segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

"Nós somos como crianças, com medo do escuro..."


Por Rubem Alves

Um casal de amigos enviou-me um fax com um pedido: que lhes mandasse os nomes dos livros que tenho sobre o medo. Explicaram a razão do pedido: tinham medo... E pensavam que pela leitura daquilo que sobre o medo se escreveu como ciência e filosofia, o seu próprio medo ficaria mais leve.

Procurei fazer o que me pediam. Pus a funcionar os arquivos da minha memória, procurando identificar os livros sobre o medo que estariam na minha biblioteca. Inutilmente. Nenhum título me veio à mente. Dei-me conta de que não possuo nenhum livro sobre o medo. Sem livros a que recorrer, pus-me a pensar meus próprios pensamentos sobre o medo. E o primeiro pensamento que me veio foi o seguinte: Eu tenho medo. Eu sempre tive medo. Viver é lutar diariamente com o medo. Talvez esse seja o sentido a lenda de São Jorge, lutando com o dragão. O dragão não morre nunca. E a batalha se repete, a cada dia.

Como não pudesse ajudar meus amigos com bibliografia filosófica e científica, resolvi compartilhar com eles minha condição. O medo tem muitas faces. Lembro-me de que, bem pequeno ainda, acordei chorando, imaginando que um dia eu estaria sozinho no mundo. Foi uma dura experiência de abandono. Tive medo de não ser capaz de ganhar a minha vida quando meu pai e minha mãe partissem. Na verdade eu tinha era medo da orfandade, do abandono. Minha filha Raquel tinha não mais que três anos. Era cedo, bem cedo. Ela me acordou e me perguntou: “Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?“ Essa foi a forma delicada que ela teve de me dizer que tinha medo da saudade que ela iria sentir, quando eu partisse. O rosto do medo mudou. Mas o sentimento continua o mesmo. Tenho medo da solidão. Há uma solidão boa. É a solidão necessária para ouvir música, ler, pensar, escrever. Mas há a solidão do abandono. Buber relata que, numa língua africana, a palavra para dizer “solidão“ é composta de uma série de palavras aglutinadas que, se traduzidas uma a uma, dariam a frase: Lá, onde alguém grita: Oh! mãe! Estou perdido! O trágico dessa palavra é que o grito nunca será ouvido, nunca terá resposta. Tenho medo da degeneração estética da velhice. Tenho medo que um derrame me paralise, deixando-me sem meios de efetivar a decisão que seria sábia e amorosa: partir. Tenho medo da morte. Antigamente esse medo me atormentava diariamente. Depois ele se tornou gentil. Ficou suave. Passei a compreender que a morte pode ser uma amiga. Veio-me à mente uma frase que se encontra na oração Pelos que vão morrer, de Walter Rauschenbusch: “Ó Deus, nós te louvamos porque para nós a morte não é mais uma inimiga, e sim um grande anjo teu, nosso amigo, o único a poder abrir, para alguns de nós, a prisão da dor e do sofrimento e nos levar para os espaços imensos de uma nova vida. Mas nós somos como crianças, com medo do escuro...“ (Orações por um mundo melhor, Paulus ). O Vinícius disse a mesma coisa de um outro jeito: “Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada, ela virá me abrir a porta como uma velha amante, sem saber que é a minha mais nova namorada.“ Boas são as palavras das orações e dos poemas: elas têm o poder de transfigurar a face do medo. Meu medo da morte ficou suave porque o seu terror foi amenizado pela tristeza. Ah! Mário Quintana! Como eu gosto de você, velho que nunca deixou de ser menino! Você sabia tirar o terror do medo rindo diante dele. Você lidava com seus medos como se fossem brinquedos. Delicioso, esse brinquedinho: “Um dia...pronto!...me acabo./ Pois seja o que tem de ser./ Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!“ Isso mesmo. O terrível não é morrer; é deixar de viver. O terrível não é o que está à frente; é o que deixamos para trás. É um desaforo ter de deixar essa vida! Zorba, quando percebeu que seu momento chegara, foi até a janela, olhou para as montanhas no horizonte, pôs-se a relinchar como um cavalo e gritou: “Um homem como eu teria de viver mil anos!“ E eu pergunto: “Por que tanta modéstia? Por que só mil?“

Mas tenho medo do morrer. Medo da morte e medo do morrer são coisas distintas. O morrer pode ser doloroso, longo, humilhante. Especialmente quando os médicos não permitem que o corpo que deseja morrer, morra.

Tenho medo também da loucura. Não há sinal algum de que eu vá ficar louco. Mas nunca se sabe! Muitas mentes luminosas ficaram insanas. E tenho medo de que algo ruim venha a acontecer com meus filhos e netas. Sábias foram as palavras daquele homem que, no livro onde deveriam ser escritos os bons desejos à recém-nascida neta do rei, escreveu: “Morre o avô, morre o pai, morre o filho...“ Enfurecido, o rei lhe pede explicações. “Majestade: haverá tristeza maior para um avô que ver o seu filho morrer? E para o seu filho: haveria tristeza maior que ver sua filhinha morrer? É preciso que a morte aconteça na ordem certa...“ Tenho medo de que a morte não aconteça na ordem certa.

Somos iguais aos animais, em que as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós, tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu e nem se sabe se acontecerá.

Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles).

A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.“ Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.

Houve um tempo em que eu invocava os deuses para me proteger do medo. Eu repetia os poemas sagrados para exorcizar o medo: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum...“ “Mil cairão à tua direita, dez mil à tua esquerda, mas nenhum mal te sucederá...“ A vida me ensinou que esses consolos não são verdadeiros. Os deuses não nos protegem do medo. Eles nos convidam à coragem de viver a despeito dele.


Aperitivos

1. Talvez essa seja a razão por que amamos o circo: porque nele podemos sentir medo sem correr perigo: voamos com os trapezistas, equilibramo-nos no fio de aço, enfrentamos tigres e leões... Experimentamos, na fantasia, o medo diante do terrível, assentados num lugar seguro...

2. Bachelard: a delicadeza das suas meditações sobre a luz da vela acontece perante o medo de que um vento mais forte apague a chama: “Sim, a luz de um olhar, para onde ela vai quando a morte coloca seu dedo frio sobre os olhos de um morto?“ E no último parágrafo ele pergunta: “... será que ainda há tempo...?“

3. Drummond: “Eterno (mas até quando?) é esse barulho em nós de um mar profundo. Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos...“ E o Vinícius, que confessava o “terrível medo de renascer dentro da treva.“

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As lições do Oscar ou Acredite em si mesmo


Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB

Qualquer de nós que não seja bastante envolvido com o glamour que permeia Hollywood ou não seja loucamente antenado nas mais recentes produções cinematográficas, deverá assistir a próxima entrega do Oscar (premiação máxima do cinema entregue anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que acontecerá dia 27 de fevereiro) apenas com o compromisso de torcer pelo seu ator ou filme favorito e conhecer os melhores do ano.
 No entanto, é interessante notar como algumas coisas aparentemente banais para a maioria de nós, como a premiação do Oscar, podem fornecer valiosas lições a respeito de nossas condutas diárias.
Neste ano, as histórias por trás das produções de três dos principais filmes indicados ao prêmio são tão entusiasmantes quanto o próprio roteiro exibido nas telonas: O escritor Derek Cianfrance, de “Namorados para Sempre”, conta que foram necessários nada menos que 12 anos (!) de trabalho, entre idealização e execução, para que o filme ficasse pronto; Já o projeto de “O Vencedor” foi rejeitado várias vezes, faltava interesse dos estúdios e dois diretores abandonaram a produção no início das filmagens, pois não acreditaram na força do roteiro; Por fim, o diretor Darren Aronofsky, de “Cisne Negro”, não poupou esforços para filmar algo no qual ninguém apostava, já que consideravam o drama psicológico moderno de certa bailarina muito vazio e sem nexo.
Se tivessem parado diante dos obstáculos que atravessaram seus caminhos ou se importado com opiniões negativas que insistiam em desapontá-los, os diretores de tais filmes não estariam, agora, desfrutando a importante indicação (correndo o risco, inclusive, de voltarem para casa empunhando a tão sonhada estatueta dourada).
Às vezes somos presenteados com lições de persistência e conquistas, como estas, que nos mostram que a confiança nas próprias forças nos torna capazes de realizar coisas materiais e morais que não podemos fazer, quando duvidamos de nós mesmos. Toda realização é feita pouco a pouco: com trabalho, perseverança e boa fé é possível alcançar coisas inimagináveis.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

UEPB sediará II Encontro de Literatura Contemporânea entre Escritores e Editores



Nos dias 06 e 07 de março, será realizado, em Campina Grande, o II Encontro de Literatura Contemporânea entre Escritores e Editores: a Trajetória dos Livros. O evento é composto por duas palestras e cinco mesas-redondas, além de dois momentos para lançamento e sorteio de livros. Realizado pelo Núcleo Literário Blecaute e pelo XX Encontro da Nova Consciência, a iniciativa é aberta ao público, sem necessidade de inscrição prévia.

Por acreditar na diversidade cultural e de ideias como um dos fios condutores da democratização do conhecimento, a UEPB procura apoiar o Encontro e nesta edição não poderia ser diferente. Assim, as atividades acontecerão no Centro de Educação (CEDUC) da Universidade Estadual da Paraíba, unidade localizada na Avenida Floriano Peixoto, 1461, Centro de Campina. O horário da programação para os dois dias é das 9 às 12h e das 14 às 18h.

