sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sesc inscreve para segunda etapa do projeto Leituras em Cena

Estímulo - Atividade almeja ensinar atores, diretores e interessados nas artes cênicas, técnicas para a exploração de cada obra estudada


 Da Assessoria do Sesc/CG

O Serviço Social do Comércio realiza na próxima semana, de 3 a 5 de novembro, a oficina da segunda etapa do projeto Dramaturgia: Leituras em cena. A oficina será ministrada pelo ator e diretor Vinícius Arneiro, das 18 às 22 horas, na unidade do Sesc Centro, em Campina Grande. As inscrições já podem ser efetuadas no setor de cultura da instituição por apenas dois quilos de alimentos.

O oficineiro Vinícius Arneiro é formado pela Escola de Teatro Martins Penna, no Rio de Janeiro. Foi indicado ao prêmio Shell 2007 de melhor direção pelo espetáculo Cachorro!, encenado pela Cia. Teatro Independente, da qual é fundador e diretor artístico.  Sua segunda produção, Rebú, foi eleita pela Veja São Paulo um dos melhores espetáculos em cartaz na capital paulistana no corrente ano.

Com o objetivo de estimular a leitura de textos teatrais, ensinando aos atores, diretores e interessados nas artes cênicas, técnicas necessárias para a exploração de cada obra estudada, o projeto Dramaturgia: Leituras em cena é composto por duas fases. Na primeira, acontece a oficina de 12 horas. Já na segunda etapa, ocorre a apresentação das leituras dramatizadas, feitas por 24 atores e quatro diretores escolhidos durante o curso.

O projeto é uma realização do Sesc Paraíba em parceria com o Departamento Nacional. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (83) 3341-5800, no endereço eletrônico www.sesccultural.blogspot.com ou na unidade do Sesc Centro, que fica localizada na Rua Giló Guedes, Santo Antônio, 650, Campina.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Professor de Relações Internacionais da UEPB discorre acerca do Mercosul, em novo livro


Confira um pouco mais da reportagem realizada pela jornalista Juliana Rosas, da ASCOM/UEPB, com o professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba, Marcílio Toscano Franca Filho, que está lançando o livro “The Law of Mercosur” (A Lei do Mercosul).


O livro foi escrito e editado exclusivamente em inglês?

Sim, o livro foi um projeto concebido originalmente em inglês, justamente para levar o tema Mercosul a públicos que, normalmente, não têm acesso à bibliografia que existe sobre o nosso bloco em espanhol e em português. Daí termos optado também por uma editora global como a Hart, destacada na produção de livros jurídicos em escala internacional. Além disso, queríamos possibilitar um diálogo entre acadêmicos da América do Sul e da Europa e isso só seria factível através de uma língua franca como o inglês. No livro, há autores do Brasil, Argentina, Bélgica, Alemanha e Portugal.


O lançamento está sendo agora em outubro de 2010. Mas quando foi escrito?

Esse livro vem sendo escrito ao longo dos últimos dois anos. Foi um longo processo de pesquisa e produção até chegar às últimas atualizações, há pouco mais de um mês. Posso assegurar que é bastante atual sem perder profundidade ou esquecer da perspectiva histórica.

Os três editores mencionados, o que inclui o senhor, também possuem artigos no livro?

Exatamente. Somos três editores que projetamos todo o livro, definimos os temas a serem enfrentados e escolhemos os nomes dos demais autores. Além disso, escrevemos a introdução e alguns capítulos  A mim, por exemplo, coube tratar também das relações externas do Mercosul com outros blocos econômicos e outros países. Acho, porém, que o livro é mais que uma coletânea de artigos sobre o Mercosul. Trata-se de fato de um manual sobre o Direito do Mercosul, em que os principais temas da agenda do bloco são abordados com profundidade e didatismo por grandes especialistas de cada área. Nesse sentido, o título segue uma tendência da indústria editorial anglófona de procurar abrangência e pluralidade em um mesmo volume, como nos Oxford Handbook, publicados com sucesso pela Oxford University Press.

Cada um dos colaboradores mencionados possui um artigo em separado? Estes foram convidados para escrever especialmente para este título ou os organizadores fizeram um apanhado já escrito sobre a temática?

Cada co-autor escreveu um capítulo específico e original. Cada colaboração é fruto de uma reflexão inédita de um autor sobre a sua área de expertise. Escolhemos com muita precisão os convidados. Em geral, são estudiosos cujo doutorado ou a produção intelectual foi exatamente na área em que escreveu. Como disse antes, não se trata de uma coletânea de artigos esparsos, mas antes um livro pensado e amadurecido de modo sistemático.

A compra do livro só é possível online, trazida do exterior? Ou haverá uma comercialização no Brasil?

O livro já está à venda nas livrarias da internet, como a própria Hart ou a Amazon, e há boas perspectivas dele ser comercializado no próximo ano, diretamente por livrarias brasileiras especializadas em livros jurídicos estrangeiros.

Como surgiu a ideia para o livro? Os três colaboradores se reuniram para organizá-lo? Foi uma iniciativa da editora? O senhor convidou ou foi convidado pelos colaboradores para por a idéia do livro em prática?

A ideia do livro surgiu dos interesses acadêmicos que eu, Belém Olmos e Lucas Lixinsky compartilhávamos a respeito do Mercosul. Cada um de nós tinha estudado, ao longo de sua vida acadêmica, aspectos parciais da temática mercosulina como Direitos Humanos ou o Poder Judiciário no Mercosul e, juntos, decidimos escrever esse livro. Vimos que não havia uma obra completa, profunda em inglês, o que dificultava até mesmo a realização de negócios entre a Europa e a América do Sul. 
Nós nos conhecemos em 2007, no Instituto Universitário Europeu de Florença, quando fazia o meu pós-doutorado no departamento de Direito. Naquela altura, o interesse de muitos de nossos colegas e professores sobre o Mercosul já era grande e notamos uma lacuna enorme na bibliografia em inglês sobre esse tema. Mesmo para os sul-americanos, não havia um livro que trouxesse a visão da Europa sobre o nosso bloco econômico. Daí que o nosso projeto foi rapidamente aceito pela editora inglesa Hart, cuja sede fica em Oxford. 
Conforme ressaltei anteriormente, o livro é resultado de um grande e coletivo esforço de análise, estudo, crítica e divulgação do Mercosul, em um momento em que o Brasil ocupa um lugar especial no panorama político-econômico internacional. Acho que esse ponto foi fundamental para despertar o interesse da editora Hart.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A utopia da teoria unificada do Universo

Criação do Mundo - Copérnico, Kepler e Newton falavam do cosmo como obra divina, e da ciência como ponte entre a razão humana e a de Deus

Do Caderno Ilustríssima

RESUMO
A busca por uma "teoria de tudo", que unifique as explicações do Universo, é um sonho a que se dedicaram muitos cientistas, inclusive Marcelo Gleiser, que neste ensaio faz uma revisão desse propósito, em favor de uma nova concepção do universo que tenha como princípios as ideias de assimetria e imperfeição.

