sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Coisificação



Por Fausto Martin de Sanctis, desembargador federal.
A Câmara dos Deputados recentemente aprovou legislação que afrouxa as restrições aos agricultores no uso de suas terras, inclusive na Amazônia. Uma mudança que preocupa a todos os cidadãos, não somente os ambientalistas, diante do fundado temor do aumento do desmatamento ou mesmo da total extinção das condições para uma sobrevivência limpa e saudável. As alterações, é certo, estão na direção de permitir, a par de uma leniência estatal, a plena capacidade e o aumento exponencial da produção agroindustrial. O projeto faculta aos produtores o cultivo nas margens dos rios e nos topos de montes, além de anistiá-los das severas multas aplicadas até julho de 2008, a despeito do eventual desmatamento ilegal da cobertura vegetal.
Embora estejam livres de punições já impostas, grandes produtores terão que replantar as suas terras devastadas ou adquirir outras e preservar na mesma proporção do desmatamento. Os pequenos produtores, por sua vez, não possuirão igual dever de replantio por fatos ocorridos antes de 2008. Tenta-se remover, pois, para eles, todas as obrigações impostas na preservação da cobertura verde. É real, no entanto, o risco de cheias, de assoreamento de rios, de erosões, além do impacto evidente nas nossas florestas, que possuem uma nobre e essencial função: a de absorção do dióxido de carbono. Sabe-se que 20% delas já se foram.
O texto, que ainda não é definitivo, altera conceitos importantes (nascente, olho d'água, topo de morros, restingas, manguezais) de forma a fulminar o pouco que ainda resta. Doutra parte, produtores sentem-se traídos pelas regras de preservação consideradas extremamente duras, o que, segundo eles, alijaria o país de seu potencial econômico. Aí reside o dilema. Nos meses de março e abril deste ano, constatou-se um aumento em seis vezes do desmatamento se comparado com o mesmo período do ano passado. Efeito do projeto ainda não totalmente aprovado? Fácil concluir, por si só, pela ausência de controle ou pela existência de frágil fiscalização quanto ao que teria sido desmatado, tornando duvidosa a eficácia da obrigação de recomposição vegetal.
Quem viaja pelo país constata que esta constitui uma necessidade premente, diante do tamanho da volúpia do descaso com a atual legislação florestal e a gana por ganhos imediatistas. O ser humano deve agir com justiça, com corresponsabilidade. A propósito, a justiça é inerente à sua condição e não pode se desassociar de sua utilidade. A morte constitui o momento mais sublime do ser humano, já que permite questionamentos, uma rica e emocionada ocasião para indagações, mesmo que tenhamos consciência da impossibilidade de se obter respostas convincentes. A conclusão aqui não é a mesma. A ótica exige uma postura que leve em conta a luta de nossos antepassados e o olhar sobre o futuro. Se no presente pontua-se obra realizada no passado e ele é o passado do que virá, somos responsáveis para com as novas gerações.
Será que ao constatarmos, já neste momento, terras arrasadas e sem vida, não seria o bastante para prever as consequências de medidas pouco eficazes que comprometem as glebas ainda em seu pleno vigor? É da natureza intrínseca do capitalismo a busca incessante de lucros e o antagonismo ainda não resolvido entre economia e miséria, algo esmagador e humilhante. Não se deseja a destruição do criativo capital, tampouco da cobertura vegetal. Viver em democracia implica necessariamente a tomada de decisões em prol do próximo para a sobrevivência do todo. O homem só vale pelos valores que agrega desde que, na esteira de Aristóteles, não se afaste da justiça tornando-se o pior de todos os animais. Imperiosa, pois, é a concretização de seu papel ético-cultural, com atuação realista, leal e responsável. Repensemos o modelo para que a solução não acarrete o desprezo de si, da seiva, da vida.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Não é só propaganda



Por Bárbara Castro, da Carta Capital

Inveja. Falta de senso de humor. Feminismo barato. Toda a sorte de argumentos negativos está circulando como reação ao pedido de suspensão da propaganda da Hope Lingerie protagonizada por Gisele Bündchen, pelo Conar. O órgão afirma que a peça é sexista. A empresa se defende com outro argumento sexista (usa do bom-humor para explorar a sensualidade natural das brasileiras). Gisele não se pronunciou até agora.
A modelo mais bem paga do mundo, que arrisca seus primeiros passos também como empresária, é símbolo da mulher moderna, que não depende do marido ou do pai para pagar as suas contas. Ela mostra que a tão sonhada independência financeira é possível – ainda que muitas feministas não aprovem o caminho que ela encontrou para aparecer nas listas da Forbes. E é essa contradição – entre a imagem que Gisele passa ao mundo com o seu trabalho e o conteúdo da propaganda – o que tanto incomoda.
No início da década de 1980 a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho era de 32,9%. Em 2009, ano da última pesquisa PNAD divulgada pelo IBGE, esse número era de 59,5%. O crescimento rápido nesses quase trinta anos é atribuído às mudanças no mercado de trabalho, à expansão no setor de serviços e à crise econômica que vivemos nas décadas de 80 e 90. As mulheres teriam saído de casa para ajudar a completar o orçamento familiar.


São poucos os que dão destaque a um fator cultural de extrema importância para a mudança desses números: a percepção cada vez mais hegemônica de que as mulheres possuem as mesmas competências e capacidades que os homens, e podem, portanto, desempenhar os mesmos papéis que eles na arena pública. 


Apesar desses avanços, conquistados pelas lutas e reivindicações do movimento feminista, sabemos que a diferença salarial entre os dois sexos persiste, bem como o abismo de gênero entre os que ocupam cargos mais elevados dentro da hierarquia empresarial.

A essa altura você deve estar se perguntando o porquê de eu insistir em tantos dados “clichês” em um texto sobre a polêmica de La Bündchen. Explico. A propaganda faz a mulher voltar no tempo. Devolve a emancipada Gisele ao lar que sua avó habitou um dia. 
A divisão sexual do trabalho e as desigualdades de gênero ainda presentes no imaginário social são os principais limitadores da equidade de gênero no mercado de trabalho. A ideia de que as mulheres devem se ocupar das tarefas domésticas e da criação dos filhos, enquanto os homens devem prover a casa por meio do seu trabalho ecoa tanto entre empresas quanto entre os profissionais. Os patrões dizem pagar menos a elas porque o seu desempenho e dedicação são menores do que o dos homens, já que o foco das mulheres é a família. Por sua vez, elas se sentem moralmente obrigadas a desempenhar tarefas que poderiam ser compartilhadas com seus companheiros e em contrapartida têm menos tempo para se qualificar, e menor disponibilidade para realizar viagens de trabalho, para citar só esses exemplos. Eles, nem preciso dizer, temem ser associados ao universo feminino ao executarem tarefas relacionadas ao cuidado (limpeza, alimentação, criação dos filhos etc.).
Por isso a gravidade da imagem da “Amélia” que Gisele vem protagonizando desde as propagandas da SKY. Elas passaram desapercebidas pela grita geral porque o texto não literalizava o sexismo que a Hope teima em naturalizar. Gisele, a mulher poderosa e independente, é reconduzida ao seu papel de gênero e volta a brilhar no reino do lar. Nada poderia ser mais aviltante à luta das mulheres.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Miles Davis e o Jazz de hoje



Por Carlos Messias e William Mur, do Caderno Ilustrada

Em 28 de setembro de 1991, morria aos 65 anos -em decorrência de infarto, pneumonia e problemas respiratórios- o trompetista americano Miles Davis.

