quinta-feira, 30 de junho de 2011

CNPq cria prêmio de fotografia voltado à comunidade acadêmica e abre inscrições

Da Assessoria do CNPq   
 
O I Prêmio de Fotografia - Ciência & Arte do CNPq pretende fomentar a produção de imagens com a temática de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) para criar um banco de imagens e o anuário brasileiro da fotografia. Voltado para a comunidade acadêmica e científica, o Prêmio vai distribuir R$ 90 mil em dinheiro. As inscrições ficam abertas até o dia 12 de agosto de 2011 .

O Prêmio tem como objetivos: oferecer um produto inédito para popularizar e divulgar a Ciência no Brasil; fazer um panorama da ciência brasileira por meio das imagens; associar aspectos estéticos à ciência para incentivar novos pesquisadores; prover imagens para agências; promover a divulgação de trabalhos científicos com a exposição de imagens feitas pelos próprios pesquisadores; e montar uma base sólida de imagens cientificas no país a partir dos 60 anos do CNPq.

O Prêmio, que vai revelar talentos, traz a tendência, relativamente recente, de associar tecnologias tradicionais à inovações eletrônico-digitais para produzir imagens sobre pesquisa científica. Cada uma das seis categorias, distribuídas em três segmentos, vai premiar até 3 candidatos. O 1º lugar receberá R$ 8 mil, além de passagem aérea e hospedagem para expor o trabalho e receber a premiação durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece entre 17 e 23 de outubro deste ano. O 2º colocado ganhará R$ 5 mil e o 3º lugar será premiado com R$ 2 mil.

Inscrições

As inscrições são individuais e devem ser efetuadas por categoria , exclusivamente, pelo site do Prêmio: www.premiofotografia.cnpq.br . O Candidato deve possuir currículo atualizado na Plataforma Lattes; ficha de inscrição preenchida; imagem digital, constando : título; data; local; o tipo de aparelho e a lente utilizada para a produção da imagem, e texto explicativo sobre o conceito de cada imagem no contexto científico e tecnológico, de 150 (mínimo) a 600 caracteres (máximo).

A escolha dos premiados será realizada por uma comissão julgadora, composta por sete especialistas da comunidade científica e tecnológica, designados pelo presidente do CNPq . Os trabalhos serão avaliados considerando os critérios de Originalidade e Ineditismo; Inovação e Impacto Visual; Contexto da Pesquisa; Contribuição ao conhecimento para a popularização e divulgação científica e tecnológica; e Qualidade estética.
 
Segmentos/Categorias

Lentes Convencionais

Categoria 1 - Ambiente externo e paisagem humana: retratos, aglomerado de pessoas, cidades, estruturas arquitetônicas mecânicas de grande porte (externa) e fenômenos sociais.

Categoria 2 - Ambiente externo e paisagem natural: animais, plantas, fotomacrografia.

Categoria 3 - Ambiente interno e estúdio: equipamentos, itens tecnológicos, laboratório, studio, salas, instalações internas.

Lentes Especiais

Categoria 4 – Micro: lupas, microscópio, microscópio eletrônico - fotomicrografia.

Categoria 5 – Macro: telescópios, imagens de satélite.

Imagens Editadas

Categoria 6 - Ilustração científica ou imagem conceitual: 3D, modelos abstratos, maquete, imagem computacional, montagens, imagens compostas, infográficos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares: na contramão do atrelamento político

Por Juliana Marques, da ASCOM/UEPB

Dar oportunidade à difusão de ideias, elementos de cultura, tradições e oferecer mecanismos de formação e integração de uma determinada comunidade, estas são algumas das funções de um serviço de Radiodifusão Comunitária conforme a Lei 9.612 de 19 de fevereiro de 1998. Contudo, mesmo com sua missão definida em Lei, um grande número de rádios comunitárias por todo o país e no Estado da Paraíba deixa de se preocupar com o conteúdo disponibilizado e passam a focar em aspectos políticos e financeiros.
Para ser caracterizada como Rádio Comunitária uma emissora precisa ter um alcance limitado a, no máximo, 1 km a partir de sua antena transmissora, criada para proporcionar informação, cultura, entretenimento e lazer a pequenas comunidades. Tal entidade também não pode ter fins lucrativos nem vínculos de qualquer tipo, tais como partidos políticos e instituições religiosas.
De acordo com uma pesquisa do estudante do curso de Comunicação Social da UEPB, José Alberto da Nóbrega Simplício, a Paraíba conta atualmente com 104 entidades legalizadas para o serviço de radiodifusão comunitária. Porém, a grande maioria destas Rádios Comunitárias não disponibiliza espaço para o jornalismo comunitário.
Conforme aferido no estudo as informações veiculadas não dão conta do universo informacional das comunidades e estão muito agregadas a fontes oficiais. Já a cultura local se resume, praticamente, a alguns programas que veiculam músicas regionais, repentes e poesias.
 O aluno chegou a essa conclusão através da insuficiência de conteúdos informativos e culturais comprometidos com a realidade local nas rádios comunitárias paraibanas. Para ele, isso se deve ao atrelamento político-partidário, bem como a falta de capacitação dos recursos humanos que atuam nessas emissoras e dos movimentos da sociedade organizada quanto aos reais propósitos da comunicação comunitária.
 Contrapondo-se ao papel e a importância que possui esse veículo, as emissoras comunitárias, embora sejam concedidas a associações e a grupos da sociedade organizada, estão servindo, na maioria dos casos, para beneficiar determinados grupos políticos ou empresariais da localidade. Ou seja, há o interesse particular se sobrepondo ao público. Existe também forte influência exercida pelas rádios comerciais na programação das emissoras comunitárias.
Na contramão desse panorama está a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, com o programa “Alô Comunidade”, que faz parte da grade de programação de quatro emissoras de rádios comunitárias paraibanas, sendo retransmitida pela Rádio Tabajara AM. Cultura, cidadania, saúde e educação são alguns dos temas abordados pelo programa, que tem duração de uma hora e abrange assuntos das comunidades onde atuam essas emissoras populares.
Segundo os responsáveis pelo “Alô Comunidade” o programa divulga as notícias de interesse das comunidades que não são divulgadas na mídia convencional, o cotidiano das associações de bairro, com espaço para os movimentos sociais, sindicatos e ONGs.
Este é o modelo de programa que deve compor a grade de programação de uma Rádio Comunitária, e ainda, de acordo com o Ministério das Comunicações, aquele que contribui para o desenvolvimento da comunidade, sem discriminação de raça, religião, sexo, convicções político-partidárias e condições sociais.
A programação deve respeitar sempre os valores éticos e sociais da pessoa e da família, prestar serviços de utilidade pública e contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação dos jornalistas e radialistas. Além disso, qualquer cidadão da comunidade beneficiada terá o direito de emitir opiniões sobre quaisquer assuntos abordados na programação da emissora, bem como manifestar ideias, propostas, sugestões, reclamações ou reivindicações.
Porém, muitas emissoras não enxergam o verdadeiro papel de uma Rádio Comunitária e passam a “vender” espaços comerciais, o que, de acordo com a Lei, não é autorizado, a não ser na forma de apoio cultural. Essas mesmas rádios se transformam em palanques em época de eleições e políticos se aproveitam desse espaço para propagar suas ideias de forma bem menos onerosa, mas com um alcance rápido e direto, em troca de ajuda financeira ou de favores concedidos a uma minoria.
É preciso repensar essa realidade que impera não só na Paraíba, mas em todo o país, o que estamos fazendo das nossas rádios comunitárias? É preciso lutar para que exemplos como o Programa “Alô comunidade” na Rádio Comunitária de Zumbi dos Palmares sejam regra e não exceção!