"O que vejo da Natureza é uma estrutura magnífica que podemos apenas compreender muito imperfeitamente."
 Albert Einstein

"TODA A FILOSOFIA baseia-se em apenas duas coisas: curiosidade e visão limitada [...] O problema é que queremos saber muito mais do que podemos ver." Assim escreveu o filósofo francês Bernard Le Bovier de Fontenelle em 1686. A afirmação não poderia ser mais propícia. Se entendemos por filosofia o esforço do intelecto humano em compreender quem somos e em que mundo vivemos, logo percebemos que, de fato, a mola que move nosso conhecimento é a curiosidade.
Já as nossas dificuldades, isto é, os limites do que podemos saber sobre o mundo, são consequência dessa "visão limitada", da miopia que nos permite ver apenas uma fração do que realmente ocorre à nossa volta. Daí que o conjunto do que criamos é, em essência, uma tentativa de aprimorar a nossa visão, de saciar a curiosidade que temos de saber cada vez mais sobre a realidade que nos cerca.
Podemos metaforicamente chamar de conhecimento a trilha que, aos poucos, vai abrindo espaço na imensa e sedutora floresta do desconhecimento. (Se esse conhecimento leva à sabedoria é uma outra questão.) A preocupação central dos filósofos e, nos últimos quatro séculos, dos cientistas, é precisamente ampliar essa trilha.
Uma questão fundamental é se essa trilha tem uma destinação final, que representaria o conhecimento "total" do mundo. Outra é se nós podemos chegar lá. Uma terceira é investigar quais seriam as consequências de chegarmos ou não ao final da trilha. Estas questões, que explorei em detalhe em meu livro "Criação Imperfeita", formam o arcabouço deste ensaio.
UNIDADE A noção de que tudo o que existe -das galáxias aos planetas, das pedras aos seres vivos- é manifestação duma unidade inerente a todas as coisas é muito antiga. Podemos argumentar que sua origem coincide ao menos com as religiões monoteístas: se tudo é criado por um Deus, tudo é parte desse Deus. Nele, encontramos a unidade de todas as coisas, como acreditava o faraó Akenaton em torno de 1350 a.C.
Já no taoísmo, tudo pode ser compreendido a partir da essência do Tao, onde todos os opostos são um. Com o advento da filosofia na Grécia, a questão tomou, ao menos inicialmente, uma orientação mais material: Tales, considerado o primeiro dos filósofos, já dizia que tudo vem duma única fonte de matéria.
Esse "absolutismo" material influenciou profundamente o pensamento ocidental. São vários os filósofos que buscaram construir um sistema em que tudo se baseia numa única entidade ou grupo de entidades, como as formas de Platão ou a mônada de Leibniz. Esse tipo de construção foi criticado pelo historiador das ideias Isaiah Berlin: "Uma afirmação do tipo 'Tudo consiste em...' ou 'Tudo é...', a menos que seja empírica, não significa nada, pois uma proposição que não pode ser contrariada ou questionada não contém informação".
Veja a ênfase no empirismo: para confirmarmos alguma suposição, ela precisa ser questionável, sua viabilidade tem que ser testável. Afinal, qualquer um pode tecer teorias sobre o mundo, convencido de que está correto. Mas, se suas hipóteses não puderem ser verificadas, serão de pouco uso para o resto do mundo. O valor da ciência está em proporcionar meios que tornam esse tipo de validação possível.

FIM DA TRILHA Imagine se fôssemos capazes de chegar a uma descrição completa do mundo, o "fim da trilha". Seria o clímax da razão humana, a confirmação de que somos, de fato, especiais. Não é à toa que tantas mentes brilhantes sucumbiram a essa tentação. Como não poderia deixar de ser, a ciência, ou melhor, os cientistas, não são uma exceção.
Na Renascença, Copérnico, Kepler e, mais tarde, Newton, falavam do cosmo como obra divina, e da ciência (ou, mais apropriadamente para a época, da filosofia natural) como ponte entre a razão humana e a de Deus. Para eles, o Criador, este geômetra, usou as leis da matemática na construção do mundo. Cabe aos astrônomos e aos filósofos naturais decifrar estas leis para conhecermos a "mente de Deus". O dialeto em comum entre os humanos e a divindade é a matemática.
Esse ímpeto intelectual consagrou o papel da simetria como a marca da obra divina: Deus criou o mundo da forma mais perfeita, usando as leis da matemática. A simetria passou a ser o princípio estético da Criação, equacionada com a verdade. As palavras do poeta John Keats ilustram a importância desta união: "A beleza é a verdade, a verdade a beleza".
Leia-se: a simetria é bela, a beleza é verdade e, portanto, a simetria é verdade. Esta estética encontra-se profundamente arraigada nas ciências físicas. E precisa mudar.

