quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Campanha pela vida


Uma corrente de solidariedade em favor da vida. O ex-aluno da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Otaviano Carneiro da Cunha Neto, está lutando contra um tipo de leucemia grave (Leucemia Linfocítica Crônica) e precisa urgentemente de uma medula óssea compatível para ter a chance de sobreviver. Para ajudar Otaviano nesta luta, a comunidade acadêmica da UEPB e a sociedade em geral estão sendo convidados a realizar um gesto de solidariedade.

Uma campanha foi lançada nas redes sociais para tentar encontrar um doador compatível e quem quiser ajudar pode comparecer nos dias 10 e 11 de dezembro, no Câmpus de Bodocongó, para participar da coleta de sangue com o objetivo de identificar um doador de medula compatível com Otaviano. No dia 10, a unidade móvel do Hemocentro estará no Centro de Integração Acadêmica, realizando as coletas. Já no dia 11, a unidade estará no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS).

A partir das coletas realizadas, o Hemocentro vai fazer testes de compatibilidade para identificar um possível doador. No teste serão usados apenas 5 ml de sangue. O requisito básico para a realização do Cadastro Nacional de Doares de Medula Óssea é ter faixa etária entre 18 e 55 anos. Podem doar sangue pessoas do sexo masculino e feminino. Para isso, só precisa apresentar o RG, CPF e Cartão do SUS.

Otaviano estudou no Colégio Agrícola Assis Chateaubriand, em Lagoa Seca, entre os anos de 1986 e 1988, conquistando o diploma de Técnico em Agropecuária. Posteriormente, formou-se em Medicina Veterinária. Possui Especialização em Saúde Pública Veterinária, pela UFCG; Mestrado em Qualidade e Produtividade Animal, pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de São Paulo; e Doutorado em Bioengenharia Ecológica pela Universidade Federal de São Jão Del Rei.

Mais informações sobre a campanha de doação de medula óssea para Otaviano podem ser obtidas através dos telefones (83) 9964-2939 / 3335-2494.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Uma história de pura determinação

Por Juliana Marques (Comunicóloga)

“Dizem que a vida é para quem sabe viver, mas ninguém nasce pronto. A vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar e humilde o bastante para aprender”. Esta frase de Clarice Lispector pode ilustrar a trajetória da bibliotecária da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Ana Lúcia Leite, desde que um incidente a fez perder a visão, aos 20 anos de idade, e mudou o rumo de sua vida, fazendo despertar uma coragem fora do comum para superar as barreiras, e humildade para reaprender a viver com as limitações impostas.

A paraibana, natural do município de Aguiar, localizada na região do Vale do Piancó, foi dormir enxergando e acordou cega, após um descolamento de retina que nenhum dos médicos consultados na época conseguiu explicar a causa. “Entrei em uma depressão profunda, não encontrava mais sentido na vida. Essa fase eu julgo como a mais difícil da minha vida. Eu tive que reaprender tudo novamente. Foi muito difícil”, relembra Ana. Após perder a visão, a jovem, que até então não ia além dos limites da cidadezinha do interior em que vivia, partiu com toda a família para a Capital paraibana com a perspectiva de encontrar apoio e reaprender a viver com as limitações.

“Na cidade onde morávamos, a escola só oferecia ensino até a 8ª série. Era preciso ir para uma cidade maior para continuar estudando. Como eu não tinha coragem de partir sem minha mãe, eu já tinha desistido de seguir os estudos. Mas, quando eu perdi a visão, minha mãe, professora aposentada, resolveu procurar uma forma de me apoiar, para que eu pudesse continuar vivendo, e nos mudamos pra João Pessoa. Essa mudança foi boa para meus oito irmãos, que tiveram uma oportunidade de estudar e crescer na vida. Por intermédio de uma vizinha, ficamos sabendo do trabalho do Instituto dos Cegos e lá eu aprendi a viver com a minha limitação. Até então eu não me aceitava cega e só através do Instituto e da FUNAD (Fundação de Apoio ao Deficiente) eu passei por uma reabilitação, aprendi o sistema braile em uma semana e voltei a ler novamente, aprendi a usar as tecnologias e iniciei uma nova trajetória em minha vida”, recorda.

Ana Lúcia destaca que após a perda da visão passou por uma ressignificação de vida e dos valores que tinha. Aprimorou os outros sentidos e procurou superar as dificuldades buscando o lado bom da vida que ela poderia desfrutar. “É uma diferença imensa. Além da questão de limitação, tem o colorido da vida que a gente não vê, mas em compensação a gente começa a perceber coisas que quando enxergamos não percebemos. Eu amo o mar, eu me sinto bem quando eu caminho e mergulho no mar. Tem coisas que eu sinto hoje que na época que eu via não aproveitava. Eu só me prendia ao visual. Hoje eu paro pra sentir a brisa, o cheiro das coisas, a gente desenvolve os outros sentidos. Além disso, eu era impaciente, não tinha tempo de parar, ajudar as pessoas, só queria curtir a vida. Depois que eu ceguei, aprendi a ter mais paciência, a escutar mais as pessoas e me sinto mais útil hoje em dia”, diz.