A trajetória do músico coincide com a evolução do jazz. Após surgir em meio à febre do bebop, nos anos 40, o músico foi um dos responsáveis pelo chamado cool jazz e protagonizou o surgimento de estilos como hard bop, modal, fusion e jazz rap. Suas bandas de apoio se tornaram míticas, revelando nomes como John Coltrane e Bill Evans, além de Sonny Rollins, Wayne Shorter e Branford Marsalis, que permanecem na ativa. 

Diante dos que dizem que, após a morte de Miles, o gênero teria estagnado, deixando de dialogar com as tendências em voga, o meio reage. "As pessoas tratam o jazz como se ele tivesse morrido e tivesse de ser homenageado", diz o pianista Robert Glasper. 

"Hoje em dia, a maioria dos artistas vive à sombra de Miles Davis. Estamos em uma batalha na qual precisamos superar isso", desabafa. Felizmente, lampejos de luminosidade se anunciam no horizonte dominado pelo Príncipe das Trevas -como era apelidado Miles Davis. Uma nova geração de jazzistas consegue se equiparar tecnicamente aos cânones e procura seguir seus passos transgressores. 

Glasper funde com brilhantismo a estrutura do jazz e a textura do hip-hop. Tanto que já gravou com Kanye West e Mos Def, entre outros.

Outro sucessor é o trompetista Christian Scott. Seu estilo é classificado como neo-fusion e suas referências vão da dupla de hip-hop Madvillain à nova musa do indie rock, St. Vincent. 
"Muitos jazzistas da minha geração ainda estão no passado. Procuro conhecer outros estilos para descobrir novas texturas", explica Scott.

Para ele, o grande legado de Miles Davis foi sua capacidade de se comunicar com o público da época. "É isso o que falta à maioria dos músicos que surgiram depois dele, que agem como se estivessem num pedestal", critica. 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Museu em Sapé (PB) contará história das lutas camponesas no Nordeste


Do Portal Vermelho, com informações das Ligas Camponesas

O município de Sapé, na Paraíba, ganhará um Museu Histórico das Lutas Camponesas no Nordeste. O centro de memória funcionará na casa e no terreno onde viveu João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas na Paraíba assassinado no dia 2 de abril de 1962. Segundo Luiz Damázio de Lima, presidente da ONG Memorial das Ligas Camponesas, a intenção é restaurar a casa onde morou João Pedro Teixeira e lá construir um museu com informações das lutas camponesas no Nordeste.

"Vamos fazer um museu para o resgate da história de João Pedro Teixeira e das lutas pós-João Pedro”, afirma Luiz Damásio, lembrando que 15 anos depois da morte do líder, reiniciou-se a luta por terra na região. Segundo ele, hoje, o estado da Paraíba possui cerca de 270 assentamentos.

Na sexta-feira passada (23), integrantes da Organização Não-Governamental Memorial das Ligas Camponesas se reuniram com Paulo Maldos, secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, para discutir sobre o projeto do memorial. Luiz Damásio disse que espera que Maldos "faça a ponte com Brasília para a implantação do projeto de Memorial e consiga recursos para a execução”. 

A concretização do Museu Histórico das Lutas Camponesas está cada vez mais próxima. No início deste mês, o Governo do Estado da Paraíba publicou um decreto no Diário Oficial em que declara de utilidade pública mais 2,27 hectares de terras do Sítio Antas do Sono, no povoado de Barra de Antas, em Sapé. Em julho passado, o governo já havia declarado de utilidade pública 4,83 hectares do local.

Rumo melhor

Além do museu, Luiz Damázio comenta que a intenção é utilizar o terreno para também construir um centro de formação para os agricultores, com área para lazer, comercialização e unidades produtoras baseadas no sistema agroecológico.

A meta, segundo ele, é que pelo menos o museu esteja pronto no dia 2 de abril de 2012, data de celebração dos 50 anos do assassinato de João Pedro Teixeira. "Esse projeto é importante para os agricultores porque resgata a história de um cidadão que deu sua vida pela luta pela melhoria de vida das pessoas. A ideia é dar um rumo melhor à vida dos agricultores e fortalecer a luta deles. Esperamos que esse memorial seja um centro de referência não só no Nordeste, mas também nacional e até internacional”, comenta.

As Ligas Camponesas foram associações de trabalhadores rurais formadas em Pernambuco e, depois, em estados como Paraíba, Rio de Janeiro e Goiás. Iniciaram em 1955 e se estenderam até 1964 com o objetivo de lutar pela reforma agrária e pela posse de terra. Na Paraíba, destacou-se o núcleo de Sapé, com mais de 10 mil integrantes liderados por João Pedro Teixeira, assassinado em 1962.



José Simão e “A Esculhambação Geral da República”

Mais um - O cronista e humorista acaba de lançar o livro “A Esculhambação Geral da República”

Por Armando Antenore, da Revista Bravo
Crédito da foto: Ana Otonni

CASO AS circunstâncias permitissem, José Simão viajaria mais do que nécessaire de aeromoça. Ou só um pouquinho menos do que o Lula em oito anos de governo! Macaco Simão Urgente, no cipó das 11, sem escalas para o Taiti! O Haiti é aqui e o Taiti, já dizia o havaiano, é logo ali! Havaiano tira férias no Taiti. De havaianas! Rarará! Tempo e dinheiro, lamentavelmente, não brotam em árvore. Se brotassem, o humorista trataria de fazer uma boa colheita, pegaria o primeiro lotação e cruzaria o planeta. Jumbo, agora, virou lotação! Boeing 747 – mas pode chamá-lo de Topic! José Simão se derrete tanto por viagem que deviam tê-lo batizado de José Airlines. Certa ocasião, resolveu visitar Dubai. Sentiu-se no Salão do Automóvel 2030. Dubai é uma Hebe Camargo ligeiramente mais discreta. Rarará! Na porta de um shopping, avistou uma dondoca de véu. Muçulmana em Dubai esconde o rosto e escancara a carteira! O véu da madame reluzia. Um punhado de diamantes enfeitava o tecido liso. O cronista avaliou a situação e concluiu: “Preciso seguir essa perua. Vai que a fofa deixe cair umas pedrinhas. Fico rico!”