SIMETRIA E DOGMA Avançando no tempo, encontramos Einstein, que passou as duas últimas décadas de sua vida buscando pela chamada "teoria unificada", que visava provar que duas forças fundamentais da natureza, a gravidade e o eletromagnetismo, são, na verdade, manifestações de uma única força.
Por que Einstein acreditava nessa unidade fundamental? Curiosamente, não por alguma indicação empírica. Não havia experimento ou observação que sugerissem essa unificação entre as duas forças. Havia, sim, a intenção de Einstein de provar que a geometrização da natureza era possível, e que a união entre as duas forças fundamentais era consequência inevitável desta geometrização. Sua busca vinha mais da sua mente do que do mundo.
Como sabemos, Einstein falhou. Como falharam todos aqueles que se propuseram a encontrar tal união. Críticos modernos dizem que Einstein falhou por não ter incluído as duas outras forças fundamentais da natureza, que atuam dentro do núcleo atômico. Segundo eles, uma teoria unificada deve incluir todas as forças que regem o comportamento das partículas de matéria.
De fato, teorias de unificação atuais, infelizmente chamadas de "teorias de tudo", tentam demonstrar que as quatro forças são manifestações de uma única força. (De tudo as teorias não têm nada, pois estão relegadas a explicar "apenas" o comportamento das entidades fundamentais de matéria. Uma teoria de tudo da física das partículas não explica porque existe vida na Terra ou por que temos apenas uma Lua.)

SUPERCORDAS A candidata mais popular dessas teorias é a teoria de supercordas. Baseada em matemática elegante, ela propõe uma profunda mudança de paradigma: a matéria não é formada por pequenas entidades indivisíveis chamadas partículas; é formada por pequenas cordas, tubos de energia que, ao vibrar, reproduzem as partículas de matéria observadas nos experimentos.
A teoria de supercordas põe o conceito de simetria num novo patamar. Se antes a simetria era usada como ferramenta essencial na construção de explicações aproximadas da realidade física, agora passa a ser o conceito básico dessa realidade. Nas teorias de unificação modernas, simetria é dogma.
As simetrias que regem as interações entre as partículas de matéria não são como as do nosso dia a dia. Quando falamos de simetria, imaginamos um objeto simétrico, como um DVD, ou o rosto (quase simétrico!) duma pessoa. As simetrias da física de partículas são construções matemáticas que descrevem como elas interagem entre si: por exemplo, a atração elétrica entre um elétron e um próton.
Cada uma das três forças (a gravidade é diferente, suas simetrias atuam no espaço e no tempo) tem uma simetria associada. O objetivo da teoria de unificação é construir uma simetria que englobe todas as três, a "simetria das simetrias". A fé na unidade de todas as coisas é transportada para a física moderna.
Apesar do esforço de muitos e de mais de quatro décadas de experimentos, não temos nenhuma indicação de que essa unificação final exista. Claro, podemos sempre argumentar que a ausência de evidência não é evidência de ausência, que basta continuarmos a buscar que eventualmente encontraremos sinais da unidade profunda da natureza.
Também pensava assim, e dediquei muitos anos a essa busca. Hoje, penso diferente e vejo a busca por uma teoria de tudo como uma ilusão, uma consequência da influência do monoteísmo no pensamento científico. Acredito que esteja na hora de irmos em frente, criando uma nova estética para a ciência, baseada em assimetrias e não em simetrias.

LIMITES Não há dúvida de que a física precisa de simetrias e deve continuar a usá-las. Vemos sua importância em todos os campos de pesquisa. A questão é se uma teoria de tudo, como a metafórica trilha com um destino final mencionada acima, é uma proposta viável. Mesmo dentro dos parâmetros da física das partículas, isto é, restrita à descrição das partículas de matéria e suas interações, não vejo como a construção de uma teoria final seja possível.
Imagine que nosso conhecimento sobre o mundo caiba num círculo, o "círculo do conhecimento". Como cresce o círculo? Através de nossas observações sobre o mundo e nós mesmos. Essas observações, ao menos nas ciências, vêm do uso de instrumentos que ampliam nossa visão. O que os olhos não veem, os telescópios e microscópios veem.
Porém, é importante lembrar que todo instrumento tem o seu limite: vemos até um certo ponto, medimos com uma certa precisão e não além. Mesmo que os avanços da tecnologia permitam que a precisão de nossas medidas aumente, a informação que temos do mundo será sempre limitada. Em outras palavras, além do círculo do conhecimento -que sempre cresce- existe a escuridão do não saber.

TEORIA FINAL
Voltando então à teoria final, é claro que se chegarmos a ela teremos conhecimento completo de todas as partículas de matéria e de como interagem entre si. Mas como poderemos ter certeza que, além do círculo, não existem efeitos ainda não previstos por essa teoria "final"? Visto que não podemos ter conhecimento completo sobre o mundo, jamais poderemos confirmar se essa teoria final é mesmo final, ou apenas mais um passo em direção a uma compreensão do mundo.
Certamente, unificações parciais são possíveis: existem já exemplos dela na física, como o eletromagnetismo (eletricidade + magnetismo). Experimentos que estão ocorrendo no Centro Europeu de Física Nuclear (CERN), na Suíça, podem até revelar sinais de que algumas das unificações propostas são viáveis. Mas uma unificação total e final não pertence ao empirismo que define as ciências físicas.
Quando menciono essas ideias, às vezes me dizem que estou sendo derrotista. Não é nada disso. Claro que devemos sempre continuar a buscar por descrições mais simples e completas do mundo natural. Essa é a função da ciência. O que me preocupa é o uso da noção de unidade de todas as coisas na física. Vejo nisso um esforço de equacionar a ciência com a religião e os cientistas a deuses que tudo sabem. As afirmações recentes de Stephen Hawking, de que a ciência hoje mostra que Deus é desnecessário, ilustram o meu ponto.
A ciência tem pouco a dizer sobre Deus ou sobre a fé. Sua missão não é tornar Deus desnecessário, mas proporcionar uma narrativa que explique da melhor forma possível como o mundo funciona. Dadas as limitações da sua estrutura -as hipóteses, aproximações e axiomas que usamos para basear nossas teorias-, sabemos, ou deveríamos saber, que a ciência não é completa e que o conhecimento do mundo também não. Precisamos de mais humildade em nosso confronto com o mundo.

