quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Boa oportunidade para docentes universitários que trabalham o tema Sustentabilidade


O Banco Santander, através da divisão Santander Universidades, lançou ontem (29), um programa cujo objetivo é reconhecer o trabalho de professores universitários que trabalharem com a temática de sustentabilidade nas disciplinas obrigatórias do primeiro semestre de 2012. A ação irá premiar as melhores propostas pedagógicas de professores universitários que envolvam a temática sustentabilidade e as inscrições começam em janeiro de 2012. Esta será uma boa oportunidade para que os docentes da UEPB que trabalham o tema sustentabilidade inscrevam seus projetos.

Ao final do semestre, serão premiadas e disseminadas as melhores práticas em educação que estimulem os alunos a fazerem uma ponte entre o tema central da disciplina e questões sociais, ambientais ou econômicas. 

Os docentes interessados em participar da premiação deverão inscrever e apresentar sua proposta pedagógica a partir do dia 26 de janeiro. A busca por soluções inovadoras no trabalho, o papel das empresas no mundo sustentável e a sensibilização dos alunos quanto ao seu futuro papel na sociedade serão aspectos considerados na hora de encontrar o vencedor.

Por meio do programa, o Santander visa estimular, reconhecer e promover a multiplicação de práticas educativas que tenham como meta a formação de profissionais mais preparados para a gestão e geração de negócios sustentáveis no Brasil. Além disso, reconhece o papel das instituições de ensino superior na sociedade.

Mais informações sobre o programa de reconhecimento podem ser obtidas aqui.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mário Lago em família: “a porta de casa estava sempre aberta”

Por Christiane Marcondes, do Portal Vermelho

Antônio Henrique Lago, jornalista de longa e inspirada carreira, fala aqui do pai, Mário Lago, recordando cenas entre quatro paredes. Diz quais são seus trabalhos favoritos e compartilha ensinamentos de toda uma vida. Os fãs do artista plural vão adorar saber que, além de grande na vida pública, ele foi o pai que todo mundo gostaria de ter!

No último dia 26, Mário Lago completaria 100 anos. Morreu em 2002 sem contas a acertar com a vida. Foi tudo o que quis, dispensando já aos 13 anos a casaca de diplomata da qual a mãe fazia questão. Justificou para o filho: “Você é alto, magro, vai cair muito bem”. 

Lago tinha outros planos e, apesar da pressão contra, ninguém na casa tinha moral para reclamar. O pai e avós, além de tios, eram todos músicos, como Mário que, já aos 15, fez uma marchinha para a namorada, com declaração de amor ditada pela militância política, outra vocação. Dizia: “nosso amor vai melhorar quando vier a Constituição”. 

Com esses versos, o adolescente selou o destino definitivo e um elefante branco invadiu a sala de visitas da casa. O pai sentenciou: “Você está treinando para profissão de fome”.

Ainda bem que não foi praga, nem foi de coração, não pegou. Mas dinheiro, a julgar pelo que o Mário personagem público expunha, nunca sobrou. Nem faltou. Em entrevista no programa “Ensaio”, da TV Cultura, Mário se aventurou a fazer uma conta de cabeça. Complicou-se tanto que ninguém conseguiu sequer ajudá-lo. Explicou que foi reprovado três vezes em matemática e soltou a piada, já que bom humor, sim, esbanjava: “Eu não sei somar, por isso sou pobre, sei menos ainda multiplicar”.

Este é "o" Mário, segundo contam a lenda, a história e seu filho, Antônio Henrique Lago, jornalista, que faz aqui um rápido e delicioso perfil do pai. Antônio Henrique tem o mesmo humor e convicções do pai, além de já ter produzido obras memoráveis no campo da reportagem.

Acompanhe a entrevista a seguir:

Vermelho - Ator, produtor, diretor, compositor, radialista, escritor, poeta, autor de teatro, cinema, rádio e TV, frasista (que eu trocaria por “filósofo do cotidiano”), militante sindical, ativista político e boêmio. Está tudo lá, no site oficial do Mário Lago. Entre tantas facetas, uma ou algumas se sobrepunham a outras? 
Antônio Henrique Lago - O político sempre. Discutia as questões brasileiras diariamente com a família, amigos, o motorista de táxi, qualquer um que puxasse conversa. A pregação por uma sociedade mais justa e igualitária jamais ficava escondida ou em plano secundário. Papai nunca perdeu uma campanha política. Comunista por formação ideológica, sempre apoiou os candidatos de esquerda e do seu partido. 

Mas há também o ator, sempre, porque este foi uma parte importante da vida profissional dele. Dar vida a personagens era parte do “ser Mário Lago”. Fazia laboratório sozinho para enriquecer o papel, discutia com o autor e diretor todas as cenas. Atuar era um exercício de vida! 

E o escritor/autor/poeta, igualmente, sempre. Nos intervalos de gravação, nas férias, ele criava sempre um projeto para escrever. Durante as filmagens de O Padre e a Moça, recolheu material para um livro sobre o Chico Nunes das Alagoas, repentista e boêmio. Numas férias, traduziu a peça Fuente Ovejuna, do espanhol Lope de Vega. Do mesmo modo, escreveu uma peça sobre a revolução dos alfaiates - Foru Quatro Tiradentes na Conjuração Baiana -- que acabou censurada. Nunca deixou de compor, não havia como conter os versos.

Em casa, quais características pessoais predominantes você enumeraria?
Conversa franca, sobre qualquer assunto. Respeito às decisões de cada um da casa. Clima muito democrático.

Boêmio em um casamento que durou a vida toda. Como o Mário dividia o tempo entre o amor/família e as paixões, como a arte. Ficava em déficit com um lado ou outro?
Olha, papai sempre ia para os locais da boemia e levava minha mãe junto, mas eu lembro de ele chegar para uma conversa noturna sobre política, meus estudos - às vezes ele até me ajudava com os trabalhos escolares. Discutíamos minhas decisões pessoais e ele sempre respeitou as minhas escolhas. Ele e mamãe tinham a democracia entranhada no corpo e na mente.

Como era a casa do Mário? Um burburinho de música, amigos, festas? E o silêncio para criar, também habitava esse lar de artista?
A porta da casa de papai estava sempre aberta. Dolores Duran ia lá mostrar músicas. Carlos Marighela ia lá discutir coisas do PCB. Meus amigos e companheiros de militância política iam lá conversar. Era assim desde que me entendo por gente.

Na hora de criar, papai ia pro quarto, fechava a porta e se transportava para a criação, quer fosse para estudar as falas de um personagem, quer fosse para tocar o projeto de um livro.

Em uma frase, na sua opinião, qual o maior legado do Mário para:

- Você, filho 
AHL - A defesa de uma sociedade justa e igualitária com o fim da exploração do homem pelo homem. 

- A arte
AHL - Grandes interpretações como a do pescador Santiago, de O Velho e o Mar; e o Atílio da novela Casarão. Os versos de Nada Além, de Aí que saudades da Amélia e Aurora.

- A sociedade
AHL - Um exemplo de coerência política, honestidade de princípios. Tudo parte da luta pela sociedade sem exploração e opressão.

Sem segunda opção, qual música, filme (como ator ou diretor), papel na TV você colocaria como número 1 no ranking das criações do Mário?
Como música, eu gosto mais, puramente pessoal, do Nada Além. Mas sempre me emocionei muito nos bailes de carnaval ao ouvir o povo cantando Aurora. O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, como filme. E papel na TV foi o Atilio, do Casarão.

Mário criava compulsiva ou metodicamente? Há ainda muita produção dispersa, inéditos? O que podemos esperar?
Papai era um criador compulsivo/metódico. Ele não podia ficar parado. Se não estivesse gravando, estava bolando algo e escrevendo.Escrevia, depois lia, corrigia, mudava, lia de novo e assim por diante, até ficar satisfeito.

O Mário era polivalente e multimídia. Como ele se relacionava com as novas tecnologias? Chegou a incorporar essa linguagem internética a seus trabalhos?
Papai não chegou a usar a tecnologia multimídia moderna. Ele exercia a multimídia pessoalmente. Acho que a formação sem a internet bastou para ele. Além do que ele conviveu muito pouco com a internet.

Qual, na sua opinião, foi a grande realização dele no campo das artes? De qual ou quais obras ele mais se orgulhava?
Papai achava que cada texto, música e personagem eram um sucesso particular e parte do todo que ele considerava o melhor da sua obra. Ele realmente gostava de tudo que fez. 

E na política, qual a grande conquista e a grande frustração na sua vida de lutador?
Ele tinha muito orgulho de ter participado do comando da greve dos radialistas de 1962, que resultou na regulamentação da profissão. E de ter participado das lutas pela liberdade e ter visto as quedas das ditaduras de Getúlio Vargas e dos militares. Acho que frustração foi a de ver que o homem ainda vive numa sociedade intrinsecamente injusta e exploradora.

Pacifista e inconformado, por isso mesmo eterno militante, que causa ou causas você acha que ele defenderia hoje?
Acho que ele continuaria a lutar contra a exploração do homem pelo homem. E, é claro, as causas ambientais também estariam entre as suas preocupações. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Até FHC...

