pelos muitos exemplos de progressos substanciais feitos pelas mulheres a cada dia. Neste Dia Internacional da Mulher, meu sonho é ver esses progressos ampliados para que as mulheres de todo o mundo sintam em suas próprias vidas os benefícios de uma maior segurança econômica, social e pessoal.

Por Helen Clark - administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e presidente do Grupo de Desenvolvimento da ONU. Foi primeira-ministra da Nova Zelândia (Tradução de Clara Allain)

quinta-feira, 4 de março de 2010

22º Congresso Nacional de Pós-Graduandos


De 15 a 18 de abril, pós-graduandos do país se reunirão no 22º Congresso Nacional de Pós-Graduandos, realizado pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), que acontecerá na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com o tema Avançar na Pós-Graduação para Transformar o Brasil o congresso terá debates, atividades culturais, passeios, grupos de discussão e mostra científica, além da eleição da diretoria da ANPG e as propostas para encaminhamento da gestão. 

Eleição
São possíveis delegados (as) todos os pós-graduandos regularmente matriculados em cursos de pós-graduação no Brasil (stricto e lato sensu). Os candidatos serão eleitos a partir de reunião da associação de pós-graduandos de cada instituição de ensino (ou comissão pró-APG, ou seja, comissão de dez estudantes comprometidos em fundar a APG) e respeitará a seguinte proporção:

* no caso dos estudantes de cursos stricto sensu, três delegados para os primeiros 200 pós-graduandos, sendo acrescido um delegado para cada porção posterior de 200 pós-graduandos ou fração;

* no caso dos estudantes de cursos lato sensu, três delegados para os primeiros mil pós-graduandos, sendo acrescido um delegado para cada porção posterior de 2 mil pós-graduandos ou fração.

Além disso, para cada delegado pode ser eleito um suplente, que retira sua credencial de delegado apenas em caso de ausência deste.

Mais informações no portal http://www.anpg.org.br/.

(Assessoria de Imprensa da Capes)

terça-feira, 2 de março de 2010

Entidades de movimentos negros e Ong's farão vigília em favor das cotas raciais nesta quarta-feira (03)

Entidades de movimentos negros e organizações não governamentais farão vigília em favor das cotas raciais nesta quarta-feira (03), das 8h às 12h, no auditório da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (SEDH), em João Pessoa. Na Paraíba, até agora a apenas a UEPB e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) adotaram políticas de cotas.

A vigília é uma ação nacional que acontecerá em todos os Estados contra o processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental movido pelo Partido Democrata (DEM) contra a cota racial na Universidade de Brasília (UnB).

O processo será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que realiza a partir desta quarta-feira (03) até sexta-feira (06), audiências públicas para ouvir especialistas e lideranças que subsidiarão o relator, Ministro Lewandowski.

O DEM alega no processo que as cotas ferem o princípio da igualdade, garantido na Constituição Federal, mas as entidades negras e indígenas alegam que as cotas são uma garantia da aplicabilidade da Constituição.

“Se o STF for favorável a ação promovida pelo DEM, as lutas pelas ações afirmativas serão prejudicadas em todo o País, não só em relação à população negra, mas também em relação aos indígenas e pessoas com deficiência”, disse Luzinete Victor de Barros, representante do Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial (Fipir-NE).

Para ela, as cotas raciais são fundamentadas em números de exclusão. “Existe uma minoria de negros nas universidades. A população negra tem dificuldade para concluir os estudos porque precisam trabalhar e as mulheres negras têm menos acesso às universidades”, disse.



Da Assessoria de Imprensa da SEDH

segunda-feira, 1 de março de 2010

Departamento comenta acolhida aos alunos do curso de Filosofia

De acordo com o Departamento de Filosofia e Ciências Sociais (DFCS) da Universidade Estadual da Paraíba, a acolhida aos alunos do Curso de Filosofia, realizada nos dias 23 e 24 de fevereiro, nos turnos manhã e noite, foi muito positiva.

A Conferência da Aula Inaugural foi proferida pelo professor Dr. Washington Luis Martins, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sobre os temas O Ensino da Filosofia na Universidade e O Ensino e o Profissional de Filosofia, com a participação de alunos veteranos e totalidade dos alunos que iniciaram o Curso de Filosofia.

A acolhida teve programação com mesas-redondas, apresentação e discussão do tema: UEPB – Instâncias, Resoluções: dos Direitos e Deveres dos Discentes, com a participação da pró-reitora de Ensino de Graduação, Eliana Maia; o ouvidor da UEPB, Jomar Ricardo da Silva, e representantes do Departamento de Filosofia e do Centro de Educação da Instituição.

Segundo a chefia de Departamento, os alunos receberam com entusiasmo a acolhida e ficaram satisfeitos, pois os informes foram considerados relevantes à vida acadêmica, bem como a Conferência, que tratou sobre a prática profissional do curso de Filosofia.

Juliana Rosas (Da Ascom UEPB)