sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Decadência do Roda Viva

Por Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB

Na última segunda-feira (24), ao ver mais uma edição do programa Roda Viva, da TV Cultura, comprovei o que já sentia há tempos: a decadência deste que já foi um dos maiores programas jornalísticos da televisão brasileira. A decadência começou, mais especialmente com a mudança do formato do programa, que trouxe à barca a apresentadora Marília Gabriela, o formato gravado, a mudança de cenário e duas das piores coisas: dois “jornalistas” fixos, Paulo Moreira Leite e Augusto Nunes.

Jornalistas bem entre aspas mesmo. Porque aqueles ali são dois metidos a intelectuais que tem comportamento primário, capazes de produzir as mais imbecis das perguntas e de uma arrogância não digna de entrevistadores. Já começam julgando-se melhores que o entrevistado. Isso ou o oposto: a completa adoração, incapaz de produzir perguntas decentes.

Na entrevista com Wagner Moura, a dúvida que pairava no ar era se ao fim do programa, Augusto Nunes iria ao camarim do ator fazer outra proposta...

Mas, comentemos o último programa, que recebeu a doutora Carmita Abdo, médica, psiquiatra e especialista em medicina sexual. Uma mulher com um grande currículo e requisitos para falar de um tema “tabu” na sociedade brasileira, frase tantas vezes repetida pela apresentadora.

Pois bem, uma convidada e tanto, para falar de um assunto que dá pano pra manga, subaproveitado com perguntinhas sobre sexualidade de programa de adolescente. Assunto que dá pano pra manga, porém, pensamos, num programa dito sério, com profissional que têm o que falar, não poderiam ter elevado o nível? E não ficar com perguntinhas rasas, de conteúdo fútil e muitas vezes sexista. Como foi a do “jornalista” Paulo Moreira Leite. “Por que a mulher fala mais sobre sexo? Por que ela está mais acostumada a sofrer?” Pô!! Que espécie de pergunta é esta?? A mulher está acostumada a sofrer???

E o que dizer das primeiras perguntas de Marília Gabriela, “Você não acha que as pessoas mentem nessas pesquisas?”, “Você não acha que a internet faz as pessoas se passarem por outras?”. Gente!! Que espécie de perguntas são essas?? Não é raso demais, primário demais, besta demais? E o brasileiro, que dá tanto cabimento a Marília Gabriela, creio que esperaria mais. A primeira pergunta só serviu para a médica explicar para a apresentadora critérios científicos do que é pesquisa. Coisa que ela própria deveria saber e não duvidar que é impossível pesquisar sexologia de forma séria. E a segunda, para confirmar que sim, as pessoas podem mentir sobre sexo pela internet. E daí? Que novidade traz essa informação? Não é o que se confirma desde que surgiu a rede mundial de computadores?

Depois desse início besta, não consegui mais assistir. No outro dia, ao chegar ao trabalho, nem mencionei nada, um colega logo veio justamente comentar sobre o programa. E acrescentar que houve muitas outras perguntas imbecis. Do tipo “Você não acha que a sociedade está monogâmica demais?” Nossa!! Olha, eu me considero uma pessoa liberal, mas por favor, esta pergunta não se salva sob nenhum aspecto.

O que ela quer? Promover a poligamia em rede nacional? Quando a lei a proíbe? E esse comentário só reflete a falta de contato com a realidade, uma vez que o mundo e suas relações, inclusive as afetivas, encontram-se cada vez mais líquidas (lembrando nosso querido Zygmunt Bauman). Ou seja, mais etéreas, menos duradouras, mais frágeis. Casamentos são mais raros, ocorrem cada vez mais tarde, aumentou o número de divórcios, as pessoas traem mais. Desde quando estamos mais monogâmicos? E isso é lá pergunta de jornalista? E isso lá caberia no programa?

Há inúmeros outros problemas neste atual programa. O atual formato, com menos entrevistadores e menor espaço físico, não acabou com o problema das interrupções, com a falta de espaço de resposta para o entrevistado, com a dominação de um entrevistador sobre outros, uns fazendo perguntas demais, outros de menos, alguns querendo monopolizar certos assuntos, enfim. Paro por aqui. Mas com a esperança de que este programa recupere a pujança, ou pelo menos, a dignidade perdida.

2 comentários:

  1. Concordo e mais, fico feliz por alguém ter se pronunciado quanto a isso. É realmente uma pena ver esse programa perder a qualidade já tão consolidada.

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  2. Cheguei a ler por ver esse post no facebook, ótima análise! Engrosso o caldo.

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