Violência - PM apontando revolver calibre 12 para estudantes que ocupavam prédio da USP


Por Juliana Rosas, da Ascom/UEPB

Mídia e informação são poderosas. Haja vista que tanto em países com sistema capitalista, quanto comunista, restringem ou tentam restringir ao máximo o acesso a estas. Democracia pode ser o melhor caminho, mas é difícil e tem um alto custo. Neste momento, refiro-me mais especificamente aos comentários que infelizmente assisti no Jornal da Cultura, na primeira quinzena deste mês, sobre a represália policial na reitoria da Universidade de São Paulo (USP). Uma coisa que eu não aguento na parte medíocre do jornalismo brasileiro é uma tevê pública de suposta qualidade como a TV Cultura ter uma apresentadora rasa e ultraconservadora como Maria Cristina Poli. Começo logo dizendo que ela merece um alto e sonoro CALA A BOCA, POLI!!

Aproveito para mandar um cala a boca também para a igualmente ultraconservadora professora de Direito, Maristela Basso, uma das convidadas do jornal, que, entre muitas besteiras disse, na ocasião, “que lugar de maconheiro não era dentro do campus”. Parabéns, advogada. Você se uniu à classe de juristas de extrema direita estereotipando tudo e todos. Se fosse numa universidade holandesa, será que ela estaria utilizando esses termos? Se daqui a cinco anos o governo descriminalizar a maconha, as pessoas continuarão utilizando esses termos? Isso justifica a agressiva atitude e ação policiais?

Para quem não estiver entendendo, tal discussão se deu alguns dias após a invasão da reitoria por policiais militares, depois de alguns alunos se negarem a deixar a reitoria da USP. E o presente artigo, embora previamente pensado, finalmente veio à vida quando até o “neoliberal” ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ter declarado que “chamar estudante da USP de maconheiro é absurdo”.

Entenda o caso

O portal Última Instância explicou o caso, sem os preconceitos descabidos que vimos anteriormente. 


Em algumas palavras, explicam que apesar de a discussão sobre o convênio entre a PM e a reitoria ser mais antiga, a tensão aumentou em 27 de outubro, quando três estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foram abordados no estacionamento da instituição sob a alegação de porte e consumo de cigarros de maconha. A ação desencadeou tensão entre estudantes e policiais e foi seguida de uma ocupação da administração da faculdade.

No dia 1º de novembro, reivindicando o fim do convênio entre a PM e a USP, bem como a renúncia do reitor João Grandino Rodas (Nomeado para o cargo pelo então governador José Serra, sem que fosse o mais votado nas eleições), um grupo composto por 73 estudantes ocupou o edifício da reitoria, contrariando deliberação de Assembleia-Geral e o posicionamento oficial do Diretório Central dos Estudantes, o DCE.

A reintegração de posse ocorreu sete dias depois, mediante operação policial que contou com batalhões da Tropa de Choque, da Cavalaria, do GOE (Grupo de Operações Especiais) e do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). Também dois helicópteros da PM permaneceram sobrevoando a cidade universitária por toda aquela manhã. No mesmo dia uma nova Assembleia ocorreu na FFLCH e deliberou a greve dos estudantes, que permanece até hoje em algumas faculdades. 

Voltando ao Jornal

Enquanto o outro convidado, professor Vladimir Safatle tentava dirimir os estereótipos que estavam sendo reverberados na mídia, de que ali eram todos estudantes ricos, por exemplo, pois em seu curso a maioria era advinda de escolas públicas e de lugares justamente avessos à ação de policiais, a advogada só e apenas continuava a reiterar seu conservador discurso.

O professor Safatle, sabiamente e sobriamente, ainda tentava explicar que para a classe alta, a polícia chega para resolver o problema. Nas classes mais baixas, ao contrário, ele leva problemas e o pior, são treinadas para lidar com estereótipos, coisa que é bastante relativa dentro de um campus universitário.

Por isso essa classe e os estudantes tidos como estereótipos são avessos à presença desses policiais. Policial trata a classe baixa como lixo, como o problema causador. E é treinada para lidar com estereótipos. Quem é parado em revistas? Quem é parado em blitze de trânsito? O policial é treinado para achar que aquele cabeludo de bermuda é maconheiro. No ambiente universitário, aquele cabeludo pode ser um professor, um ótimo estudante, um pacifista, um pesquisador. Não necessariamente sinônimo de maconheiro.

“Muitos estudantes que estão ali não pertencem a um grupinho desocupado de classe média. No campus da USP, os estudantes estão ali para estudar e a polícia está fazendo o papel, que, dentro do campus, não é dela, abordando estudantes até dentro de bibliotecas, baseados nos seus estereótipos e amostragem. E, claro, um estudante bem informado não vai gostar nada disso”, comentou Vladimir Safatle.

Depois de uma opinião esclarecida, a professora Maristela vem reiterar a pérola “Lugar de maconheiro não é dentro do campus”. Eu acrescentaria que lugar de dondoca não é na Universidade, nem falando besteira em horário nobre ou tevê pública. E para a apresentadora, eu diria que lugar de jornalista incompetente, limitado e sem visão crítica é na rua. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

20 anos sem Freddie Mercury

Por Thiago Ney, do Portal IG

Neste 24 de novembro de 2011, completam-se 20 anos da morte de Freddie Mercury, cantor, compositor, músico e entertainer que ultrapassa barreiras geracionais e classificações de gênero.

Era o "mais virtuoso cantor da história do rock", segundo Roger Daltrey, vocalista do Who. Axl Rose disse: "Se não me apoiasse nas letras de Freddie Mercury na infância, não sei onde estaria". Ao ser perguntado certa vez se era um fã do Queen, Michael Jackson respondeu: "Sou um fã de Freddie Mercury". Katy Perry confessou que Mercury é a sua principal influência. "O maior frontman de todos os tempos", vaticinou Dave Grohl (Foo Fighters).

Nascido Farrokh Bulsara em 5 de setembro de 1946 na Tanzânia, morou na Índia quando criança e, aos 17 anos, mudou-se para o Reino Unido e tornou-se cidadão britânico.

Formou o Queen (o nome foi escolha dele) ao lado de Brian May (guitarista) e Roger Taylor (baterista) em 1970 - o baixista John Deacon entraria depois. Na mesma época, deixou de ser Farrokh Bulsara e passou a ser conhecido como Freddie Mercury.

Ainda no início dos anos 1970, a banda lançou discos fundamentais como "Sheer Heart Attack" (1974), "A Night at the Opera" (1975) e "A Day at the Races" (1976). Aí veio o punk, para destruir todos os excessos do rock. Mas o Queen sobreviveu - e bem. Após 1978, vieram músicas como "Bicycle Race", "Another One Bites the Dust", "Under Pressure", "Radio Ga Ga" (que influenciou certa cantora pop), "i Want to Break Free".

O vocalista produziu dois discos fora da banda: um solo, "Mr. Bad Guy", em 1985; e outro com a soprano Montserrat Caballé, "Barcelona", em 1988. Gravou duetos com Michael Jackson até hoje inéditos - Brian May já disse que essas canções podem ser lançadas oficialmente em 2012.

O Queen vendeu mais de 300 milhões de discos. Números impressionantes impulsionados também pelo lado compositor de Mercury: são dele canções como "Bohemian Rhapsody", "We Are the Champions", "Crazy Little Thing Called Love".

O último show de Freddie Mercury com o Queen aconteceu em agosto de 1986, em Knebworth, na Inglaterra - para 300 mil pessoas.

Em 23 de novembro de 1991, um dia antes de morrer, Mercury anunciou que era portador do vírus HIV.

Pop, rock, heavy metal

Se Frank Sinatra não tivesse agarrado antes o apelido The Voice, ele certamente cairia bem em Freddie Mercury. Sua voz passeava entre graves profundos e agudos operísticos sem nenhum tropeço. Sentia-se à vontade tanto em arenas roqueiras como em um estúdio gravando com Montserrat Caballé.

Em um mesmo show (às vezes até durante uma mesma canção), encarnava um astro pop, um roqueiro teatral, um cerebral músico progressivo, um furioso líder heavy metal, uma estrela glam exagerada e colorida. O tipo de performance que parece saída de um sonho de Almodóvar.

O Brasil testemunhou o poder de palco de Freddie Mercury por duas vezes. Em 1981, no estádio do Morumbi (um dos primeiros grandes shows internacionais a aportar no país), e no Rock in Rio de 1985.

Também em 1985, o vocalista (e consequentemente o Queen) protagonizou aquele que é provavelmente o seu grande momento: uma histórica performance no Live Aid, no estádio Wembley, em Londres.

Em pouco mais de 20 minutos, a banda tocou "Bohemian Rhapsody", "Radio Ga Ga", "Hammer to Fall", "Crazy Little Thing Called Love", "We Will Rock You" e "We Are the Champions". Segundo votação feita entre músicos e especialistas da indústria fonográfica, foi a melhor apresentação da história da música pop - e você pode assisti-la ao lado.

A influência do Queen - e de Freddie Mercury - está em toda parte. Na extravagância de Lady Gaga; na eletrônica de estética roqueira do Justice; na grandiosidade do Killers.

Até Kurt Cobain respeitava Freddie Mercury. Na sua nota de suicídio, o líder do Nirvana escreveu: "Quando estou no backstage e as luzes se acendem e o público começa a gritar, isso não me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que parecia amar, saborear a adoração do público, algo que eu admiro e invejo".