Blog da Rádio Zumbi e programa "Alô comunidade"

O programa “Alô comunidade”, edição do último sábado (25), já está no blog da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares (www.radiozumbijp.blogspot.com). O programa é transmitido todo sábado, a partir das 14h, pela Rádio Tabajara AM. A produção é da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – ABRAÇO/PB. As emissoras comunitárias que desejarem participar do programa devem entrar em contato com o jornalista Dalmo Oliveira através do telefone (83) 3225.4854.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Nelson Mandela celebra 21 anos de liberdade

Do UOL Notícias
 
Há 21 anos, “Nelson” Rolihlahla Mandela deixou a prisão Victor Verster caminhando, ao lado de Winie Madikizela, sua esposa na época. Livre em 1990 (mais especificamente em 11 de fevereiro), aos 72 anos, ele havia passado os últimos 27 atrás das grades por ousar a se opor ao regime racista que dominava a África do Sul. Um mar de pessoas o aguardava nas ruas para dar início finalmente à edificação da democracia sul-africana.

Mandela é filho do conselheiro do chefe máximo do vilarejo de Qunu (atual província do Cabo Oriental), onde nasceu. Aos sete anos, tornou-se o primeiro membro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Aos 16 anos, seguiu para o Instituto Clarkebury, na África do Sul, onde estudou cultura ocidental.
 
Militância
 
Ao final do primeiro ano do curso de Direito na Universidade de Fort Hare, Mandela se envolveu com o movimento estudantil, num boicote contra as políticas universitárias e foi expulso da universidade. Ali iniciou sua militância.

A partir de então se envolveu na oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria da população), mestiços e indianos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. Uniu-se ao Congresso Nacional Africano em 1942, e dois anos depois fundou com Walter Sisulu e Oliver Tambou (um de seus melhores amigos), entre outros, a Liga Jovem do CNA.

Depois da eleição de 1948 dar a vitória aos afrikaners (Partido Nacional), que apoiavam a política de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no CNA, tomando parte do Congresso do Povo (1955) que divulgou a Carta da Liberdade - documento contendo um programa fundamental para a causa anti-apartheid.

Comprometido de início apenas com atos não-violentos, Mandela e seus colegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180. Em 1961 fundou a ala armada do CNA - Umkhonto we Sizwe (a Lança da Nação) para combater a discriminação do apartheid.
 
Prisão
 
Acusado de crimes capitais no julgamento de Rivonia, em 1963, a declaração que deu, no banco dos réus, foi sua afirmação de posição política: "Tenho defendido o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer". Em 1964 Mandela foi condenado à prisão perpétua.

No decorrer dos 27 anos que ficou preso, Mandela se tornou de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas anti-apartheid em vários países.

Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando foi libertado em 11 de fevereiro pelo presidente Frederik Willem de Klerk, que também revogou a proibição do CNA e de outros movimentos de libertação.

Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandela comandou a transição do regime racista, o apartheid, ganhando respeito internacional.

Em 1999, Mandela conseguiu eleger o sucessor, Thabo Mbeki, que posteriormente foi obrigado a deixar a Presidência depois de uma manobra política do seu maior rival dentro do CNA, Jacob Zuma.

Casamentos, separações e aposentadoria
 
Mandela casou-se três vezes. A primeira esposa de Mandela foi Evelyn Ntoko Mase, de quem se divorciou em 1957 após 13 anos de casamento. Depois casou-se com Winie Madikizela, e com ela ficou 38 anos, divorciando-se em 1996, com as divergências políticas entre o casal vindo a público. No seu 80º aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano.

Depois de deixar a presidência, Mandela passou a dedicar suas forças ao combate à crise da Aids na África do Sul, levantando milhões de dólares para combater a doença. Seu uníco filho morreu vítima da doença em 2005.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Machado de Assis ganha homenagem nos 172 anos de nascimento


Por ASCOM/UEPB com agências

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a Imprensa Nacional homenagearam na última quarta-feira (22) os 172 anos de nascimento do escritor Machado de Assis, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
As homenagens a Machado de Assis marcaram a adesão da Imprensa Nacional à campanha Igualdade Racial é prá Valer, lançada pela Seppir no âmbito do Ano Internacional dos Afrodescendentes.

A programação faz parte da reabertura da Sala de Leitura, que leva o nome do escritor, e teve a exibição de filmes baseados em obras machadianas - Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas - e um ato solene de consolidação da parceria entre os dois órgãos públicos.

Machado

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu pobre e epilético. Era filho de Francisco José Machado de Assis e de Leopoldina Machado de Assis, neto de escravos alforriados. Foi criado no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Ajudava a família como podia, não tendo frequentado regularmente a escola.

Sua instrução veio por conta própria, devido ao interesse que tinha em todos os tipos de leitura. Graças a seu talento e a uma enorme força de vontade, superou todas essas dificuldades e tornou-se em um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

Entre os seis e os 14 anos, Machado perdeu sua única irmã, a mãe e o pai. Aos 16 anos empregou-se como aprendiz numa tipografia e publicou os primeiros versos no jornal "A Marmota". Em 1860, foi convidado por Quintino Bocaiúva para colaborar no "Diário do Rio de Janeiro". Datam dessa década quase todas as suas comédias teatrais e o livro de poemas "Crisálidas".

Em 12 de novembro de 1869 casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais. Esse casamento ocorreu contra a vontade da família da moça, uma vez que Machado tinha mais problemas do que fama. Essa união durou cerca de 35 anos e o casal não teve filhos. Carolina contribuiu para o amadurecimento intelectual de Machado, revelando-lhe os clássicos portugueses e vários autores de língua inglesa.

Na década de 1870, Machado publicou os poemas "Falenas" e "Americanas"; além dos "Contos Fluminenses" e "Histórias da meia-noite". O público e a crítica consagraram seus méritos de escritor. Publicou os romances: "Ressurreição" (1872); "A Mão e a Luva" (1874); "Helena" (1876); "Iaiá Garcia" (1878). Essas obras ainda estão ligadas à literatura romântica e formam a chamada primeira fase de Machado de Assis.

Em 1873, o escritor foi nomeado primeiro oficial da secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas. A sua carreira burocrática teve uma ascensão muito rápida, uma vez que, em 1892, já era diretor geral do Ministério da Viação. O emprego público garantiu a estabilidade financeira, uma vez que viver de literatura naquela época era quase impossível, mesmo para os bons escritores.

Na década de 1880, a obra de Machado de Assis sofreu uma verdadeira revolução, em termos de estilo e de conteúdo, inaugurando o Realismo na literatura brasileira. Os romances "Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881); "Quincas Borba" (1891); "Dom Casmurro" (1899) e os contos "Papéis avulsos" (1882); "Histórias sem data" (1884), "Várias histórias" (1896) e "Páginas recolhidas" (1899), entre outros, revelam o autor em sua plenitude. O espírito crítico, a grande ironia, o pessimismo e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira são as suas marcas mais características.

Em 1897, Machado fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual foi o primeiro presidente, pelo que a instituição também conhecida como casa de Machado de Assis. Ocupou a Cadeira N.º 23, de cujo patrono, José de Alencar, foi amigo e admirador.

Em 1904, a morte de sua mulher foi um duro golpe para o escritor. Depois disso, raramente ele saía de casa e sua saúde foi piorando por causa da epilepsia. Os problemas nervosos e uma gagueira contribuíram ainda mais para o seu isolamento. São dessa época seus últimos romances "Esaú e Jacó" (1904) e "Memorial de Aires" (1908), que fecham o ciclo realista iniciado com "Brás Cubas"

Machado de Assis morreu em sua casa situada na rua Cosme Velho. Foi decretado luto oficial no Rio de Janeiro e seu enterro, acompanhado por uma multidão, atesta a fama alcançada pelo autor.

