quarta-feira, 17 de abril de 2013

Uma das raras cordelistas contemporâneas da Paraíba

Por Severino Lopes (jornalista)
 

No mundo das letras e da poesia, o território da literatura de cordel ainda é predominantemente machista. O homem ainda dita os versos e a prosa e leva essa literatura milenar para as feiras livres, livrarias e bibliotecas. Na Paraíba, o cenário não é diferente. Boa parte dos cordéis produzidos no Estado é assinada por homens de talento reconhecido, como o poeta Manoel Monteiro.

Só que aos poucos essa cultura vai se transformando e as mulheres ganhando espaço em um campo ainda demarcado pelos homens. Uma das mulheres que tem rompido com mais essa barreira e transformado inspiração em poesia popular, é a professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Fátima Coutinho.

Atualmente pertencente ao grupo de professores que atuam nos cursos de especialização da UEPB, no projeto Educação a Distância, Fátima começou a escrever cordel justamente para mostrar que as mulheres também são capazes de enveredar por esse rico reino da literatura popular. Ela conta que se sentiu “desafiada” pelo cordelista Manoel Monteiro, que afirmara que a participação feminina na produção dos folhetins ainda estava aquém do potencial que elas dispõem.

Uma das primeiras obras da professora foi “A vida da mulher”, um poema popular que enalteceu o valor da mulher. A partir daí, ela passou a compor os seus primeiros cordéis e logo ganhou reconhecimento do próprio mestre Manoel Monteiro. Entre os cordéis assinados pela professora cordelista estão “As oito propostas para acabar com a fome no mundo”, “A luta de um povo na sua escola em Santa Rosa” e “De cordel de mulher muito se tem a dizer”.

Fátima Coutinho revela que escrever cordel é uma arte e o cordelista tem que obedecer critérios e regras. “O cordel tem ritmo e tem rima”, diz. A cordelista garante que mesmo com o advento da modernidade, ainda existe espaço para o chamado cordel vendido nas feiras livres. “O cordel nunca vai se acabar”, garante.

Ela observa que o território do cordel ainda é machista. No entanto, as mulheres aos poucos vão ditando as normas, rimas e prosas. A professora cita algumas mulheres que têm se destacado nesse campo de fazer poesia popular, como Célia Castro, Junita Nunes, Elvia Calú, entre outras. A convite de Manoel Monteiro, a professora passou a integrar a Academia Paraibana de Literatura de Cordel (APLC), Casa Manoel Camilo dos Santos, o seu patrono.

A entidade, criada há cerca de dois anos, teve como primeiro presidente o poeta, cordelista e pesquisador Iranir da Silva Medeiros, tendo Manoel Monteiro como vice-presidente; Maria de Fátima Coutinho como tesoureira e José Laurentino secretário. O presidente de honra é o idealizador da APLC, o poeta, dramaturgo e pesquisador de folclore João Dantas.

Fátima Coutinho foi a primeira mulher a integrar a entidade já no seu nascedouro. “Para mim foi uma honra fazer parte dessa entidade”, comentou. A APLC é composta de 25 cadeiras, cujos patronos foram escolhidos entre os nomes mais expressivos da cultura paraibana, como Leandro de Barros, Francisco das Chagas Batista, Manoel Camilo dos Santos, Manoel de Almeida, Átila Almeida, Zé Camelo, Zé da Luz e outros nomes que marcaram época como precursores do cordel no formato em que se desenvolveu na Paraíba.

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