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Num mundo que dá extremo valor ao individualismo há lugar para a amizade?

Por Rosely Sayão, psicóloga e escritora

Uma garota de 15 anos me encaminhou uma longa, triste e emocionante mensagem.

Usando uma linguagem própria de alguns grupos de adolescentes, ela questionou a amizade de uma maneira bem adulta, arrisco dizer.

Entre os casos que ela me contou para desenvolver seu raciocínio argumentativo, escolhi dois, porque parecem ser situações bastante comuns na convivência entre adolescentes. Vamos partir desses exemplos para nossa conversa de hoje.

Nossa jovem leitora tinha duas grandes amigas. Ou pelo menos era assim que as considerava: falavam-se sempre, trocavam segredos e honravam essa condição. Ofereciam apoio quando preciso, eram solidárias na tristeza e nas situações difíceis pelas quais passavam.

Um segredo que a jovem compartilhou com uma das amigas foi o afeto que nutria por um garoto da escola, mas que ela não tinha coragem de demonstrar. Pois numa festa a que foram juntas, essa amiga ficou com o tal garoto.

Você pode imaginar, caro leitor, a decepção que essa garota vivenciou? E a situação piorou quando, no dia seguinte, ela foi conversar com a amiga e esta justificou o ocorrido de um modo muito simples: "rolou".

"Então isso é amizade?", perguntou a garota em sua mensagem. Inconformada, cortou a relação de confiança e a intimidade com a outra menina.

Hoje, elas se cumprimentam de modo distante, apenas isso. E, pelo jeito que nossa leitora conta, seu sofrimento aumenta cada vez mais.

E que tal encontrar em uma rede social, ao ler a página de uma colega, a confissão pública daquela que também considerava uma amiga, de que ela só lhe fazia companhia por pura pena de nossa jovem leitora?

Vamos agora refletir um pouco a respeito da amizade no mundo atual e, para tanto, comecemos por essa última situação.

Franqueza e transparência são fundamentais para as relações de amizade. Sem tais características, o relacionamento amoroso que caracteriza a amizade não sobrevive. Aliás, nem sequer vive.

Outra característica básica de pessoas que querem ser amigas de outras é a maturidade para controlar os próprios impulsos em favor da amizade. Saber renunciar a prazeres imediatos para preservar o amigo é condição fundamental.

Na adolescência, o jovem amadurece e ganha, cada vez mais, a condição de ser e de ter amigo. É claro que, nessa trajetória, vai errar, vai experimentar o sabor amargo da perda de um amigo como consequência de um comportamento impensado, inconsequente, infantil e imaturo.

Por isso, não foram os comportamentos daquelas que um dia foram consideradas amigas por nossa leitora que chamaram a atenção.

O que causa estranhamento nessas histórias é o fato de nenhuma das garotas ter se sentido magoada por magoar. É o fato de nenhuma ter mostrado arrependimento por ter disposto de um relacionamento de amizade, e por tão pouco. E o pior: talvez elas nunca venham a saber disso.

Devemos nos perguntar se, num mundo que dá extremo valor ao individualismo, à realização de nossos caprichos e ao prazer imediato, há lugar para a amizade.

Deve haver. Afinal, são os amigos que dão sabor à nossa vida, que a iluminam, que fazem com que valha a pena viver, mesmo enfrentando as mazelas inevitáveis com as quais nos deparamos.

Podemos fazer algo para que os mais novos conheçam essa alegria?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Inscrições abertas para workshop "O Profissional da Música" - inscrições são um quilo de alimento

Da Assessoria do Sesc/CG
Arte: Drum Shop


Já estão abertas as inscrições para o workshop O Profissional da Música, promovido pelo guitarrista Zé Filho, dentro da programação do IX Projeto 7 Notas e do V Encontro da Música Regional de Raiz. A oficina acontece no dia 26 de novembro, das 10 às 12 horas, no Sesc Centro Campina Grande. Para se inscrever, é necessária a doação de um quilo de alimento não perecível, que será repassado para o programa Mesa Brasil Sesc. As vagas são limitadas para 30 pessoas.

O workshop é voltado para os músicos e o público interessado e tem como objetivo capacitá-los para o mercado fonográfico. O curso abordará aspectos relacionados à profissão do músico, comportamento profissional, além de demonstrar o uso dos equipamentos para as apresentações ao vivo e em estúdio.

Com três álbuns e um DVD lançado, o guitarrista Zé Filho, que é natural do Recife, desenvolve um trabalho na área de música instrumental há quase 15 anos, atuando ainda como divulgador desse estilo através de apresentações em todo o país. O artista se apresenta no dia 26, a partir das 18h, na Praça da Bandeira, através do Projeto Sete Notas.

O Projeto 7 Notas e Encontro da Música Regional de Raiz é uma realização do Sesc Paraíba em parceria com o Departamento Nacional do Sesc. Para mais informações, entrar em contato pelo telefone 3341-5800 ou dirija-se até a unidade, que fica na Rua Giló Guedes, 650, no Centro de Campina Grande.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Solidão em banda larga

Por Matheus Pichonelli, da Revista Carta Capital

Alguma coisa acontece desde que o primeiro internauta descobriu que podia comprar comida chinesa com um botão. Ou analisar o perfil da mulher ideal e entregar de bandeja os seus segredos mais profundos em salas de bate-papo antes do primeiro encontro. Ou baixar música de graça, pagar conta no banco a distância ou contatar profissionais para passear com seu cão enquanto se mantém ocupado na frente do computador.

É fato: a introdução das (já não tão) novas tecnologias no cotidiano provocou estragos nas formas tradicionais de relacionamento. Mas a dimensão desses estragos ainda está por ser medida em estudos, palestras motivacionais, campanhas políticas, reuniões de associação de bairro, memorandos governamentais, fichas médicas, investigações policiais, pesquisas de mercado ou de opinião. E é possível que poucos deles consigam chegar perto do retrato dos nossos dias feito pelo diretor Gustavo Taretto em seu filme “Medianeras”.

No longa, Taretto correu todos os riscos de tropeçar num debate que, em condições normais de pressão e temperatura, jamais caberia (ou caberia ridiculamente) em 95 minutos de exibição. Não só coube como ficou delicadamente desenhado em dois personagens-símbolos do que seria o anti-herói da primeira década do século XXI. Uma geração com seus Iphones, vícios, neuroses e contradições guardados na mochila.

Martin e seu companheiro de quarto
Numa das mais emblemáticas cenas do filme, Martin, o estranho personagem interpretado por Javier Drolas, conta para uma amiga recém-conhecida numa sala de bate-papo eletrônico que desenvolveu uma espécie de termostato emocional que o impede de vivenciar grandes tristezas ou grandes alegrias na vida. Do outro lado da tela, a menina questiona: “E quando a tristeza se torna inevitável?”. “Aí eu tomo Rivotril”.

Na sala de cinema relativamente cheia para uma noite de terça-feira, os sorrisos eram contidos diante de tantas estocadas emendadas pelo diretor sobre a vida em Buenos Aires. O cenário da metrópole funciona como a extensão das próprias contradições de seus habitantes, cada vez mais enclausurados em apartamentos sem janelas ou outras formas de conexão com o mundo que não seja a fibra ótica.

Não havia cenário melhor para retratar a solidão, candidata a mal do século passado, atual e futuro. No filme, Martin é um jovem fuçador de internet que ganha a vida criando sites. Mora sozinho com um cachorro abandonado por uma namorada que, no auge da crise argentina, embarcou para os Estados Unidos e não voltou jamais.

Hipocondríaco, só anda na rua se em sua mochila tiver todo tipo de medicamento – acompanhado das instruções por escrito sobre como ser socorrido em caso de ataque de pânico – três camisinhas, um iPod e várias parafernálias. Adora natação, mas odeia tudo o que tem em volta da piscina (o caminho de casa, os chinelos molhados, o movimento das raias, as pessoas…).

E fica desapontado toda vez que chega em casa e descobre que não tem e-mails novos. E com as mulheres quando as encontra pessoalmente: todas tão interessantes na apresentação em sites eletrônicos e suas listas de referências mil, gosto por viagens, livros, música e arte oriental. E que, no fim, têm o azar de não terem nascido mudas quando atuam na vida real. (Num dos momentos mais hilários, Martin chega a compará-las a um Big Mac, um lanche que, segundo ele, sempre parece mais interessante nas fotos e na propaganda do que no prato).

Para passar o tempo, ou não morrer de tédio, Martin cumpre à risca a orientação do psicólogo: andar pela cidade tirando fotos para se distrair, num exercício que o leva a desconfiar que todas as fobias de seu tempo são consequência da expansão desenfreada e sem critério da própria cidade que fotografa, com seus prédios, seus becos e fachadas sem frente, verso ou janelas (as “medianeras”).


Mariana e o trauma de não encontrar Wally no desenho da cidade
Os sintomas da depressão e da desintegração povoam o cenário. Do outro lado da rua, exatamente no prédio ao lado de Martin, Mariana (Pilar López de Ayala) acaba de voltar para uma quitinete após quatro anos de um relacionamento que naufragou. Arquiteta que jamais construiu uma casa, ela passa os dias conversando com os manequins entulhados em casa e que serão usados para compor o cenário das vitrines decoradas por ela. É nessas vitrines, um espaço intermediário entre a rua e o interior da loja, que ela consegue se sentir em paz. Pensa que, se os transeuntes passarem, olharem e gostarem da decoração, estarão de alguma forma também gostando dela.