Mais informações podem ser adquiridas pelo telefone (83) 8844-9131.

Confira a programação completa:


            06/03/2010 – Domingo (Manhã e Tarde)


09h00: Palestra de Abertura: Literatura e vida literária: a psicologia de um  escritor
            Ronaldo Monte (PB/AL)
            Mediador: Bruno Gaudêncio (PB)    

10h30: Mesa- Redonda I: Do antologista ao tradutor: lances de um mercado
            Rinaldo de Fernandes (PB/MA)
            Teodoro Lorent (EUA)
            Mediador: João Matias de Oliveira (PB/CE)

14h00: Mesa-Redonda II: Livro, leitura e literatura: a produção de eventos
            Lau Siqueira (PB/RS)
            Mirtes Waleska (PB)
            Jairo César (PB)
            Mediador: Janailson Macedo (PB)

15h30: Lançamento e sorteios de Livros

         07/03/2010 – Segunda (Manhã e Tarde)


09h00: Mesa-Redonda III: Editores e Editoras: A relação com os escritores
            Helder Pinheiro (PB/CE)
            Magno Nicolau (PB)
            Mediador: Bruno Gaudêncio (PB)    

10h30: Mesa-Redonda IV: Poesia e(m) Prosa: Modelos e alternativas de publicação
             Thiago Lia Fook (PB)
             Roberto Menezes (PB/PE)
             André de Sena (PE)
             Mediador: Bruno Ribeiro (PB/MG)

14h00: Mesa- redonda V: Literatura e Entretenimento: Na busca de um leitor constante
            Ricardo Kelmer (SP/CE)
            Mabel Amorim (PB/AL)
            Efigênio Moura (PB)
            Mediador: Janailson Macedo (PB)

16:00: Palestra de Encerramento : Sobre Livros e Mulheres
           Vitória Lima (PB/PE)
            Mediador: João Matias de Oliveira (PB/CE)

16h30: Lançamento e sorteio de Livros

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Brasil e Cuba produzem animação sobre solidão na infância


Do Portal Vermelho

Era uma vez um país chamado Brasil, que decidiu fazer um filme para crianças. Para isso, pediu ajuda a outro país, chamado Cuba. E juntos criaram um desenho animado para crianças abandonadas. Não aquelas que vivem nas ruas, ou as órfãs, mas sim as que sofrem o abandono de querer falar e não serem ouvidas.
É para as que não escutam mais canções de ninar ou cantigas de roda, mas sabem de cor jingles publicitários. A elas é dedicado o curta O Caminho das Gaivotas, a primeira produção da série Histórias do Coração, fruto do acordo de cooperação cinematográfica firmado em 2009 pelos dois países que, como diz a produtora e coordenadora do projeto Patrícia Alves Dias, "têm tanto em comum."
E este "comum" vai além da latinidade estereotipada. Mais que a música, o arroz com feijão, a negritude, a alegria brasileiras e cubanas, a série quer dar voz a crianças que, cubanas ou brasileiras, querem se comunicar. Para dar voz ao filme, a equipe binacional escalou ninguém menos que Omara Portuondo.
A diva de Buena Vista Social Club dá vida à personagem da avó que conta, e canta, para as crianças. Já para "musicar" o filme, foi escalado o jovem maestro cubano Harold López-Nussa, que devia traduzir, em sons, a solidão de uma menina que não conseguia ser ouvida. Nussa, que cresceu em uma Cuba preocupada em acolher suas crianças, teve dificuldade no início. "Não conseguia imaginar como uma criança tenta chamar a atenção de um adulto e não é ouvida", disse, em uma tarde de mixagem do filme em São Paulo.
Depois de muito pensar, ele encontrou este "abandono" ao observar que hoje as crianças cubanas cantam reggaeton. "São letras tão absurdas que tenho vergonha de repetir. Percebi que, já que o reggaeton está em toda América Latina, as crianças estão sim abandonadas. É um abandono sutil, físico e emocional."
Para Patrícia, que percorreu Cuba e Brasil, ouvindo a opinião de muitos velhos e crianças, a infância precisa ser "ninada". "E é por isso que o filme se tornou uma história e uma canção de ninar. A criança precisa ser acolhida. Quando se põe uma criança por cinco horas na frente da TV, ela está abandonada", contou a coordenadora da "frente Brasil" do projeto financiado pela Secretaria do Audiovisual, que tem direção de Sergio Glenes e Daniel Herthel.
Em Cuba, a equipe conta também com Esther Hirzel, Alex Cabanas, Aramis Acosta Caulineau, Alexandre Rodriguez e Bárbaro Ortiz, do lendário Icaic. No currículo, são sete longas produzidos, dezenas de coproduções com a Europa. "E têm mais cinco filmes em pré-produção, todos com foco na infância. Estava mais do que na hora de nós, latino-americanos, produzirmos juntos. Mais do que uma política de Estado em cinema que aposta na nossa indústria da animação, é também política pela infância acreditar que nossas crianças têm o direito de serem ouvidas."
E como essas Histórias do Coração vão chegar aos ouvidos de nossas crianças? "Primeiro vamos fazer uma estreia em Cuba, para comemorar os 52 anos do Icaic. Depois, no Brasil, estreia no Festival Internacional de Cinema Infantil de Florianópolis, em junho. Em seguida, vamos exibir em vários festivais, nas TVs públicas, distribuir pela Programadora Brasil e, finalmente, fazer DVDs e distribuir na base do "quer? toma!". O importante é que a história seja contada."

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Associação dos Homossexuais de Campina fará assembleia em março


Da Assessoria de Imprensa da AHCG

No dia 19 de março, às 14h, no Centro de Tecnologia Educacional, haverá uma assembleia extraordinária, com os membros da Associação dos Homossexuais de Campina Grande – AHCG. De acordo com o tesoureiro da Associação, Jimithichi Santos, o encontro objetiva prestar importantes esclarecimentos do interesse de todos que compõem a AHCG e, consequentemente, de toda a comunidade envolvida nas temáticas relacionadas à causa.

Figuram como algumas finalidades fundamentais da AHCG defender e promover os direitos humanos dos homossexuais; contribuir para a coleta e organização de informações e a produção de conhecimentos sobre a sexualidade humana, especificamente sobre os homossexuais; exposição da situação atual das associações e encaminhamentos para mudanças necessárias ao bom desempenho das mesmas; divulgar para a sociedade as finalidades, objetivos, promoções e realizações da AHCG e participar, apoiar e divulgar trabalhos artísticos, literários, cívicos e esportivos de homossexuais que visem à promoção da cidadania.


O Centro de Tecnologia Educacional funciona à rua Santa Clara, s/n – ao lado do Bar Big Mix, defronte ao Parque do Açude Novo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dom José Maria Pires: O saber adquirido deve ajudar a toda comunidade


No mês de janeiro, mais especificamente no dia 15,  quando da Colação de Grau das turmas concluintes 2010.2 do Campus I da UEPB, realizada no Spazzio, o discurso efetuado pelo Paraninfo Geral, Dom José Maria Pires emocionou os presentes. Dom José guarda em seu currículo um relevante histórico de lutas, principalmente em benefício da população menos abastada do ponto de vista financeiro, dos negros e índios, atuando com reconhecida coragem no tempo da ditadura militar. Com a ajuda do chefe de gabinete da Reitoria, professor José Benjamim, a ASCOM/UEPB publica na íntegra a mensagem positiva de Dom José, que pode ser interpretada como um libelo para aqueles que desejam seguir uma carreira de sucesso, a partir da premissa  que o conhecimento adquirido deve ajudar a  toda comunidade.

Confira o discurso

Magnífica Reitora da Universidade Estadual da Paraíba,
Professora Marlene Alves Sousa Luna,
Senhores e Senhoras Professores,
Distintos Funcionários e Funcionárias da UEPB.
Senhoras e Senhores:
Meus caros concluintes do semestre letivo 2010.2 do Campus I da UEPB:

Há menos de um mês celebrávamos as festas natalinas e a piedade dos fiéis repetia em tons e em cores alegres a mensagem dos anjos: “Glória a Deus no mais alto dos céus e, na terra, paz aos homens por Ele amados” (Lc. 2,14).
Na condição de Paraninfo Geral das Turmas Concluintes do Semestre Letivo 2010.2 do Campus I, Campina Grande, da Universidade Estadual da Paraíba, eu devo não só apontar rumos a vocês, caros concluintes, mas também interpretar os sentimentos de alegria e de justo orgulho dos pais, dos mestres e dos funcionários desta universidade. Todos contribuíram de maneira eficaz para que vocês chegassem à condição em que se encontram agora. Todos eles respiram hoje alegres e aliviados e dizem para si mesmos: “Missão cumprida!”. Mas se “a glória de Deus é o homem pleno de vida”, como sentenciou Irineu, Deus é o primeiro a se alegrar como o esforço diuturno de vocês para dominar os diversos ramos do saber, enriquecendo-se de conhecimentos inalienáveis que valem mais do que outro, do que prata, mais do que qualquer outra riqueza material. Deus também está dizendo: “Missão cumprida, ao menos por enquanto”. Glória a Deus!
Nas muitas solenidades de formatura a que estive presente quando ainda arcebispo da Paraíba, o que eu mais admirava era a felicidade dos pais ao conduzirem um filho ou uma filha para o momento da colação de grau. Quantas vezes aquele pai que era um homem simples e de pouca leitura, se via forçado a tirar o lenço para enxugar não o suor, mas as lágrimas, lágrimas de emoção, lágrimas de felicidade. Ele lutou, ele se sacrificou, talvez tenha se privado de algo importante para si ou para alguém de sua família, mas estava feliz por ver formado/a, seu filho ou sua filha. Pois essa também é a alegria de nosso Deus. Parodiando o canto popular, podemos também dizer que hoje “é festa em Campina Grande e é festa no céu também. Glória a Deus nos mais altos céus!"
Essa festa no céu e na terra deve expandir-se no tempo e no espaço para atingir o maior número possível de participantes. Aqui tem início a tarefa confiada a vocês que hoje comemoram o final do curso e ingressam no selecionado grupo dos que conseguiram concluir o 3º grau. A festa tem que se estender a outros membros da família humana e a outros tempos que não somente o dia de hoje. Cabe a cada um de vocês participarem ativamente na realização desta utopia que ultrapassa os limites do indivíduo e atinge a dimensão cósmica.
Os primitivos pensaram em construir uma grande cidade e nela levantar uma torre que chegasse até o firmamento, uma espécie de arranha-céu que ultrapassasse as nuvens, uma obra que conservasse para sempre a memória deles. E tentaram, mas o que saiu foi Babel, quer dizer: confusão. Os operários não se entendiam e a construção teve que ser abandonada. Mas o projeto deles teve maravilhosa e inesperada realização muitos séculos depois, quando em pentecostes, o espírito santo produziu o milagre das línguas: os discípulos de Jesus movidos pelo Espírito louvavam ao senhor. A multidão atraída pelo barulho ouvia e entendia homens e mulheres entoando louvores a Deus, “e diziam: estes homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa língua de origem?     Nós que somos pardos, medas e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, romanos, Judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At. 2, 7-11). O projeto de Deus para a humanidade é pois, um projeto de comunhão, de partilha de entendimento. Sintam-se, pois, convocados para dar total colaboração na realização deste projeto em que toda criação se oriente no sentido da comunhão cósmica universal, natureza, família humana, Divindade, o que Paulo resumiu nessas belas palavras: “tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor. 3, 22-23).
O protótipo dessa comunhão universal nos foi oferecido pelo próprio Deus quando fez o mundo e encarregou o homem e a mulher de dominá-lo e aperfeiçoá-lo. Dom Helder costumava dizer que Deus é o criador e nós somos co-criadores, chamados a dar total colaboração, porque cada um de nós tem o dever de contribuir para conservar e aperfeiçoar a obra de Deus. A ecologia e a economia devem andar de mãos dadas a serviço da obra de Deus. Qual é essa obra de Deus que Ele quer que seja conservada e aperfeiçoada? A obra de Deus é um mundo bonito para uma humanidade feliz. A Bíblia nos mostra que Deus não criou um vale de lágrimas. O que ele fez foi um paraíso um grande jardim com muita água (eram quatro rios) com muitas arvores frutíferas, muitos animais e muitas flores. Só depois de preparar essa mansão para a humanidade, foi que Ele criou o homem lhe confiou este jardim para que cuidasse dele e encontrasse nele tudo o que fosse necessário para a sua sobrevivência. Criado por Deus para dirigir e desenvolver toda a sua criação, o homem precisava ter atributos divinos, pois foi feito a imagem e semelhança de Deus. Como Deus é? Deus é uma só, mas não é totalitário: Ele subsiste na trindade de pessoas. Para que o homem seja verdadeira imagem de Deus, é necessário que ele também não fique só, não se isole. A mulher é criada por Deus antes de tudo para que o AMOR que Deus é possa ser retratado na sua criação. Eis porque o homem ao despertar do profundo sono e vendo ao seu lado a mulher criada por Deus, não teve de imediato a reação normal do sexo: não quis possuí-la. Mas sentiu-se empolgado, como que encantado, extasiado diante da obra maravilhosa de Deus e proclamou entusiasmado: “Esta sim. É osso dos meus ossos, é carne da minha carne” (Gen. 2, 23). Agora temos realmente na criação um ícone, uma imagem e semelhança de Deus, porque Deus é amor e só o amor constrói, só o amor conduz a Deus.
Poderá alguém sentir-se frustrado com essa linguagem e pensar consigo mesmo que fui convidado para solidarizar com cidadãs e cidadãos que estão se formando em diversas áreas do saber humano e não para fazer catequese sobre Deus e a criação. É que essa catequese que nos reporta às origens e ao sentido da vida humana é fundamental para quem quer como vocês, jovens concluintes, colaborar na construção de uma sociedade mais justa e sobretudo mais fraterna. É isso que exige que a festa de formatura não termine hoje, não termine aqui, mas adquira o sentido de um compromisso permanente com uma causa maior, compromisso que vocês selaram quando nessa solenidade fizeram o juramento de praxe colocando-se a serviço do bem comum.
Partindo da consciência de que outro mundo é possível, cabe a cada um de nós a tarefa de identificar e organizar as forças de transformação que se acham dispersas na natureza. É missão de todos nós, é a dimensão política de toda vocação humana. Nós, os mais antigos temos bem viva ainda a lembrança de como a juventude, sobretudo a universitária, acreditou na possibilidade de um mundo diferente. Acreditou e lutou para que acontecesse, os jovens da geração dos anos sessenta pensavam e diziam: fazer um curso universitário era, na época, privilégio de um pequeno número. Nós fazemos parte desse pequeno número de privilegiados. Nossos estudos se realizam com a contribuição de todo o povo. É ele, o muitas vezes sacrificado povo brasileiro, que paga os impostos e assim dá condições para que haja universidades públicas. Por isso, nos sentimos na obrigação de uma vez formados, partilhar com o povo os benefícios recebidos. A partir dessas considerações muitos jovens, principalmente animados pela JUC – Juventude Universitária Católica -, se decidiam a oferecer para o povo as primícias de sua profissão. Não pensavam em conseguir, logo depois de formados, um emprego com bom salário e outras benesses: contentavam-se com moradia e alimentação. Os dois primeiros anos de vida profissional eram sua oferta à sociedade que lhes permitiu um curso superior, só após cumprirem esse dever de gratidão era que se sentiam no direito de pensar na própria vida e na família a ser constituída.
Eu conheci muitos desses jovens idealistas e convivi com alguns deles. Vários, já durante as férias escolares formavam grupos que iam para as comunidades da zona rural ou da periferia das cidades para fazer alfabetização pelo método Paulo Freire. Nessa atividade procuravam viver a vida dos moradores. Comiam a comida deles, dormiam como eles em redes precárias, ajudavam a fazer cercas e caminhos, trabalhavam nos roçados. As moças iam com as mulheres lavar roupa no açude ou descascar mandioca nas casas de farinha. À noite era sempre reunião das comunidades com os cursos de alfabetização não a partir de teorias e conceitos pedagógicos em linguagem desconhecida do povo, mas sempre tendo como base a própria vida e o trabalho dos destinatários. Até que veio o golpe de 1964 que feriu de morte as organizações juvenis e estudantis. Os jovens principalmente os universitários e os operários – JUC e JOC – foram submetidos à rigorosa vigilância e impedidos de formar grupos. A própria Universidade passou por reformas no seu currículo que deixou de ser por cursos. Introduziu-se um sistema de créditos que facilitava a desmobilização da juventude.
Como não recordar com emoção, nomes de jovens universitários recém-formados como Celso Generoso Pereira formado em Medicina, Miriam Graça, formada em Enfermagem, João Parente, Engenheiro Civil, Maria Letícia, doutora em Letras, como muito outros jovens universitários, esses quatros decidiram dar os dois primeiros anos de exercício de suas profissões a uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Em dois anos de atividades eles transformaram a fisionomia da pequena Sabinópolis, pelo trabalho profissional e pelo relacionamento com a comunidade. O médico e a enfermeira não só atendiam os enfermos como ensinavam a medicina preventiva através da mudança de hábitos na higiene e na alimentação. O engenheiro mostrava ao povo como ter casas simples e bonitas usando material que eles encontravam na natureza ou podiam fabricar. Letícia, professora de literatura desenvolveu nos jovens e nas crianças o gosto pela leitura, pela poesia e pelo teatro. Sendo católicos os quatro, as celebrações dominicais animadas por eles, foram se tornando vivas e atraentes. Quem não se encantava vendo o médico fazendo uma das leituras, o engenheiro orientando a procissão das ofertas, a enfermeira e a professora cuidando da ornamentação e dirigindo o canto litúrgico? As famílias que formavam grupos fechados de acordo coma filiação partidária, foram abandonando as filiações partidárias para com os adversários e passaram a relacionar-se independentemente da filiação partidária. Sabinópolis já não era mais a mesma antes e depois da presença desses quatro recém-formados.
Nem é preciso recorrer as Minas Gerais para encontrar exemplos da generosidade da parte dos jovens universitários recém-formados. Aqui em nossa Paraíba tivemos, em passado não muito distante, testemunhos eloquentes do poder transformador da juventude universitária. Gláucia está viva, é médica e pode confirmar minhas palavras. Seu esposo Genaro continua em atividade entre nós. É paulista, é educador. Veio passar férias no Nordeste com vários outros estudantes universitários atraídos pelo desejo de conhecer outra realidade do Brasil. Genaro veio, conheceu, voltou para São Paulo, terminou seu curso universitário, veio definitivamente para a Paraíba. Veio trabalhar em Educação. Casou-se com Gláucia. Não ficaram ricos. Levam vida modesta e orientam na mesma direção seus filhos. Ganham o suficiente para viver com dignidade. Confirmei recentemente com Gláucia a versão que transmito em minhas falas sobre o testemunho que ela deu como jovem universitária. Interpelada pelo pai que não via com bons olhos a participação dela nas atividades dos jovens universitários de medicina que, em companhia de uma de suas professoras, ela também médica, iam para a periferia e para os mangues, colhiam fezes, urina e sangue de moradores, levavam para o laboratório da Universidade, faziam os exames e análises e voltavam com os resultados mostrando ao povo como deveriam mudar seus hábitos de higiene e de alimentação para proteger a saúde... O Pai de Gláucia lhe dizia: Minha filha, estou custeando seus estudos e o faço com muito prazer, não para você ficar cuidando de pobres e de favelados, mas para você se formar ter seu gabinete sua casa, seu carro e tudo a que tem direito uma médica. A resposta deixou o pai desarmado: “Ô pai, então vamos resolver logo isso porque eu não quero ser médica para ter vida fácil. Eu vou ganhar sim, porque vou precisar ter instrumentos de trabalho, vou precisar de um escritório bem montado, de ambiente confortável, mas tudo isso para poder cuidar melhor a saúde das pessoas porque é para isso que eu quero ser médica: para combater doenças, ser gente de saúde. O mais vai ser meio para alcançar esse objetivo”. É evidente que o pai concordou e a filha continua realizando seu ideal... Prova de que não é só em São Paulo e em outros estados do Sul que surgem heroínas e santas como Dra. Zilda Arns. Nós os temos também, no Nordeste e na Paraíba. Santos e Santas que se consomem na dedicação do bem aos seus semelhantes.
Sei que a Universidade Estadual de Campina Grande continua procurando manter vivo nos jovens esse idealismo. Estariam os jovens formandos se inspirando na lição e nos exemplo de seus mestres para uma futura intervenção profícua na sociedade? Ou estariam se deixando levar pelo pragmatismo contemporâneo que só valoriza resultados mesmo que seja com sacrifício da verdade e dom bem das pessoas? Ou os jovens estão pensando mais no emprego que vão conseguir, nas facilidades financeiras que terão, nos benefícios sociais que lhes serão concedidos do que naquilo que o povo necessita e eles poderão ajudar a conseguir? Estaríamos nos tornando todos individualistas e perdendo a dimensão social da vida? Estará diminuindo em nós o sentido de fraternidade? O brasileiro sempre primou pela hospitalidade, sempre se dispôs a acolher, a orientar e até a hospedar quem quer que cruzasse seu caminho ou batesse a sua porta pedindo ajuda. E se encontrávamos algum desconhecido procurávamos nos aproximar para saber de onde era e se necessitava de alguma coisa. E, com prazer, o orientávamos e, se fosse o caso providenciávamos para ele hospedagem e transporte. E nos sentíamos gratificados pelo que fizemos... Hoje,quando vemos o desconhecido, nos perguntamos interiormente: Será um assaltante? Onde está a minha bolsa? Não nos comportamos como irmãos. Somos todos suspeitos uns para com os outros, quando desconhecidos. Esse clima penetrou a sociedade. Igrejas e universidades, escolas e clubes, comércio e indústria, todos vivemos num clima de medo e desconfiança.Não éramos assim. Não vivíamos sob o signo do medo. No Natal e na passagem do ano podíamos deixar nossas casas e nos reunir nas igrejas ou nos clubes. Hoje até o horário das missas foi alterado por medo. Em muitos lugares não se celebra mais, no Natal, a missa de meia noite, a missa do galo como se dizia antigamente. Estamos cedendo cada vez mais terreno ao nosso adversário,o medo.
Vocês que pertencem à classe privilegiada dos que puderam fazer um curso universitário tem obrigação de colaborar com todas as suas energias para mudar essa situação e convencer aos  outros jovens e a toda a sociedade que um mundo diferente é possível. Não menosprezem a força que vocês representam. Por serem jovens e por terem diploma de curso superior vocês se tornam líderes  com o poder e a força das minorias abraâmicas. É outro conceito muito caro a D.Helder. Ele dizia que em toda sociedade, há um grupo de 10% que puxa pra trás, mostrando-se contrário a qualquer mudança. Esses não têm projeto nenhum: só querem que tudo permaneça como está. Há um grupo numeroso – 60% - que forma a coluna do meio. Esses se mostram diferentes: mudar ou continuar como está é, para eles, a mesma coisa. E há 10% que desejam e lutam por uma sociedade melhor, inclusiva, participativa, o que exige profundas mudanças sociais. Muitos da coluna do meio seguem os 10% que querem avançar e promover mudanças necessárias que, por isso, acontecem graças à ação corajosa de uma minoria  abraâmica. Esperamos e desejamos ardentemente que vocês estejam sempre entre esses 10% que representam as forças transformadoras da  sociedade.
E fiquem certos de que não vão partir da estaca zero. Nem estarão sozinhos nessa aventura. Quem como vocês conhece o Carnaval em Campina Grande sabe que um mundo diferente é possível. Sem excluir ninguém, sem condenar ninguém, Campina Grande que já tem o melhor São João do Mundo, faz também o Carnaval mais diferente do mundo, um carnaval que coloca ao lado  dos folguedos momescos muito reduzidos, o espaço para o diferente, para uma nova consciência. São heranças do passado a serem enriquecidas e transmitidas aos pósteros. Campina já conquistou, nova consciência pra viver o tempo carnavalesco, já tem o melhor São João do mundo. No presente desfruta das novas conquistas sociais: maior número  de empregos formais, mais famílias com casa própria, os benefícios do Programa de Saúde da Família, a democratização dos cursos universitários, melhorou sensivelmente a situação econômica do povo. É esse rico patrimônio passado às novas gerações, que é confiado  a vocês, jovens concluintes da Universidade Estadual. Se assumirem este legado com espírito patriótico  e o passarem enriquecido à geração que vai sucedê-los, vocês terão a gratidão dos coetâneos e o prêmio prometido aos corajosos: “Vossos nomes inscritos no céu.” Lc 10,20.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Indústria cultural e manutenção do poder


