sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Até FHC...

Violência - PM apontando revolver calibre 12 para estudantes que ocupavam prédio da USP


Por Juliana Rosas, da Ascom/UEPB

Mídia e informação são poderosas. Haja vista que tanto em países com sistema capitalista, quanto comunista, restringem ou tentam restringir ao máximo o acesso a estas. Democracia pode ser o melhor caminho, mas é difícil e tem um alto custo. Neste momento, refiro-me mais especificamente aos comentários que infelizmente assisti no Jornal da Cultura, na primeira quinzena deste mês, sobre a represália policial na reitoria da Universidade de São Paulo (USP). Uma coisa que eu não aguento na parte medíocre do jornalismo brasileiro é uma tevê pública de suposta qualidade como a TV Cultura ter uma apresentadora rasa e ultraconservadora como Maria Cristina Poli. Começo logo dizendo que ela merece um alto e sonoro CALA A BOCA, POLI!!

Aproveito para mandar um cala a boca também para a igualmente ultraconservadora professora de Direito, Maristela Basso, uma das convidadas do jornal, que, entre muitas besteiras disse, na ocasião, “que lugar de maconheiro não era dentro do campus”. Parabéns, advogada. Você se uniu à classe de juristas de extrema direita estereotipando tudo e todos. Se fosse numa universidade holandesa, será que ela estaria utilizando esses termos? Se daqui a cinco anos o governo descriminalizar a maconha, as pessoas continuarão utilizando esses termos? Isso justifica a agressiva atitude e ação policiais?

Para quem não estiver entendendo, tal discussão se deu alguns dias após a invasão da reitoria por policiais militares, depois de alguns alunos se negarem a deixar a reitoria da USP. E o presente artigo, embora previamente pensado, finalmente veio à vida quando até o “neoliberal” ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ter declarado que “chamar estudante da USP de maconheiro é absurdo”.

Entenda o caso

O portal Última Instância explicou o caso, sem os preconceitos descabidos que vimos anteriormente. 


Em algumas palavras, explicam que apesar de a discussão sobre o convênio entre a PM e a reitoria ser mais antiga, a tensão aumentou em 27 de outubro, quando três estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foram abordados no estacionamento da instituição sob a alegação de porte e consumo de cigarros de maconha. A ação desencadeou tensão entre estudantes e policiais e foi seguida de uma ocupação da administração da faculdade.

No dia 1º de novembro, reivindicando o fim do convênio entre a PM e a USP, bem como a renúncia do reitor João Grandino Rodas (Nomeado para o cargo pelo então governador José Serra, sem que fosse o mais votado nas eleições), um grupo composto por 73 estudantes ocupou o edifício da reitoria, contrariando deliberação de Assembleia-Geral e o posicionamento oficial do Diretório Central dos Estudantes, o DCE.

A reintegração de posse ocorreu sete dias depois, mediante operação policial que contou com batalhões da Tropa de Choque, da Cavalaria, do GOE (Grupo de Operações Especiais) e do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). Também dois helicópteros da PM permaneceram sobrevoando a cidade universitária por toda aquela manhã. No mesmo dia uma nova Assembleia ocorreu na FFLCH e deliberou a greve dos estudantes, que permanece até hoje em algumas faculdades. 

Voltando ao Jornal

Enquanto o outro convidado, professor Vladimir Safatle tentava dirimir os estereótipos que estavam sendo reverberados na mídia, de que ali eram todos estudantes ricos, por exemplo, pois em seu curso a maioria era advinda de escolas públicas e de lugares justamente avessos à ação de policiais, a advogada só e apenas continuava a reiterar seu conservador discurso.

O professor Safatle, sabiamente e sobriamente, ainda tentava explicar que para a classe alta, a polícia chega para resolver o problema. Nas classes mais baixas, ao contrário, ele leva problemas e o pior, são treinadas para lidar com estereótipos, coisa que é bastante relativa dentro de um campus universitário.

Por isso essa classe e os estudantes tidos como estereótipos são avessos à presença desses policiais. Policial trata a classe baixa como lixo, como o problema causador. E é treinada para lidar com estereótipos. Quem é parado em revistas? Quem é parado em blitze de trânsito? O policial é treinado para achar que aquele cabeludo de bermuda é maconheiro. No ambiente universitário, aquele cabeludo pode ser um professor, um ótimo estudante, um pacifista, um pesquisador. Não necessariamente sinônimo de maconheiro.

“Muitos estudantes que estão ali não pertencem a um grupinho desocupado de classe média. No campus da USP, os estudantes estão ali para estudar e a polícia está fazendo o papel, que, dentro do campus, não é dela, abordando estudantes até dentro de bibliotecas, baseados nos seus estereótipos e amostragem. E, claro, um estudante bem informado não vai gostar nada disso”, comentou Vladimir Safatle.

Depois de uma opinião esclarecida, a professora Maristela vem reiterar a pérola “Lugar de maconheiro não é dentro do campus”. Eu acrescentaria que lugar de dondoca não é na Universidade, nem falando besteira em horário nobre ou tevê pública. E para a apresentadora, eu diria que lugar de jornalista incompetente, limitado e sem visão crítica é na rua. 

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