segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Prêmio Jovem Cientista está com inscrições abertas


Com o tema “Energia e Meio-Ambiente - Soluções para o Futuro”, o Prêmio Jovem Cientista abre sua 24° edição. As inscrições podem ser feitas até o dia 30 de junho de 2010. Os interessados podem se inscrever em uma das cinco categorias: estudantes de ensino médio, estudantes de graduação, graduados, orientador e mérito institucional. No total, serão distribuídos R$ 150 mil em prêmios para os primeiros colocados em cada categoria. 
 O Prêmio Jovem Cientista é uma parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Gerdau, a Fundação Roberto Marinho (FRM) e tem como objetivos estimular a pesquisa, revelar talentos e investir em estudantes e profissionais que procuram alternativas para os problemas brasileiros.
O regulamento, a ficha de inscrição e as linhas de pesquisas de cada categoria estão disponíveis no site  www.jovemcientista.cnpq.br.


Da Assessoria do CNPq

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

UEPB participa de Fórum de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas

No início desta semana, a UEPB participou da primeira reunião de 2010 do Fórum de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas da Paraíba. Ainda participaram do encontro, sediado no Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), em Campina Grande, representantes do INSA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Superintendência Federal de Agricultura do Estado da Paraíba (MAPA/SFA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão), além da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Na ocasião, foi feita uma retrospectiva das ações do Fórum em 2009, dentre elas a aprovação de projetos junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Um resultado dessas ações será a realização do curso sobre o arroz vermelho, já em março próximo, no município paraibano de Itaporanga” – informa a pesquisadora do INSA, Fabiane Costa.
Em 2010, o Fórum dedicará mais atenção a produtos como o abacaxi, o coco de Sousa e os citrus da Borborema. Outras reuniões alternadas estão marcadas para os dias 09 de março e 04 de maio, na sede do MAPA, em João Pessoa, e no dia 06 de abril e 08 de junho, na Embrapa Algodão, em Campina Grande.
No próximo encontro do Fórum, será discutida a proposta de Regimento Interno, a identificação dos parceiros regionais e o plano de ação para 2010. Estão sendo trabalhados, também, dois acordos entre as instituições participantes, no sentido de se fortalecer as atividades de Indicação Geográfica e/ou Marcas Coletivas no Estado da Paraíba.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Lourdes Ramalho prepara novas peças


A saga dos judeus na Paraíba contada por uma das maiores dramaturgas contemporâneas. O texto está pronto, só que a mais nova peça de Lourdes Ramalho, só será montada no segundo semestre. Ela está esperando o Teatro Municipal Severino Cabral reabrir suas portas para formar o elenco e montar o espetáculo.

Aos 80 anos de muito talento Lourdes Ramalho não pára. A dramaturga, que tem até um teatro com o seu nome, já escreveu mais de 100 peças. Na sala de sua casa, na Rua João Tavares, no Centro, ela solta a imaginação e cria histórias surpreendentes. Este ano, pretende montar só no primeiro semestre quatro novos espetáculos, sendo dois para serem apresentados em Portugal e dois em João Pessoa.

Os doidos de santidade e Eva e Adão, foram escritos por Lourdes para serem apresentados em Portugal. Os dois espetacúlos estão em fase de montagem. Lourdes também é autora de Fiel espelho meu e Uma visão de mulher, que devem estrear em breve na capital paraibana. Esses dois últimos espetáculos estão em fase de ensaio. Fiel espelho meu, conforme contou Lourdes, é um monólogo que trata do desabafo de uma mulher no dia da morte do marido. Já Uma visão de mulher, encenado por funcionárias da Associação de Magistrados da Paraíba, revela toda amplitude da mulher paraibana.

Lourdes Ramalho não consegue se imaginar longe da máquina de escrever. Mesmo tendo computador em casa e todas as ferramentas da modernidade, ela não se "desgruda" da máquina. A arte de escrever corre nas suas veias.

Numa das manhãs de quarta-feira de janeiro deste ano, quando, por telefone, concedeu entrevista ao Diário da Borborema, Lourdes estava triste. A mulher que mexeu com sentimentos de plateias inteiras com seus textos, que já fez o público rir e chorar estava com lágrimas jorrando dos olhos. Recebeu a notícia de que um sobrinho que ela considera filho, estava muito doente. Horas depois ficou sabendo que o rapaz havia morrido. Uma dor para a dramaturga. "Estou muito triste", revelou com a voz mansa.