O fato de ter escrito em português, uma língua de poucos leitores, tornou difícil o reconhecimento internacional do autor. A partir do final do século 20, porém, suas obras têm sido traduzidas para o inglês, o francês, o espanhol e o alemão, despertando interesse mundial. De fato, trata-se de um dos grandes nomes do Realismo, que pode se colocar lado a lado ao francês Flaubert ou ao russo Dostoievski, apenas para citar dois dos maiores autores do mesmo período na literatura universal.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Livro inacabado de Saramago será lançado em 2012

Da Agência EFE

No último sábado (18), a morte de José Saramago completou um ano e, ao longo dos últimos meses, sua viúva, a jornalista Pilar del Río, "cúmplice" do grande escritor, não deixou de trabalhar pelo "compromisso cívico" que ambos compartilhavam. Em sua casa em Madri, Pilar del Río anunciou que em 2012 será publicado o romance que Saramago deixou inacabado e no qual trabalhava quando morreu. De acordo com a jornalista, "serão os editores" do Prêmio Nobel português que decidirão os detalhes da publicação do livro, que terá lançamento mundial.

Após publicar "Caim", o escritor começou uma nova obra sobre a indústria armamentista e o tráfico de armas, que havia intitulado "Alabardas, alabardas! Espingardas, espingardas!", um verso do poeta e dramaturgo português Gil Vicente.

Nesta semana, Pilar, que comemoraria este mês 25 anos de relacionamento com Saramago, participou de vários atos para lembrar a figura do escritor no primeiro aniversário de sua morte.

O principal deles aconteceu no sábado, em Lisboa, quando suas cinzas foram depositadas em frente ao rio Tejo e diante da sede da Fundação José Saramago, presidida por Pilar.

Segundo ela, as cinzas foram enterradas "sob as raízes de uma oliveira trazida de Azinhaga", a aldeia natal do autor. Há também uma lápide com a inscrição "Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia", uma frase do livro "Memorial do Convento".

Na noite da última terça-feira, a Casa da América de Madri seria cenário da leitura dramática "Vozes de mulher na obra de Saramago", que contaria com a participarão da própria Pilar e das atrizes espanholas Aitana Sánchez Gijón, Pilar Bardem e Pastora Vega, além da dançarina de flamenco María Pagés.

Como presidente da Fundação e, "sobretudo, como cúmplice de Saramago e militante do mesmo corpo de ideias", Pilar procurou "manter e respeitar" a posição que ele defendia como cidadão e como intelectual.

"Não podemos passar a responsabilidade a outras pessoas. Não vão ser as cúpulas de poderosos que vão solucionar nossa vida e resolver nossos problemas", afirmou a viúva de Saramago, que teve que conter a emoção em vários momentos da entrevista.

"Somos nós cidadãos que devemos ter coragem, ir para a rua, gritar, desmantelar, construir. Esse era o projeto de Saramago, mas também é o meu", afirmou.

A voz de Saramago parece ser escutada na casa que o escritor e sua mulher tinham em Lanzarote, aberta ao público há três meses e que com o tempo se transformará "em uma visita obrigatória para os leitores de todo o mundo", destaca a jornalista.

Entre suas paredes "se percebe a vida de Saramago, se veem seus livros e onde escreveu os últimos romances. As pessoas saem chorando de emoção", relatou.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Da ansiedade ou o mal-estar 
no mundo

Por Caio Liudvik (doutor 
em filosofia e autor de livros na área), da Revista Cult

Assim como na obra do pai da psicanálise, a “ansiedade” como problema filosófico central do existencialismo mantém uma fina imbricação terminológica com a noção de angústia, encontrada mais nos textos dos pensadores e comentadores.

É o que se vê no exemplo paradigmático do uso por Martin Heidegger – talvez o principal nome associado a essa corrente– do termo Angst, traduzível à francesa como angoisse ou, mais próximo da nossa “ansiedade”, como anxiety em inglês.

Na prática, são termos que se mostraram intercambiáveis como formas de nomear uma questão existencialista por excelência: a inquietude radical do homem moderno diante da obrigação de ser livre, de se defrontar com um futuro sempre inseguro, da necessidade de fazer escolhas todo o tempo (a única escolha proibida é não escolher), e órfão de toda crença judaico-cristã num sentido transcendente da vida, já que “Deus está morto”, segundo o célebre diagnóstico de Nietzsche.

Exemplo notável dessa superposição semântica é como Jean-Paul Sartre, outro dos gigantes do existencialismo, desliza de um termo a outro tratando de uma mesma questão e num mesmo parágrafo de seu O Existencialismo É um Humanismo (1945):

“O existencialista declara frequentemente que o homem é angústia [angoisse]. Tal afirmação significa o seguinte: o homem que se engaja e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira – e não consegue escapar de sua total e profunda responsabilidade. É fato que muitas pessoas não sentem ansiedade [ne sont pas anxieux], porém nós estamos convictos de que essas pessoas mascaram sua angústia, fogem dela”.

Desamparo

Assim, Sartre opõe a angústia e a ansiedade à tranquilidade, mas em detrimento dessa última, se por “tranquilidade” entendermos o apaziguamento de consciência forjado pela má-fé. Por má-fé Sartre entende toda desculpa, todo pretexto (por exemplo, o sujeito que agiu de modo covarde ou egoísta e se justifica apelando para as leis de Darwin) que, forjando algum determinismo, implica o escamoteamento da liberdade. Fuga também do desamparo radical do homem ante um mundo neutro, senão hostil, para o qual não pedimos para vir, no qual não escolhemos nossa família, língua, classe social de origem, mas no qual somos inteiramente responsáveis por nós mesmos.

Fazendo suas escolhas, cada indivíduo inventa a si mesmo e, tal qual o agente moral kantiano, projeta um valor que deve ser avaliado como se fosse proposto a toda a humanidade; mais que isso, projeta uma imagem normativa de humanidade, na falta de qualquer “natureza humana” a priori.

É nessa mesma conferência – destinada a popularizar a linguagem mais hermética do clássico O Ser e o Nada – que Sartre afirma que a existência precede a essência.

A angoisse sartriana é diretamente esculpida sob inspiração do sentimento existencial de Angst (angústia ou ansiedade) discutido por Heidegger em Ser e Tempo e na conferência “Que É Metafísica?”, de1929. Nesta, vemos a tendência típica das filosofias da existência à “despatologização” – para não dizer exaltação filosófica – da angústia: ela seria um dado originário da condição humana, abafado enquanto “dormimos” na caverna da inautencidade, das hipnóticas ocupações e preocupações e do falatório superficial da cotidianidade.

Em posfácio de 1943, já sob a influência da célebre “virada” que o fez abandonar o horizonte existencialista de reflexão para se voltar para a busca do ser em geral, Heidegger mantém, contudo, o elogio da ansiedade como portal privilegiado rumo à verdade do ser e do nada.

Em Heidegger, ela toma dimensões mais amplas, é quase “mística”, em comparação com Sartre: “A disposição para a angústia é o sim à insistência para realizar o supremo apelo, o único que atinge a essência do homem. (…) A clara coragem para a angústia essencial garante a misteriosa possibilidade da experiência do ser. Pois, próximo à angústia essencial, como espanto do abismo, reside o respeito humilde”.

Angústia decaída

Cabe também lembrar a distinção entre Angst (termo cuja raiz indo-europeia se refere a “apertar” e “amarrar”) e Furcht, ou temor, que para Heidegger é uma “angústia decaída no mundo”, mascarada, inautêntica, porque se restringe ao ôntico, não ao ontológico.

Isto é, o Furcht tem um objeto específico – a broca do dentista, a violência urbana, o avião –, enquanto a angústia é sem objeto, é o sentimento generalizado da “nadificação” de tudo e do desabrigo radical de nosso pequeno ser ante o ser sem rosto de um real no qual somos hóspedes mas também “estrangeiros”.