ASSIMETRIAS
O que aprendemos nas últimas quatro décadas é que são as assimetrias que estão por trás das estruturas que encontramos no Universo. Da origem da matéria à origem da vida, devemos nossa existência às imperfeições da natureza. Tomemos como exemplo a enigmática "quiralidade" das moléculas orgânicas. O termo vem da palavra grega para "mão".
Várias moléculas são quimicamente idênticas (os mesmos átomos), mas aparecem em dois tipos, um sendo a imagem no espelho do outro, tal qual as nossas mãos. Como Pasteur revelou há 150 anos, a vida prefere moléculas com um arranjo espacial bem específico. Hoje, identificamos que os aminoácidos que constituem as proteínas em seres vivos são todos "canhotos", enquanto os açúcares que compõem o DNA e o RNA são "destros".
Já ao serem sintetizados no laboratório, tanto os aminoácidos quanto os açúcares aparecem em misturas com 50% de cada tipo. Portanto, das duas opções, a vida escolhe apenas uma. Ninguém sabe por quê. Talvez, como sugeri num artigo recente com meus alunos, a escolha da quiralidade dependa das interações que ocorreram entre a química primitiva e o meio ambiente terrestre há 4 bilhões de anos. Se a vida existir em outros planetas, poderá ter quiralidade oposta à vida na Terra.

IMPERFEIÇÕES Ao evoluir, a vida só sobreviveu devido às mutações genéticas, que podemos interpretar como imperfeições do ciclo reprodutivo. Sem elas, os organismos não poderiam ter sobrevivido às várias mudanças ambientais que ocorreram na Terra. A complexidade explosiva da vida terrestre, a transição de seres unicelulares a seres multicelulares, é um feito notável de adaptação.
Ao olharmos para nossos vizinhos planetários, encontramos mundos estéreis, muito provavelmente sem vida no presente. Talvez encontremos vida em outros sistemas estelares, onde planetas giram em torno de estrelas de vários tipos. Mas, pelo que aprendemos da história da vida na Terra, muito provavelmente essas formas de vida serão simples; seres unicelulares sem muita complexidade. Vida multicelular, em particular vida inteligente, será muito mais rara.
Mesmo que exista na nossa galáxia -e não podemos afirmar se sim ou não-, as distâncias são tão vastas que, na prática, estamos sós. Como ilustração, se quiséssemos hoje ir até a estrela mais próxima ao Sol, a Alfa Centauro, teríamos que viajar por 110 mil anos. Não temos nenhuma indicação concreta de que existem outras inteligências espalhadas pela galáxia. Infelizmente, relatos de encontros com alienígenas não apresentam provas convincentes. Estamos mesmo sozinhos, ao menos por um bom tempo.

MORALIDADE CÓSMICA
A meu ver, essa revelação tem a força de redefinir nossa relação com nós mesmos, com a vida e com o planeta. Somos como o Universo pensa sobre si próprio.
Nada mau para uma espécie que tem apenas conhecimento limitado da realidade. Se a Terra é rara, se a vida é rara e se a vida inteligente é mais rara ainda, nós, seres no ápice da cadeia evolutiva, temos a obrigação moral de preservar a vida a todo custo. Após séculos em que a Terra e seus habitantes deixaram de ser o centro do cosmo, nós, humanos, voltamos a ter importância universal.
Não por sermos emissários divinos, ou porque o cosmo de alguma forma tem algum plano para nós. Nossa importância vem da nossa raridade, do fato de que somos produto de acidentes e imperfeições, da fragilidade da vida num planeta que flutua precariamente num cosmo extremamente hostil. Nossa importância vem do poder que temos sobre o futuro da vida. Vem porque representamos a consciência cósmica -ao menos nesta esquina do Universo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Casa Brasil realizará II Sarau Poético Infantil em Campina Grande nesta quarta-feira (27)


Por Vera Lúcia Barbosa de Melo, da Assessoria de Imprensa da Casa Brasil

A Sala de Leitura do Projeto Casa Brasil, parceria do Governo Federal e da Prefeitura Municipal de Campina Grande, através da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura, realizará amanhã (27)  o II Sarau Poético Infantil, destinado a crianças e adolescentes, alunos da rede pública e particular com idade entre 8 e 15 anos.
 
O evento, em sua segunda edição, é fruto de um trabalho construtivo que vem sendo desenvolvido numa parceria de toda a equipe da Casa Brasil e comunidade, tendo como objetivo envolver os participantes em um projeto de resgate da cultura popular, visando ampliar o senso crítico e criativo através da poesia, incentivando as crianças e jovens ao prazer da leitura poética.
 
O Sarau Poético da Casa Brasil, surgiu da necessidade de se abrir um espaço para acolher os poetas da comunidade na qual o Projeto Casa Brasil está inserido, como também os renomados poetas campinenses, das cidades circunvizinhas e de outros estados. É um campo de fomento e agregação gradativa das expressões culturais populares que vem se consolidando, ano após ano, resultando na participação dos escritores, que buscam através da poesia fortalecer a preservação das nossas raízes de cultura, clássica e popular.

O Sarau Poético torna possível que a poesia aconteça de fato, permitindo o contato com diferentes autores e estilos, reavivando a capacidade de olhar e ver o que é a essência do poético. O Projeto Casa Brasil, oportuniza à comunidade não só um espaço para mostrar seu trabalho, como também trazer renomados poetas para mostrar que é possível na periferia da cidade ter eventos sociais que propiciam a ampliação da cultura. Assim como os demais eventos realizados pela Casa, o Sarau já está inserido dentro do contexto social da comunidade que o utiliza para fomentar a cultura.

Sarau Infantil - O grande interesse das crianças em participar do evento fez com que a Sala de Leitura, módulo da Casa que promove o Sarau, resolvesse realizar o II Sarau Poético Infantil que acontece no mês de outubro, como forma de homenagear o “Mês da Criança”. O evento tem como objetivo incentivar as crianças a desenvolver o gosto pela leitura de poesias, a apreciar sons e ritmos da linguagem poética, como forma de adquirir conhecimentos para produzirem seus próprios poemas e assim, ampliar o senso crítico e criativo através da poesia.

Na abertura, alunos da Escola Municipal Estelita Cruz, farão uma dramatização do conto: “O Príncipe Desencantado” de autoria de Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin - adaptado por Flávio de Souza. O grupo de balé Companhia Ponta de Lápis da Escola Roberto Simonsen, se apresenta em seguida com uma dança neoclássica com o tema Semeando Amor. Alunos da Escola Municipal Apolônia Amorim também participarão do evento que este ano conta com 15 crianças declamando.