Maria de Lourdes Nunes Ramalho, ou Lourdes Ramalho, como é conhecida literariamente, é uma escritora nascida no início da década de 1920, em Jardim do Seridó, fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba, numa família de artistas e educadores. Ela contou que seu bisavô era violeiro e repentista, a mãe professora e dramaturga, e os tios atores, cordelistas e violeiros. Assim, cresceu ouvindo cantorias de viola e histórias contadas por vendedores de folhetos.

A relação de Lourdes com a poesia popular é muito forte. Está ligada umbilicalmente ao passado. O seu bisavô, Hugolino Nunes da Costa, é um dos expoentes da primeira geração de cantadores surgida no Sertão paraibano, em meados do século XIX, dando sequência a uma linhagem iniciada por Agostinho Nunes da Costa, considerado o pai da poesia sertaneja nordestina. É deste contato com cantadores, cordelistas e contadores de história que vem o aprendizado dos procedimentos próprios da literatura popular, mais tarde assimilados em sua dramaturgia.

A maior parte da produção literária de Lourdes Ramalho é de textos para teatro. Seu fazer literário passa, entretanto e desde sempre, pela poesia e, ultimamente, contempla, ainda, a área da genealogia.

Por Severino Lopes, do Diário da Borborema

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Brasil é o país com o maior número de dentistas do mundo


No Brasil, estão 19% dos dentistas do mundo. O dado é do livro "Perfil Atual e Tendência do Cirurgião-Dentista Brasileiro", que foi lançado ontem no 28º Ciosp (Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo). Realizado no Anhembi, em São Paulo, o congresso, que termina hoje, foi promovido pela Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas.
Segundo Maria Celeste Morita, professora da Universidade Estadual de Londrina e uma das autoras do livro, o Brasil é o país com a maior quantidade de profissionais de odontologia do mundo em números absolutos: são 219.575 profissionais cadastrados. "O "Atlas Global de Odontologia", publicado em 2009 pela Federação Dentária Internacional, estima pouco mais de um milhão de dentistas no mundo. De todos os países incluídos no Atlas, o Brasil é o que tem o maior número de profissionais", diz Morita.
Mas o recorde em número de dentistas ainda não se reflete no acesso de boa parte da população aos serviços odontológicos. "Embora nos últimos anos a odontologia esteja se incluindo de forma mais representativa nas políticas públicas de saúde, ainda há muita desigualdade", afirma Ana Estela Haddad, da Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério do Trabalho. Haddad também assina o livro, com Morita e com Maria Ercília de Araújo, do Observatório de Recursos Humanos em Odontologia.
A dificuldade de acesso a esse enorme contingente de profissionais é, segundo Haddad, explicada por uma soma de fatores. Um deles aparece nos dados levantados para o livro: 59% dos dentistas estão na região Sudeste e três Estados concentram 57% deles -cerca de 33% estão em São Paulo, enquanto Minas Gerais e Rio de Janeiro têm, cada um, aproximadamente 12% dos dentistas.
Além da distribuição regional, Haddad acredita que outros dois fatores expliquem o menor acesso de camadas da população aos serviços odontológicos. "A inserção do dentista nas políticas públicas de saúde é algo recente. Além disso, conforme constatamos no livro, 2/3 dos dentistas trabalham como autônomos, em atendimentos particulares. Isso representa um custo que algumas parcelas da população não podem pagar", diz Haddad.

Por Iara Biderman (colaboração para a Folha de São Paulo)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SER OU NÃO SER UNIVERSITÁRIO? EIS A QUESTÃO!