JOSÉ AIRLINES atende por José Simão desde neném, ainda que muita gente desconfie. Como assim? José Simão e ponto? Não há mais nada no começo, no meio ou no fim? Um Eduardo, talvez? Um Toledo Pisa? Não, infelizmente não há. Na juventude, bastava escutar o próprio nome e se imaginava primo do Mazzaropi. Ou violeiro de dupla caipira – Zé Simão & Chico Bento. Gostaria imensamente de exibir um nome pomposo, à semelhança daquele deputado federal pelo Piauí, o Hugo Napoleão. Repare no gigantesco abismo que os separa: josé simão. HUGO NAPOLEÃO! Não dá nem para puxar conversa. Quem se aproxima de um Hugo Napoleão já sai perdendo. Rarará! — O sobrenome Simão, de origem libanesa, o remete à infância e às agradáveis tardes que passava na Brasserie Victoria, em São Paulo, cidade onde nasceu e se criou. Seu pai – Aniz, médico – conhecia a dona do hoje tradicionalíssimo restaurante árabe e o deixava sob os cuidados dela sempre que atendia um cliente ali perto. Enquanto o menino aguardava, dona Victoria e um grupo de mulheres se reuniam em círculo na cozinha para preparar quibes. Trajavam invariavelmente roupas pretas e amassavam a carne com as mãos nuas. A criança as observava, hipnotizada. Volta e meia, uma das senhoras lhe depositava na boca um pouco da iguaria. Olha o aviãozinho, habib! Vruuuuum! José Simão, o único macaco da Terra que é bom de bico! Tem garoto que cresce bebendo Nescau e devorando Baconzitos. Ele cresceu à base de quibe cru! Rarará! — Não sabe bulhufas de árabe, mas a família paterna dominava a língua, principalmente quando discutia. A parentada empregava o idioma de Drummond em tempos de paz e o de Bin Laden para quebrar o pau. Na casa dos Simão, havia a língua cotidiana e a língua-bomba! Rarará! A avó do humorista, aliás, se expressava em árabe ou português desde que não estivesse rezando. Católica maronita, professava o rito tradicional e adotava o aramaico na hora das orações. Nem Deus a compreendia!

O PAI do Macaco? Clínico geral. O irmão do Macaco? Cardiologista. E o Macaco? Hipocondríaco! Mal ouve falar de uma doença, acusa rapidamente cada um dos sintomas. Hoje, por exemplo, arranjou uma colite daquelas. Câncer? Já enfrentou quatro ou cinco, todos imaginários. Se não está sentindo nada, engole um Tylenol só para garantir! — À beira dos 67 anos, preserva o corpo quase tão magro como o do passado. Lembra que, na década de 1970, o julgavam gostoso. Parecia um caniço e, mesmo assim, incendiava o quarteirão. Era um palito, mas de fósforo! Rarará! — Exercita-se habitualmente na academia de seu prédio. Também caminha logo cedo por ruas e alamedas dos Jardins, bairro nobre paulistano onde mora. No percurso, acena tanto quanto o Maluf em campanha. Inúmeros desconhecidos o abordam: “Ei, esculhambador!” O assédio não o incomoda. Muito pelo contrário. Quando ninguém se manifesta, ele próprio toma a iniciativa. Papeia com qualquer pessoa em qualquer lugar. Um dia, no supermercado, se tornou o melhor amigo de uma jovem que nunca vira antes nem veria depois. No momento da triste despedida, a moça perguntou se podia fotografar as compras dele. Pode, claro! Mas por quê? “Vou botar a imagem no Facebook!” Rarará!

TODA VEZ que a depressão ameaça inundá-lo, dá três pulinhos e recupera imediatamente o ânimo. Sério! Aprendeu a simpatia há séculos e, desde então, vem comprovando que o fundo do poço tem mola. Cultiva, ainda, outros dois comportamentos esquisitos. Jamais coloca bolsas no chão para não afugentar o dinheiro (a ideia de empobrecer o horroriza). Tampouco larga blusas, calças, cuecas ou camisas do avesso. Se largar, dificilmente escapará de uma desgraça. Entretanto, não se diz supersticioso. Considera-se um tipo muito especial de ateu – o ateu místico! Rarará! Do mesmo modo, identifica-se com o paradoxo do louco lúcido. Não bebe álcool, não usa drogas, evita noitadas, acorda às 6 e meia da manhã, conserva o apartamento dúplex arrumadíssimo e trabalha como um relógio, sempre cumprindo os prazos. Em compensação, interiormente, vive no caos. Recomenda colírio alucinógeno para todo mundo, mas abdica de pingá-lo pelo simples fato de que já nasceu alucinado.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Língua em água fervente?! Quanto por isso?


Por Diego Schaun, do Terra Magazine
E dizem que a faculdade de comunicar-se com a fala é o que diferencia o homem dos demais animais. Pensamento arcaico! Latidos, miados e urros têm mais emoção e perfeita comunicação do que o MSN. Entre os bichos, se não há entendimento, pelo menos existe respeito, silêncio, atenção ao diferente.
Para quem trabalha com mídias, e qualquer tipo de comunicação, dizer o que pensa ou o que pensam é uma tentativa quase que suicida. É como colocar o pescoço embaixo da guilhotina à cada frase no twitter ou em cada verso que posta no blog.
As pessoas não se entendem mais. Aliás, nunca se entenderam. As palavras são sempre as mesmas, os significados também, o conformismo é sempre igual e até o sinal de igualdade é conhecido por linhas gêmeas, paralelas, sem a menor graça, pois são iguais. Expressar-se, clamar, cutucar, curtir, lançar os dados e tirar a sorte com a imaginação do outro pode ser um risco terrível, mas muito instigante para os amantes da escrita.
Nos tempos do ginásio, lembro de ter estudado pela primeira vez as figuras de linguagem. A que mais me chamou a atenção foi a ironia. Era como se eu me enxergasse nela. E o pior era que eu não achava graça alguma nas ironias. Ironia sempre foi coisa séria. Sempre.
Quando se diz intencionalmente o contrário do que se pensa, para fazer o outro sentir a realidade escondida no antagonismo, o choque é imediato (para o outro). Mas esse imediatismo não é corriqueiro. Além de saber falar, andar ereto e às vezes assinar nome, o bípede mais presente no planeta ainda aprendeu a ser inconstante. Tudo é quando convém. E também quando não convém.
Facilmente as opiniões trocam de lugar quando um benefício é garantido por esse ato. É o escambo nosso de cada dia. E muitos ainda afirmam, ironicamente, que detestam o troca-troca.
Falar em público é um perigo. Perigoso mas não tanto danoso, pois a morte não é o fim de tudo, sabendo que a palavra é perene. Viver como Schopenhauer não é a solução, afinal, quem é que gostaria de morrer solitário, sentado numa árvore e ainda vigiado por um cachorrinho?
Por isso que ainda tento entender o porquê de comemorar datas específicas em determinados anos também específicos. Fazem um alarde pelos dez anos do atentado às torres gêmeas. E nos onze anos? Será que farão também? E nos dezessete anos? Esses serão mais importantes que os vinte e cinco anos? Afinal, são bodas de prata! Muita gente que nem se lembra do ocorrido afirmaria agora que essas "comemorações" ou "hashtags" no twitter são necessárias e importantes para quem perdeu os parentes e amigos em tal hecatombe.
Claro que devemos relembrar, mas o que menciono é o fato de relembrar e dar mais ênfase em números específicos. Aí é que entra a seriedade da ironia. Se o mundo vive assim, como se pode dizer que na maioria dos países o governo é laico? Com todo o respeito, o planeta está numa numerologia misturada com matemática "pitagórica" incrível. "Incrível"!
Então, o melhor a se fazer é ir para o porão, levar velas, chocolates, livros, um violão e um smartphone, caso queira dar um último tweet. 2012 vêm aí com gosto de gás. Como será o gosto do gás? Quem já bebeu? Bem, o fim dos tempos está próximo, então, escrever o que pensa hoje ou amanhã não fará diferença. Não dá mais tempo para entender! Buh!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Reflexão para o dia mundial sem carro