O II Sarau Poético Infantil acontecerá no dia 27 de outubro, a partir de 15h, no auditório da Casa Brasil, com a participação dos declamadores mirins, de poesias e comunidade convidada para o evento. A Casa Brasil está localizada à rua Advogado Otávio Amorim, S/N, no bairro do Cruzeiro, ao lado do antigo Forrock.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O flerte do gênio Isaac Newton com a alquimia

Mistura - Especialista argumenta que investigações do físico ajudaram a resultar  
na descoberta de que luz branca é uma miscelânea de raios coloridos

Por Natalie Angier, do The New York Times

Sir Isaac Newton sabia que era um gênio e não gostava de perder seu tempo. Nascido em 25 de dezembro de 1642, o grande físico e matemático inglês tinha pouca vida social e raramente viajava para longe de sua casa.
Não praticava esportes nem tocava um instrumento musical. Não se casou, nem teve envolvimentos românticos dos quais se tenha conhecimento.
Não era fácil ser Newton. Ele formulou as leis universais do movimento e da atração gravitacional, incluindo equações usadas até hoje para mapear as trajetórias de sondas espaciais enviadas a Marte, descobriu as propriedades espectrais da luz e inventou o cálculo, mas não foi só isso. Sir Isaac tinha outra paixão em tempo integral da qual se ocupava: a alquimia.
As dimensões de seus estudos alquímicos estão vindo à tona apenas agora, à medida que historiadores da ciência reveem os escritos extensos de Newton sobre o tema -mais de 1 milhão de palavras dos arquivos newtonianos que, até agora, vinham sendo em grande medida ignorados.
Como é possível que o homem que disputa com Albert Einstein o título de maior físico da história tenha se deixado envolver de tal maneira por uma ilusão medieval?
Na opinião de William Newman, professor de história e filosofia da ciência na Universidade Indiana, havia razões para que se levasse a alquimia a sério, motivos para acreditar que compostos pudessem ser decompostos, chegando-se a seus componentes básicos, e que esses componentes pudessem então ser reconfigurados em substâncias outras, mais desejáveis.
Mineiros estavam arrancando do solo feixes emaranhados de cobre e prata com formatos semelhantes aos caules de plantas, sugerindo que veios de metais e minerais proliferavam debaixo da terra com pujança quase vegetal. Lagoas encontradas em volta de outras minas pareciam possuir propriedades extraordinárias.
Quando se mergulha uma barra de ferro nas águas azuis das fontes vitriólicas da Eslováquia moderna, por exemplo, ela emerge com brilho de cobre, como se as partículas escuras e opacas da barra original tivessem sido reinventadas com novos elementos. "Fazia sentido que Newton acreditasse na alquimia", disse Newman. "A maioria dos cientistas experimentais do século 17 acreditava."
Newman argumenta que as investigações alquímicas de Newton ajudaram a resultar em uma de suas descobertas importantes na física: a de que a luz branca é uma mistura de raios coloridos.
Com os solventes certos e as reações perfeitas, pensavam os pesquisadores, deveria ser possível reduzir uma substância a seus componentes básicos e então criar configurações novas desses componentes.
A descoberta de veios de metais com aparência de árvores e raízes, feita por mineiros, levou os alquimistas a concluir que os metais não apenas deveriam crescer embaixo da terra, mas amadurecer ali.
Não poderia o chumbo ser prata ainda não maduro? Não existiria uma maneira de fazer com que as raízes metálicas desenterradas brotassem no laboratório?
Na verdade, não. Se os veios minerais, às vezes, se assemelham a ilustrações botânicas, isso pode ser atribuído à natureza liquefeita da Terra e à mecânica dos fluidos.
Mas os alquimistas tiveram triunfos, como a invenção de pigmentos novos e brilhantes. O laboratório químico tomou o lugar da horta dos mosteiros como fonte de medicamentos.
Os alquimistas também se tornaram especialistas em identificar fraudes. Foi um alquimista renomado quem comprovou que as propriedades supostamente milagrosas das fontes vitriólicas não tinham relação alguma com a verdadeira transmutação. Na realidade, o vitríolo da água, ou sulfato de cobre, fazia átomos de ferro na superfície de uma barra de ferro submersa passar para a água, deixando poros que eram rapidamente ocupados por átomos de cobre presentes na fonte.
Newton mostrou-se igualmente intolerante com fraudes quando, em seus últimos anos de vida, ocupou o cargo de mestre da Casa da Moeda.
"Ele era brutal", comentou Mark Ratner, químico de materiais da Universidade Northwestern, em Evanston, Illinois. "Sentenciou pessoas à morte por tentarem raspar o ouro da superfície de moedas."
Isaac Newton pode ter sido o melhor cientista de todos os tempos. Mas que ninguém se iluda, disse Ratner: "Ele não era um sujeito legal".

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Paranoia Sistêmica

Delírio - Pintor espanhol Salvador Dali explorou o tema em quadro de 1935


Título da obra ilustrativa: Paranoid Visage
Por Christian Dunker, da Revista Cult


“Pai, nunca deixe o computador saber que você está com pressa.” Fui surpreendido por esse comentário no contexto que o leitor pode facilmente adivinhar. Sabemos que as máquinas não têm vontade própria nem desejo de nos prejudicar. Estamos cientes de que o trânsito não piorou repentinamente só porque temos um compromisso, mas, mesmo assim, se os óculos sumiram… é porque alguém pegou de propósito só para nos atrapalhar. O sentimento de perseguição prevalece sobre fatos, motivos ou razões. Ele produz a certeza de que alguém nos subtraiu aquele pedacinho de satisfação que falta para que nossa vida realmente valha a pena e sejamos afinal reconhecidos em nossa predestinada grandiosidade. E, ademais, não é porque você se sente paranoico que não tem alguém de fato te perseguindo.