Essa metáfora, como se sabe, foi base de uma das obras-primas da literatura do século 20, O Estrangeiro, de Albert Camus. Ao lado de A Náusea, de Sartre, ele constitui o emblema literário maior do existencialismo e de sua filosofia da angústia/ansiedade.

Mas, como reitera Olgária Matos, professora de filosofia, a matriz ética do desespero ante o absurdo do mundo na obra de Camus é mais remota – vem dos gregos antigos, sobretudo de Epicuro.

O epicurismo é a exaltação do prazer, da amizade e da alegria cujo pano de fundo é o lamento profundo por nosso destino de morrer. O epicurismo como iniciação filosófica da alma para a capacidade de não sucumbir às superstições religiosas e aflições com que os homens “inautênticos” daquela época tentavam apaziguar os terrores (ansiedades) da morte – e de uma vida social cada vez mais instável e insegura, passado o apogeu da democracia ateniense.

Ainda da Antiguidade, cabe destacar a reflexão de grandes filósofos da Roma Antiga, como Cícero (106-
-43 a.C.) – sobre a falta de tempo (angustia temporis) e o “ânimo covarde” (angustus animus) – e ainda Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), em especial seu pequeno tratado Da Tranquilidade da Alma, em que a serenidade estoica se contrapõe como remédio anímico à “inconstância de humor” e à atitude (“ansiosa”, diríamos hoje) daqueles que “se viram e reviram como as pessoas que não conseguem dormir”.

Homens acorrentados

A genealogia existencialista do problema da angústia/ansiedade tem outro itinerário obrigatório: a voz atormentada do pensador dinamarquês Soren Kierkegaard.

É dele que Heidegger e seus discípulos colherão uma das mais poderosas afirmações do sentimento da angústia e do desespero como constitutivos da existência como forma peculiarmente humana de ser – forma peculiarmente humana de ser, distinta da “feliz” inconsciência das coisas e demais animais, bem como da inumana onipotência do espírito absoluto de Hegel.

Kierkegaard critica o racionalismo hegeliano por tentar “explicar” a realidade empírica dessas inquietudes, encaixando-as como um momento passageiro e necessário no devir lógico da razão na história.

Ser um sujeito, protesta Kierkegaard, é estar sujeito à angústia e ao desespero, algo que ele associa à culpa mítica de nossos primeiros pais e de sua “queda” do paraíso. O homem esbarra sempre em seus próprios limites, verifica e sente que o mundo inteiro não pode completá-lo e que ele também não pode completar-se a si mesmo. A angústia é a voz da consciência e epifania sombria da liberdade, como em Heidegger e Sartre. Em Kierkegaard, ela também é ouvida no concerto das dores do drama religioso do homem, como ser finito, e seu anseio pelo infinito divino. “A angústia é a forma que toma essa consciência, e o desespero é o termo a que ela conduz. Como tal, o desespero desarraiga o homem de si mesmo, como ser finito, e entrega-o a si mesmo naquilo que tem de eterno.”

Os antecedentes filosóficos dessa odisseia espiritual – que tem na ansiedade, angústia, angina (termo latino que remete também à sensação de sufocamento, aperto) seu ingrediente constitutivo – também podem ser encontrados nas obras dos filósofos cristãos Pascal e Santo Agostinho.

A obra agostiniana também foi um dos marcos da construção da própria ideia de “interioridade” subjetiva do homem ocidental e, logo, dessa forma específica de fragilidade do indivíduo voltado para si mesmo e destituído, cada vez mais, dos laços primitivos da “participação mística” com o real.

Já Pascal, um dos principais ancestrais das modernas filosofias da existência, talvez tenha sido o que melhor captou e testemunhou a incipiente autoconsciência ontologicamente “ansiosa” do homem da moderna era científica. “Que se imagine grande número de homens acorrentados e todos condenados à morte, sendo todos os dias uns deles degolados à vista dos outros; aqueles que restam veem sua própria condição naquela de seus semelhantes, e olhando-se uns aos outros com dor e sem esperança, esperam a sua vez. Essa é a imagem da condição dos homens”.

Como não se afligir, indaga, a esse respeito, André Comte-Sponville, um dos maiores filósofos franceses da atualidade, que também minimiza distinções escolásticas entre ansiedade e angústia:

“Que seria o homem sem a angústia? A arte, sem a angústia? O pensamento, sem a angústia? Depois, a vida é pegar ou largar, e é disso também que a angústia, dolorosamente, nos lembra. Que não há vida sem risco. Não há vida sem sofrimento. Não há vida sem morte. A angústia marca a nossa impotência, é nisso que é verdadeira também, e definitivamente. Fazem-me rir os nossos pequenos gurus, que querem proteger-nos dela. Ou nossos pequenos psis, que querem nos curar dela”.


SAIBA MAIS

Obras de 
Jean-Paul Sartre
O Existencialismo É um Humanismo 
O Ser e o Nada
A Náusea
Obras de 
Martin Heidegger
Ser e Tempo
Que É Metafísica?
Outras obras
Da Tranquilidade da Alma, de Sêneca
Dicionário Comentado do Alemão de Freud , de Luis Hanns
O Estrangeiro, de Albert Camus

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Sem o erudito inexiste a magia do conhecimento que a humanidade nos logrou"

 "Poeta das Pequenas Coisas" - Puccini é um dos expoentes máximos da ópera italiana clássica e muitas de suas óperas caracterizam-se pela ação dramática, com a recriação de uma atmosfera poética


Por Ricardo Semler, escolhido pelo Fórum Econômico de Davos como um dos Líderes Globais do Amanhã

Por debaixo das cinzas fomos, aqui em Buenos Aires, ao belo Teatro Colón. O "Tríptico", de Puccini. Na saída, uma sensação de nostalgia e pena de que a ópera esteja agonizando, como gênero.
Lamentam-se clássicos que estão se extinguindo e a falta que faz aos jovens uma educação erudita.
Depois de alguns minutos, a pergunta melhor: pena por quê? Será simples arrogância ouvir Wagner, ter lido Kant ou poder discorrer sobre Goya? Ou a modernidade deve ignorar tanta filigrana para viver, na rua e de fato, a vida?
Nesses dias comemorou-se os 25 anos da morte do Jorge Luis Borges, o único escritor sul-americano de envergadura universal.
Um dia, enquanto esperava um elevador que nunca chegava, disse ao amigo: não prefere que subamos a escada, que já está completamente inventada?
Assim é com o conhecimento. Não é verossímil que a cada século a humanidade perca parte de sua sabedoria acumulada para reescrevê-la do zero.
Para isso serve Shakespeare, que reúne todas as características do ser humano em suas obras -não há ódio tão potente, ciúme tão violento ou tristeza tão profunda quanto os que ele retratou. No entanto, nenhuma das suas histórias é própria. Como no "Tríptico", do Puccini.
Resume-se o roteiro assim: mulher jovem de barqueiro é infiel, amante é morto, fim. Solteira grávida é internada contra a vontade em convento, filho que não conheceu morre, ela se mata, fim.
O valor, inestimável, desses autores é o uso da linguagem (escrita, musical, visual). Como disse Borges, traduzir James Joyce resulta em absolutamente nada -e não em uma tradução ruim.
Que utilidade haveria em alunos receberem uma longa lista de autores clássicos, de músicas do Bach, de quadros do Rembrandt? E, sem isso, com a queda brutal de gravações clássicas (17 novas ao ano atualmente contra 400 anuais há 30 anos) e o fim das bibliotecas clássicas, estaria o jovem adstrito à cultura popular?
Não há por que deixar o erudito morrer, pois morre junto a magia do conhecimento que a humanidade logrou, com interminável sofrimento. Mas de nada serve entregar Sófocles em grego. Terá que se redirecionar parte da verba da educação para fazer um compacto da sabedoria universal.
Falta um resumo escolar inteligente, que sirva para destilar os momentos magníficos dos gênios, que escolha passagens de Beethoven, Cícero e Velásquez e, mais importante, que os coloque em contexto e, acima de tudo, que os una.
Disse Borges: "A imaginação é feita de convenções da memória -se eu não tivesse memória seria incapaz de imaginar".
É burro torturar alunos com decoreba de clássicos, mas é tarefa urgente dos adultos transmitir de forma viva o que aprendemos como "raça humana".