Caro estudante! Você começa hoje um curso superior numa universidade pública. E o que isso muda, afinal? E o que isso muda em sua vida? Você continua sendo o que era antes, um estudante. Afinal, qual a diferença mesmo entre ser um estudante de ensino médio e ser um estudante universitário?
Ser universitário é uma questão de atitude. Isso mesmo: a maior diferença está na atitude.
Se você chegou aqui cheio de expectativas, sonhos, planos, esperanças de mudanças e um otimismo à prova de terremotos, prepare-se porque você será testado cotidianamente daqui por diante. Testado no sentido de provar pra si mesmo que é capaz de fazer algo por si e para si e que sabe exatamente o que quer pra sua vida.
E como isso é possível se você acaba de passar em um vestibular e está apenas começando um curso superior? Eis a questão: a mudança começa agora!
Se no ensino fundamental e médio você era alguém que confiava em 100% no professor, que esperava em quase 100% pelo que o professor trouxesse para sala de aula, que exercitava cotidianamente os ensinamentos do professor na esperança de memorizar, aprender macetes, desenvolver habilidades para passar no vestibular, ao menos uma coisa é certa, algo funcionou, pois você está aqui.
Não que você não deva confiar em seus professores. Não que você não aceite ser orientado ou guiado pelos seus professores, não que você não precise estudar cotidianamente... Nada disso! Você terá sempre que memorizar algumas coisas, desenvolver muitas habilidades, aguçar sua curiosidade, preparar-se para avaliações, provar que aprendeu.
A grande diferença está em que, a partir de agora, você será mais responsável pelo seu aprendizado do que o professor. Isso porque quem esperar sempre pelo professor sairá daqui como um profissional mediano ou mesmo medíocre. Quem acreditar que o professor sabe de tudo e que irá lhe ensinar esse tudo está profundamente enganado. Quem olhar para o professor e vê-lo como uma fonte de sabedoria, um verdadeiro oráculo pronto a dar-lhe respostas pra tudo irá se decepcionar e, por conseqüência, descobrirá que a Universidade não era aquilo que tanto sonhava.
Eis meus caros alunos algumas sugestões a partir do que aprendi com minha experiência. Você precisa acima de tudo se tornar o maior responsável pela sua formação. O seu professor será mais facilitador do seu aprendizado que um ‘ensinador’ de coisas. Será mais um orientador sobre os caminhos que você deve percorrer em busca do conhecimento que um sabe-tudo com respostas prontas que facilitarão sua vida. Mais que dar respostas prontas, seus professores deverão lhes ensinar a fazer as perguntas e procurar as respostas.
Daqui em diante você precisará ser mais dono do seu nariz. Você precisará ler os textos indicados pelo professor, pesquisar a bibliografia recomendada, dar conta de participar dos debates, seminários, avaliações, mas não é somente isto. Você estará no comando. É disto que você precisa ter consciência. A mudança acontecerá se você mudar.
Prepare-se para esta mudança que é, essencialmente, de atitude. Aproveite os anos de estudo na Universidade, pois eles não voltarão e mesmo que você faça outro curso superior, depois já não será a mesma coisa.
Não há incompatibilidade entre ser jovem, vivenciar todas as oportunidades oferecidas aos jovens e ser universitário. Não há contradição alguma entre participar de quase tudo que a vida oferecer, curtir ao máximo esta fase tão marcante da vida, namorar bastante, se divertir com os novos amigos e, ao mesmo tempo, fazer da experiência universitária uma grande oportunidade. Oportunidade para crescer, aprender muito, preparar-se para o mundo do trabalho, estabelecer novas e boas relações, participar ativamente da vida universitária e aprender um novo modo de fazer política, realizar uma fantástica viagem pelo mundo do conhecimento e daqui a alguns anos se tornar um bom profissional.
A grande diferença estará na mudança de atitude que você conseguir imprimir à sua vida. Você terá pela frente talvez o maior desafio que já enfrentou até agora. Talvez maior que a própria tentativa de ingressar na Universidade. O desafio não é concluir um curso superior, mas se tornar uma pessoa com novos conhecimentos, competências e habilidades. Mais que isso, o maior desafio é se tornar uma pessoa melhor, mais madura, mais aberta pro mundo, mais capaz de se autodeterminar e tomar conta do próprio destino, edificá-lo.
E mais: você não pode esquecer que o povo paraibano financiará a sua formação superior. Tenha sempre consciência deste fato.
Isto é SER universitário! Se você conseguir dar conta disto, daqui a alguns anos sairá da UEPB com marcas e memórias inesquecíveis de um tempo maravilhoso e, além de ser uma pessoa mais experiente e com boas histórias pra contar, terá vivido alguns dos melhores anos de sua vida.