Por Rafael Cordeiro Silva (professor de Filosofia), da Revista Universalizando a Cultura
Ilustração de Adriano Paulino

“Saber é poder.” A frase de Francis Bacon (1561-1626), considerado o primeiro filósofo da modernidade, traduz a disposição do espírito humano para a investigação da natureza e a descoberta de seus segredos. O entendimento da natureza das coisas pela experimentação, ao contrário do conhecimento especulativo da tradição medieval, tornou-se o caminho para as conquistas que poderiam proporcionar ao gênero humano o melhoramento de suas condições de existência. Bacon captou muito bem o espírito de uma época que começara a perceber que o estudo da natureza poderia levar a novas descobertas e à expansão do conhecimento prático, até então considerado inferior ao conhecimento especulativo. Abriu-se, a partir desse momento, o caminho para a dominação da natureza por meio de técnicas específicas. E a utilização do método experimental com vistas a esse domínio firmou-se também como um dos pressupostos da ciência moderna.

Bacon tinha um grande fascínio pela técnica que ele conhecera em diversos livros e tratados que o precederam, de autoria de investigadores da natureza, experimentadores e construtores de máquinas e artefatos. A convicção de que esse tipo de conhecimento não poderia ser desmerecido, pois gerava resultados práticos para a vida cotidiana, animou os esforços de Bacon quanto à pretensão de sistematizar um método que garantisse maior eficácia técnica. Portanto, a junção de técnica e conhecimento experimental, que os modernos legaram a nós, contemporâneos, é o alicerce da ciência com a qual lidamos hoje.

O poder sobre a alma“A tirania deixa o corpo livre e vai direto à alma.” A frase é de Alexis de Tocqueville (1805-1859) e faz parte de sua principal obra – A Democracia na América –, publicada em duas partes entre os anos de 1835 e 1840. Na obra em questão, o pensador francês viu na busca incessante pela igualdade, característica dos federalistas norte-americanos, uma perigosa tendência para a uniformização das pessoas, para a supressão da singularidade de cada um. Embora inspirada nos ideais iluministas, a igualdade de condições entre todos os homens foi vista com desconfiança e como forte ameaça à liberdade individual. Liberdade e igualdade, dois grandes ícones da Revolução Francesa, não foram concebidos como valores complementares por Tocqueville.

Mais de um século depois, os filósofos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer retomam aquela frase em um contexto inteiramente outro. Na obra Dialética do Esclarecimento, acrescentam a continuação do texto de Tocqueville: “O mestre não diz mais: você pensará como eu ou morrerá. Ele diz: você é livre de não pensar como eu: sua vida, seus bens, tudo você há de conservar. Mas de hoje em diante será um estrangeiro entre nós”. A intenção dos pensadores alemães é denunciar as formas de dominação que não precisam sujeitar os corpos nem se impor pela violência física. Trata-se da dominação pela igualação e homogeneização, que atua no inconsciente (e até mesmo no consciente) dos indivíduos – naquilo que Tocqueville e a grande tradição filosófica denominaram “alma”. Domesticar e direcionar os desejos, com a intenção de tornar todos iguais, revelou-se mais eficaz para a continuidade da dominação do que a sujeição física. É a sujeição do querer, que se realiza sob a aparência de total liberdade, como sugere o texto de Tocqueville. Isso se dá hoje, sobretudo, pela indústria cultural.