Por Reinaldo Canto, professor de Gestão Ambiental na FAPPES

Hoje, dia  22 de setembro, comemora-se o Dia Mundial Sem Carro. Ocasião que serve ou deveria servir para pensar e refletir sobre a crescente dependência de veículos de transporte individual.  Qual o futuro dessa opção? Quais os limites para o crescimento da indústria automobilística? Será possível equacionar o fato de que milhares de novos carros sejam despejados todos os meses nas ruas de nossas maiores cidades com a busca pela sustentabilidade e qualidade de vida de seus habitantes?

Vivemos um estranho e perigoso momento sem que tenhamos ideia de como sair dele. Só no ano passado, segundo a Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), foram vendidos 3,5 milhões de automóveis no país.  As grandes cidades brasileiras estão abarrotadas de carros, em geral com apenas um ocupante em seu interior. Nos últimos anos, com o crescimento econômico e a comemorada ascensão social, o automóvel deixou de ser apenas um sonho de consumo de muitas pessoas para se tornar uma realidade ao alcance dos bolsos ou via crediário.  Esse quadro que já vinha se desenhando ao longo do tempo acelerou muito em anos recentes. Os sucessivos recordes de produção da indústria automobilística obrigam a transformar fortemente a paisagem e a arquitetura das cidades. O carro adquire assim um protagonismo absoluto preenchendo e desvirtuando os espaços antes ocupados pelas pessoas.

A difícil vida dos pedestres

É fácil notar a diferença em andar pelas calçadas, por exemplo, de uma Avenida como a Paulista, na área central de São Paulo, em comparação com as pseudo calçadas da maioria dos bairros paulistanos. Na Paulista, essas calçadas cumprem um papel de integração e convivência entre as pessoas. Elas são largas, possuem melhor acessibilidade às pessoas com baixa mobilidade e permitem exercer a caminhada com segurança e tranqüilidade. A Paulista é uma exceção, um verdadeiro oásis numa cidade que exige de seus pedestres, uma condição de artista de circo para a realização diária de evoluções impossíveis na corda bamba da sobrevivência.

É óbvio se imaginarmos qualquer grande cidade brasileira sem carros da maneira como estão hoje configuradas, o caos seria inevitável. Nossos ônibus e trens do metrô já circulam com níveis de lotação máxima ou até mesmo, acima disso, quando esses veículos de transporte coletivo se transformam, em “latas de sardinha”.

Se de uma hora para outra só fossemos contar com eles, eliminando como num passe de mágica os automóveis, não é preciso ser um especialista em mobilidade urbana para concluir que estaríamos, literalmente, numa situação totalmente insustentável.

Por outro lado, se não vivemos atualmente um colapso urbano, parece que isso é apenas uma questão de tempo.   Afinal, quantos novos viadutos terão de ser construídos, quantas novas avenidas precisarão ser rasgadas redesenhando e desfigurando o espaço urbano e substituindo  espaços de ocupação legítimos das pessoas, ao reduzir ou mesmo eliminar calçadas, calçadões e praças? Quantos milhões, bilhões de reais ainda serão gastos para obras viárias que privilegiam o automóvel e cujos benefícios são tão efêmeros que em muito pouco tempo passarão a ocupar um triste lugar na prateleira das grandes obras, caras e obsoletas como as que já estamos acostumados a reconhecer?

Mudanças necessárias

Uma cidade sem carros antes de mais nada, teria naturalmente de garantir um transporte coletivo eficiente, seguro e pontual; ciclovias espalhadas por todas as regiões e vistas mais como corredores de tráfego do que meramente para passeios e as calçadas seriam utilizadas naturalmente, pois deixariam de parecer crateras lunares ou pistas para disputas de rally.

Portanto, o caminhar deixaria de ser uma atividade extraordinária e de lazer da classe média em finais de semana para retomar a sua função mais básica e primordial, ou seja, a de ir de um ponto a outro. Simples assim! Aliás, nada mais nada menos do que o ser humano sempre fez ao longo de sua existência!

Praças, parques, calçadões e bulevares passariam a ser regra e não exceção. Os moradores da cidade, bem como seus visitantes recuperariam o que nunca deveriam ter perdido: a ocupação natural e democrática de todos os espaços públicos da metrópole.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Conciliando Música e Educação


Não é novidade: o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UEPB, Rangel Júnior vem há mais de 20 anos revezando sua atuação profissional entre a música e a educação. O professor e artista iniciou sua carreira no final da década de 70, como crooner de grupos musicais de sua cidade nativa, Juazeirinho. Na década de 80 migrou para Campina Grande e ingressou na Universidade Estadual da Paraíba, primeiro como aluno do curso de Psicologia e depois como docente. Com forte atuação política dentro da UEPB, ocupou os cargos de presidente da Associação dos Docentes (ADUEPB), vice-reitor e atuou em várias pró-reitorias, enquanto intercalava lançamentos de CD’s e apresentações em eventos. 

Rangel já conta em sua discografia com três CD’s e uma coletânea gravados, todos com produção independente, e agora realizará dois shows onde produzirá o registro e difusão de sua obra, através da gravação de um DVD e um CD que serão distribuídos juntos. Os shows acontecerão nesta quinta (22), na Casa de Taipa, localizada na Rua Sebastião Donato (em frente ao Parque do Povo), a partir das 22h e no domingo (25), no Cine Teatro do SESC Centro de Campina Grande, às 17h.

O repertório do espetáculo intitulado “Nordestino Cantador” será composto por 12 canções inéditas, mais 14 antigas e já bastante conhecidas do público paraibano, com destaque para “Madeira de Lei”, “Florbela”, também gravada por Santana, e “Xote do Novo Amor”, interpretada por Capilé. Em ambos os shows, ele também apresentará a música “Desejo” que compôs para o filme “Tudo que Deus Criou”, longa metragem do premiado cineasta paraibano André da Costa Pinto. 

O projeto “Nordestino Cantador” foi aprovado no edital de 2008 do FIC (Fundo de Incentivo a Cultura) Augusto dos Anjos, proveniente do Governo do Estado da Paraíba. Tem a produção da Coco Catolé Produções e conta ainda com o apoio do Ponto de Cultura Ypuarana e da UEPB para sua realização.