Mariana vive em silêncio, com medo e cheia de manias. É capaz de subir 20 andares de escada porque tem medo de elevador. E de descer todas as escadas em segundos para fugir de um encontro que a assusta. Quando perguntada por que não encara o medo com olhos fechados, ela desconversa: “nem tudo se resolve simplesmente fechando os olhos…”

Sua maior distração são as visitas ao planetário da cidade que a leva a pensar na finitude da própria vida, fechada num planeta que é só parte de um sistema, que é só parte de uma galáxia, que é só uma entre tantas galáxias do universo…tudo para lembrar do seu tamanho diante do infinito e amenizar o peso das próprias frustrações e o medo de não sentir dor.

Parte de sua paranoia com o mundo que a rodeia é culpa de Wally, o personagem de camisas listradas que se esconde nos mais diferentes cenários. Desde criança, Mariana tenta, em vão, encontrar Wally nas páginas de um livro que reproduz a vida numa metrópole. Passa os olhos com lupa, ponto a ponto, mas o nervosismo cego a impede de cumprir a missão. O que a leva a concluir: “se a cidade não me permite encontrar alguém que eu conheço, que sei como é, como faço para encontrar comigo mesma, que não sei quem é nem o que quer?”.

Em meio a tantas dúvidas, Martin e Mariana levam suas vidas a poucos metros um do outro. O desencontro entre eles pelas mesmas vias parece a alegoria perfeita sobre o autismo coletivo: andamos pelas ruas, mas sempre distraídos pela trilha sonora que passeia em nossos fones de ouvido. Já não ouvimos (nem vemos) o que acontece ao redor.

Difícil não se identificar com as situações cotidianas vivenciadas diariamente em cidades como Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México ou Nova York. É como se Taretto usasse seus personagens para situar a própria plateia, também enclausurada em suas contraditórias metrópoles. Parecia saber que, diferentemente do que acontecia num tempo não muito distante, muitos desses espectadores já não se reúnem com os amigos ao fim da tarde para um chope ou para ver (ou jogar) futebol. Também não almoçam com a família aos finais de semana. Não confessam os pecados para o padre nem veem respostas a leste ou oeste de Berlim. Não sentem culpa por não verem sentido nos relacionamentos nem na estabilidade da carreira. Nem convidam os colegas de trabalho para um café ou cigarro na área comum.

São personagens (dentro e fora da tela) vítimas de crises econômicas perenes (embora pareçam cíclicas) e que desempenham trabalhos descontínuos, incertos, sem benefícios ou seguridade. Não têm casa própria nem carro e, diferentemente dos pais, já não acham que a grande festa de casamento irá salvá-los das próprias mediocridades. E estão expostas a tantas informações que, ao fim do dia, veem o corpo empacar na hora de dormir, falar, observar ou se relacionar.

'Quando gostam das vitrines que decoro, é como se também gostassem de mim', pensa a personagem
É uma multidão que se conecta, mas também se desagrega, se espalha, se desconcentra – e se o meio é a mensagem, personagens, espectadores e suas contradições não poderiam estar num lugar mais certo (e inseguro).

Nessa enxurrada de novos signos que se espalham na velocidade das redes sociais, um certo instinto ainda é preservado entre as gerações que se sucedem: como numa sintonia, cada personagem se recolhe a seu canto quando quer chorar ou quando se emociona num fim de filme.

Os arroubos de felicidade é que, por ironia, só passam a ter sentido se forem espalhados nos sites de compartilhamento, onde é impossível distinguir um sorriso de uma encenação.

Um sinal dos tempos que o diretor não deixou escapar, numa sacada mais assustadora que hilária: no admirável mundo novo, se nada mais der certo ainda é possível apertar o “Control + Alt + Del” e todos serão salvos (inclusive os arquivos e históricos de qualquer confissão). Nas ruas a coisa desanda, mas contra isso também há um comando: em caso de emergência, desista de mudar o mundo e quebre o Rivotril.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Acumulando o desnecessário

Por Anna Veronica Mautner, da Revista Equilíbrio

O mundo está dividido entre os milhões abaixo da linha da miséria, que não têm nada, e os que têm. Mas todos sonham com abundância. Falo dos que têm, mas isso inclui os que sonham em ter o mínimo e, depois, bastante. 
Parece uma epidemia! Com maior frequência, ouço gente da classe média se queixando da dificuldade para se desfazer de tralhas inúteis. Não sou só eu que me sinto abafada por excessos de tudo. Minha geração toda está assim. A esta altura temos demais de tudo. Mais de 3/4 dos meus livros, confesso, estão nas estantes como quadros de uma exposição. Livro enfeita, cria aconchego. Mesmo assim, não precisava de tantos.
E roupa de cama? Quem não tem mais do que precisa? Estou falando de lares de classe média e até de lares milionários. Mas o vício da acumulação pode ser visto também entre pessoas de estilo e recursos mais modestos. Em geral, temos mais meias, sapatos e chinelos do que podemos vir a precisar na próxima década. Não estou falando de colecionadores. Colecionar é outra coisa -é ter para ter, e não para usar.
E para que tantas frigideiras, conchas, escumadeiras e roupas que nunca usamos? É preciso muita força de vontade para apagar os resquícios que ainda estão na memória coletiva do tempo em que havia somente o necessário. 
Por isso a gente vai juntando, como se amanhã não fosse haver mais. Ao nos darmos conta, estamos diante de espaços empanturrados, em casa e no escritório.
Diante dessa situação historicamente insólita, nos encontramos perdidos, sem saber como lidar com isso tudo. Algumas raras pessoas que a natureza dotou de uma extraordinária aptidão espacial são capazes de ordenar os objetos em diminutos espaços. Enquanto as moradias são cada vez menores, portanto os espaços de armazenamento também, nossos bens são cada vez mais abundantes. 
Vivendo neste mundo em que os bens mais caros são o silêncio e o espaço, não é fácil arrumar lugar para tudo. E aí caímos num terrível círculo vicioso.
Se não consumirmos, desempregamos. Precisamos continuar a comprar, as fábricas têm que continuar a produzir, senão os empregados não poderão consumir o que os outros estão produzindo. 
É um círculo vicioso sem fim. Ou será que algum economista sabe parar essa roda da fortuna ou, quem sabe, roda da pobreza? O consumismo tem um lado sombrio. Tão difícil é a solução que o estudo do destino do não perecível se tornou objeto de teses acadêmicas. O destino do lixo sólido é assunto de política e de ciência.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

John Cassavetes e os épicos da alma humana

Por José Geraldo Couto, da Carta Capital

Filho de imigrantes gregos, John Cassavetes trabalhou como ator no teatro, no cinema e na televisão. Também diretor, transformou-se em referência no “cinema independente” ou “cinema verdade” nos Estados Unidos
Sempre que se fala em “cinema independente” ou “cinema verdade” nos Estados Unidos, John Cassavetes (1929-1989) é citado como um destemido pioneiro. “Ele encarnou a emergência de uma nova escola de cinema de guerrilha em Nova York”, resume Martin Scorsese.
Filho de imigrantes gregos, Cassavetes formou-se em 1950 na American Academy of Dramatic Arts e passou a trabalhar como ator no teatro, no cinema e na televisão. Das aulas de atuação em teatro que ministrava em Nova York surgiu o projeto de seu primeiro longa como diretor, Sombras (1959), realizado totalmente fora dos padrões hollywoodianos.
De baixíssimo orçamento, financiado por meio de subscrições entre amigos e parentes, o filme trazia já as principais marcas do cinema do diretor: planos longos, espaço para a improvisação dos atores, equipamento leve, filmagens fora do estúdio.
A partir daí passou a alternar seu cinema independente, feito com um grupo pequeno e fiel de atores – sua mulher Gena Rowlands, Ben Gazzara, Seymour Cassel, o próprio Cassavetes –, e alguns projetos de encomenda e trabalhos na tevê. Como ator, esteve em quase 80 filmes, entre eles Os Doze Condenados, de Aldrich, O Bebê de Rosemary, de Polanski, e A Fúria, de De Palma.
Cassavetes foi um dos poucos cineastas indicados a Oscars nas três categorias: direção, roteiro e ator. Não ganhou nenhum.
Suas principais obras – Faces, Uma Mulher sob Influência, Glória e Amantes – foram incensadas na Europa e influenciaram todo o cinema independente que veio depois. “Todos os filmes de Cassavetes são épicos da alma”, definiu seu admirador Martin Scorsese.

DVDs

Sombras (1959)

No ambiente alternativo da Manhattan da era beatnik, um cantor mulato (Hugh Hurd) e seus irmãos vivem situações de racismo velado ou explícito. Com um andamento solto como a trilha de jazz, o filme de estreia de Cassavetes tem um tom de registro documental das reações humanas. Ganhou o prêmio da crítica em Veneza.