Indústria cultural: a técnica invade a arte
A Dialética do Esclarecimento foi publicada em 1947. A obra tornou conhecido o conceito de “indústria cultural”. Hoje, o emprego neutro do termo, para descrever qualquer produção de arte que esteja voltada para o entretenimento, não deixa entrever o significado crítico com que foi concebido. Quando os autores começaram a utilizar essa terminologia, queriam analisar certas tendências sociais e estéticas e criticar o que consideravam novas formas de dominação pelo viés da cultura.

Aquela técnica, outrora saudada por Bacon como caminho inexorável para a dominação da natureza e melhoria da existência humana, agora se torna onipresente, atuando a serviço da ordem econômica capitalista. Ela ultrapassa o âmbito do mero fazer e, onipotente, se transforma em tecnologia. Adorno e Horkheimer sempre consideraram a arte como a expressão das tendências sociais e ao mesmo tempo a instância crítica dessas tendências.

O papel crítico-social da arte consolidara-se com seu próprio processo de constituição na era moderna ou burguesa, isto é, no momento em que ela deixou de estar a serviço do clero e da nobreza e ganhou autonomia. Assim, a arte não mais encontra sua razão de ser naquelas instituições mantenedoras, mas seus temas e formas dizem respeito apenas à sua lógica interna. Esse processo de autonomia da arte também se situa no período burguês, na etapa liberal do capitalismo. É a época em que se constitui um público apreciador de arte e ela deixa de estar referida ao deleite dos nobres ou à decoração de igrejas e composição do ambiente de recolhimento e encontro com Deus.Multiplicam-se os lugares destinados à apreciação da arte: não só os teatros, mas os museus e galerias culturais são destinados à fruição estética.

Adorno e Horkheimer deixam bastante claro que indústria cultural não é arte. E apontam as razões para fundamentar esse ponto de vista. Enquanto a arte autônoma diz respeito à produção da cultura iniciada na época burguesa (mas que não se esgota nesse período), a indústria cultural é mais afeita ao gosto mediano das massas, que constituem o tipo social predominante no capitalismo avançado.

Ela está referida principalmente aos meios técnicos de produção e difusão de cultura padronizada.

Seus exemplos mais típicos, segundo os autores, são o cinema, o rádio e a televisão. Essa última é vista como uma espécie de síntese dos outros dois, na medida em que reúne o alcance do rádio e as possibilidades técnicas do cinema no tratamento da imagem. Os autores afirmam: “A técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do sistema social”. Em outros termos, enquanto a arte autônoma critica a ordem estabelecida, os produtos da indústria cultural ratificam-na sem cessar. Se, por um lado, a técnica permitiu a difusão da cultura para amplos setores da população, representando um ganho e colocando em xeque a ideia tradicional de arte e de seus modos de exposição – como pensava Walter Benjamin –, por outro, sacrificou a lógica intrínseca da arte autônoma, feriu sua autenticidade e pôs a perder sua capacidade de crítica imanente da sociedade.

Indústria cultural, mídia e o poder sobre a alma
A indústria cultural é fator de coesão social. Seu poder reside em reforçar as relações de poder estabelecidas, zelando para que a ordem dada mantenha-se constante e que o sistema que a alimenta não seja desestabilizado. Ao reforçar o caráter sempre igual das relações, a passividade diante da realidade, a ausência de crítica e o comportamento servil, ela cumpre o papel que o sistema dela espera. Nenhum esforço intelectual é exigido do ouvinte ou telespectador, o que coloca os produtos da indústria cultural em evidente oposição às obras de arte, que requerem concentração e capacidade mental para sua compreensão e fruição. A diversão, comumente usada como pretexto para o consumo da cultura padronizada, é, no fundo, a apologia da sociedade administrada. Depois de uma jornada dedicada à reprodução do capital nas fábricas e nos escritórios, nada mais salutar do que a necessidade de descanso e relaxamento que a diversão proporciona. O ciclo está completo! Assim, “a diversão favorece a resignação, que nela quer se esquecer”.

Os meios de comunicação mais frequentemente analisados por Adorno e Horkheimer foram o rádio, o cinema e a televisão. Quando da redação da Dialética do Esclarecimento, nos anos 1940, eles tinham grande poder de penetração na vida dos cidadãos norte-americanos, mais do que outras formas de difusão de cultura padronizada. Essas também foram consideradas. O mercado fonográfico e a publicidade receberam referências mais esparsas dos autores.

A publicidade serve para dar visibilidade aos produtos. É a ponte que une os dois extremos do mundo mercantilizado: de um lado a produção, de outro a recepção e o consumo. Por isso, Adorno e Horkheimer afirmam ser a publicidade o elixir da indústria cultural. Essa afirmação é tão mais verdadeira quanto mais abundam as mercadorias. A publicidade tem a tarefa de seduzir os consumidores para a aquisição dos mais variados produtos, transformando-os em bens de imediata necessidade. Seu objetivo é transformar em valor de uso uma mercadoria que só tem valor de troca, ou seja, que foi fabricada apenas para ser vendida e não para suprir determinada carência. Para isso ela se encarrega de criar uma identificação entre o produto e o comprador. Sua posição torna-se estratégica graças ao fato de cada vez mais se produzirem mercadorias que não se diferenciam quase nada entre si: marcas de carros, de telefones celulares, hits de um mesmo gênero musical, e assim por diante. O exemplo dos anúncios de marcas de cigarro, quando eram permitidos na mídia brasileira, ilustra muito bem o argumento em questão. Associar uma suposta particularidade de cada um desses produtos a um traço específico da personalidade é a forma pela qual ela logra seu intento.

Ao tentar estabelecer uma identificação entre produto e consumidor, a publicidade pretende realizar o indivíduo como tal. No entanto, como pilar da sociedade de consumo, ela consolida o processo inverso: a castração da individualidade. Não se define o indivíduo pelo incremento de sua capacidade de consumo; indivíduo e consumidor não são termos sinônimos. Na verdade, a publicidade sacrifica o indivíduo, porque reitera sua dependência em relação ao mundo das mercadorias. Em vez de fomentar as autênticas capacidades e qualidades humanas, a publicidade representa a conquista da alma.

A indústria cultural e seu braço forte, a publicidade, realizam com requinte e maestria o temor que Tocqueville manifestara um século antes: a igualação de todos os indivíduos, que foram reduzidos agora à denominação de ouvintes/telespectadores e consumidores. Não é coincidência, portanto, que ela tenha surgido nos Estados Unidos, nação que adotou como exigência máxima a igualdade de todos os seus cidadãos. O que para os federalistas norte-americanos era um projeto político tornou-se, no capitalismo avançado do qual os Estados Unidos são modelares, uma forma sutil de dominação, de consolidação das formas de poder e fortalecimento do sistema. Por isso e com toda razão, Adorno e Horkheimer afirmaram que a indústria cultural é o engodo das massas.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Domínio Público: Portal de arte e literatura cadastra 3 mil obras por mês


Assessoria de Comunicação Social do MEC

Um dos portais educacionais mais procurados na internet no Brasil, o portal Domínio Público, do Ministério da Educação, aumenta mensalmente seu acervo digital em cerca de 3 mil obras, desde agosto de 2010. Em janeiro deste ano foram cadastradas 3.471 obras. O número considerável de novas mídias resulta da parceria com outros ministérios e bibliotecas nacionais. Existem hoje 187.533 obras cadastradas em formato de textos, imagens, sons e vídeos.

“A intenção é de que o Domínio Público deixe de ser apenas um portal do Ministério da Educação, para ser um portal de conteúdo de todo o Governo Federal”, diz José Guilherme Ribeiro, diretor de infraestrutura em tecnologia educacional do MEC. O Domínio Público foi criado em 2004, com acervo inicial de 500 obras, para promover o acesso gratuito a obras literárias, artísticas e científicas.

No período de férias escolares, o portal recebe 500 mil visitas e dobra a quantidade de acessos durante o período letivo. “O MEC quebrou um paradigma ao começar a oferecer material de qualidade gratuitamente, sejam filmes, partituras, obras literárias ou animações”, ressalta.

De todo esse material, os mais procurados são os textos, que já tiveram quase 24 milhões de downloads. A Divina Comédia, de Dante Alighieri, poemas de Fernando Pessoa e clássicos de William Shakespeare e Machado de Assis estão entre os mais acessados. Entre as 11.906 imagens que constam no acervo, as famosas pinturas de Leonardo da Vinci, como a Adoração dos Magos, A Última Ceia e La Gioconda lideram a lista das mais procuradas.

Uma nova versão do portal entra no ar ainda neste semestre. O Domínio Público migra para a web 2.0, o que vai tornar a forma de acesso mais rápida e fácil. Uma rede social educacional, com fórum de discussões de obras, também deve ser inserida na nova versão. Todo o material que consta no portal está em domínio público ou conta com a devida licença por parte dos titulares dos direitos autorais.

Acessos do exterior 
O Portal do Professor, que também pode ser acessado pela página do MEC, registra números iguais de acesso. As aulas prontas, de diferentes assuntos, postadas por professores, são o material mais acessado. “Dez por cento do Portal do Professor é acessado por pessoas de fora do Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, são um dos países que mais o acessam. Nós fazemos coisas que os outros países estão tentando aprender conosco”, afirma José Guilherme.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A amizade e o fundamento subjetivo das redes sociais


Por Marcia Tiburi, da Revista Cult

“Eu quero ter um milhão de amigos” é o famoso verso da linda canção “Eu Quero Apenas”, de Roberto Carlos. Adaptado aos nossos tempos, o verso representa o anseio que está na base do atual sucesso das redes sociais. Desde que Orkut, Facebook, MySpace, Twitter, LinkedIn e outros estão entre nós, precisamos mais do que nunca ficar atentos ao sentido das nossas relações. Sentido que é alterado pelos meios a partir dos quais são promovidas essas mesmas relações.