Estilo, autenticidade e ativismo cultural

Rangel Júnior, fiel ao seu estilo e as suas raízes culturais, revela-se em suas composições um poeta telúrico, romântico sem ser piegas e principalmente responsável em preservar e valorizar as nossas tradições culturais e musicais mais autênticas. É seguidor e pesquisador da obra de grandes nomes do nosso cancioneiro como Luiz Gonzaga, Sivuca e Dominguinhos, entre outros.

Rangel também tem feito um consistente trabalho de criação de trilhas sonoras para cinema, teatro e TV. Musicou a peça “Charivari” da dramaturga Lourdes Ramalho, encenada pela Companhia Sinhô- Sinhá, musicou o seriado “Pra você eu digo sim”, oriundo do Departamento de Comunicação Social (DECOM) da UEPB e veiculado por meio da TV Itararé. 

O ativista cultural Rangel Júnior, tem permanentemente participado e incentivado importantes eventos culturais, a exemplo do Festival Nacional de Violeiros e as atividades do Museu Fonográfico Luiz Gonzaga. 


Serviço:

Show Nordestino Cantador com Rangel Júnior e Banda

Local: Casa de Taipa – Rua Sebastião Donato, em frente ao Parque do Povo
Data: Quinta feira – 22/09/11 às 22h

Local: Cine Teatro do SESC Centro de Campina Grande
Data: Domingo – 25/09/11 às 17h

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A aula-espetáculo de Ariano Suassuna no presídio feminino

Festa - Escritor é celebrado na cadeia feminina do Recife


Por Celso Calheiros, em Carta Capital
Crédito da foto:Daniela Nader 

Aos 84 anos, Ariano Suassuna reflete: “Tenho a vaidade de ser professor”. O autor de romances, peças e poesias aclamados pelo público e pela crítica mantém atualmente uma rotina especial como secretário do governo de Pernambuco. Estabeleceu a missão de levar suas aulas-espetáculo por todo o estado. 

O mestre conta que, das 128 apresentações em 67 municípios, por teatros, auditórios, favelas, praças e ginásios, a que mais gostou foi a do Presídio Feminino do Bom Pastor, no Recife. Gostou tanto que voltou na última terça-feira de agosto.

Nesses espetáculos, Suassuna atua como um professor sentado na mesa no canto do palco, de onde faz as introduções a cada apresentação de música e dança. Todas as cinco aulas que idealizou tratam de um tema que defende com generosidade: a cultura brasileira. 

Em 2008, foi convidado pela direção do presídio a apresentar a Nau, com seu roteiro repleto de -danças africanas, indígenas e portuguesas-, coreografias que ajudam a compreender a origem das nossas manifestações. A recepção das detentas foi tão gratificante, lembra o escritor, que, quando finalizou a sua nova aula, Chamada ao Piano, pediu para voltar ao presídio feminino. “Mesmo correndo o risco de parecer oferecido.”

Suassuna é muito querido, isso sim. Entre as presas, é uma celebridade, um ídolo com torcida familiarizada. Ao chegar no horário combinado no Bom Pastor, foi recebido com palmas, gritos, beijos nos bebês de colo presentes na unidade prisional. Uma festa com a participação de praticamente todas as 625 detentas, no pátio central.

“Gostei muito quando estive aqui, em 2008”, inicia. “Para mim, foi a melhor aula que dei.” Em seguida, arranca algumas gargalhadas ao explicar, com versos de poeta popular, o seu temor em retornar àquele público. Nunca vi homem valente, que não fosse ferreiro/ Homem de fala mansa, que não fosse traiçoeiro/ O segundo prato, com o gosto do primeiro.

Em Chamada ao Piano, ele anuncia gravações de composições feitas por pianistas pernambucanos no fim do século XIX e primeira metade do XX. “Não existe música velha ou nova. O que existe é música boa e música ruim.” Uma valsa de Euclides Fonseca abre o espetáculo, todo coreografado por Maria Paula Costa Rego, que também dança na companhia de quatro bailarinos formados em grupos populares.

A cada música, uma nova coreografia no palco que Suassuna chama de circo. “Tinha vontade de ser palhaço na infância e, quando fui convidado para ser secretário, pedi ao governador para montar esse circo e apresentar meu espetáculo por aí.” O segundo número apresentado é um tango brasileiro. “Em nada parecido com o tango argentino. O nosso tango é a origem do choro.” 

Na sequência, o público ouve e vê uma quadrilha, um maxixe, um maracatu, uma marcha carnavalesca e, ponto alto da apresentação, o Choro Número 5, de Capiba. A leveza e a graça do bailarino Gilson Santana, o mestre Meia-Noite, arrancaram gritos, aplausos e assobios em cena aberta em três momentos.

Antes de sair do palco, o escritor assistiu a uma apresentação das detentas. As alunas da Escola Olga Benário (que funciona no presídio) leram poesias dedicadas a Suassuna e são acarinhadas pelo homenageado, um cavalheiro que beija a mão das damas. O autor e sua plateia preferida têm uma relação que escapa às explicações apressadas.

A visita a presídios, entre eles o próprio Bom Pastor, faz parte da infância de Suassuna. Começou em 1930, quando o primo legítimo de sua mãe, João Dantas, ficou preso na Casa de Detenção do Recife depois de matar João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, então presidente da Paraíba, em 26 de julho daquele ano. 

O futuro escritor, então com 3 anos, afirma lembrar-se dessa passagem. O crime de Dantas foi passional, mas entrou para a história do Brasil. João Pessoa morreu por ter dado publicidade a cartas íntimas, trocadas entre Dantas e sua namorada, Anayde Beiris. As cartas foram obtidas pela polícia, que invadiu o escritório de Dantas e arrombou seu cofre.

João Pessoa era candidato a vice-presidente da República e, sobretudo, adversário político dos Suassuna. Sua morte foi usada como estopim da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Dantas foi preso. Anayde Beiris foi para o Instituto Bom Pastor (onde hoje funciona o presídio feminino) e também recebeu a visita do pequeno Suassuna. No dia 6 de outubro, Dantas é degolado em sua cela. No dia 22, Anayde Beiris, então com 25 anos, tira sua própria vida com veneno.

A sequência de tragédias a envolver a família Suassuna não para por aí. O deputado federal João Suassuna, pai de Ariano, foi morto em outubro daquele ano, na capital da República, baleado nas costas, na tradição covarde dos crimes de encomenda. Parte em vingança pela morte de João Pessoa, parte devido a violência que marcou a revolução. No bolso de João Suassuna, uma carta endereçada à sua mulher pedia para que nenhum dos seus nove filhos vingasse sua morte.

O Bom Pastor funciona como unidade de triagem, na qual as mulheres aguardam julgamento. A maioria (57%) responde por tráfico de drogas. São jovens entre 22 e 35 anos, de acordo com os dados da Secretaria de Ressocialização.