Faces (1968)

Crise de um casal de classe média. Richard Forst (John Marley) abandona a esposa Maria (Lynn Carlin) por uma mulher mais jovem (Gena Rowlands). Desesperada, Maria aborda um jovem (Seymour Cassel) na rua e o leva para casa. Os afetos e paixões são levados ao extremo neste que é um dos psicodramas cruciais de Cassavetes.

Uma Mulher sob Influência (1974)

Um operário (Peter Falk) às voltas com a instabilidade mental da mulher (Gena Rowlands). Ele tenta absorver o comportamento estranho dela para preservar os filhos, até a ruptura. Uma visão anticonvencional da loucura. O filme foi indicado aos Oscars de direção (Cassavetes) e atriz (Rowlands).


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“Cálice” volta à cena: o rap de Criolo e Chico Buarque

Por Christiane Marcondes, do Portal Vermelho

Criolo Doido surgiu na cena paulista em 1989, de família vinda do Ceará. Hoje é rapper famoso, do tipo que fecha casa de show no Rio de Janeiro, templo de funkeiros. Sem entrar em detalhes sobre a sua escalada musical, importante dizer que ele detectou e letrou o que todo mundo já sabe: “Não existe amor em SP”.

Mesmo assim, com seu jeito “manero” o compositor foi conquistando seguidores e se consagrou para além dos fãs do rap quando fez, de improviso e nitidamente muito emocionado, uma versão para a música “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil.

O vídeo foi para o Youtube e chegou até o velho Chico, que não tem nada de velho, anda acelerando com os motores ligados a mil e explorando a internet com mais avidez do que os primeiros astronautas que desembarcaram na lua.

Com este pique, o Chico retomou uma turnê musical pelo país, após cinco anos fora dos palcos, e deslumbrou seu fiel “eleitorado” quando abriu o primeiro show da série, em Belo Horizonte, cantando o rap que o Criolo Doido fez para “Cálice”.

Sabe-se que Chico tirou do repertório ao vivo essa música e “Apesar de você” há muito tempo, por serem muito ligadas ao período da ditadura. Mas não causa espanto ele finalmente retomar o cálice, desta vez servido pelo Criolo Doido, que teve a sacada de que a música está atualizadíssima com os novos tempos, de PM em universidade, de imprensa manipuladora ou censurada, de indignados e indignos. Viva Chico, salve Criolo, o que parecia quase impossível virou uma parceria de trazer lágrimas aos olhos. Confiram o diálogo musical da dupla.

O Cálice do Criolo

Criolo Doido teve influências de MPB, samba e jovem guarda na composição de seu primeiro álbum lançado em  2006 e com tiragem esgotada em três semanas. Em 2009,  comemorou vinte anos de carreira com o lançamento de um DVD gravado ao vivo na ''Rinha dos Mc's'' e o lançamento de seu segundo álbum com influências da sonoridade turca, francesa e jamaicana. Foi indicado em 2007 a ''Artista do Ano '' e a ''Revelação do ano'' pelo "HUTUZ'' maior premiação de hip hop no Brasil. Em 2008, recebeu o prêmio de ''Música do ano'' e de ''Personalidade do Ano'' na quarta ediçao da premiação ''O Rap é Compromisso" em São Paulo. Fundador da Rinha dos Mc's, evento que abriga em suas atividades semanais shows, batalhas de Freestyle, exposições de graffiti e fotografia.

Confira em: 


O Cálice do Chico para o Criolo

Chico interpretou um trecho da letra de Crioulo com linguajar da periferia de São Paulo, incluindo final que diz, "Afasta de mim a biqueira, pai/ Afasta de mim as biate, pai/ Afasta de mim a coqueine, pai/ Pois na quebrada escorre sangue".

Confira em:

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Evento do Câmpus da UEPB em João Pessoa é destaque na mídia



Por Andreza Albuquerque, da Ascom/UEPB

Estudantes e professores do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba realizaram durante três dias a 4ª edição do Modelo Universitário de Diplomacia (MUNDI LAB) , que se encerrou nesta sexta-feira (11).


A iniciativa foi pauta no jornal Bom Dia Paraíba, da Rede Paraíba de Comunicação, filiada a Rede Globo.


Confira o vídeo com a reportagem clicando no link abaixo:


http://g1.globo.com/videos/paraiba/v/estudantes-paraibanos-fazem-de-conta-que-sao-representantes-de-outros-paises/1692725/#/Todos%20os%20V%C3%ADdeos/page/1




Mais sobre o MUNDI LAB

O MUNDI LAB, nova proposta do Modelo Universitário de Diplomacia, foi realizado nas dependências do Câmpus V da UEPB e na Escola Superior de Magistratura (ESMA) no bairro do Altiplano, em João Pessoa, onde os participantes, divididos em 18 países, simularam a Conferência Rio +20, que acontecerá no mês de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de promover discussões acerca das políticas energéticas nacionais no contexto pós-Fukushima.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

5º Balaio Cultural de Boqueirão homenageará ceguinhas de Campina Grande


Da Assessoria do evento com Ascom/UEPB

Ninguém vai reclamar de falta de atrativos em Boqueirão, no Cariri paraibano. De 16 a 20 de novembro deste ano, mais de 60 ações serão trabalhadas no 5º Balaio Cultural. Dessas, 47 atrações artísticas, como o grupo maranhense Folia de Três e o gaúcho Rancho, de luso-descendentes, farão a festa. Mais outras 30 ações compõem o evento, que terá presença de seis estados do Brasil, sendo realizado pela Prefeitura Municipal de Boqueirão e pelo Centro de Formação Artística (Cefar). Além disso, o evento homenageia este ano as três ceguinhas de Campina Grande, Regina (Poroca), Maria (Maroca) e Francisca da Conceição Barbosa (Indaiá). 

Durante o Balaio, os turistas visitarão a surpreendente região do Cariri. Por isso, a organização já programou passeios de barco pelo Açude Epitácio Pessoa, no Lajedo do Marinho, para as redes do Sítio Tabuado, além do passeio de catamarã e da famosa peixada paraibana, servida nos restaurantes e hotéis da cidade.

Tudo isso porque o município é respeitado com seu turismo de aventura e cultural. Não só mostras, mas uma parte pedagógica, foram preparadas para os participantes. O evento é um dos mais novos do Estado, mas com potencial de crescimento. Duas atrações de música e dança são destaques, o grupo Folia de Três, que toca e dança a cultura popular do Maranhão, e, o grupo Rancho, de luso-descendentes da cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul.

A programação musical contará com os paraibanos Cabruêra, Toninho Borbo e Renata Arruda, entre outros nomes. Na literatura, um sarau poético em plena Feira Central de Boqueirão. 

Boqueirão possui cerca de 15 mil habitantes. É cercada por uma natureza generosa devido aos seus reservatórios de água, como o Açude Epitácio Pessoa - dos maiores da Paraíba. A cidade ainda é forte na produção de redes de dormir e possui uma boa estrutura turística, com pousadas, hotéis e restaurantes aprovados pelos visitantes.

Confira a programação completa no blog: www.balaioculturaldeboqueirao.blogspot.com

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Fernando Morais, o terrorismo dos EUA contra Cuba e os últimos soldados da Guerra Fria

Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho, com a Ascom/UEPB

Houve um tempo em que mercenários contratados por organizações de extrema-direita da Flórida recebiam U$ 1,5 mil por bomba colocada em Cuba. “Hoje ainda é possível ver em Miami manifestações de rua contra a Revolução, mas as novas gerações parecem mais interessadas em ouvir salsa do que em colocar bombas”, disse o jornalista Fernando Morais ao Vermelho. Morais está lançando Os últimos soldados da Guerra Fria, livro-reportagem que reconstitui a trajetória de agentes secretos de Cuba, que se infiltraram nos Estados Unidos para impedir ações terroristas contra a ilha. 

Um dos agentes secretos retratados no livro foi libertado recentemente, nos Estados Unidos, depois de 13 anos de prisão. Apesar de ter cumprido toda a sua pena, René está sendo obrigado pela Justiça norte-americana a permanecer nos EUA, em “liberdade vigiada”, por mais três anos.

Esse é apenas o capítulo mais recente da trama narrada por Morais, que poderia muito bem ter saído de um trailer hollywoodiano – com cenas de espionagem, suspense e aventura –, mas não tem nada de ficção. Foi vivida por 12 homens e duas mulheres que aceitaram deixar suas vidas em Cuba para integrar a Rede Vespa e espionar algumas das 47 organizações anticubanas que existiam em Miami na época.

“Eram organizações de extrema-direita, que atuavam como entidades humanitárias para ocultar seu verdadeiro objetivo”, contou Morais ao Vermelho. Tais grupos – contrários ao regime comunista implantado por Fidel Castro – se dedicavam desde a jogar pragas nas lavouras cubanas até a sequestrar aviões que levavam turistas à ilha. 

Depois do colapso da União Soviética, o turismo assumiu papel preponderante na economia cubana, e as organizações anticastristas passaram a empenhar esforços para demonstrar que a ilha não era segura para os estrangeiros. Para isso, colocaram bombas em hotéis e bares e alvejaram navios repletos de visitantes. Infiltrados nesses grupos, os agentes da Rede Vespa conseguiram impedir várias agressões. 

Para investigar e contar essa história – e também a daqueles que estavam do outro lado –, Morais viajou 20 vezes a Cuba e aos Estados Unidos, debruçou-se sobre diversos documentos dos dois países, fez 40 entrevistas. 