sábado, 18 de junho de 2011

Júnior Cordeiro lança "O Lago Misterioso" hoje (18) no Teatro Municipal

Por Severino Lopes, do Diário da Borborema

Cabelos longos, um violão debaixo do braço e um talento para cantar. Seria ele o dono do "Avôhai"? Não. Trata-se de Júnior Cordeiro, um outro artista paraibano não menos místico do que Zé Ramalho. Poeta, cantor e compositor, Júnior Cordeiro está com um novo trabalho na praça. O artista acaba de lançar o CD "O Lago Misterioso", um disco que remete diretamente ao Nordeste mítico e encantado, onde a tradição oral do nosso povo aparece de forma clara e explícita. O novo álbum com 16 músicas, todas inéditas e de autoria de Júnior Cordeiro, será lançado hoje (18), às 20h, em um show realizado no Teatro Municipal Severino Cabral. "Esse é um disco com músicas voltadas para a temática do Nordeste. É um trabalho 100% autoral", contou. 


Os mitos, as lendas, os contos populares e o realismo fantástico do universo da literatura de cordel e dos violeiros repentistas são os ingredientes básicos da obra. E marcas insubstituíveis de Júnior Cordeiro. No álbum, Júnior traz canções que retratam um Nordeste mágico e lúdico. Apresenta uma região dotada de costumes ibéricos e de influência da cultura moura, além de procurar questionar o lugar da identidade cultural nos dias de hoje. "Nesse contexto, a obra tem a pretensão de alertar o homem atual para o perigo do esquecimento das tradições populares na atualidade, o que deixa a sociedade pós-moderna cada dia mais dispersa e coisificada, frente à voracidade dos tempos", enfatizou.

Júnior com seu estilo exótico é mesmo um artista diferente. A apresentação do trabalho mais parece um encontro da poesia com a literatura. Nele, não existem limites entre o universo da palavra e da melodia. Imaginem um lugar onde uma Caipora dialoga livremente com um poeta saudosista, queixando-se do esquecimento dos homens em relação a sua "pessoa". Um lugar onde existem iaras sedutoras, lagos encantados e grandes botijas enterradas, indicadas por almas penadas que saem carregando tochas assombrosas no meio da noite.

Esse lugar se multiplica em vários lugares, onde um homem da cobra erra pelas feiras, anunciando seu trágico fim frente à loucura da pós-modernidade globalizante. Esta, por sua vez, aterroriza um indivíduo que transforma-se num eremita, que prefere se enfurnar nos ermos a ter que conviver com a correria atual. Esse enredo recheado por elementos marcantes do imaginário coletivo nordestino é o mote de "O Lago Misterioso".

Júnior Cordeiro é uma dessas pessoas raras que traz para o mercado fonográfico um trabalho ousado e de muita personalidade. Inspirado em lendas e contadores de estórias como Ariano Suassuna, Zé Leal e o grande Alceu Valença, Júnior imprime nos seus trabalhos, a marca do armorial, um estilo que tem muita musicalidade e poesia. Com uma produção de Jorge Ribbas os trabalhos trazem composições bem elaboradas e com uma riqueza poética soberba. 



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Aniversário do nascimento de Frederico García Lorca

Por Oziella Inocêncio, da ASCOM/UEPB

Comemorou-se no último dia 05 deste mês, o aniversário de nascimento do poeta espanhol Frederico García Lorca. O bardo nasceu em 1898, na região de Granada (Fuente Vaqueros), na Espanha.

Estudou Direito e Letras na Universidade de Granada. Seu primeiro livro surgiu em 1918, chamado "Impressões e Paisagens". No ano seguinte, mudou-se para Madri. Lá viveu até 1928. Em Madri fez amizade com vários artistas, a exemplo de Luis Buňuel e Salvador Dali. Em 1920 estreou no teatro, com a peça "O Malefício da Mariposa", sendo que em 1921 publicou "Livro de Poemas". 

Também viveu dois anos em Nova York. De volta à Espanha, em 1931, criou a companhia teatral "La Barraca", que passou a se apresentar por todo país encenando autores clássicos espanhóis, muito caros a Lorca, como Lope de Vega e Cervantes. A iniciativa contribuiu para que se consolidasse como grande dramaturgo, criando peças que ficaram famosas no mundo inteiro. Entre suas obras mais encenadas estão as geniais "Bodas de Sangue" e "A Casa de Bernarda Alba".

Como poeta, Lorca publicou mais de uma dezena de livros, entre eles figuram "Romance Cigano" e "Seis Poemas Galegos". A poesia de Garcia Lorca é simples, bela e comovente,  cheia de significado. O teatro, singelo e absurdo, repleto de subjetividade, encanto e matizes. Sua escrita em geral registrou o modo de viver das pessoas mais simples e buscou resistir contra todo tipo de opressão.

Em 1936, ano da eclosão da Guerra Civil Espanhola, Federico García Lorca foi preso. Fuzilado em 19 de agosto daquele ano, em Viznar, na Espanha, por militantes franquistas, tornou-se símbolo da vítima dos regimes totalitários.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Projeto Fogueiras da Cultura já começou

Da Assessoria da Secult

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) lançou na última quarta-feira (15), no município de Catolé do Rocha, a primeira edição do projeto Fogueiras da Cultura. Durante todo o mês de junho, o evento itinerante percorrerá 12 municípios com a exibição de artistas e grupos da cultura tradicional paraibana. 

A expectativa da Secult é que aproximadamente 25 mil pessoas sejam beneficiadas com as apresentações de 29 artistas. O projeto terá um caminhão-palco, equipado com estrutura de som e luz, instalado nas praças e ruas das cidades visitadas, com exibição gratuita de grupos de forró pé de serra, ciranda, coco de roda, pífano e embolada. 

Segundo o secretário da Cultura, Chico César, o objetivo do projeto Fogueiras da Cultura é democratizar o acesso à produção da arte com identidade paraibana. “A arte produzida pelo povo é carregada de valores simbólicos e costumes da nossa identidade, mas habitualmente não é pautada pela indústria da cultura e a mídia comercial”, afirma. “Por isso entendemos a necessidade da intervenção do Estado na promoção e visibilidade dessa arte e de seus artistas”, destaca o secretário.

O projeto Fogueiras da Cultura é executado de acordo com as políticas de interiorização das ações culturais e democratização do acesso à cultura, definidas como prioridades da gestão de cultura do Estado. “Esta é mais uma ferramenta de afirmação da identidade paraibana. Estamos promovendo a cidadania e empoderando o movimento cultural do Estado”, acrescentou o secretário. 

Parcerias – A curadoria do projeto considerou os trabalhos focados nos costumes, valores e tradições populares paraibanas, sendo realizada em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil, responsável pela contratação dos grupos, e a Associação Balaio Nordeste, que auxiliou na logística e produção do evento.