Iara Pradines, 50 anos, está presa há quatro anos por posse de pasta-base de cocaína. O que ela acha da visita de Suassuna? “As mulheres aqui vivem uma fase difícil de suas vidas. Todas nós sabemos que erramos, mas quem não precisa de apoio para sair do fundo do poço? Ariano nos dá atenção, nos oferece conforto. Aqui, o que mais ouvimos é que não temos solução. Algumas vezes, até a família nos abandona. Ele vem aqui nos mostrar que não estamos excluídas.”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

57º Congresso Brasileiro de Genética reuniu os maiores pesquisadores do Brasil e do Mundo


O 57º Congresso Brasileiro de Genética reuniu cerca de 2 mil participantes do Brasil e do exterior entre inscritos e convidados, para debater todo o conhecimento já desenvolvido no setor e os próximos desafios. A área de Genética é ampla e foi importante para o sucesso do evento ter representantes de cada uma das suas subdivisões. Resultados importantes foram obtidos a partir dos debates sobre a diversidade genética dos animais, a evolução, bioinformática, efeitos de transposição do genoma humano ou bacteriano, o mecanismo do envelhecimento, inativação do cromossomo X, desenvolvimento e uso de plantas transgênicas, novas abordagens de produção de vacinas, produção de células-tronco, entre outros.

A participação de grandes nomes da história das pesquisas em Genética, como os geneticistas Werner Arber e Willy Beçak, reforçou o compromisso do evento em celebrar a evolução científica. “O congresso foi amplo e de excelente nível científico, sempre propiciando a discussão de temas de fronteira na ciência”, comemorou o Prof. Carlos Menck, presidente da Sociedade Brasileira de Genética (SBG). O pesquisador Willy Beçak emocionou os congressistas contando como a sua história de liderança científica mudou o modo de fazer pesquisa no Brasil. Já o geneticista suíço Werner Arber deu um grande exemplo de como uma pessoa pode se transformar no ganhador da maior premiação científica, o Prêmio Nobel de Medicina, e ainda ser humilde e curioso.

O Congresso contribuiu para reforçar o debate sobre a ciência e reafirmar a pesquisa brasileira como foco internacional. De acordo com o geneticista, “é importante mostrar que podemos fazer bons trabalhos e melhorar cada vez mais o nível científico”. Este assunto foi debatido em um simpósio que contou com a participação de Helena Nader, presidente do SBPC; Glaucius Oliva, do CNPq; Jorge Guimarães, da CAPES e Carlos Brito Cruz, da FAPESP. Neste momento foram levantadas várias dificuldades que impedem o crescimento da qualidade das pesquisas no Brasil. Entre as mais impactantes foram citadas a dificuldade de importação, excesso de tempo despendido para administração e resolução de problemas das instituições, as vantagens e desvantagens dos sistemas de avaliação científica, definidos de acordo com cada agência, entre outros.

Estudantes, professores e pesquisadores pelo futuro da Genética

Os estudantes tiveram um importante papel durante as atividades. Cerca de dois terços dos participantes eram estudantes de graduação e pós-graduação na área de Ciências Biológicas. “Mesmo com um pouco de dificuldade pelo nível das informações, este é um aprendizado positivo, eles são nossos futuros pesquisadores”, explica Menck. “Parte das atividades foi realizada em inglês, que é o idioma universal de divulgação científica e para esses estudantes é importante já se familiarizarem com os termos e a língua”. Um ponto interessante do evento foi o jantar com os pesquisadores, onde os estudantes tiveram a oportunidade de conversar informalmente com profissionais brasileiros e de outros países, por intermédio da SBG.

A formação de novos geneticistas e prática do ensino da disciplina nas escolas foram temas de mesas-redondas, em que cerca de 250 professores e pesquisadores debateram sobre o funcionamento da ciência, como é o processo científico e como a visão do professor sobre a disciplina influencia a sua forma de ensinar. Para Menck, “este evento canalizou a preocupação da SBG com a boa formação dos estudantes a respeito do tema Genética”.

Durante o Congresso, os professores da rede estadual de ensino médio participaram de mais uma edição do Projeto Genética na Praça, uma experiência inovadora que visa aproximar o ensino da pesquisa. Foram 91 Professores Coordenadores da Oficina Pedagógica (PCOPs), que não atuam diretamente em sala de aula, mas dão apoio à docência de outros profissionais e disseminarão a iniciativa em outras regiões do Estado de São Paulo, além de mais 300 professores.

“A iniciativa rendeu ótimos resultados. Os professores interagiram, criticaram, estabeleceram contatos e trocaram experiências de uma forma muito descontraída. Os estudantes de graduação e pós-graduação também apresentaram trabalhos voltados para a prática do ensino e, mesmo com ainda pouca vivência em sala de aula, obtiveram bom retorno sobre as suas propostas profissionais, com boa desenvoltura”, explica o Prof. Felipe Bandoni de Oliveira.

Uma ferramenta de ensino 2.0

Os participantes do evento ainda tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais da mais recente ferramenta de ensino da SBG: O portal Saiba Mais Sobre Biotecnologia. Conteúdo online gratuito para estudantes, professores e quem mais tiver interesse e curiosidade em entender melhor o que é e quais são as aplicações possíveis para a manipulação genética, como a biotecnologia, vegetais transgênicos, animais transgênicos, terapia gênica e células-tronco.

Conheça mais sobre genética, terapia gênica e biotecnologia, acesse o Portal Saiba Mais Sobre Biotecnologia

A SBG lançou o portal “Saiba Mais Sobre Biotecnologia”, com conteúdo online gratuito para estudantes, professores e quem mais tiver interesse e curiosidade em entender melhor o que é e quais são as aplicações possíveis para a manipulação genética. O portal já nasce como uma importante ferramenta de apoio a estudantes e professores de Ensino Médio, cursinhos, universidades e é dividido em cinco áreas: biotecnologia, vegetais transgênicos, animais transgênicos, terapia gênica e células-tronco.

Qualquer um pode se inscrever: basta acessar o site, cadastrar-se e começar a estudar. Acesse: http://saibamaisbiotec.com.br/

Sobre a SBG

A Sociedade Brasileira de Genética (SBG) reúne, desde 1955, geneticistas brasileiros e todas as pessoas interessadas em assuntos relacionados à genética. É filiada à Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência e tem atualmente 1287 associados, entre professores, pesquisadores e profissionais ligados à centros de pesquisa, universidades, fundações e empresas. A entidade publica livros e edita duas revistas, assinadas pela elite da genética brasileira: Genetics and Molecular Biology, publicação científica internacional, e a Genética na Escola, voltada para professores de Ensino Médio e Superior. Visite: www.sbg.org.br.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Se Noel Fosse Caymmi…


Por Zélia Duncan, cantora e compositora

Noel morreu aos 26 anos e deixou quase trezentas músicas como legado. Mas vejam bem, quase trezentas BELAS músicas. Fico aqui pensando que alguma coisa, desde muito cedo, devia transmitir a ele a urgência de sua existência, a necessidade de desaguar o seu melhor, mesmo antes de usufruir do tempo para seu aprimoramento. Então Noel Rosa deve ter realizado o fato de que não teria o aliado poderoso a seu favor para aprender. E aprendeu assim, de repente, como se cada ano fosse uma década. Como se já tivesse nascido pronto!

