sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mulheres ou pedaços de carne?

Da Revista Cult

Sherazade, personagem da obra As mil e uma noites é o objeto das críticas da escritora libanesa Joumana Haddad, que, na verdade, se dirigem a uma questão maior, a posição da mulher na atualidade. “Não é apenas no mundo árabe, eu não aceito que haja mulheres que precisem negociar um direito que já lhes pertença. Também acho que as que aceitam ser tratadas como um pedaço de carne são comparáveis às que vestem burcas”, afirmou durante o painel “Quem é a nova mulher árabe”, na Fliporto.

Em conversa com o jornalista Silio Boccanera, Haddad comentou o título de seu livro, Eu matei Sherazade – confissões de uma árabe enfurecida, relembrando a história da personagem. “Ela era uma mulher inteligente, que se salvou da morte utilizando sua cultura e imaginação, mas o problema é que ela estava negociando o direito de permanecer viva. Eu a matei porque não temos que dizer: ‘dê esse mundo para nós’, esse mundo é nosso.” A escritora ainda comentou a tendência a se eximir da culpa pelo problema, “a responsabilidade de fazer as coisas mudarem não é dos homens, é das mulheres. Quando você dá encargos a alguém, também dá poder”.

Muito aplaudida pela plateia, Haddad leu partes de seu livro e explicou suas críticas. “Eu falo basicamente sobre a autoridade patriarcal, que não é fortalecida apenas por homens, mas por algumas mulheres”. A escritora comentou que se define uma pós feminista, por não concordar com algumas posturas do movimento precursor. “Um erro foi transformar os homens em demônios. Existem misóginos, como existem os que podem ser feministas. Outro erro foi dizer não à feminilidade, como se isso fosse sinônimo de fraqueza.”

Haddad nasceu e ainda vive no Líbano: “dizem que o país é bem moderno se comparado ao outros árabes. Essa é uma visão perigosa, porque tudo acontece apenas superficialmente, as leis não são tão modernas assim”. Sobre a publicação de seu livro no país, disse que há um mês foi lançado na capital, Beirute. “Meu editor diz que está vendendo bem, mas ninguém comenta, os jornais não dizem nada, a não ser que estou me ocidentalizando. Eu digo que não, apenas sou favorável aos direitos da Declaração, que os países árabes também assinaram”.

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