Além das mudanças de perspectiva diante da vida e limitações físicas, a bibliotecária lembra que sofreu com o afastamento de amigos e namorado, que não sabiam como conviver com a nova realidade. “A maioria dos amigos se afasta. Quando te vê ficam com pena, chorando, eram companheiros de lamentação”, afirma. No Instituto dos Cegos, Ana conheceu o seu atual marido, cego desde os 6 meses de idade, por quem sentiu o que chama de “amor à primeira voz”. Casou e teve um filho, hoje com 14 anos de idade.

Mas, o caminho de superação de Ana Lúcia não se restringiu à vida pessoal. Após descobrir que era possível estudar e trabalhar mesmo com as limitações, a jovem deu prosseguimento à carreira acadêmica e conquistou seu espaço profissional no mercado. “Fiz um teste no Instituto de Educação da Paraíba, fui aprovada e terminei o pedagógico. Prestei vestibular na Universidade Federal, para o curso de Biblioteconomia. Escolhi esse curso justamente porque nessa época, em 1994, tinha poucos livros específicos para o deficiente visual, não existiam bibliotecas em braile, acervos acessíveis. Já na faculdade eu encontrei professores muito bons, com interesse de passar conteúdo, que acreditavam no meu potencial, mas, eu também enfrentei muitas barreiras, tanto arquitetônicas como atitudinais. Alguns professores não acreditavam que, por eu ser cega, eu poderia realizar algumas tarefas ou ir mais longe. Eu imaginava que na academia iria encontrar pessoas com a cabeça mais aberta e que soubessem lidar com as diferenças, o que foi um engano, uma decepção grande. Outra decepção foi em relação ao acervo. Eu achava que na universidade ia ter melhor acesso à informação, mas não tinha. O setor braile era limitado, não existia um único livro na minha área que fosse adaptado ao meu acesso”, lembrou.

Apesar das dificuldades, Ana conseguiu concluir a graduação em Biblioteconomia, partindo logo após a defesa da monografia para a maternidade, dando à luz seu filho Gabriel, o que ela chama de “melhor diploma” que poderia conseguir. Também cursou a Especialização em Bibliotecas Escolares e Acessibilidade, pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na qual desenvolveu um Trabalho de Conclusão de Curso sobre tecnologias acessíveis ao deficiente visual; e Especialização em Psicopedagogia pelas Faculdades Integradas de Patos (FIP).

No campo profissional, atuou com telemarketing, em bibliotecas de instituições públicas do Estado, organizações não governamentais, buscando organizar os acervos e torná-los acessíveis. Foi professora de Informática na Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD) de 1996 a 2007. Em 2007, prestou concursos para atuar como docente nas prefeituras de João Pessoa e Bayeux, e na UEPB. Foi aprovada em todas as seleções, mas optou pela carreira de técnica administrativa da UEPB, onde está desde 2008. Na Instituição, ela realiza trabalho com a recuperação, organização e disseminação acessível da informação através do uso do serviço braille e das ferramentas tecnológicas para o acesso à informação.

Atualmente, Ana concilia o trabalho na UEPB com as atividades no Instituto dos Cegos da Paraíba, onde está desde 1997 e exerce a função de vice-presidente. Tanto na UEPB, com a busca de formas de tornar o acervo da biblioteca acessível, como no Instituto dos Cegos, auxiliando pessoas cegas na reabilitação, Ana Lúcia segue lutando por melhores condições de vida para esse grupo que, de acordo com dados do Censo do IBGE 2010, abrange 18,8% da população brasileira.

Uma das bandeiras defendidas pela bibliotecária é o fornecimento de livros em formato digital, algo que é permitido para uso exclusivo de pessoas com deficiência visual e facilita os estudos e o acesso ao acervo por parte desse público. “É obrigação de todas as bibliotecas serem acessíveis a todos. Tenho desenvolvido alguns projetos e buscado formas de diálogo com os gestores no intuito de viabilizar essa ação”, destaca.

A bibliotecária responsável pela Biblioteca do Câmpus V, em que Ana Lúcia trabalha, enfatiza o empenho e dedicação da servidora que é querida pelos colegas e se tornou um exemplo para todos. Segundo Liliane Braga, “Ana é muito batalhadora, está sempre de bom humor e nos fez perceber o quanto precisávamos melhorar nosso espaço e o nosso acervo para pessoas com deficiência. Hoje todos estamos junto com ela nessa luta por acessibilidade”, afirmou. A auxiliar de biblioteca e amiga, Gizele Martins, acrescenta que “mesmo diante da falta de sensibilidade de algumas pessoas ao lidar com a colega, Ana se deixa abalar e segue encorajando todos a superar os problemas”.

Ana Lúcia se emociona ao falar do apoio que recebe da equipe de colegas de trabalho, que são o alicerce para que ela consiga crescer cada dia mais. “Esse grupo é fantástico. Choram comigo, lutam comigo, me auxiliam no que preciso. Sem eles tudo seria mais complicado”, analisa.A bibliotecária destaca alguns planos para a vida profissional, acadêmica e pessoal, que incluem o principal: ser feliz. “Os obstáculos sempre vão existir, cabe a gente buscar forças pra continuar. Eu acredito que se alguma coisa acontece não é por acaso. Portanto, precisamos ter força de vontade, amigos verdadeiros e, assim, podemos crescer, ser felizes e fazer feliz quem está perto da gente”, afirma.