Existe uma forma clínica da paranoia, descrita por Kraeplin em 1904, caracterizada por um desenvolvimento delirante insidioso e inabalável. O que atraiu a atenção dos clínicos é o fato de que tal sistema paranoico pode alcançar um grau inusitado de coerência, clareza e organização. Uma pequena ideia infiltra-se no sujeito estabelecendo uma crença inabalável de ciúme, grandeza ou perseguição. Há formas paranoicas que se desenvolvem em torno de pequenas sensações corporais, que funcionam como uma epifania. Há um tipo clínico baseado na convicção de que, mesmo que o outro diga que não está tão a fim de você (como no filme homônimo), no fundo ele está apaixonado, mas não sabe disso, ou não pode revelar isso ao mundo ainda (erotomania).

A paranoia não é apenas compatível com a inteligência, mas pode aparecer como uma elevada capacidade cognitiva. Salvador Dalí propôs que a paranoia era um fenômeno de hipertrofia do conhecimento e que poderia ser usada como método crítico para a criação artística. Lacan, antes de se tornar psicanalista, descreveu uma nova forma de paranoia, mais benigna que a de Kraeplin, que ele chamou de paranoia de autopunição. Nela vigora o sentimento de agressividade e desconfiança que aspira se resolver em um ato que ataca a imagem mesma que o sujeito cultiva como seu ideal – talvez como o assassino de John Lennon.

Biopolítica


A paranoia clínica nos ajuda a entender algo sobre a paranoia sistêmica de nosso cotidiano. Sentimo-nos perseguidos por objetos ou circunstâncias que representam, eles mesmos, “o sistema”. Processos informáticos, sistemas de circulação (como o trânsito) e automatismos mentais (no sentido de discursos que repetimos sem nos darmos conta) são metáforas que sintetizam nossa forma de vida baseada na administração de si como uma empresa, ao modo do que Foucault chamou de biopolítica. Ou seja, sentimos que as máquinas se voltam contra nós não porque elas são alienígenas que representam uma forma de vida destituída de humanidade, graça ou espontaneidade, disposta a vampirizar invejosamente nossas almas, mas porque elas passam a representar o ideal acabado de nós mesmos – como coisas que funcionam ou não funcionam. Coisas que aspiramos que venham nos punir para nos lembrar de nossa humanidade perdida.

Sistemas abstratos falham na única hora em que não podiam falhar. Fazem greve, adquirindo magicamente um desejo de resistência que não encontramos mais em nós mesmos. Dessa forma, não precisamos nos revoltar contra horários de trabalho estúpidos, processos impessoais de exploração ou rotinas imorais de convivência: as máquinas se revoltam por nós. Quanto mais nos sentimos apenas funcionando, de tal modo que nossa vida se resume à integração e ao ajustamento em processos sistêmicos, baseados no risco econômico, na conformidade social ou nas regras de biossegurança, mais a paranoia sistêmica tende a nos lembrar da inversão de papéis que estamos a produzir. Daí que ela seja um fenômeno crescente entre pessoas que vivem suas vidas de forma excessivamente institucionalizada (voluntária ou involuntariamente). Talvez não seja um acaso que um dos paranoicos mais famosos, Daniel P. Schreber, tenha sido um jurista em meio ao altamente complexo, impessoal e burocrático sistema estatal alemão do século 19. Coincidência ou não, seu pai foi um pedagogo crente e confiante nas máquinas de ensino e nos métodos para viver a vida.

Ao contrário da paranoia clínica, o tratamento da paranoia sistêmica é fácil de prescrever, mas difícil de executar. Bastaria recuperar a capacidade de nos reconhecermos nos processos, métodos e sistemas que construímos para nossa própria existência, inventando experiências produtivas de indeterminação. Mas quem vai querer assumir riscos em vez de permanecer casado com sua própria paranoia doméstica?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Gentileza: simples fórmula da longevidade

 
Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB

Hoje em dia, cuidados constantes com a saúde, prática regular de exercícios físicos e alimentação balanceada podem não ser os itens suficientes para nos ajudar a viver mais. Uma pesquisa recente, intitulada “Sobrevivência do mais gentil”, desenvolvida pelo Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, vem defendendo que atitudes de carinho, respeito e atenção com o próximo não só nos deixam mais felizes, como também nos ajudam a viver mais.
O fato de nos importarmos com o outro e cooperar para o seu bem-estar aumenta a felicidade, favorece a saúde mental e afasta a depressão. Além disso, a pesquisa mostra que pessoas solidárias têm menos probabilidade de sofrer de doenças crônicas e o sistema imunológico tende a funcionar melhor. O certo é que, se afastarmos o medo, mágoas e ressentimentos, e praticarmos o amor altruísta pelos outros, será mais fácil manter as emoções reguladas, causando um impacto positivo na saúde.
Para algumas pessoas isso pode ser simples, inerente. Para outras, nem tanto. Oferecer o lugar no ônibus, pagar a passagem para alguém, visitar um asilo de idosos, oferecer um café ou um lanche, carregar a bagagem para um estranho, ouvir as pessoas com atenção, acompanhar alguém no hospital, são alguns exemplos de práticas positivas e gentis.
As “palavrinhas mágicas” que aprendemos quando crianças, como “por favor”, “licença” e “obrigado”, podem ser acompanhadas de exemplos de gentileza, que são transmitidos de pais para filhos, de tios para sobrinhos e assim por diante. Dessa forma, será mais fácil aprender a “fazer o bem, sem olhar a quem” desde cedo, criando crianças ainda mais saudáveis e felizes.
Mas lembre-se: nunca é tarde para começar a incluir ações de gentileza no dia-a-dia. Isso pode se tornar uma prática constante e benéfica, não só para os outros, mas também para nós mesmos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Repente pra Gente começa hoje em Campina Grande

João Paraibano - O autodidata oriundo de Princesa Isabel é um dos destaques do evento


Por  Severino Lopes, do Diário da Borborema

Para quem gosta de cantorias de pé de parede e aprecia a arte do improviso e do repente, a opção a partir de hoje, em Campina Grande, é um festival que será realizado em praça pública. Os poetas declamadores, violeiros e alguns dos chamados "gigantes do repente" vão estar na cidade participando do 4º "Repente pra Gente". O Encontro acontece hoje e amanhã, na praça da Bandeira, e reunirá alguns do melhores repentistas do país, num grande show de improviso. A expectativa é que mais de 1.500 pessoas assistam o festival que, pelo segundo ano seguido, será realizado durante dois dias. "A iniciativa tem crescido muito e este ano deve superar as expectativas", apostou o poeta declamador Iponax Vilanova.
 