Programação:

16 de junho – Patos – Praça da Igreja de São Sebastião – 19h
- Aécio Flávio
- Trio Tamanduá
- Derréis

18 de junho – Cajazeiras – Avenida Presidente João Pessoa – 19h
- Tico do Banjo
- Trio Jeito Nordestino
- Chico Amaro

19 de junho – Itaporanga – Avenida Getúlio Vargas – 19h
- Forró da Lamparina
- Edmilson e Sua Gente
- Dodô e seu Regional

20 de junho – Sousa – Largo do Centro Cultural BNB – 19h
- Congos de Pombal
- Neném de Monteiro e Forró Xote
- Irmãos Vieira

21 de junho – Princesa Isabel – Praça de Eventos – 19h
- Alexandre Pé de serra
- Forró Encabulado
- Pife Perfumado

 22 de junho – Monteiro – Praça João Pessoa – 19h
- Sandra Belê
- Osmando Silva
- Pife Perfumado

26 de junho – Campina Grande – Salão do Artesanato Paraibano – 19h
- Benedito do Rojão
- Zelita Calixto e seu Regional
- Sandra Belê

27 de junho – Itabaiana – Praça Epitácio Pessoa – 19h
- Beto Brito
- Alexandre Pé de serra
- Flor de Caroá

28 de junho – Cuité - Arraial da Serra – 19h
- Os Três do Norte
- Amantes do Forró
- Beto Brito

29 de junho – Alagoa Grande – Praça Jackson do Pandeiro – 19h
- Banda de Pífanos de Caiana dos Crioulos
- Forró Encabulado
- Os Três do Norte

30 de junho - Cabedelo – Fortaleza de Santa Catarina – 19h
- Orquestra Sanfônica
- Ripa na Chulipa
- Dona Teca do Coco de Roda do Mestre Benedito

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Crepúsculo com eclipse


por Paulo S. Bretones da Scientific American Brasil

Na noite de 15 de junho, observadores de várias partes do mundo terão a oportunidade de observar um eclipse total da Lua. O eclipse será visível em toda a América do Sul, África, Europa, Oceania, Antártida e Ásia exceto a parte norte.
Denomina-se eclipse ao obscurecimento parcial ou total de um corpo celeste em virtude da interposição de um outro. A palavra eclipse vem do grego ekleipsis, que significa abandono, desmaio, desaparecimento. É uma das raras chances de observar-se um espetáculo tão belo da natureza. Embora os eclipses solares ocorram em maior número, vemos com mais freqüência os lunares, pelo fato de os últimos serem observados em áreas consideravelmente superiores à metade da Terra.
Os eclipses lunares ocorrem quando a Lua penetra no cone de sombra da Terra, o que só pode acontecer na fase de Lua cheia pelo seguinte: A Terra gira ao redor do Sol num plano. Por exemplo, supondo que o Sol esteja no centro da face superior de uma mesa, a Terra se move em torno do Sol no nível desta superfície. Ao mesmo tempo a Lua gira em torno da Terra, mas o plano de órbita lunar é inclinado um pouco mais de 5º em relação à face da mesa. Embora a Terra projete sempre a sua sombra não a percebemos porque geralmente a Lua passa acima ou abaixo da sombra. Assim, quando a Lua cruza o plano da órbita da Terra, ou seja, passa por um nodo, e além disso o Sol, a Lua e a Terra ficam alinhados, ocorre um eclipse lunar. A sombra da Terra projetada no espaço se estende em forma cônica por cerca de 1,38 milhão de quilômetros. À distância de aproximadamente 360 mil quilômetros, onde está a Lua, o diâmetro da sombra tem cerca de 9 mil quilômetros. Além de uma parte escura, chamada umbra ou apenas sombra, a sombra da Terra tem uma parte cinzenta denominada penumbra. Mas é a sombra que dá o efeito de beleza ao fenômeno, pois a penumbra na maioria das vezes é imperceptível.
Na tarde de 15 de junho, quando a Lua estiver ainda abaixo do horizonte, e, portanto ainda não terá nascido no horizonte leste, às 15h22min, a Lua cheia começará a "mergulhar" na sombra da Terra. Às 16h22min a Lua estará toda coberta pela sombra de nosso planeta.
No Brasil, para observadores em São Paulo, para considerarmos uma média, a Lua irá nascer eclipsada às 17h25min e o pôr do Sol ocorrerá às 17h27min. Devido ao horário deste evento, a Lua eclipsada não terá tanto contraste com o fundo do céu por conta da claridade do crepúsculo. Em outras palavras, não veremos a Lua cheia nascer bem brilhante como de costume, porque ela estará dentro da sombra da Terra.
Mesmo assim será um fenômeno raro e um desafio tentarmos observar a Lua nascendo totalmente eclipsada e o Sol se pondo do outro lado do horizonte.
Mais tarde, às 18h02min quando a Lua começará a sair da sombra estará a cerca de 7 graus de altura sobre o horizonte até que às 19h02min sairá por completo e estará novamente toda iluminada pelo Sol, quando estará a cerca de 19 graus do horizonte.
Os eclipses lunares já foram mais importantes para a pesquisa astronômica. Eles forneceram a primeira prova de que a Terra é redonda, foram utilizados no estudo da alta atmosfera do nosso planeta, no estudo da rotação da Terra, no tamanho e distância do nosso satélite além de variações em seu movimento. Além disso, os eclipses podem contribuir com a História na determinação de datas que se deram em tempos remotos.
Neste ano temos ao todo 4 eclipses sendo 2 eclipses da Lua e 4 eclipses do Sol. Destes, apenas o eclipse lunar de 15 de junho será visível no Brasil.
As observações do eclipse total da Lua podem ser realizadas com binóculos, lunetas e telescópios de fraco aumento.
Para fotografar o eclipse com câmera digital, pode-se fixá-la num tripé, em modo de foco infinito, paisagem ou cenário (landscape). Como se pode verificar o resultado da imagem obtida, é fácil experimentar o tempo de exposição durante o eclipse. Na fase de totalidade, pode-se usar sensibilidade de ISO 100 ou 200 e exposições entre 1s a 5s. Também pode-se aumentar o ISO e diminuir o tempo de exposição.
Para exposições depois da totalidade, geralmente a câmera consegue se adaptar as condições de luz automaticamente, bastando apertar o botão de disparo para efetuar a foto nesta fase. Para as câmeras com opções manuais, pode-se usar exposições rápidas de 1/350 a 1/125 com ISO 100 para aberturas pequenas como 1:5,6 ou 1:8.
Em suma, pode-se utilizar mais de uma abertura e velocidade de disparo para garantir fotos de boa qualidade. Com a câmara fixa, apoiada em tripé, deve-se disparar manualmente em intervalos de três, cinco minutos ou mais.
É importante conhecer a trajetória aparente da Lua e fazer um ensaio na véspera para procurar o melhor local. Usando-se teleobjetivas, como o campo é limitado, é possível obter imagens maiores da Lua.
De qualquer forma, vale a pena reunir a turma, procurar um local alto e com o horizonte livre. Pode-se observar o pôr do Sol e tentar ver a Lua nascendo eclipsada, em contraste com a claridade do crepúsculo e ainda na sombra do nosso planeta. Com o passar do tempo, a Lua estará cada vez mais alta, irá saindo da sombra e voltará a estar cheia e totalmente iluminada pelo Sol.


terça-feira, 14 de junho de 2011

Rockfilosofia - O gênero musical radical para a 
cultura

Por Marcia Tiburi, da Revista Cult

Filósofos pelo mundo afora vêm se dedicando a compreender o fenômeno do rock. Na França e nos Estados Unidos, pensadores escrevem filosofias e ontologias do rock. No Brasil, Daniel Lins vem falando do encontro entre Bob Dylan e Gilles Deleuze. Esta que vos escreve trabalha em um diálogo/rock com o músico Thedy Corrêa. Podemos estabelecer diálogos entre bandas e estilos da vasta história do rock e filósofos da tradição. Podemos tentar entender o que há de filosófico nas letras, canções e performances do rock. A questão do rock é cultural e antropológica e, quando a tratamos como questão filosófica, há um mundo de reflexões a serem construídas.