O fato é que as redes brincam com a promessa que estava contida na música do Rei apenas como metáfora. O que a canção põe em cena é da ordem do desejo cuja característica é ser oceânico e inespecífico. Desejar é desejar tudo, é mais que querer, é o querer do querer. Mas quem participa de uma rede social ultrapassa o limite do desejo e entra na esfera da potencialidade de uma realização que vem tornar problemática a relação entre real e imaginário. Se a música enuncia que “eu quero ter um milhão de amigos”, ela antecipa na ala do desejo o que nas redes sociais é seu cumprimento fetichista. E o que é o fetichismo senão a realização falsa de uma fantasia por meio de sua encenação sem que se esteja a fazer ficção? Torna-se urgente compreender as redes sociais quando uma nova subjetividade define um novo modo de vida caracterizado pelo que chamaremos aqui de complexo de Roberto Carlos.

Tal complexo se caracteriza pelo desejo de ter um milhão de amigos no qual não está contido o desejo de ter um amigo verdadeiro, muito menos único. A impossibilidade de realização desse desejo é até mesmo física. Não seria sustentável para o frágil corpo humano enfrentar “um milhão” de contatos reais. Na base do complexo de Roberto Carlos está a necessidade de sobrevivência que fez com que pessoas tenham se reunido em classes sociais, famílias, igrejas, partidos, grêmios, clubes e sua forma não regulamentada que são as “panelas”. Um milhão de amigos, portanto, ou é metáfora de canção ou é fantasmagoria que só cabe no infinito espaço virtual que cremos operar com a ponta de nossos dedos como um Deus que cria o mundo do fundo obscuro de sua solidão. Complexo de Roberto Carlos, de Rei, ou de Deus…

Questão fantasmagórica

A questão é da ordem do imaginário e de sua eficiente colonização. Não haveria o que criticar nesse desejo de conexão se ele não servisse de trunfo exploratório sobre as massas. Refiro-me às empresas de comunicação digital que usam o desejo humano de conexão e comunicação como isca para conquistar adeptos. Amizade é o nome dessa isca. Mas o que realmente está sendo vendido nessas redes se a amizade for mais que isso? Certamente não é a promessa de amizade, mas a amizade como gozo: a ilusão de um desejo realizado. E quando um desejo se realiza? Apenas quando ele dá lugar à aniquilação daquilo que o impulsionava.

Logo, o paradoxo a ser enfrentado nas redes sociais é que a maior quantidade de amigos é equivalente a amizade nenhuma. A amizade é como o amor, que só se sustenta na promessa de que será possível amar. Por isso, quando se sonha com o amor, ele sempre é desejo de futuro, no extremo, de uma eternidade do amor. O mesmo se dá com a amizade. Um amigo só é amigo se for para sempre. Mas quem é capaz de sustentar uma amizade hoje quando se pode ser amigo de todos e qualquer um?

De todas as redes sociais, duas delas, Orkut e Facebook, usam a curiosa terminologia “amigo” para nomear seus participantes. Certamente o uso da palavra não garante a realidade do fato, antes banaliza o significado do que poderia ser amizade, como mostra o recente filme A Rede Social (The Social Network, 2010), dirigido por David Fincher. O filme não é apenas um retrato de Mark Zuckerberg, o jovem e bilionário criador do Facebook, mas uma peça que pode nos fazer pensar sobre o sentido que nosso tempo digital dá à amizade.

Mark Zuckerberg, como personagem do filme, é o sujeito excluído de um clube. Dominado pelo básico desejo humano de “fazer parte”, ele decide criar seu próprio clube. No filme, ele consegue ter milhares de “conectados” – na realidade o Facebook hoje conecta 500 milhões de pessoas ou “amigos” – e perder seu único amigo verdadeiro, Eduardo Saresin. A amizade é a básica e absoluta forma da relação ética, aprendida como função fraterna no laboratório familiar e na escola; ela é uma qualidade de relação. Tratá-la como quantidade é a autodenúncia de seu fetiche e de sua transformação em mercadoria. O valor do filme está em mostrar a inversão diante da qual não há mais nenhuma chance de ética: um amigo não vale nada perto de milhões, como uma moedinha que perde seu valor diante de um cofre cheio. Amigos transformados em números não são amigos em lugar nenhum, nem na metáfora de Roberto Carlos, que serve aqui para denunciar criticamente o mundo do qual somos responsáveis junto com Mark Zuckerberg.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Som das Seis trará Paulinho da Viola para João Pessoa


A sofisticação do choro, aliada à música erudita moderna e ao ritmo sincopado do samba encontraram um elo perfeito na obra do carioca Paulinho da Viola – um dos mais premiados compositores brasileiros. Ele será uma das atrações do primeiro 'Som das 6' de 2011, nesta sexta-feira (18), na Capital. A abertura será com o cantor a compositor paraibano Chico Limeira. O projeto acontece no Ponto de Cem Réis, a partir das 18h. A realização do evento é resultado de uma parceria entre a Prefeitura de João Pessoa (PMJP) e o Governo do Estado.
Ao comentar sobre a apresentação em João Pessoa, Paulinho da Viola disse que pretende responder ao afeto do público paraibano. "Espero que o show que estou preparando possa retribuir o carinho que sempre recebi das pessoas nas vezes em que visitei a cidade", afirmou.
O roteiro musical para o espetáculo baseia-se nas melhores experiências de trabalho amadurecidas a partir de 2007 por Paulinho da Viola, a exemplo da turnê do Acústico MTV em cidades brasileiras e do show criado especificamente para o Teatro Fecap em São Paulo, no ano passado.
Paulinho reunirá no palco vários sucessos compostos em parceria com outros artistas, a exemplo de "Timoneiro" (com Hermínio Bello de Carvalho), "Onde a Dor Não Tem Razão" (com Elton Medeiros), "Talismã" (com Arnaldo Antunes e Marisa Monte), além de eternas canções da música popular brasileira como "Nervos de Aço", de Lupicínio Rodrigues. Haverá ainda espaço para os trabalhos autorais como "14 anos", "Coisas do Mundo Minha Nega", "Argumento", "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida", "Coração Leviano", "Dança da Solidão" e "Pecado Capital".
Acompanham Paulinho da Viola na exibição a banda formada pelos músicos Hércules Pereira (bateria), Celsinho Silva (pandeiro), Esguleba (ritmo), Mário Séve (sopros), João Rabello (violão), Dininho Silva (baixo) e Cristóvão Bastos (teclados). Também está no grupo uma novidade resgatada recentemente: Cristina Buarque e Muiza Adnet, ambas backing vocal, que formam o coro para pincelar os grandes sambas.
Mais sobre Chico Limeira
O artista é natural de João Pessoa. Em 1999, fundou com alguns amigos o Sala de Reboco. Na banda, conheceu o contrabaixo, instrumento que ofereceu espaço em novos grupos e manifestações. A efervescência de expressões e ritmos resultou em uma produção constante de composições.
Atualmente, o foco do artista é a produção do primeiro registro fonográfico, o EP "Chico Limeira". O disco deve ser lançado logo após o carnaval. Nele, o samba se afirma de uma vez na obra de Chico, com influências de Noel, João Nogueira, Cartola, Dona Ivone Lara e da ilimitada vastidão dos grandes sambistas.
No projeto 'Som das 6', ele vai apresentar um repertório autoral, que inclui "Chave de Cadeia", "Samba sem Bem", o bolero "De Repente", além da parceria com o pernambucano Zé Manoel em "Quem não chora não mama", entre outras composições.
A banda é formada por Regina Limeira (violão), Macaxeira Acioli (percussão), Rudá Barreto (guitarra), Haley (bateria e percussão) e Nildo Gonzalez (bateria e percussão). "Pra mim é uma honra esquentar o chão do terreiro daquele templo para um dos meus mestres Paulinho da Viola. E também inaugurar o novo recanto do projeto 'Som das 6' vai ser super especial. A noite vai ser linda, sem nenhuma dúvida", comentou Chico.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lobão apresentará duas canções inéditas no Encontro da Nova Consciência

 
Uma das atrações principais dos shows do Rock na Consciência é o cantor Lobão que lançará uma autobiografia, palestrará e fará show no 20º Encontro da Nova Consciência que, neste ano acontecerá de 04 a 08 de março, em Campina Grande.

Compositor, editor de revista e apresentador, João Luiz Woerdenbag Filho ― mais conhecido como Lobão ― se tornou, ao longo das últimas quatro décadas, um dos maiores agitadores culturais do Brasil.

Agora, Lobão faz sua primeira incursão pelo mundo dos livros. Na obra, denominada Em "50 anos a mil" o artista toma a palavra e conta a sua trajetória, sempre vivida em alta velocidade e com intensidade.

“É uma história cheia de vida, de intensidade e de revelações, que incide no presente e se projeta em direção ao futuro”, escreve Lobão no prólogo.