Desejo-lhe uma boa viagem!

Texto de autoria do Prof. Ms. Antônio Guedes Rangel Junior (professor do Departamento de Psicologia e Pró-Reitor de Planejamento da UEPB)

São Vicente é um Brasilin

 A famosa cantora cabo-verdiana, Cesária Évora

A despedida dos alunos cabo-verdianos intercambistas da UEPB andou repercutindo. O professor José Benjamim, chefe de gabinete e professor de História da Instituição, foi um dos que mais estiveram presentes na vida acadêmica dos alunos intercambistas e falou um pouco da experiência.
Benjamim informou que o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neab-í) foi criado em 05 de julho de 2006, numa reunião com os 27 alunos de Cabo Verde. Nesta ocasião, foi definida a realização de um curso de extensão para os alunos africanos, que durou todo o recesso escolar de julho de 2006.
Na primeira reunião, estavam presentes o estudante de Serviço Social, Manoel Simplício (hoje graduado) e a professora Vanusa, de História. Como disseram, eles não se conheciam em seu país, pois vieram de regiões (ilhas) distintas.
“Nesta reunião, que coincidiu com o Dia da Independência de Cabo Verde, pedimos que cantassem uma música que lembrasse sua terra, seu povo. Cantaram ‘Sodade’, de Cesária Évora. Claro, desabaram no choro. Foi um momento emocionante, lindo, marcante. Na aula seguinte, quando fizemos avaliação, um dos alunos declarou que ‘pela primeira vez sentiu o significado de nação, nacionalidade, país’”, relatou Benjamim.
E já que estamos em época pré-carnavalesca, e após citar a famosa cantora cabo-verdiana, Cesária Évora, lembramos de outra canção sua, “Carnaval de São Vicente”, onde é dito “São Vicente é um brasilin, Chei di ligria chei di cor”. Cantado em crioulo, dialeto cabo-verdiano, a frase diz algo como São Vicente é um brasilzinho, cheio de alegria, cheio de cor.

Escute aqui “Carnaval de São Vicente” (http://tiny.cc/1dZIY) e “Sodade” (http://tiny.cc/OQ5Hl).

Universidade Pública

A Universidade Pública de Cabo Verde (Uni-CV) foi inaugurada em 2006, fruto de um convênio com o governo brasileiro. O Ministério da Educação (MEC) destinou a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), para ajudar na construção da Universidade de Cabo Verde. “Antes não havia universidade. Existiam cursos superiores esparsos e privados. Foi uma conquista daquele povo e ponto para a diplomacia brasileira”, disse Benjamim.

A implantação da primeira universidade pública de Cabo Verde teve consultoria técnica de planejamento do Brasil, por meio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior). A nova universidade foi concebida segundo os padrões brasileiros de instituições públicas de ensino superior.

Desde a independência, em 1975, o país progrediu na área de educação básica e 95% das crianças em idade escolar estão na escola. Faltava melhorar o ensino superior. A Uni-CV, que fica na cidade de Praia, capital de Cabo Verde, estava na agenda do MEC desde julho de 2004, quando o presidente da República visitou o país.

Entre as ações do MEC, em apoio à construção da Universidade Pública, destacam-se: capacitação de pessoal nos setores de regulação, supervisão e avaliação da educação superior; assistência técnica; implantação do projeto de apoio à formação de professores.

Cabo Verde

Arquipélago composto de dez ilhas, Cabo Verde situa-se no oceano Atlântico, a 640 quilômetros a oeste do Senegal, na África. Tem 4.033 quilômetros quadrados e população de aproximadamente 401 mil pessoas. O português é a língua oficial e o crioulo cabo-verdiano é a língua nacional, falada de forma diferente em cada uma das nove ilhas habitadas. O povo de Cabo Verde é formado por descendentes portugueses e africanos, especialmente por causa da escravidão praticada por Portugal. As atividades econômicas principais são a agricultura e a pesca. As terras de Cabo Verde pertenceram a Portugal de 1460, quando foram descobertas, a 1975, quando o país conseguiu sua independência.