Podemos vê-lo como questão de linguagem baseada em uma ontologia (do modo existência) da obra gravada. Podemos pensar também no que seria a filosofia depois do advento do rock, pois ele foi uma transformação tão radical da cultura quanto foram a psicanálise e o feminismo, a partir dos quais devemos também pensar a filosofia como experiência reflexiva de um tempo.

Podemos falar de rock como um “cogito do tempo”, como o chamou o filósofo francês Jean-Luc Nancy. Podemos também entender em que sentido o rock é ele mesmo uma expressão filosófica, um método como pensamento-ação-expressão e, nesse sentido, como a própria filosofia pode ser ela mesma um tanto “rock”. Ou rockfilosofia, aquela que, contagiada de rock, propõe pensar dançando, provocando, causando efeitos e livrando-nos de todo autoritarismo.

O grito elétrico como prática estética essencial

Foi Jean-Luc Nancy quem percebeu que o problema do rock já estava de certo modo posto naRepública, de Platão. No livro quarto da utopia platônica, a atenção à música é um problema de educação e de política. A ideia que vinga no texto é a de que é preciso cuidar do que os jovens ouvem, já que “não se podem mudar os modos da música sem abalar as mais importantes leis da cidade”.

Se os modos musicais são sistemas harmônicos que têm correspondência nos afetos é porque eles alteram o modo de ver o mundo. Alteram o sentimento e o comportamento dos jovens. Por exemplo, o modo dórico tem a ver com as virtudes cívicas; o frígio, com as virtudes guerreiras; o lídio, condenado por Platão, com os maus costumes e a embriaguez. A sensação de periculosidade do rock tem sua pré-história.

Nancy vê o rock como algo mais do que musical. Há nele determinado afeto, um pathos. Tal pathostem a ver com a força de contágio que as culturas – até mesmo Platão – perceberam estar na música. No caso do rock, esse pathos tem a ver com “eletricidade”. Tal é, para o filósofo francês, o signo sensível e simbólico do rock. A guitarra elétrica é o instrumento no qual ela se concentra. Ela é o meio que permite a “comunicação de energia” constitutiva do rock, que mudou nosso modo de escutar, de viver e de pensar.

Proponho que pensemos o rock como uma complexa prática estética que é também política e que, tendo sua própria especificidade ontológica como manifestação de vontade (no sentido da vontade da natureza de que falou Schopenhauer), afeta o sentido do mundo. Quero dizer que o que o rock traz ao mundo é uma autorização contra o autoritarismo. Ele faz isso por meio da prática estética que foi recalcada ao longo da história: o grito.

A questão do grito é antiga. A importante obra sobre a escultura do Laocoonte, escrita por Lessing no século 18, põe uma questão simples: poderíamos chamar de bela a escultura, caso a boca de Laocoonte estivesse escancarada? A representação do grito de dor podia mostrar o feio na arte no lugar do belo. A compreensão da arte naquele tempo como representação da beleza – e o inevitável ocultamento – estaria comprometida.

Assim como a arte contemporânea, o que o rock vem fazer no contexto da cultura é justamente mostrar o que não deveria ser mostrado – o que abala a estrutura da cidade, como na República, de Platão. Seu índice é o grito. Como o Uivo, poema de Allen Ginsberg, poeta que encantava figuras como Bob Dylan. Só que o grito do rock não é apenas o uivo da poesia, não é apenas o grito da voz humana do cantor. Ele é o grito da guitarra elétrica, da máquina, o grito que nenhum humano pode dar desde que o próprio humano emudeceu diante do processo histórico e da tecnologia.

O grito do rock é elétrico, é o elétrico como grito. O grito ou a explosão do que, não devendo ser mostrado, todavia apareceu. Isso que nos encanta enquanto nos ensandece, nos irrita, nos afronta e, ao mesmo tempo, quer salvar alguma coisa em nós.

Salvar o quê? O grito é descarga da dor, a interpelação que obriga o outro a ouvir, mesmo quando o que ele diz é apenas mudez. O rock é o inconsciente musical, assim como a fotografia é o inconsciente ótico, na forma de um sintoma social elevado a fenômeno de massa de uma cultura marcada por uma ferida – um trauma – que não deixa de se abrir. Nesse contexto, que o rock sobreviva entre nós é um sinal de que ainda estamos vivos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Letras da vida



Por Bruno Moreschi, da Revista Vida Simples



Numa roda de amigos, a conversa é sobre literatura. Cada um revela ao outro o que está lendo. Num misto de esnobismo e insegurança, alguém diz que está “relendo” determinado livrão clássico. Mentira. Receoso de colocar em questão sua reputação intelectual, a pessoa dificilmente assumiria que lê pela primeira vez alguma obra conhecida, como um Hamlet, do inglês William Shakespeare, ou um Crime e Castigo, do russo Fiódor Dostoiévski. 

O escritor italiano Italo Calvino começou sua obra Por Que Ler os Clássicos, um pertinente ensaio sobre a importância da leitura desses livros, tratando justamente dessa atitude que recende a hipocrisia. De acordo com Calvino, não há idade para começar a ler um livro considerado famoso e respeitado pela crítica. E complementa com um recado consolador aos que temem assumir em público sua incipiente capacidade literária: “Por maiores que possam ser as leituras de formação de um indivíduo, resta sempre um número enorme de obras que ele não leu.” 

A frase de Calvino destoa dos inúmeros preconceitos que cercam a literatura considerada clássica pela crítica especializada – ou canônica, numa classificação mais acadêmica. Graças aos inúmeros estudos sobre essas obras, elas podem passar a falsa impressão de serem leituras destinadas apenas a seletos (e eruditos) especialistas. 

Isso não é uma verdade. Livros, sejam eles respeitados ou não, foram feitos por seus autores para serem lidos. Na verdade, quem teme ou apenas usa os livros clássicos como grife intelectual tenta se proteger. Ao evitar suas páginas, ficam livres de uma experiência que quase sempre questiona nossas certezas e sugere um mundo mais complexo. Trata-se de uma proteção revestida do mais ignorante dos medos. Aquele alimentado por ideias ditas pelos outros, não por uma experiência individual de leitura. 

Diversão e arte
É preciso relativizar o senso comum que diz que clássicos são sinônimos de leituras maçantes. Não há nada de errado em estranhar sua linguagem nas primeiras páginas. Por serem quase sempre livros antigos, eles são mesmo escritos de uma maneira um pouco diferente da que escrevemos hoje. Nada que alguns minutos de insistência não resolvam. 

Ser compreendido e popular era intenção de William Shakespeare, o escritor que revolucionou a maneira como contamos uma história. A prova disso é que o autor inventou mais de 1500 novas palavras para conferir mais clareza aos seus textos. Muitas delas continuam válidas até hoje, como é o caso de gossip (fofoca em inglês). Peças como Romeu e Julieta, Rei Lear e Sonhos de uma Noite de Verão lotavam o teatro londrino The Globe, construído a pedido de Elizabeth I, e apresentações quase diárias aconteciam também na corte de James VI. 

Shakespeare não é exceção. Outros autores também se inspiravam em fontes pop de sua época. Publicado em 1605 e escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha é inspirado nas histórias de heroísmo dos séculos 14 e 15 – todas muito populares em sua época. Autor de A Mulher de Trinta Anos, o escritor francês Honoré de Balzac chegava a construir maquetes dos ambientes em que suas histórias se passavam para poder descrevê-las de maneira clara e realista. 

Para não ficarmos somente em autores internacionais, o mineiro Guimarães Rosa levou setes meses para escrever os contos de Sagarana. Quando pronto, guardou a obra por sete anos para, só depois disso, começar uma reescrita completa do material. O esforço era para criar uma linguagem fluida e ritmada, vista por exemplo na descrição de um burro no primeiro conto: “... no algodão bruto do pelo – sementinhas escuras em rama rala e encardida; nos olhos remelentos, cor de bismuto, com pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em constante semissono; e na linha, fatigada e respeitável – uma horizontal perfeita, do começo da testa à raiz da cauda em pêndulo amplo, para cá, para lá, tangendo as moscas”. E há ainda quem afirme que as obras de Rosa são leituras complicadas. 