Inserido dentro das comemorações dos 146 anos de emancipação política de Campina Grande, o festival contará com a participação de onze duplas de violeiros, representando estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. "Será um grande encontro de poetas violeiros e declamadores", observou. O festival mais uma vez testará o poder de improvisação dos poetas repentistas. Isso porque eles saberão o que vão cantar, mas não o assunto que irão abordar transformando-o em poesia. O tema a ser abordado por cada dupla será conhecido no momento da apresentação.

O apresentador Iponax Vila Nova subirá ao palco, chamará a dupla e depois pegará o tema dentro do envelope. A partir daí, o violeiro e a viola fazem sua parte. "O cantador de viola precisa estar bem informado sobre temas da atualidade", explica Iponax. Entre os temas propostos pelo festival, os poetas repentistas vão versar sobre "saudade", "internet", "coisas do Nordeste", "amores", "meio ambiete" e "futebol",  entre outros. "Por estarmos em pleno processo eleitoral, o tema política foi abolido da lista. Cada dupla terá um tempo de 20 minutos para fazer a sua apresentação", informou.

Com o intuito de resgatar e promover a cantoria popular, o 4º "Repente pra Gente", será aberto às 18h. Após a abertura, a voz dos violeiros e as violas começam a ecoar o som do Nordeste.
 
A primeira dupla a se apresentar será Sílvio Granjeiro (CE) e Damião Enésio (PE). Depois subirão no palco armado na Praça da Bandeira as duplas Maximino Bezerra (PE) e Diomedes Mariano (PE), Louro Branco (CE) e Miro Pereira (RN), Rogério Meneses (PB) e Severino Feitosa (PE) e Antonio Lisboa e Edmilson Ferreira Ferreira (PI), estando a programação prevista para ser concluída por volta das 21h.

No segundo dia, a primeira dupla a subir ao palco será Antonio José e Edvando Nogueira (PE). Em seguida, Edezel Pereira (PB) e Jorge Macedo (CE), Edvaldo Zuzu (PE) e Zé Galdino (PE), Raimundo Caetano (PB) e Daniel Olimpio (PE) e João Paraibano (PB) e Zé Cardoso (RN).
 
Iponax Vilanova explica que eventos que resgatam e valorizam a cantoria vêm acontecendo em Campina Grande desde 1974 e a cidade não poderia ficar este ano sem mais uma versão desta festa do repente. Os vencedores receberão troféus.

A cantoria, por conta do improviso, é uma das artes mais complexas dentre todas as expressões populares do Nordeste. Além do improviso, o violeiro deve cantar rimando, metrificando as estrofes e mantendo a coerência no assunto que está sendo declamado na ocasião.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Reciclagem também é caridade

Por Giuliana Rodrigues, da ASCOM/UEPB


Que a reciclagem é um dos temas do momento, ninguém duvida. O que poucos enfatizam é a importância econômica e social que ela desempenha, não só para o meio-ambiente, mas para uma infinidade de famílias do mundo inteiro. Se perguntarmos qual o destino do lixo que sai de sua casa ou apartamento, o que você irá responder? O cesto do quintal, do edifício, ou o lixão do município?
Até que cheguem aos aterros sanitários, aqueles sacos plásticos com os restos que não nos servem mais são vasculhados muitas vezes. Nesse processo, eles são desviados, coletados, separados e processados por personagens fundamentais na reciclagem: os catadores de lixo. É surpreendente como ninguém lembra deles na hora de jogar fora restos de comida ou material reciclável. 
Além de diminuir o acúmulo de lixo nas áreas urbanas e contribuir para a fabricação de novos produtos a partir da matéria prima reciclável, os catadores sobrevivem do que muitos consideram inútil. Quem nunca viu carroceiros pelas ruas da cidade vasculhando lixeiras? Enquanto os restos de comida são reservados para lavagem de porcos, os metais, vidros, plásticos e papéis são separados para serem vendidos aos atravessadores. É disto que eles retiram seu próprio sustento e de suas famílias.
Nossa participação neste processo é muito importante e a simples iniciativa de separar o lixo seco (inorgânico) do molhado (orgânico) em cestos diferentes antes de jogarmos fora, já configura um grande gesto de amor ao próximo e ao meio-ambiente. 
Quer ir além? Como a maioria dos catadores não usa proteção, frequentemente ocorrem lesões ou infecções pelo manuseio do lixo. Assim, embale os cacos de vidro ou objetos cortantes em grossas camadas de papel e escreva uma advertência antes de se desfazer deles. Isso evitará que outras pessoas se machuquem.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os Nobel brasileiros de Vargas Llosa



Da Revista Cult

Em recente entrevista, o mais novo agraciado com o Nobel de Literatura, o escritor peruano Mario Vargas Llosa disse que pelo menos três brasileiros já deveriam ter recebido o prêmio. Citou Guimarães Rosa, Jorge Amado e Euclydes da Cunha. Rosa, segundo o escritor peruano, teria sido prejudicado pela dificuldade de se traduzir seus textos e Amado, pela popularidade que alcançou.

Sobre Euclydes, o fascínio de Vargas Llosa concentra-se na saga de Os sertões, que o inspirou a escrever A guerra do fim do mundo. A matança de Canudos, episódio histórico que deu origem aos dois livros, foi resultado de um imenso mal-entendido, da incomunicabilidade, intransigência e intolerância dos segmentos modernos e primitivos que fizeram a história da América Latina, na visão do Nobel-2010.

Na última quinta-feira (14) , Vargas Llosa esteve em Porto Alegre, participando do seminário internacional Fronteiras do Pensamento, no auditório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sesc realizará a II Semana Curta Campina




O Serviço Social do Comércio realiza de 18 a 21 de outubro a Semana Curta Campina, que tem o objetivo de divulgar as obras de diretores campinenses e estimular a discussão sobre a produção cinematográfica desenvolvida na cidade. As sessões acontecerão diariamente das 19 às 21 horas. Após o término de cada sessão, o público pode dialogar com os diretores sobre cada curta apresentado, e com isso entender o percurso trilhado para que o filme chegasse ao seu produto final.