O resultado é uma obra que já é sucesso de vendas no Brasil. De acordo com a Rádio Havana Cuba, o livro vendeu 20 mil exemplares em três semanas e aguarda lançamento em espanhol e inglês. Conhecedor da realidade cubana (este é o segundo livro relacionado à ilha que escreve), Morais falou ao Vermelho sobre a publicação, as relações entre Cuba e Estados Unidos e seus próximos projetos. 

Segundo ele, se o presidente Barack Obama se reeleger, no ano que vem, pode ser que indulte os agentes cubanos que ainda estão presos nos Estados Unidos. “Enquanto Obama precisar dos votos da Flórida, majoritariamente cubanos, não há a menor chance de isso acontecer”, avaliou. Veja abaixo a entrevista concedida por e-mail.

Portal Vermelho: Como e quando você se deparou com a história dos agentes secretos cubanos e por que resolveu escrevê-la?
Fernando Morais: Eu soube da história pelo rádio de um táxi, no meio do trânsito, em São Paulo, no dia das prisões dos dez agentes cubanos pelo FBI, em Miami, em setembro de 1998. Assim que pude, viajei a Cuba para tentar levantar o assunto, mas encontrei todas as portas fechadas. Para se ter uma ideia, Cuba só assumiu que eles de fato eram agentes de inteligência três anos depois, em 2001. O tema era tratado como segredo de Estado.

Como foi pesquisar em Cuba? Você teve pleno acesso a documentos oficiais? E do lado norte-americano?
Os cubanos só liberaram o assunto para mim em 2005, mas nessa época eu estava envolvido com o projeto do livro O Mago, a biografia do Paulo Coelho. Com isso, só pude entrar na história dos cubanos em 2008. A partir de então fui várias vezes a Havana, Miami e Nova York. O governo de Cuba liberou todo o material disponível e permitiu que eu entrevistasse quem quisesse, inclusive mercenários estrangeiros que haviam sido presos após colocar bombas em hotéis e restaurantes turísticos de Cuba e que tinham sido condenados à morte. 

Nos Estados Unidos foi mais difícil. Como os agentes do FBI são proibidos de dar declarações públicas, só consegui entrevistas em off. Mas graças ao FOIA – Freedom of Information Act, a lei que regula a liberação de documentos secretos – e após pesquisas nos arquivos da Justiça Federal da Flórida, tive acesso a cerca de 30 mil documentos enviados pela Rede Vespa a Cuba e que haviam sido apreendidos pelo FBI nas casas dos agentes cubanos em Miami. E os serviços de inteligência cubanos me deram uma cópia do megadossiê sobre o terrorismo na Flórida que Fidel Castro entregou a Bill Clinton com a ajuda do escritor Gabriel García Márquez.

Parece-me que o acesso aos cinco cubanos que estão presos nos EUA é bem complicado. As próprias famílias nem sempre conseguem visitá-los. O senhor verificou isso na prática? Conseguiu contato direto com eles?
Como não sou parente de nenhum deles nem cidadão norte-americano, não pude visitar pessoalmente nenhum deles. Só consegui autorização para me comunicar com eles por internet. Mas com um limite de 13 mil caracteres por mês. Se as mensagens tivessem mais de 13 mil caracteres, se deletavam automaticamente. Falei também com alguns deles por telefone, pegando carona na franquia mensal de chamadas que suas mulheres e filhos tinham.

Algum deles lhe pareceu um personagem mais interessante?
 Todos são personagens muito interessantes, acho que daria para fazer um livro sobre cada um deles. Decidi me concentrar em alguns deles, não só por serem os que tiveram desempenho mais, digamos, cinematográfico, mas também por entender que encarnavam de maneira mais ampla o sentido da missão que o grupo desempenhava nos Estados Unidos: infiltrar-se em organizações de extrema-direita da Flórida que estavam patrocinando ataques terroristas contra Cuba. Mas há personagens muito interessantes também, do ponto de vista jornalístico, do outro lado do balcão. Por exemplo, o mercenário salvadorenho que entrevistei em Cuba e que rendeu dois capítulos do livro.

Quem eram essas pessoas que planejavam os ataques a Cuba naquela época? E quem eram os mercenários que os executavam? Faziam só por dinheiro ou havia alguma questão de fundo?
Eram organizações de extrema-direita, que atuavam como entidades humanitárias para ocultar seu verdadeiro objetivo. Os mercenários, salvo uma ou outra exceção, como o salvadorenho a quem me referi, atuavam por dinheiro. Mais precisamente, recebiam U$ 1,5 mil por bomba colocada em Cuba. 

O senhor acredita que esse sentimento extremado dos EUA (Flórida) em relação a Cuba persiste nas gerações atuais? 
Os tradicionais inimigos da Revolução Cubana, os autodenominados anticastristas verticales, estão morrendo ou já estão muito velhinhos. Quando eu terminava o texto final do livro, por exemplo, morreu Orlando Bosch, que era considerado o inimigo número 1 de Fidel Castro. 

Ainda é possível ver em Miami manifestações de rua contra a Revolução, mas as novas gerações parecem mais interessadas em ouvir salsa do que em colocar bombas. Semanas atrás, por exemplo, o cantor cubano Pablo Milanés fez um espetáculo em Miami. No ginásio onde cantou, ele foi aplaudido de pé por 15 mil pessoas. Na rua, meia dúzia de velhinhos carregavam cartazes de protesto contra ele.

Esse esquema de cubanos infiltrados em Miami conseguiu impedir ataques de fato?
Sim, não só impedir dezenas de ataques como permitiu a prisão de dezenas de mercenários estrangeiros que atuavam a soldo de anticastristas de Miami.

O que o seu livro traz de mais revelador?
A maior parte das informações contidas no livro é inédita. Além de documentos secretos obtidos em Cuba e nos EUA, e da entrevista exclusiva que fiz com o mercenário salvadorenho Raúl Ernesto Cruz León (na época condenado à morte em Cuba por ter colocado bombas em hotéis e matado pessoas), o livro traz revelações inéditas de bastidores políticos a respeito da correspondência secreta trocada entre Fidel Castro e Bill Clinton – e cujo intermediário era o Prêmio Nobel da Paz Gabriel García Márquez.

O livro vai mesmo virar filme? 
Sim, os direitos de adaptação para o cinema foram vendidos para o investidor cultural Rodrigo Teixeira. Aliás, foi com o dinheiro recebido que pude custear parte da pesquisa, já que se tratava de um trabalho caro, que envolveu cerca de vinte viagens a Cuba e aos Estados Unidos.

O senhor já tinha escrito sobre Cuba antes. Como vê a Ilha hoje?
Vejo com grande otimismo. As mudanças econômicas postas em prática pelo presidente Raúl Castro são, na verdade, correções de erros cometidos nos primeiros anos pós-Revolução, quando o radicalismo não tinha limites. Mas confesso que não vejo perspectivas de mudanças políticas significativas enquanto perdurar o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba. 

O senhor vê alguma possibilidade de indulto para os cubanos que ainda estão presos nos EUA? 
Se o presidente Barack Obama se reeleger, no ano que vem, pode ser que ele indulte os presos. O ex-presidente Jimmy Carter se comprometeu a pedir a ele que faça isso. Mas enquanto Obama precisar dos votos da Flórida, majoritariamente cubanos, não há a menor chance de isso acontecer. Essa expectativa vale igualmente para a revogação do bloqueio, medida que também tem como defensor o ex-presidente Carter.


Mais sobre a obra e o autor

Em sua nova obra, lançado pela Companhia das Letras, Fernando Morais retoma a reportagem literária em torno de Cuba. O escritor mineiro ganhou notoriedade com a publicação do emblemático A Ilha, em 1976, quando em plena ditadura militar brasileira, desmitificou e escancarou uma realidade social totalmente diferente da que era passada pela grande mídia.

“Em 1998, quando estava nos Estados Unidos, com a minha esposa, escutei na rádio um breve relato sobre agentes secretos cubanos presos. Na hora pensei: aí tem algo interessante”, afirma Morais. Depois disso, foram inúmeras viagens para Miami e Cuba, análise de documentos secretos e centenas de entrevistas. O resultado é um extensa reportagem com os melhores elementos literários de um romance de espionagem.

Para o escritor, o que surpreende é que seu livro conta novidades do passado, e isso significa muito quando se trata de Cuba. “Essa história, na verdade, é um furo jornalístico. O que revela que a postura da grande imprensa em relação à ilha permanece inalterada mesmo após 52 anos de revolução”, disse.

Fernando Morais fez questão de criticar a grande imprensa brasileira. O escritor, em começo de carreira, chegou a trabalhar na Veja, mas faz questão de ponderar, bem humorado: “naquele tempo, Fidel Castro dava capa positiva na Veja”. Segundo ele, o veículo ainda não publicou “uma sílaba” sobre o livro, mas diz gozar do privilégio de entrar na revista pela “porta da frente”, ou seja, pelas mãos dos leitores, já que o livro está entre os mais lidos.

De acordo com ele “a história não precisa de adjetivo. É uma história com tutano, osso e pele. Nem o mais talentoso romancista daria conta de contá-la de forma tão rica como ela é na realidade”.