Da Ascom/UEPB (Por Juliana Rosas)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Euclides da Cunha - À Margem dos Sertões


Depois do dia 02 de dezembro de 1902, a vida de Euclides da Cunha não seria mais a mesma. Publicado nesse dia, Os Sertões alçaria o então militar reformado, jornalista, ensaísta, engenheiro de campo e funcionário público ao sucesso instantâneo. Escrito a partir da cobertura feita por ele da campanha de Canudos para o jornal O Estado de S. Paulo, o cartapácio de mais de 600 páginas teve os 1,2 mil exemplares esgotados rapidamente, ganhando elogios dos maiores críticos da época - gente como José Veríssimo, Silvio Romero e Araripe Jr. Menos de um ano depois, em 21 de setembro de 1903, Euclides foi eleito com folga para ocupar a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras. Anos depois, Os Sertões inspiraria obras como A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, e Veredicto em Canudos, de um fascinado húngaro Sándor Márai, que leu o livro numa edição em inglês. "Da literatura brasileira, só conheço Euclides da Cunha", disse em certa ocasião o argentino Jorge Luis Borges.

Uma obra dessa magnitude, entretanto, pode às vezes se tornar um peso. Numa carta enviada ao jornalista uruguaio Agustín de Vedia, datada de 13 de outubro de 1908, Euclides assim se referia a Os Sertões:  "O livro bárbaro da minha mocidade, monstruoso poema de brutalidade e de força", e "tão distante da maneira tranquila pela qual considero hoje a vida, que eu mesmo às vezes custo a entendê-lo. Em todo o caso é o primogênito do meu espírito, e há críticos atrevidos que afirmam ser o meu único livro... Será verdade? Repugna-me, entretanto, admitir que tenha chegado a um ponto culminante, restando o resto da vida para descê-lo." Euclides parecia ter noção da gravidade da anotação: em outra folha, burila e refaz o texto, trocando "críticos atrevidos" por "críticos audazes" e "repugna-me" por "custa-me".

A essa altura, já colecionava uma considerável produção como jornalista, reunida em dois volumes: Contrastes e Confrontos e Peru Versus Bolívia. No ano seguinte, sairia - já póstumo - À Margem da História. Uma produção que, somada a outros textos esparsos, incluindo crônica, poesia e correspondência, compõe mais da metade da recém-lançada, e atualizada, Euclides da Cunha - Obra Completa. Na edição, organizada por Paulo Roberto Pereira, é possível ter a dimensão da obra que Euclides construiu para além do "livro bárbaro" de sua mocidade. E talvez Euclides não gostasse, mas o fato é que toda a sua obra - anterior e posterior - está sempre margeando Os Sertões.

O POETA ROMÂNTICO

Como tantos de sua geração, Euclides começou sua carreira de escritor aventurando-se pelos versos. Escreveu seus primeiros poemas em um caderno com 17 anos, aos quais deu o título de Ondas. A partir de então, sua produção poética - publicada em periódicos - será irregular, incipiente e de qualidade discutível, mas muito reveladora do universo do autor. Espremido entre o naturalismo e o modernismo, Euclides costumava ser encaixado na turma do pré-modernismo, carregando ainda cacoetes poéticos do parnasianismo. Mas quem talvez dê chave definitiva para a compreensão da obra de Euclides é o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Francisco Foot Hardman. Ele viu em sua obra aspectos contraditórios de diversas escolas, mas com base no romantismo de tradição francesa, à maneira de Victor Hugo, que combina "dramatização da história" com "discurso socialmente empenhado". Nessa visão, a história seria uma "construção de ruínas", uma narrativa "dramática de brutalidade".

Em Mundos Extintos (1886), por exemplo, Euclides escreve:

"Morrem os mundos... Silenciosa e escura,

Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,

Nas luminosas solidões da altura

Erguem-se, assim, necrópoles sombrias..."