Falou de roupa, portanto de moda. Falou da Vila, falou do Estácio, do botequim, das coisas nossas, da boemia, dos disparates da época, detectados ainda hoje. Filosofou, falou do orvalho, das diferenças de classe, das crônicas do dia a dia e de amor. Bateu boca através de clássicos com Wilson Batista. Usufruiu e aprofundou na música brasileira as melodias de choro, convocou os ritmistas do morro, subiu o morro pra fazer parcerias, embora fosse de classe média. Valorizou ao extremo o que nos identificava e ainda não era muito falado. É nosso campeão dos cem metros rasos da MPB. Em tão pouco tempo, bateu vários recordes!

O que será que passava na cabeça do tão jovem Noel, sentindo a fragilidade do seu corpo e a força de seu talento? “Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela…”. Tem aquela tristezinha no fundo de um refinado senso de humor.

Seu primeiro sucesso foi “Com Que Roupa”. Ali , Noel se prepara pra sair, se mostrar, aparecer nas ruas da vida e arrasar na passarela da música Brasileira. Sua última música, não à toa, foi “Último Desejo”. Densa, triste, linda. Ele se despede de um amor, deseja ser lembrado pelos que o amaram, desprezado pelos que ele detesta e mais uma vez nos entrega uma história inteira pra viver, enquanto a melodia soa.

Imaginem só, outro gênio, chamado Caymmi, viveu até os 94, não sei se chegou a fazer cem canções, todas clássicas e indispensáveis. A preguiça jocosa de Caymmi é conhecida e louvada sempre. Ele nos deu a Bahia. Construiu a imagem daquele lugar mágico pro resto do Brasil. No timbre a profundidade do mar, que eu até hoje temo, graças a algumas de suas músicas. Caymmi devia sentir que tinha todo tempo do mundo para construir sua obra. Noel teve que se concentrar, condensar tudo em tenros, ínfimos 26 anos…

Agora vamos imaginar Noel com a longevidade de Caymmi.
Não teria sobrado nada pra ninguém! Ele ia fazer todo cancioneiro sozinho!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Leitura de puro prazer


Por Clarice Cardoso, da Carta na Escola

Em 30 anos, ou menos, Gonçalo M. Tavares ganhará um Nobel. A previsão, audaciosa, de José Saramago dá a dimensão que o autor nascido em Angola, em 1970, toma na literatura portuguesa contemporânea. Traduzido e distribuído em 35 países, Tavares está no Brasil para a Bienal do Livro Rio, onde deve cruzar com 600 mil pessoas, 170 mil das quais são estudantes. Serão encontros, acredita, com potencial de “despertar” nesses jovens o prazer pela leitura.

Para isso, contudo, defende que uma “leitura aconselhada”, em que os alunos tenham poder de escolha e orientação, substitua a obrigatória e, assim, mitigue os riscos de as listas de livros exigidos os afastarem de autores essenciais. “A leitura deve ser associada ao puro prazer. Muitas vezes, a imposição de ler um livro até o fim, aos 12 ou 13 anos, pode fazer com que a pessoa se afaste de um autor muito importante, extraordinário, porque entrou nele quando não estava preparada”, diz o escritor, que também lança, pela Leya, Uma Viagem à Índia.

Criador de romances duros, que define como “uma parte negra”, Tavares venceu, com Jerusalém, o Prêmio José Saramago em 2005 e, em 2007, o Portugal Telecom. No lado quase oposto, em uma atmosfera lúdica, personagens de nomes como Calvino, Brecht e Valéry convivem na série O Bairro. Sob histórias aparentemente simples, cada título guarda questões e discussões profundas e, além de adaptações teatrais, começam a ser utilizados por professores nas salas de aula portuguesas.

Carta na Escola: Suas vindas à Flip, a publicação massiva de sua obra por editoras brasileiras e, agora, a Bienal do Rio sinalizam a força de sua presença no Brasil. Que diálogo enxerga entre seus livros e os leitores daqui?
Gonçalo M. Tavares:
Tenho sido, felizmente, muito bem acompanhado pelos brasileiros. Os livros vão saindo até ao mesmo tempo que em Portugal. Há quase oito ou nove anos minha ligação com o Brasil se mantém firme tanto no nível de leituras quanto no de visitas – ainda assim não tão frequentes quanto eu gostaria. O principal, nela, é que há sempre muito feedback de leitores e também de artistas e pessoas ligadas ao teatro, que têm feito peças com base, por exemplo, nos senhores de O Bairro. Esse tipo de reação agrada bastante a quem escreve.

CNE: Quando está aqui, como costumam ser seus encontros com os leitores?
GMT:
É um pouco como aqui em Portugal. Há alguns com mais idade, mas há também muitos de 20, 30 anos que, muitas vezes, fazem da leitura um ato prévio, transformam-se em criadores. Há também um tipo da parte acadêmica que se aproxima fazendo teses sobre os livros. Por vezes aparecem leitores com seus 80 anos, mas também muitas pessoas novas, e agrada-me que minha obra não seja para um grupo apenas. Acho que os livros devem pertencer àqueles que neles quiserem entrar. E são obras que, de certa maneira, procuram que os leitores sejam a segunda parte, que participem na interpretação e, nessa expressão, se tornem ativos.

CNE: O quanto megaeventos como as bienais conseguem atrair e formar esse perfil ativo de que fala?
GMT:
Pela experiência anterior que tenho, muitas vezes a palestra é um despertar para o livro. No meu caso, penso que os livros devem estar em primeiro plano, ou seja, o autor deve se apagar um pouco, os livros é que são o essencial. Mas é claro que o contato pessoal, o fato de os leitores cruzarem corpo a corpo conosco, é algo que pode marcar de uma maneira diferente.

CNE: O impacto desses encontros é diferente em jovens leitores?
GMT:
Aqui em Portugal fui umas duas ou três vezes a escolas secundárias e, realmente, para alunos muito novos, e mesmo universitários, é evidente que cada contato, cada experiência que têm com escritores é uma coisa muitas vezes marcante. Passados os anos, aquilo fica.

CNE: Sobre esse jovem que está agora tomando gosto pelos livros, o que considera o principal fator na formação e, principalmente, na manutenção do hábito da leitura?
GMT:
Não há regras, mas parece-me importante, em primeiro lugar, associar a leitura a uma vontade, ou seja, tentar que não seja nada obrigatório. Não sou muito entusiasta da leitura obrigatória, digamos que prefiro a ideia da leitura aconselhada. Em vez de fazer o jovem ler três ou quatro livros predeterminados, poderia haver 15 e ele escolher dentre esses. Ou seja, haver sempre a opção, para que ele sinta que há um grau de liberdade, de decisão individual, que não é uma imposição. Creio que a leitura deve ser associada ao puro prazer. Se alguém não está gostando de um livro, deve interrompê-lo e voltar a ele quando achar que está preparado. Muitas vezes, a imposição de ler um livro até o fim, aos 12 ou 13 anos, pode fazer com que a pessoa se afaste de um autor muito importante, extraordinário, porque entrou nele quando não estava preparada. Isso acontece com Camões e Eça de Queirós aqui em Portugal. São clássicos indispensáveis para qualquer leitor, mas alguns jovens, naquela fase da vida, não entram nos livros.