Para o cônsul de Cuba, Lázaro Mendes Cabrera, a obra é uma grande contribuição à luta da ilha e reflete o sentimento de solidariedade que há entre os povos latino-americanos. Socorro Gomes, a presidente do Centro Brasileiro de Luta Pela Paz (Cebrapaz), também ressalta essa questão, lembrando a cooperação internacional que Cuba promove na área da medicina e da educação.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Acervo do escritor José de Alencar será digitalizado

Da Agência Estado


Manuscritos e documentos inéditos do pai do romance brasileiro, o escritor cearense José de Alencar, serão digitalizados e colocados à disposição numa biblioteca virtual que terá como centro de referência a casa onde ele nasceu, em Fortaleza. O material ficará disponível para consulta pública nos computadores da biblioteca da Casa de José de Alencar a partir de maio de 2012.

O projeto, orçado em R$ 100 mil, será realizado pela Casa de José de Alencar em parceria com o Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará e o Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional. 

Entre os 29 documentos, destacam-se treze cadernos manuscritos com fragmentos de textos já publicados, como o livro autobiográfico "Como e Por Que Sou Romancista" e do ensaio filosófico e antropológico "Antiguidade da América". Também serão digitalizados trechos do primeiro romance de Alencar, "Os Contrabandistas", que, segundo o pesquisador Marcelo Peloggio, não chegou a ser concluído. "Foi a primeira tentativa de Alencar de escrever um romance", diz Peloggio. "Alguns desses papéis se perderam. Afinal são documentos de 1846."

Boa parte desse material que será digitalizado foi transformada em livro por Peloggio, após três anos de pesquisa no acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio, onde os documentos encontram-se expostos. A obra traz textos de Alencar guardados há mais de 130 anos, que ainda não haviam sido publicados integralmente. 

O pesquisador identificou fragmentos e anotações em 11 cadernos do escritor cearense que compõem dois manuscritos sobre a origem da humanidade e sua extinção, "Antiguidade da América" e "A Raça Primogênita".

"São textos de caráter antropológico e filosófico, talvez os últimos de Alencar. Aventam a hipótese de que o homem surgiu na América e aqui vai se extinguir", diz Peloggio. Os ensaios consideram que o berço da humanidade seria a América e que o mundo terminaria em um grande massacre, que se passaria no continente.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A gênese da biografia e o "eu" fragmentado na modernidade

Por Otávio Frias Filho, da Ilustríssima
Ilustração: Elisa Von Randow 

RESUMO A narrativa biográfica ganhou feições modernas e autonomia literária no século 20, tanto no Brasil como em outros países. Recentemente, o gênero passou a espelhar as contradições de uma época em que o indivíduo se reconfigura entre o narcisismo midiático e a cultura das celebridades. 

A biografia sofre conhecidas limitações como gênero literário. Apesar dos grandes escritores que se dedicaram a ela e dos biógrafos que deixaram obras-primas, as restrições nem por isso deixam de ser apontadas. 
Tendo de se ater a fatos, o biógrafo jamais alcança a plena autonomia criativa do poeta e do romancista. Tendo por assunto a vida de um personagem, ele tampouco atina, se não de relance, com a compreensão profunda de uma época, própria do historiador. Além disso, há os percalços inerentes ao gênero. Como confiar no biógrafo? Parecido com o tradutor, a quem às vezes é comparado, ele também é um traidor. Tenderá a minimizar ou suprimir certos aspectos desfavoráveis na atuação do biografado, a confiar em sua versão nos pontos controvertidos, a compreender demais seus motivos e fraquezas. Ou, no caso das biografias ditas não autorizadas, destinadas a provocar sensação, fará quase o contrário disso.

MAGNETISMO Precisa-se, então, de biógrafos imparciais e neutros. Mas estes quase sempre se revelam os menos aptos a extrair da massa de eventos biográficos um sentido revelador, uma síntese significativa. 
Parece que a boa biografia depende do magnetismo entre duas personalidades -de uma dialética peculiar em que o biógrafo cria, por sua própria conta e risco, o sentido apenas sugerido na vida do biografado, dispersiva e amorfa como a de toda pessoa. "A Vida de Samuel Johnson" (1791), de James Boswell, considerado o maior clássico do gênero em inglês, é resultado de uma cumplicidade desse tipo. Johnson era a figura literária suprema em Londres, onde reinava como crítico temido e dicionarista incontestável, quando Boswell, um jovem literato recém-chegado da Escócia, conquistou sua amizade.
Durante 11 anos, Boswell perseguiu Johnson com a obsessão de um repórter, registrando episódios pitorescos e frases iluminadoras. Chegou ao cúmulo de montar situações, como um jantar a que compareceria um desafeto de Johnson sem que este soubesse, a fim de observar as reações do sábio. 
No afã de pintar um retrato exaustivo e irretocável, que incorporasse "até as verrugas", Boswell produziu um livro com mais de mil páginas, hoje pouco legível, mas que teve poderosa influência no gênero biográfico que floresceria desde então.

APELO A biografia veio a exercer apelo de leitura quase universal, sobretudo numa época, como a nossa, em que o mecanismo midiático projeta as personalidades famosas num perímetro antes inimaginável, ao mesmo tempo que glamuriza sua intimidade, convertida em produto simbólico. 
Nos Estados Unidos, a biografia é o quinto gênero mais editado, depois de ficção, religião, economia e ciência. Vendeu-se cerca de um milhão de exemplares de biografias no mercado brasileiro no ano passado. Quase toda lista de "dez mais" inclui algumas delas. Se nos EUA a explosão biográfica remonta aos anos 1960, ela teve início no Brasil na década de 1990, com as obras de Ruy Castro (sobre Nelson Rodrigues), Fernando Morais (Assis Chateaubriand) e Jorge Caldeira (visconde de Mauá), três escritores egressos do jornalismo. 
Seus livros combinavam pesquisa meticulosa e narrativa carismática; apesar de longos e bem documentados, garantiam leitura cativante. Como compete ao biógrafo ambicioso, adotavam um enfoque atual de seus protagonistas, apresentados no contexto de seu tempo, mas à luz do nosso. Conduzidos de modo profissional, os lançamentos pareciam preparar o transplante para outros meios, como TV e cinema. 

TRADIÇÃO O êxito desse novo veio biográfico, enriquecido pela contribuição de outros autores, joga uma cortina de esquecimento, entretanto, sobre uma respeitável tradição. Na última Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em julho, o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto lamentou que o Brasil não tivesse uma sólida vertente biográfica. Juízo questionável em autor tão qualificado, a declaração talvez se deva menos ao ambiente de entrevista onde ocorreu do que ao ofuscamento que a onda biográfica dos últimos 20 anos gerou.
Na terra do "homem cordial", onde a pessoalidade prevalece sobre normas e fatores gerais, o relato biográfico logo prosperou. Em meio a uma profusão de biografias anódinas e encomiásticas, destinadas a entronizar a personagem escolhida num panteão de gesso, destacam-se livros de valor duradouro. Despontam entre eles, por exemplo, os estudos de Lucia Miguel Pereira sobre Machado de Assis (1936) e de Francisco de Assis Barbosa sobre Lima Barreto (1952).
Para além desses clarões confinados ao âmbito literário, a biografia brasileira se estendeu a empreendimentos de mais envergadura, nos quais, ao focalizar a vida de um estadista ou de um punhado deles, descortina-se uma era. 
O melhor exemplo é a mais célebre biografia escrita no Brasil, "Um Estadista do Império" (1896), na qual Joaquim Nabuco narra a trajetória pública do pai, considerada uma das melhores reconstituições políticas do Segundo Reinado. O historiador Octavio Tarquínio de Sousa levou a termo tarefa semelhante em sua série "História dos Fundadores do Império do Brasil" (1957), sobre D. Pedro I, José Bonifácio, Bernardo Pereira de Vasconcelos, Evaristo da Veiga e Diogo Feijó. 
Afonso Arinos emulou Nabuco ao escrever o livro intitulado, com algum exagero, "Um Estadista da República" (1955), também sobre seu pai, Afrânio de Melo Franco -personagem mais periférico do que o senador Nabuco de Araújo. Mas a obra constitui, ao lado de sua biografia do presidente Rodrigues Alves, um substancioso painel da vida política e cultural na República Velha. (Historiador-jornalista dos nossos dias, Elio Gaspari terá se inspirado nesses antecessores ao condensar quase duas décadas de história política numa espécie de biografia, ou, antes, na narrativa da parceria entre "o sacerdote" e "o feiticeiro", os generais Geisel e Golbery, crucial na instalação e na derrocada do regime militar.)
Certos personagens que chegaram ao reconhecimento unânime, como Ruy Barbosa e o próprio Nabuco, foram alvo de sucessivas investidas em livros que se leem até hoje com proveito, como os de Luís Viana Filho e Álvaro Lins (este sobre o barão do Rio Branco). É verdade que essa alentada tradição biográfica, desenvolvida entre o início e a metade do século passado, nutrida numa vaga obrigação patriótica das belas-letras de reverenciar o grande personagem da história ou do saber, foi quase sempre convencional, quando não oficiosa. 
São trabalhos amparados numa documentação admirável naquelas épocas em que não havia os recursos eletrônicos de hoje, nem a política de adiantamento das editoras ou as atuais equipes de pesquisadores-auxiliares. São livros instrutivos e muito bem escritos, apesar do inevitável timbre antiquado da prosa e do laivo cerimonioso que a percorre. Mas ainda não são biografias modernas.