Mesmo assim, é preciso assumir que certos clássicos exigem certa disposição. Alguns são imensos, podem demandar meses a fio para serem lidos. Outros, custosos aos leitores, por causa de uma linguagem mais hermética. Restam duas opções ao leitor em potencial. Uma delas é ignorar essas obras com o frágil argumento de que são mesmo grandes e difíceis. Mais interessante, porém, é tentar entender a razão de o autor ter contado uma história dessa maneira tão custosa a quem a lê. Pode apostar: quase sempre há uma razão bastante justificável para isso. 

Escrito pelo francês Marcel Proust no início do século 20, Em Busca do Tempo Perdido é considerado um dos romances mais decisivos, influentes e poderosos da literatura ocidental. Mesmo com tamanho prestígio entre o seleto grupo dos clássicos, o calhamaço de cerca de 3 mil páginas divididas em sete livros assusta a maioria das pessoas. Não deveria. Ao criar 25 personagens principais, Proust almejava um objetivo suntuoso: escrever sobre a relação do homem com sua memória. Seria impossível conseguir destrinchar um tema tão complexo em apenas algumas centenas de páginas. Além disso, diferentemente do que muita gente pensa, Em Busca do Tempo Perdido não é uma obra difícil de ler. 

Sem medo 
O engenheiro civil Arnaldo Mendes costuma ler em média um livro por semana há pelo menos uma década. “Não é uma obrigação. Faço porque gosto”, diz. No ano passado, decidiu não mais postergar o desejo de ler a obra-prima de Proust. Após seis meses, Mendes avalia: “Poderia ter encurtado esse tempo para a metade. Mas era delicioso parar em alguns momentos e ficar apenas pensando no que tinha acabado de ler.” 

Quando terminou de ler a mesma obra, o irlandês Samuel Beckett, autor de Esperando Godot, disse algo semelhante. Ele assumiu que de fato se tratava de uma tarefa cansativa, mas não por causa das milhares de páginas: “A fadiga que se sente é a fadiga do coração, uma fadiga de sangue”. Beckett repetiu o que a maioria dos leitores relatam quando terminam esse livro. Em Busca do Tempo Perdido exige mesmo disciplina e empenho, mas vale a pena pela experiência intelectual que a obra proporciona. 

Certa vez, numa entrevista, o escritor norte-americano e ganhador do prêmio Nobel de literatura William Faulkner foi questionado do motivo de seu livro O Som e a Fúria ser tão difícil de ser lido. Ele não aceitou a observação da jornalista de que é necessário ler no mínimo duas vezes para compreender a história. Faulkner corrigiu-a: “Sugiro que leia quatro vezes”. 

Nesse caso também há uma razão. Faulkner quis construir um livro em que o fluxo de pensamento dos próprios personagens conduzisse a trama. Cada capítulo de O Som e a Fúria é contado sob o ponto de vista de uma pessoa diferente. 

Quem começa a história é Benjamin Compson, um rapaz com deficiência mental. Por isso, os trechos misvida turam sensações: “Peguei no portão mas não senti nada, mas sentia o cheiro forte do frio”. Ao optar por extensas frases com pouca pontuação e pensamentos emaranhados, Faulkner sabia exatamente o que queria. Não à toa, muitos críticos literários o consideram o escritor que revolucionou o texto em primeira pessoa. “Essa história precisava ser contada dessa exata e confusa maneira”, disse Faulkner. 

Mas casos como esses não significam que as pessoas são incapazes de ler os clássicos. Em diferentes locais e durante quatro anos, o escritor e doutor em Literatura Brasileira pela USP Ricardo Lísias, autor de O Livro dos Mandarins, comandou um curso sobre os clássicos da literatura. As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, eRumo ao Farol, de Virgínia Woolf, foram alguns dos livros que os participantes precisavam ler para, depois, discutir em grupo. 

Lísias não teve grandes problemas com as turmas. Ele conta: “É um engano acharmos que as pessoas não entendem os clássicos. Durante as aulas, elas possuíam varias opiniões sobre as obras, mas quase sempre eram visões bastante pertinentes”. 

Rumo ao futuro
Livros clássicos não são sinônimos de obras perfeitas. Eles são chamados dessa maneira algo pomposa apenas por serem obras que passaram por um longo processo de legitimação – produzido em grande parte pela academia e passível de questionamentos a qualquer momento. 

Em O Cânone Ocidental, o crítico norte-americano Harold Bloom analisa essa dinâmica existente entre os clássicos. A seu ver, obras literárias travam uma peleja freudiana em que se infuenciam pelo passado, mas também tentam constantemente romper com seus antepassados. Platão lutava para que seus escritos fossem mais relevantes que os de Homero. Crime e Castigo, de Dostoiévski, e a teoria psicanalítica de Sigmund Freud jamais seriam criados sem Shakespeare. Na ânsia de desafiar a maneira como esse mesmo autor inglês conta uma história, Beckett, Proust, Kafka e Joyce escreveram seus livros. Joyce, aliás, foi além: para escrever Ulisses, apropriou-se da narrativa daOdisseia, de Homero. 

Bloom: “A tradição não é apenas um passar adiante ou um processo de transmissão benigna; (...) Poemas, contos, romances e peças nascem como uma resposta a poemas, contos, romances e peças anteriores”. 

Entender esse jogo torna a leitura de clássicos algo menos fetichista. Muito mais que obras escritas por iluminados, eles são frutos da tentativa consciente ou inconsciente de escritores que almejavam adentrar na história da literatura. E só por esse esforço suas obras já merecem uma leitura. 

Sempre atuais
Em 2002, o filho mais novo da aposentada Elem Seravali seguiu o caminho do mais velho e foi estudar fora. A casa em Maringá (PR) pareceu maior do que já era. Por sugestão dos filhos, ela resolveu começar a ler alguns livros da estante da sala de estar – antes, eles estavam ali mais como decoração. Desde então, Elem leu muito, e O Morro dos Ventos Uivantes, da britânica Emily Brontë, é seu livro favorito. 

Suas opiniões acerca dos clássicos estão em sintonia com as ideias de dois especialistas respeitados. Elem diz: “Antes de lê-los, achava que livros antigos não serviam para os dilemas atuais. Era um engano meu.” Em O Prazer de Ler os Clássicos, o escritor Michael Dirda complementa: “As vozes verdadeiramente marcantes, uma vez ouvidas, jamais deveriam ser esquecidas”. 

Elem também acha interessante ler obras mais antigas justamente pelo motivo que espanta tantas outras pessoas: sua escrita diferente, não tão usual como a vista em livros mais novos. “Essa estranheza me permite imaginar muito mais coisas”, diz. O escritor italiano Umberto Eco compara essa possibilidade de imaginar que a escrita nos oferece como um passeio por um bosque em que caminhos se bifurcam. “Todos podem traçar seu próprio caminho. Num texto narrativo, o leitor é obrigado a optar o tempo todo”, escreve o teórico e ficcionista em Seis Passeios pelos Bosques da Ficção. 

Antes de largar a vida de escritor aos 22 anos e viajar até o dia de sua morte, o poeta francês Arthur Rimbaud disse algo emblemático: “O poe ta se faz vidente por um grande, imenso e racional desregramento de todos os sentidos”. Esse esforço intelectual foi experimentado também por grande parte dos escritores canônicos. Ao caminharem por bosques desconhecidos, esses autores escreveram relatos sobre a experiência. Se deixarmos de lado receios infundados, eles podem ser lidos por qualquer um de nós.