CNE: Como evitar, então, que a obrigatoriedade afaste indiretamente alguns alunos da leitura?
GMT:
A lógica dos livros obrigatórios quase assume que todas as pessoas naquela série estão na mesma idade de maturação, na mesma idade de leitor. Vinte pessoas de 15 anos podem estar na mesma turma e algumas terem idade de leitor de 30 anos, outras de 10. A idade de leitura não corresponde à idade, digamos, biográfica e, portanto, temos de respeitar essa idade individual, quase interna. Por isso mesmo, creio que se deve abrir a biblioteca aos alunos, para que possam folhear os livros, abrindo um e outro até escolherem algum. Um modelo possível e simpático é o jovem entrar acompanhado por leitores mais velhos, que podem orientá-lo. Assim temos, por um lado, a escolha individual e, por outro, a troca e o saber ouvir sugestões de leitores mais maduros.

CNE: As indicações dos professores têm bastante peso no índice de leitura brasileiro. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lê-se 4,7 livros por ano, mas, se descontarmos os títulos lidos fora da escola, o número cai para 1,3 livro por habitante/ano. O que é possível fazer para evitar uma queda tão brusca pelo “interesse” por livros fora da sala de aula?
GMT:
Não há regras. Por vezes, ter de fazer uma prova é um empurrão para a pessoa que não iria ler. Como em tudo, acho que na leitura deve haver, por um lado, a vontade e, por outro, uma certa disciplina, no sentido de se impor que naqueles dias se vai ler tal livro. Aqui em Portugal está se desenvolvendo o Plano Nacional de Leitura, que é um projeto bastante interessante. Uma das coisas que se fazem é ter uma ou duas horas por semana em que os jovens ficam na sala de aula a ler ficção, poesia, que as próprias turmas escolhem. A escola está de certa maneira muito associada a um livro técnico, de estudo, para aprender coisas quantitativas, então isso é muito revolucionário: introduz nela o imaginário literário.

CNE: Há quem veja os títulos da série O Bairro, como O Senhor Valéry, como mais acessíveis aos jovens leitores. O senhor concorda?
GMT:
Realmente, O Bairro tem histórias e um mundo muito lúdico, é quase uma utopia. Eu até brinco, na França, que é uma espécie de aldeia do Asterix que tenta resistir contra a barbárie deste século. O Senhor Brecht tem uma espécie de humor negro, O Senhor Kraus, um lado de sátira e coisas de lógica. É um mundo que tem várias leituras e uma delas é a do prazer imediato. Os romances são mais exigentes no sentido moral, filosófico, e são por outro lado muito duros, são uma parte negra – apesar de haver pessoas com 17, 18 anos que os leem. Aqui em Portugal, professores de Filosofia ou Português utilizam pequenas histórias de O Bairro para as aulas e procuram usar conceitos que estão ali. Por exemplo, O Senhor Valéry é um bom exemplo de livro que pode ser lido para crianças a partir dos 6 anos, mas também permite outras discussões. Agradam-me os títulos que aparentemente têm histórias muito simples. O Senhor Valéry era pequenino, mas dava muitos saltos e, assim, era alto, mas só por pouco tempo: há aí também um conto sobre a insatisfação.

CNE: Quem pensa em adicionar entre os moradores de O Bairro? Certa vez, o senhor disse que planejava escrever um volume com Clarice Lispector.
GMT:
Sou adepto incondicional de Clarice Lispector, acho-a uma escritora extraordinária. É uma das senhoras que teria honra em ter no Bairro. Ele tem um design já pronto, com cerca de 40 personagens – e saíram já dez. É meio uma utopia, uma que nunca vou terminar. A ideia é que seja um lugar em que alguns vivem e que outros visitam. O nome que dou às personagens nada tem a ver com a biografia delas, são autônomas. Mas, de certa maneira, as marca. A escolha desses homenageados não tem a ver com serem os meus autores favoritos. Há nomes que são determinantes, como Lispector, Machado de Assis, Thomas Mann, e não estão ali. É uma escolha quase instintiva, de sentir que nomes me remetem a questões mais lúdicas, muito mais do que a eleição de um cânone de autores.

CNE: Como leitor, quais são suas preferências? Lê algum brasileiro?
GMT:
No geral, leio coisas distintas, gosto bastante de ficção, ensaios, ciência, poesia e teatro. Num mesmo dia, passo por diferentes livros. Sobre os brasileiros, leio inúmeros. Há aqui na minha frente, por acaso, o livro do Luiz Ruffato, que tem uma grande história, Eles Eram Muitos Cavalos. Mas é claro que não consigo acompanhar tudo, porque, infelizmente, não chegam muitos títulos interessantes que vão saindo aí. São poucas as coisas que vêm para cá, espero que isso em breve se altere.

CNE: A esse respeito, boa parte dos autores lusófonos que conhecemos pós-Saramago, como Mia Couto, José Luandino Vieira, José Eduardo Agualusa, e mesmo você, chegou ao Brasil graças ao incentivo do governo português. O governo brasileiro, por outro lado, é mais tímido. Isso dificulta a divulgação da nossa literatura aí?
GMT:
Quando digo que não chega tudo é porque há muita produção de qualidade no Brasil e, portanto, não é possível vir toda. E há muitos autores portugueses de qualidade que também não chegaram ao Brasil. Por outro lado, há uma tradição que começa. Por exemplo, há uma coleção muito importante que saiu, a Biblioteca Essencial da Literatura Brasileira. Às vezes, não é muito organizado, porque são diferentes editoras publicando diferentes autores, mas já há muitíssimos brasileiros editados e sendo acompanhados aqui, como Bernardo Carvalho e Raduan Nassar. Eu diria que a situação não é perfeita, mas não chega a ser má. Se um português quiser conhecer literatura brasileira, tem muito à disposição.

CNE: Retomando os clássicos, que são normalmente por onde os jovens começam a estudar literatura. Sua escolha da epopeia como gênero para seu novo livro, Viagem à Índia, é uma tentativa de reavivá-la, modernizando-a?
GMT:
Viagem à Índia foi, de fato, uma tentativa de ver se se poderia voltar ao épico, que de certa maneira é considerado de outro tempo, não atual. O livro relata a história de uma personagem que sai de Lisboa em busca de uma certa espiritualidade na Índia, e sua estrutura é mais ou menos a de Os Lusíadas, mas com uma personagem do século XXI, ou seja, com objetivos, digamos, menos grandiosos. É relevante mostrar que os clássicos são clássicos, porque nós, em 2011, voltamos a olhar para eles e a fazer coisas a partir deles. Um clássico que fica fechado e sobre o qual ninguém intervém com o tempo deixará de sê-lo. Clássico é aquilo que está sempre atual e, assim, exige das pessoas que estão vivas uma resposta.

LIVROS DE GONÇALO M. TAVARES
O Senhor Valéry e a Lógica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011
O Senhor Swedenborg e as Investigações Geométricas. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011
O Senhor Kraus. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.
O Senhor Brecht. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.