PRECURSORES Os precursores da biografia, ao menos na cultura ocidental, foram Plutarco, Suetônio e Tácito, autores que viveram na segunda metade do século I. 
Escrevendo em grego, Plutarco justapôs figuras históricas e semilendárias da Grécia e de Roma, agrupando-as nos pares de seu famoso "Vidas Paralelas". Os outros dois, escrevendo em latim, deixaram esboços biográficos de uma sucessão de imperadores romanos. 
É notável que os detalhes escandalosos e os episódios anedóticos, longe de ser invenção recente, já figuram nesses primórdios do gênero. Suetônio narra pormenores da intimidade sexual de Calígula que não destoam do filme pornográfico feito nos anos 1970 sobre a corte do tirano. Várias das imagens forjadas pelo biógrafo atravessaram os séculos, como Nero a tocar lira enquanto Roma arde ou lastimando, ao morrer, o artista que o mundo perdia.
Existe um substrato qualquer de curiosidade frívola e apetite pelo escabroso em todo psiquismo humano; a anedota biográfica decerto responde a uma combinação sublimada desses impulsos menos confessáveis. 
Mas nos autores clássicos ela serve ao propósito de sintetizar as configurações exemplares da virtude e do vício. O episódio anedótico é invocado porque seu impacto memorável corporifica a virtude que se quer enaltecer ou o vício que se quer deplorar (no caso de Suetônio, em especial, a virtude convertida em vício pelo exercício imoderado do poder). 
Essa tradição se projetou nos autores cristãos que escreveram numerosas vidas de santos na Idade Média. Embora a virtude cristã se expressasse na imitação de Jesus e na obediência à Igreja, em lugar do sentimento de honra perante a pátria e os antepassados, os autores desses livros buscavam, como na matriz clássica, circunscrever o acontecimento superlativo capaz de tornar indelével o exemplo dos maiores. São testemunhos de milagres realizados e de bênçãos alcançadas, são incidentes em que as crueldades e provações mais inconcebíveis apenas fortalecem a têmpera do cristão no rumo da santidade.

AUTONOMIA Foi mais ou menos a partir do calhamaço de Boswell sobre o dr. Johnson, no final do século 18, que a biografia se desprendeu das motivações cívicas e religiosas na exaltação do biografado para adquirir alguma autonomia literária. A caracterização da personalidade notável e de suas passagens célebres persiste, mas agora o objetivo é atingir a verdade encerrada no ciclo de uma vida, revelar o sentido oculto em que ela se articula com a história ou com o próprio destino.
É um período de biografias gigantescas que se espraiam por vários volumes. Alguns biógrafos acreditam que o sentido de uma vida está inscrito de antemão, por algum processo místico ou desconhecido, na origem de cada existência, como se vivê-la fosse desdobrar um roteiro prévio comparável ao "design inteligente" dos criacionistas. Outros, ao contrário, pensam que toda vida é produto de circunstâncias fortuitas, como se o meio "selecionasse" o personagem para o papel que vai exercer. Combinações das duas doutrinas frutificaram. 
Ao atingir a maturidade como gênero no século 19, quando passa a se ocupar do âmago da vida narrada, a biografia ingressa, porém, num terreno dificultoso e cada vez mais movediço. Uma das mais avassaladoras realizações intelectuais da modernidade foi dissolver a identidade do eu, a própria base onde se assentava o edifício biográfico. Não existe uma pessoa, mas várias, conforme o momento e o ângulo em que é observada. Assim também o sentido de uma vida é sempre múltiplo: será um para a própria pessoa, outro para quem lhe é próximo, um terceiro para o historiador e ainda outro para o historiador rival. 
Há tantas vidas num indivíduo quantos biógrafos que se disponham a escrever sobre ele. Mais do que isso, toda pessoa faz parte de um encadeamento infinito que se perde na imensidão de causas e efeitos do mundo. Onde começa a pessoa e onde termina o mundo? 

COLAPSO DA IDENTIDADE Num livro publicado há pouco no Brasil, "O Pequeno X - Da Biografia à História" [trad. Fernando Scheibe, Autêntica, 232 págs.], a pesquisadora francesa Sabina Loriga faz um recenseamento dos efeitos que o colapso da identidade do eu acarretou na historiografia biográfica do século 19. Razoavelmente livre de jargão acadêmico, o trabalho discute a questão tal como aparece nos escritos de autores como Thomas Carlyle, Jacob Burckhardt e Leon Tolstói. A figura do "grande personagem" vai sendo abalada em seus alicerces tanto pelo advento das massas urbanas na cena histórica como pelas inquirições perturbadoras em torno dos abismos da psicologia individual.
Dessa crise emergiu, em 1918, o livro apontado como divisor de águas entre a biografia tradicional e a moderna, "Eminent Victorians", de Lytton Strachey, até hoje sem tradução brasileira.
Para reconstituir o reinado da rainha Vitória, quando se organizou o imperialismo britânico em escala mundial, Strachey seleciona as quatro personalidades eminentes do título, nenhuma delas protagonista da época. Numa proeza de concisão, dedica pouco mais de 50 páginas a cada uma. 
Sua narração é descritiva, factual sem ser enfadonha. Ele não especula, não exagera e não opina -os personagens são como espécimes submetidos à lupa do naturalista. No entanto, sob prosa aparentemente tão inofensiva, uma devastadora dose de crítica social era inoculada no leitor.
Florence Nightingale, a veneranda enfermeira que reformou o sistema hospitalar do Exército britânico na Guerra da Crimeia [1853-56], surge como neurótica obsessiva cujo caráter não seria isento de morbidez. O cardeal Manning, líder de um cisma de prelados anglicanos que retornaram à Igreja Católica, parece concluir que, dentre tantas crenças absurdas e incompatíveis, melhor ficar com a original.
O doutor Arnold é um dos eméritos educadores responsáveis pela introdução dos métodos disciplinares que tornaram infames os internatos ingleses. E o general Gordon, herói das guerras no Sudão, parece o coronel Kurtz de Joseph Conrad, encomendando caixas de conhaque e de água, provavelmente enlouquecido pela febre na selva onde se isolara.
Strachey era irmão do editor da obra de Freud em inglês e amigo íntimo de Virginia Woolf, que integrava como ele o círculo de intelectuais de vanguarda conhecido como Bloomsbury, do qual também fez parte o economista John Maynard Keynes. 
Talvez as extravagâncias atribuídas ao grupo tenham pesado na recepção escandalizada do livro que, ao inaugurar o modernismo na biografia literária, desfechou mais um golpe insidioso na sociedade hierárquica e tradicional que periclitava e viria a se desfazer nas décadas seguintes.

MODERNIDADE A biografia moderna expande o universo de seus personagens, realizando a premonição de Samuel Johnson de que, assim como toda vida merece ser vivida, merece também ser biografada.
Ao mesmo tempo, diferente do tom elegíaco da biografia tradicional, que se atém à camada visível da vida do personagem, ela adota uma disposição investigativa, crítica, revisória. Em face da dificuldade de fixar um "eu" sempre fugaz e do inextricável turbilhão de partículas que faz a história, o biógrafo moderno assume o protagonismo da obra e faz do biografado quase uma invenção artística sua. Desde meados do século passado, porém, o desenvolvimento do cinema e da televisão passou a exercer uma irresistível atração sobre o gênero biográfico. Uma quantidade inédita de leitores, muitas vezes com pouca experiência intelectual, começou a ler biografias vorazmente. A difusão extraordinária da literatura biográfica é consequência, sobretudo, dessa evolução na demografia de leitores. 

CELEBRIDADE Numa era de igualdade de direitos e de padrões massificados, surge como por encanto uma nova hierarquia, fundada na riqueza como a anterior, mas expressa no culto à celebridade. Talvez porque o sentimento de devoção já não seja dirigido à veneração de santos e heróis, que caiu em desuso, ele tenha de se deslocar para essas figuras de fama mundana, mas resplandecente e inatingível como os antigos modelos, geradas pela indústria midiática. Todas essas personagens se dispõem também numa hierarquia, desde a estrela internacional até a celebridade privativa pulverizada pelos "daily me" das redes sociais.
Essa forma sôfrega e impaciente de narcisismo integra o espírito da época, seria inútil resistir a ele. Sempre houve e haverá biografias melhores e piores, de toda forma. Mas as pressões culturais contemporâneas desafiam o projeto modernista em todos os campos, inclusive o biográfico. 
O episódio anedótico, recurso essencial na história do gênero como porta de acesso à revelação biográfica, começa a valer por si mesmo, dadas as solicitações de um público cada vez mais treinado no entretenimento leve. A complexidade de toda vida, campo de exploração do biógrafo, tende a se conformar aos enredos pré-fabricados da psicologia popular. 
Caberá ao bom biógrafo aceitar o espírito da época em que está imerso, sem com isso comprometer a busca solitária da verdade que viu no outro -nessa busca interminável reside, talvez, o sentido último da biografia, como o da própria vida que se resume a ser vivida.