Nessa "poética de extinção", na expressão de Hardman, Euclides prosseguiria até a sua obra-prima, levando a própria métrica. Num texto de 1977, presente na Fortuna Crítica da atual Obra Completa, o poeta e ensaísta Augusto de Campos retoma uma tese do crítico Guilherme de Almeida e afirma ter identificado em Os Sertões "500 decassílabos significativos, com predominância dos sáficos (acentuados na 4ª. e 8ª. sílabas) e heroicos (acentuados na 6ª.), e pouco mais de duas centenas de dodecassílabos". Ele mostra, por exemplo, que o romance começa com um decassílabo heroico ("O planalto central do Brasil desce...") e termina com um alexandrino ("... as linhas essenciais do crime e da loucura"). Embora por vezes o mecanismo de extrair versos de pedaços de prosa pareça um pouco forçado, a análise impressiona ao evidenciar a musicalidade das paisagens mais descritivas - marca da faceta realista-naturalista de Euclides - de Os Sertões.

Essa matriz romântica de origem francesa também acompanhará o republicano Euclides no seu percurso político, e desde o início. Em Ondas, Danton, Marat, Robespierre e Saint-Just, líderes da Revolução Francesa, dão título cada um a um poema. Não por acaso, muito adiante, em março de 1897 - já durante a República, mas antes de Euclides conhecer o que se passava no sertão da Bahia - ele chamará o Arraial de Canudos de "a Vendeia brasileira", referindo à província rebelada contra a Revolução Francesa em 1793.

O JORNALISTA MILITANTE

Euclides tinha o temperamento explosivo - o que acabaria lhe custando a vida quando, em agosto de 1909, resolveu enfrentar em armas o cadete Dilermando de Assis, amante de sua mulher, e seu irmão, Dinorah. Na juventude, esse temperamento - combinado com certa rebeldia romântica - já havia colocado Euclides em algumas enrascadas. Durante o Império, em 1888, o escritor - então cadete da Escola Militar da Praia Vermelha - foi proibido com outros colegas de assistir ao desembarque no porto do tribuno republicano José Lopes Trovão, que voltava da Europa. Como protesto, durante um desfile diante do ministro da guerra, Tomás Coelho, Euclides saiu da formação e, em vez de levantar seu sabre em saudação, tentou quebrá-lo no joelho; não conseguindo, atirou-o ao chão - o que provocaria sua expulsão do Exército. O episódio, contudo, chamou a atenção dos republicanos de São Paulo. Em parte por conta do incidente, Euclides foi convidado pelo jornalista Júlio Mesquita para escrever no seu jornal, O Estado de S. Paulo, então Província S. Paulo. Nos textos mais incendiários, Euclides assinava com o pseudônimo Proudhon - outra referência a um francês radical, Pierre-Joseph Proudhon, um nome histórico do chamado socialismo "utópico", que antecede o dito "científico", de Karl Marx.

Euclides, aliás, acabaria aderindo ao socialismo em sua progressiva desilusão com os rumos da República, instaurada em 15 de novembro e 1889. Em 1891, ele participou do contragolpe do marechal Floriano Peixoto contra o presidente Deodoro da Fonseca, que havia dissolvido o Congresso. Então reintegrado ao Exército, formou-se engenheiro militar e, como primeiro tenente, passou a trabalhar para a Federação. Mas - sempre rebelde - rompeu também com Floriano, refugiando-se novamente em São Paulo como engenheiro civil e, novamente, sob as graças de Júlio Mesquita. Justamente no jornal Estado de S. Paulo, em 1904, ele publicaria O Marechal de Ferro, perfil impiedoso de Floriano Peixoto, a quem descreve da seguinte maneira no dia 15 de novembro de 1889:

"(...) deselegantemente revestido de uma sobrecasaca militar folgada, cingida de um talim frouxo de onde pendia tristemente uma espada, olhava para tudo aquilo com uma serenidade imperturbável. E quando, algum tempo depois, os triunfadores, ansiando pelo aplauso de plateia que não assistira ao drama, saíram pelas ruas principais do Rio - quem se retardasse no quartel-general, veria sair o mesmo homem, vestido à paisana, passo tranquilo e tardo, apertando entre o médio o índex um charuto consumido a meio, e seguindo isolado para outros rumos, impassível, indiferente, esquivo. E foi assim - esquivo, indiferente e impassível - que ele penetrou na história."

A essa altura, Euclides já sabia que a revolta de Canudos, esmagada em outubro de 1897, não se tratava de nenhuma Vendeia, e o que as tropas da República tinham cometido ali era, segundo suas próprias palavras, "um crime". Literariamente, mostrava o mesmo poder de observação - e descrição - exibido magistralmente em Os Sertões, e que marcariam sua curta trajetória posterior.

