Por Tatiana Brandão (jornalista)
O Brasil e o mundo se despedem do homem que foi o nome mais influente da arquitetura moderna: Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, que faleceu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos. O renomado arquiteto carioca foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado e, por este motivo, teve grande fama nacional e internacional desde a década de 1940.
A genialidade de Oscar Niemeyer está em importantes obras em todo o mundo e esta marca também está na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). O Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), construído às margens do Açude Velho, em Campina Grande, e que será inaugurado na próxima semana, reflete a visão macro do homem que sempre soube que arquitetura é invenção e ousadia, tem que causar impacto e ter desafio.
Apelidado de Museu dos Três Pandeiros, o MAPP é a última obra do arquiteto concluída com ele em vida, em todo o mundo. E era vista por Niemeyer com um carinho especial. “Ele não pensou a obra como três pandeiros, mas como mais uma ousadia arquitetônica, com um prédio ‘flutuando’ acima das águas do cartão postal da cidade. Quando ele soube que o povo paraibano apelidou a obra de ‘Museu dos Três Pandeiros’, assimilando a obra com artistas da região, isso foi motivo de grande alegria para Oscar, porque ele sempre gostava quando o povo gostava se suas obas”, Luiz Marçal, arquiteto da equipe de Oscar Niemeyer que trabalha diretamente nos projetos da UEPB.
Marçal destaca, ainda, que o Museu de Arte Popular da Paraíba era motivo de orgulho do maior arquiteto brasileiro. “O que mais ele sempre gostou de ressaltar era que o MAPP foi construído, totalmente, com mão de obra paraibana, com trabalhadores locais. Ele amava essa coisa de uma obra maravilhosa como é este museu ser fruto do trabalho de gente da terra, de gerar emprego e renda para a cidade. Isso o encantava e o fazia olhar com um carinho especial para esta que é a última obra concluída que ele deixa para o mundo”.
Além do MAPP, a Universidade Estadual tem a marca do gênio em outros projetos que se encaminham para sua execução, a exemplo, do projeto da nova Biblioteca Central da Instituição, que faz parte de um Plano Diretor para o Campus de Bodocongó, envolvendo, inclusive, toda uma estrutura de urbanização da região do entorno da UEPB, que engloba a recuperação do Açude de Bodocongó.
O projeto da nova Biblioteca Central da UEPB, aliás, foi doado por Niemeyer para a Universidade. Em um encontro da reitora Marlene Alves e do pró-reitor de Planejamento, professor Rangel Junior, com o arquiteto, em seu escritório, no Rio de Janeiro, Oscar ouviu a professora Marlene descrever as ideias que tinha para a UEPB e diante do entusiasmo que percebeu nas palavras da reitora, ele decidiu fazer o projeto gratuitamente.
“Recordo que quando comentei sobre o projeto grandioso que eu sonhava para a Universidade, de um espaço funcionando 24 horas, com estrutura para várias atividades para a comunidade acadêmica e a sociedade como um todo, mas disse que era ousadia demais, porque não tínhamos condições de pagar por um projeto tão grande assim, ele disse que iria fazer o projeto e doá-lo para a UEPB por ter visto entusiasmo no que queríamos para a Instituição. Foi um momento marcante, onde ele deu mais uma grande demonstração de como o cidadão Oscar Niemeyer era tão ou mais grandioso quanto o arquiteto Oscar Niemeyer”, destaca a professora Marlene.
Também são projetos de Oscar Niemeyer e sua equipe para a Universidade Estadual, o Centro de Vivência do Campus I; o Memorial de Cultura Popular do Campus de Patos e o novo Campus de Monteiro. Obras que ainda não saíram do papel, mas estão desenhadas com o magnífico traço de Oscar e se transformarão em mais um legado deixado pelo arquiteto carioca na UEPB.
Reconhecimento
Para a reitora Marlene Alves, Oscar foi um cidadão do mundo. “Ele era um dos grandes homens que existia no planeta. A obra dele, o seu legado, não se resumia em genialidade arquitetônica. Cada obra tinha a alma dele, a alma de um cidadão que era contra as injustiças sociais, que sempre defendeu que o pobre tem direito a ter uma vida digna. Para mim, é o grande homem do século. É difícil dizer quem era maior: se o Niemeyer cidadão ou se o Niemeyer arquiteto. De uma forma ou de outra, ambos são genialmente inesquecíveis”, ressalta a reitora.
O carinho que Oscar Niemeyer teve com a UEPB foi reconhecido com a outorga da Medalha do Mérito Universitário, concedida ao arquiteto como forma de agradecimento pelo auxílio prestado à Instituição. A honraria foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni) e entregue ao arquiteto em seu escritório, no Rio de Janeiro. “Tive a honra de fazer a entrega e o mestre Oscar a colocou no peito com alegria e fazendo brincadeiras, sempre. Ele fez a doação para a Universidade do projeto para a Biblioteca Central da UEPB, um complexo urbanístico que envolve biblioteca, anfiteatro, praça e teatro de arena, posteriormente incluído um Museu da Ciência”, lembrou o pró-reitor de Planejamento, Rangel Junior.
A relação da UEPB com Oscar Niemeyer e dele com a Universidade era afetuosa e foi representada com gestos que foram além da concretização de obras. Foi alicerçada em amizade e admiração mútua. Tanto que no aniversário da reitora Marlene Alves, em outubro do ano passado, ele fez questão de presenteá-la com a imagem de uma flor segurada por uma mão, feita de próprio punho. O presente está guardado com carinho pela professora Marlene e simboliza, mais uma vez, a grandiosidade do coração de um homem que, como disse certa vez, não se sentia importante e não queria nada além do que a felicidade geral.
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