No livro, Lobão se preocupa em revelar a complexidade por trás das histórias que o levaram a crescer e se tornar o artista e ser humano que é hoje. "50 anos a mil" vem acompanhado por um rico material fotográfico e entrevistas. Lobão apresenta ainda aos leitores duas músicas inéditas: “Das tripas, coração”, que dedica aos saudosos Júlio Barroso, Cazuza e Ezequiel Neves, e “Song for Sampa” ― que serão apresentadas no Rock na Consciência e já estão disponíveis para baixar no portal: www.lobao.com.br/downloads.

“Espero que, despejando esses acontecimentos mais importantes e voluptuosos desses primeiros cinquenta anos de uma vida vivida em alta velocidade, eu adquira cada vez mais entusiasmo, criatividade e sede de aventura para, daqui a uns cinquenta anos, estar oferecendo à rapaziada a segunda parte desta história”, afirma Lobão. “Afinal de contas, o melhor ainda está por vir”, completa.

Os shows do Rock na Consciência acontecerão de 04 a 08, sempre a partir das 22h na Praça do Viaduto.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Tropa de Elite 2" faz sucesso em Festival de Berlim

Prestígio - José Padilha (à direita) apresenta o filme ao lado dos atores Wagner Moura e Maria Ribeiro

"Tropa de Elite 2" abriu a mostra Panorama Special na noite desta sexta (11), no Friedrichstadt Palast. Com a plateia de cerca de 1,8 mil lugares do cinema ocupada em 70%, José Padilha, Wagner Moura e a atriz Maria Ribeiro foram recebidos com muitos aplausos - tanto no início, quando Zé Padilha subiu ao palco sozinho, quanto no fim, quando o diretor chamou Moura e Ribeiro para agradecer os aplausos. O filme terá mais três sessões ao longo do Festival. 

Havia muitos brasileiros residentes em Berlim, jornalistas estrangeiros e visitantes oficiais como o presidente da RioFilme, Sergio Sá Leitão, e o titular da Ancine, Manoel Rangel - envolvidos direta e indiretamente com a produção. Ao fim da sessão, os aplausos duraram pelo menos três minutos e foram efusivos.

O filme transcorreu sem muitas manifestações. Em uma delas, quando o coronel Nascimento (Wagner Moura) fala que sua mulher (Maria Ribeiro) se casou com seu inimigo político, Diogo Fraga (Irandhir Santos), o público riu.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Segunda edição da Feira Literária de Boqueirão homenageará Ariano Suassuna

Em março, mais uma vez, Boqueirão, a Cidade das Águas, transforma-se na Cidade das Rimas e Letras. De 24 a 27 do próximo mês, uma verdadeira enxurrada cultural irá tomar conta da cidade, com palestras, minicursos, exposições, contações de histórias, literatura de cordel, poesia, lançamentos e bate-papo com escritores dos quatro cantos do País. Nesta segunda edição, a já conhecida Feira Literária de Boqueirão (FLIBO) homenageia o escritor paraibano Ariano Suassuna, e terá como tema Diversidade e Identidade Cultural: preservando os saberes e fazeres de um povo.

Nessa aventura do conhecimento, a literatura e a linguagem estão no foco, abrindo-se para a universalidade de uma e a amplitude da outra, bem como a condição de suas raízes. Motivada pelo seu tema, a FLIBO  compromete-se com a integração das diversas culturas envolvidas, reconhecendo seus hábitos, costumes e literatura, com a democratização e a mobilização do acesso universal ao livro, à leitura e à produção literária.

Diversas atividades serão realizadas, baseadas na promoção e geração de conhecimentos, sem fronteiras culturais e sociais, reunindo um público diversificado e evitando isolamentos de quaisquer naturezas. Em agosto do ano passado, a Feira passou a fazer parte do Calendário de Eventos Turísticos do Estado, conferindo ainda mais visibilidade à iniciativa.

Serviço

onde fica
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Egito vive rebelião romântica, diz escritor


Por Samy Adghirni (Enviado ao Cairo pela Folha de São Paulo)

"Fazer uma revolução é como estar apaixonado por alguém. É algo que nos torna pessoas melhores e capazes de qualquer coisa, inclusive o que parecia impossível."
A comparação é de um dos mais proeminentes e engajados intelectuais egípcios, o escritor Alaa Al Aswany, 54, cuja obra já foi traduzida para pelo menos 12 línguas, incluindo o português.
"Toda revolução é romântica, o Egito é a maior prova disso", afirmou o autor, ao receber a Folha e um pequeno grupo de outros jornalistas no apertado gabinete do centro do Cairo onde atende como dentista.
Para ilustrar esse romantismo, Aswany cita a coragem e o civismo dos manifestantes antigoverno acampados na praça Tahrir.
"Eu estava na praça quando a polícia atirou na multidão, no último dia 28. Vi um homem do meu lado ser baleado na cabeça. Mesmo assim, ninguém recuou um centímetro sequer diante das balas", afirma.

REVOLUÇÃO LIMPA
O escritor, fluente em inglês e francês, também cita o que vê como um despertar espontâneo de solidariedade e respeito.
"Dias atrás, joguei um papel no chão da praça. Uma senhora de 70 anos me parou e disse: essa revolução é por um país melhor, e isso supõe um país mais limpo. Por favor, recolha o papel e jogue-o no lixo", relata.
O autor se diz impressionado com as doações de alimentos aos manifestantes e com a capacidade dos voluntários de coordenar segurança, atendimento médico e até o trânsito no Cairo.
"Todos os egípcios querem o fim deste regime, que é um dos mais repressores do mundo. Só defendem Mubarak aqueles que tiram algum benefício pessoal do governo", afirma.

REAÇÃO PADRONIZADA
Aswany diz não ter dúvidas de que as marchas de apoio ao ditador foram orquestradas pelo governo e alerta para o que chama de contrarrevolução.
"Ditadores, que passam décadas sem contato direto com a realidade da população e possuem egos gigantes, reagem de forma padronizada diante de revoluções", expõe o autor.
"Primeiro, eles negam a realidade. Depois, atribuem os distúrbios a elementos isolados a serviço de inimigos externos. Em seguida, negociam, sem nunca atender à reivindicação principal. Por fim, quando a ficha cai, eles se tornam muito agressivos, como um tigre ferido."
Hosni Mubarak, segundo o autor, mostrou-se capaz de tudo para levar adiante a contrarrevolução, inclusive ordenar que a polícia atirasse na população.
Aswany afirma que as ordens de massacrar os rebeldes só foram interrompidas após pressão dos norte-americanos -o regime egípcio é aliado da Casa Branca.
O escritor afirma que as conversas em curso entre governo e oposição são um modo de Mubarak ganhar tempo e diz que, quando houver eleições livres, votará em Amr Moussa, ex-ministro das Relações Exteriores, hoje secretário-geral da Liga Árabe.
"Ao atirar no próprio povo, Mubarak perdeu a força moral. A pressão interna e externa fez com que ele perdesse também a força política. Ainda resta a ele um pouco de força prática, que desaparecerá", avalia Aswany.

Saiba Mais
Autor de sucesso é dentista e lidera grupo de oposição

Um dos autores árabes contemporâneos de maior sucesso, Alaa Al Aswany já foi comparado pelo estilo realista a Naguib Mahfouz (1911-2006), o único egípcio a receber o Nobel de Literatura, em 1988.
Seu romance mais conhecido, "O Edifício Yacubian" (2002), vertido para 12 idiomas, ganhou adaptação cinematográfica e foi lançado no Brasil pela Companhia das Letras, que também planeja publicar "Friendly Fire" (fogo amigo), livro de contos.
Nascido em 1957 e formado em odontologia, Aswany, que já morou nos EUA, ganha a vida como dentista -seu consultório no centro do Cairo é próximo ao lugar dos tumultos.
Autor de textos políticos para jornais e revistas, o escritor é um dos fundadores do movimento oposicionista Kifaya ("basta").
Entenda o Caso: A Crise no Egito
1 
Como tiveram início os protestos antirregime?
Manifestações são inspiradas na onda de protestos que derrubou ditador da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali em janeiro

2
Quem é Hosni Mubarak?
Vice do antecessor Anwar Sadat e ex-chefe da Força Aérea, governa um regime autoritário há 30 anos com o apoio dos EUA; tem hoje 82 anos

3
Por que ele é um ditador?
Mubarak esmagou a oposição, promoveu eleições amplamente fraudulentas, restringiu liberdades e baniu o grupo Irmandade Muçulmana

4
Quais as chances de ele deixar o poder?
Tudo dependerá da persistência dos protestos e da pressão dos EUA. O presidente Barack Obama confirmou que seu governo está negociando uma transição.

5
Quais os cenários para o pós-Mubarak?
Hoje, o mais provável é sua substituição por Omar Suleiman, seu vice, que comandaria a transição até eleições em agosto. Figuras da oposição poderiam fazer parte. Não pode ser descartada também uma revolução, no entanto, em que a oposição assumiria o poder imediatamente.

6

Quem são e que papel têm os grupos muçulmanos?

O mais importante é a Irmandade Muçulmana, grupo banido que defende um Estado baseado nas leis do islã. Tem importantes facções moderadas, no entanto.

7
Quem é ElBaradei?
Ex-presidente da agência atômica da ONU, que tem tido papel de destaque na oposição. Poderia assumir Presidência se Mubarak cair.

8
Como as Forças Armadas se comportaram?
São pilar do regime, mas se recusaram a reprimir protestos; militares ganharam força no governo após a reforma do gabinete e têm se abstido de conter confrontos

9
Qual impacto econômico dos protestos até agora?
Crise paralisou comércio, afetou turismo e motivou rebaixamento de nota por agência de risco; o preço do barril do petróleo ultrapassou US$ 100

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dinheiro é um pedaço de papel*


Por Nizan Guanaes  (Publicitário)

Sou, com frequencia, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais. Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores.

Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio. Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado. É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração.

Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.

E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.

A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.

Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos.

A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.

É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).

Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.

Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés.

Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa.

Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.

Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso".

Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.

Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.

Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?


*O título do texto foi retirado de uma música de Arnaldo Antunes, intitulada "Dinheiro".

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

África, o continente de todos

Por Emir Sader (Sociólogo e Cientista)

Grande parte da humanidade olha para a África como quem olha pela janela (de um hotel de 5 estrelas) e não como quem olha para o espelho. No entanto, toda a história mundial tem seu espelho na Africa. Todos os outros continentes - América, Ásia - foram espoliados para que a Europa pudesse trilhar as chamadas revoluções comercial e industrial, no processo de acumulação primitiva. Mas nenhum continente sofreu, além da dilapidação dos seus recursos naturais, da opressão das suas culturas e dos seus povos, a escravidão nas proporções de genocídio que ela assumiu na Africa.

Praticamente toda a população adulta da África foi submetida à degradante situação de serem levados como gado para trabalhar como escravos, como seres inferiores, para produzir riquezas para a elite branca europeia. O destino da África ficou comprometido pelo colonialismo, pela escravidão e pelas diversas formas de imperialismo. Foi também vítima privilegiada do racismo, da discriminação contra os negros, disseminada pela elite branca por todo o mundo.

A África do Sul, o país economicamente mais desenvolvido do continente, até pouco tempo ainda sofria o apartheid. Mas as elites brancas do mundo consideram a África um caso de continente vítima de si mesma: do tribalismo, do atraso, dos conflitos étnicos, dos massacres, das epidemias, das catástrofes. Tentam fazer a África vítima da natureza e não vítima da história - da colonização, da escravidão, do imperialismo. Um caso perdido, para as potências imperiais. Um caso de opressão, exploração, discriminação.

Hoje a África tornou-se abastecedor de matérias primas para as potências da globalização, que continuam a extrair os recursos naturais por meio de grandes corporações ou diretamente de governos. As mesmas potências que, na Conferência de 1890 concluíram a repartição do continente entre eles, fatiando-o com regra e compasso, hoje disputam entre si os recursos que alimentam seus processos de industrialização e de consumismo exacerbado.

Os colonizadores e os imperialistas não consideram que sejam devedores da África, que devam contemplar como continente privilegiado no apoio dos outros, por tudo ao que submeteram os países e os povos africanos.

Podemos julgar a política externa de cada governo e a visão de cada povo do mundo pela atitude que têm com a África. Ao invés de continente marginal, deveria ocupar o lugar central nas relações internacionais contemporâneas. Toda política externa que não privilegia a Africa, está errada.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Núcleo Literário Caixa Baixa formará diretoria neste sábado


Neste sábado (05) será realizado às 15h no Bar do Elvis, bairro do Castelo Branco, em João Pessoa, o segundo encontro do Núcleo Literário Caixa Baixa. A associação constituída por escritores naturais e/ou residentes na Paraíba pretende ser um círculo intelectual que visa criar um espaço privilegiado de trocas de experiências entre escritores, permitindo assim uma maior integração através da produção de eventos, publicações em portais, revistas e antologias, além da divulgação de informações atualizadas sobre o universo literário em geral, notadamente no estado da Paraíba.

O propósito principal da reunião será a criação da diretoria do Núcleo. Na oportunidade serão escolhidos o presidente, o vice-presidente, as secretarias e as diretorias da entidade. Ainda haverá entre as atividades, encaminhamentos relacionados à criação do site, da revista do Núcleo e de suas respectivas redes sociais, bem como será elaborado um documento com sugestões para área literária - encaminhado, posteriormente, à recém-fundada Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba, que tem como secretário o músico e também poeta Chico César.

A ideia do Núcleo Literário Caixa Baixa nasceu do escritor Roberto Menezes, ainda em 2010, que conjuntamente com os escritores Jairo César e Bruno Gaudêncio tiveram a iniciativa de propor um encontro de escritores locais, que possibilitasse uma integração entre os mesmos. Boa parte dos nomes que constituem o grupo no momento - poetas, ficcionistas, ensaístas - iniciou sua carreira literária recentemente e possui dificuldades de publicação e divulgação de suas produções.

Caixa Baixa?
No primeiro encontro do Núcleo, chamado inicialmente de I Encontro dos Jovens Escritores da Paraíba, ocorrido no último dia 15 de janeiro, no mesmo local, fora idealizado o nome "Caixa Baixa" para designar a associação.  Segundo os líderes, a nomenclatura, originalmente retirada da terminologia tipográfica, brinca com os “lugares de marginalidade” ocupados pelos escritores em início de carreira dentro do “campo literário local”.

Um aspecto interessante do Núcleo é o caráter informal das reuniões, no qual o bate-papo descontraído prevalece, além de leituras e recitações de textos literários. Entretanto, apesar de seu traço de informalidade, o Núcleo pretende possibilitar uma maior movimentação literária no estado da Paraíba, produzindo saraus, feiras, encontros literários e pensando na criação futura de um selo editorial que permita a publicação de livros dos membros da entidade. Um primeiro passo será a formação de uma diretoria.

O Núcleo conta com muitos membros e frequentadores de outras associações literárias da Paraíba, a exemplo da ABES (Associação Boqueirãoense de Escritores), o Clube do Conto de João Pessoa e do Núcleo Literário Blecaute de Campina Grande, recebendo representantes de vários municípios paraibanos, a exemplo de Sapé, Bayeux e Santa Rita.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Encontro da Nova Consciência comemora 20 anos


Da Assessoria do Encontro da Nova Consciência

"20 anos cultivando a Paz" é o tema da vigésima edição do Encontro a Nova Consciência que acontecerá de 04 a 08 de março no Sesc Centro de Campina Grande. Ao longo de sua história, a Paz foi sendo divulgada e discutida nas palestras e nos vários encontros paralelos que ocorrem no Encontro e, neste ano, ela passou a ser o tema principal do evento.

"Mais do que nunca, torna-se necessário e importante estimular a construção da harmonia entre as pessoas de diferentes religiões, filosofias de vida, orientações sexuais e etnias. Não basta apenas tolerar, é precisa respeitar aqueles que pensam diferente. Apenas com a aceitação e respeito é que poderemos conviver em paz e harmonia", afirmam os coordenadores do Encontro da Nova Consciência.
Durante os cinco dias do evento serão realizadas palestras, debates, mesas-redondas, oficinas, feiras e cursos dentre outras atividades, além de vários eventos da programação paralela como o encontro de Ateus, Xamanismo, Ecologia, Budismo, Neo-paganismo, Santo Daime, Ufologia, Sufismo, Islamismo, Consciência animal, Sai Baba, Rezadeiras, Literatura Contemporânea,  Homoafetividade, Baha'í, Hare Krishna, Catadores, Cinema, dentre outros.
Além do Sesc Centro, estarão ocorrendo atividades no CEDUC (Unidade do Centro) e na Faculdade de Administração da UEPB, além dos shows que ocorrerão na Praça do Viaduto (em frente ao Sesc).
Mais informações sobre o evento estarão sendo divulgadas em breve no portal: www.novaconsciencia.com.br 

Entenda o Encontro da Nova Consciência:

A concepção do Encontro da Nova Consciência baseia-se, desde o seu nascedouro, na visão ora vigente de enxergar a(s) Cultura(s) em três dimensões, tal como sinaliza o texto-base da II Conferência Nacional de Cultura.
Dessa forma, a cultura é vista sob os pontos de vista: simbólico; cidadão; e econômico. Leva-se em conta, também, que a Arte constitui-se num dos subsistemas da(s) Cultura(s), sendo esta uma forma de conhecer e interpretar o mundo, manifestando-se em vários campos: na religião, no trabalho, nas relações de parentesco e poder, consoante, ainda, com o mesmo texto-base, norteador da próxima Conferência Nacional de Cultura sob responsabilidade do Minc.

O Encontro, pela sua prática nesses 19 anos, não tem caráter religioso nenhum. Ele reúne, para discussões e reflexões, as Ciências, as Filosofias, as Culturas, as Artes e as Tradições Religiosas, prospectando o exercício recomendado pela Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, aprovada pela Unesco em 2005 e já ratificada pelo Brasil, que assinala: “...No mundo contemporâneo - onde a cultura e as identidades culturais estão na base de inúmeros conflitos -, respeitar a diversidade cultural significa, antes de tudo, garantir a paz e a segurança internacionais”. Em seguida arremata: “O diálogo intercultural será eficaz se tiver como ponto de partida o respeito mútuo e o reconhecimento da dignidade inerente a todas as culturas”.
Nesse sentido, a natureza do Encontro da Nova Consciência não é apenas Cultural, mas Intercultural e por ser pioneiro no país, além de realizar-se no Semiárido paraibano, é também vanguardeiro.
A sua abrangência, em termos de propósitos é universal, dado ao seu perfil intercultural. Contudo, as suas pretensões nada têm de faraônicas. Elas se situam no plano simbólico. Quer dizer, funcionam como instrumentos de sensibilização e humanização, demonstrando que a Paz é exequível.

Assim, seus objetivos estão sendo progressivamente alcançados, o que se traduz pelo crescente aumento de público, principalmente do País e, em doses ainda homeopáticas, do exterior, bem como do interesse da mídia nacional.