O ENSAÍSTA VIAJANTE

Euclides sabia, desde jovem, o que queria. Em uma carta a Reinaldo Porchat, em 1892, o recém-formado engenheiro militar se queixava da vida monótona. "Não dou para a vida sedentária, tenho alguma coisa de árabe - já vivo a idealizar uma vida mais movimentada, numa comissão qualquer arriscada, aí por estes sertões desertos e vastos de nossa terra, distraindo-me na convivência simples e feliz dos bugres". Utiliza aí já a palavra mágica - "sertões" -, e a cobertura em Canudos cumprira uma parte a esse destino. Mas não era suficiente. Em outra carta, enviada a Araripe Jr. em 1903, quando já desfrutava do sucesso de sua obra-prima, desabafava: "Shakespeare não faria o Hamlet se tivesse, em certos dias, de calcular momentos de flexão de uma viga metálica; nem Michelangelo talharia aquele estupendo Moisés, tão genialmente disforme, se tivesse de alinhar, de quando em vez, as parcelas aritmeticamente chatas de um orçamento. E eram gênios". Walnice Nogueira Galvão, professora da Universidade de São Paulo, anota que esse anseio pela viagem exótica está ligado ao componente passadista pertencente ao imaginário romântico - o mesmo da poesia e da ideologia política de Euclides.

Assim, no biênio 1904-1905, o escritor não deixaria escapar sua segunda grande oportunidade. Graças a uma indicação de José Veríssimo, foi nomeado chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, que, junto com uma equipe peruana, faria o levantamento cartográfico do rio Purus, na Amazônia. A ideia era que as duas delegações chegassem a um acordo para a delimitação de fronteiras entre os dois países, acabando com os conflitos na região. Ali, Euclides recolheria o material para o seu "segundo livro vingador", como diria mais tarde. Em textos entre o ensaio e a crônica, o escritor voltou a promover, como em Os Sertões, a união entre a observação científica da natureza e a gente do lugar - às vezes de maneira magnífica.

No famoso Judas-Ahsverus, texto que sairia no póstumo À Margem da História, em setembro de 1909, Euclides usa a lenda do judeu errante - condenado a vagar pela terra até o Juízo Final - para falar da condição dos seringueiros do Alto Purus. São sertanejos emigrados para a selva, onde vivem como escravos, "expatriados dentro de seu próprio país", esquecidos pelos homens e por Deus. Para eles, segundo o autor, só existe um único dia feliz: o Sábado de Aleluia. É quando, numa espécie de transe coletivo, constroem para em seguida despedaçar a tiros e pedradas uma legião de Judas feitos à sua própria feição, que descem o rio em jangadas de quatro paus.

"Às vezes o rio alarga-se num imenso círculo; remansa-se; a sua corrente torce-se e vai em giros muito lentos perlongando as margens, traçando a espiral amplíssima de um redemoinho imperceptível e traiçoeiro. Os fantasmas vagabundos penetram nesses amplos recintos de águas mortas, rebalçadas; e estacam por momentos. Ajuntam-se. Rodeiam-se em lentas e silenciosas revistas. Misturam-se. Cruzam então pela primeira vez os olhares imóveis e falsos de seus olhos fingidos; e baralham-se-lhes numa agitação revolta os gestos paralisados e as estaturas rígidas."

Naquele cenário diferente, Euclides vê o mesmo "sertanejo forte" de Canudos, em luta contra a natureza e a história. Redescobriria um mundo "à margem da história" - a mesma talvez, em que Floriano ("esquivo, indiferente e impassível") havia penetrado; a mesma que era uma "construção em ruínas", da qual Canudos tinha sido, diante dos seus olhos, uma prova cabal. Tão definitiva que atrairia para a obra que gerou, Os Sertões, todo o engenho de um homem - quase da mesma maneira com que, no ponto em que o rio se alarga, um redemoinho atrai todos os Judas de olhares imóveis.
 
A OBRA
Euclides da Cunha - Obra Completa, org. de Paulo Roberto Pereira. Nova Aguilar, 2 vols., R$ 450. 

Por Almir de Freitas, da Revista Bravo!.