A programação da segunda edição da Semana Curta Campina será composta pelo trabalho de dezesseis diretores locais, com obras realizadas em 2010 ou em anos anteriores. Buscando estimular a produção cultural local, o Sesc desenvolve diversas atividades voltadas a sétima arte, que tem por objetivo difundir a cultura cinematográfica e educar o público através da linguagem audiovisual.

Maiores informações podem ser obtidas através do telefone (83) 3341-5800, em www.sesccultural.blogspot.com, ou no Sesc Centro, localizado na Rua Giló Guedes, 650, Santo Antônio.


Confira a programação:


SEGUNDA-FEIRA (18/10)

À minha amiga: um breve relato sobre nós (10’) – André da Costa Pinto

Malassombrado (2’42’) – Rômulo Azevedo

Aos Pedaços (8’) – Taciano Valério

Maria de Kalú (14’) – Carlos Mosca

A chave da maré (15’) - Riccardo Migliore

Sintonize-se (1’) – Jonathas Falcão



TERÇA-FEIRA (19/10)

Borra de Café (18’) – Aluízio Guimarães

Quem é Dirceu? (16’) – Filipe Brito

Banzo Analítico (8’) – Taciano Valério

O baú do amigo do Raul (18’) – Taciano Valério

Amarelo Leite (2’20’’) – Ian Costa



QUARTA-FEIRA (20/10)

A dor Roda (2’47’’) – Luciana Urtiga

Aos vivos (20’) – Paula Guimarães

Bode Movie (11’) – Taciano Valério

Campina Grande City (1’30’’) – Jorge Elô

Desorigem (3’50’’) – Filipe Brito

Enquanto a justiça tarda (16’) – Fabiano Raposo



QUINTA-FEIRA (21/10)

Terra Erma (14’)– Helton Paulino

Correndo Atrás (9’42’’) – Rômulo Azevedo

A Cultura do Repente (15’) - Riccardo Migliore

Batom: meu primeiro beijo (8’38’’) - Altiéres Estevam

A Voz do Poeta (20’) – Diana Reis

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A disputa jurídica e literária em torno do espólio de Franz Kafka

Retrato - Kafka, por Andy Warhol (1980)

Por Elif Batuman - tradução de Paulo Migliacci - do Caderno Ilustríssima

RESUMO
O destino do que resta do espólio do escritor Franz Kafka (1883-1924), conservado por seu amigo Max Brod e de conteúdo ainda desconhecido, é objeto de batalhas jurídicas em Israel. A discussão pela posse dos papéis, reivindicados pela Biblioteca Nacional israelense, se desdobra no questionamento do caráter supostamente sionista de sua obra.
Ao longo de sua vida, estima-se que Franz Kafka tenha queimado cerca de 90% de sua obra literária. Depois de sua morte, por tuberculose, aos 41 anos, em 1924, foi encontrada uma carta endereçada ao amigo Max Brod, em sua escrivaninha em Praga. 
"Querido Max", a carta principiava. "Meu último pedido: tudo que eu venha a deixar [...] na forma de diários, manuscritos, cartas (minhas e de terceiros), desenhos e assim por diante, deve ser queimado sem que ninguém leia". Menos de dois meses mais tarde, desconsiderando o pedido de Kafka, Brod assinou contrato para preparar uma edição póstuma dos romances inéditos do amigo.
"O Processo" foi publicado em 1925, seguido por "O Castelo" (1926) e "O Desaparecido" (ou "Amerika", 1927). Em 1939, levando uma valise repleta de papéis de Kafka, Brod partiu para a Palestina, no último trem a deixar Praga, cinco minutos antes que os nazistas fechassem a fronteira tcheca. Graças, em larga medida, aos esforços de Brod, as parcas e enigmáticas obras de Kafka gradualmente vieram a ser reconhecidas como um dos monumentos da literatura do século 20.

DISPUTAS 
O conteúdo da valise de Brod, enquanto isso, se tornou tema de quase 50 anos de disputas judiciais. Cerca de dois terços do espólio acabaram chegando ao acervo da Bodleian Library, na Universidade de Oxford, e o restante -ao que se sabe, desenhos, diários de viagem, cartas e esboços- ficou em poder de Brod até sua morte, em Israel, em 1968; depois passou para o controle de sua secretária e suposta amante, Esther Hoffe.
Após a morte de Esther, aos 101, em 2007, a Biblioteca Nacional de Israel contestou a validade do testamento dela, pelo qual lega o acervo a suas filhas septuagenárias, Eva Hoffe e Ruth Wiesler. A biblioteca alega ter direito aos documentos, nos termos do testamento de Brod. A contenda vem se arrastando pelos tribunais há mais de dois anos.
Caso seja decidida em favor das irmãs, elas estarão livres para rea-lizar o plano declarado de Esther e vender o acervo, parcial ou integralmente, ao Arquivo de Literatura Alemã, em Marbach.
Também poderão manter a porção que acabe não sendo vendida nos múltiplos cofres bancários que abrigam a papelada, na Suíça e em Israel, bem como no apartamento de Tel Aviv que Eva divide com seus incontáveis gatos.

ÚLTIMA VONTADE
A situação vem sendo repetidamente definida como kafkiana, o que reflete, talvez, a estranheza da ideia de que Kafka possa se tornar propriedade privada de alguém. Pois não foi isto que Brod provou ao desconsiderar a última vontade do autor -o fato de que as obras do amigo pertenciam à humanidade?
Em maio, assisti a uma sessão do tribunal distrital de Tel Aviv sobre o destino da papelada. A Biblioteca Nacional de Israel alega que Brod deixou os papéis de Kafka para Esther como testamenteira, não como herdeira, ou seja: depois da morte dela, voltaram a fazer parte do espólio de Brod. O testamento dele, datado de 1961, especifica que seu espólio literário seja colocado "na biblioteca da Universidade Hebraica de Jerusalém, na Biblioteca Municipal de Tel Aviv ou em outro arquivo público em Israel ou no exterior".
A Biblioteca Municipal de Tel Aviv renunciou a quaisquer direitos sobre o espólio, o que torna a biblioteca da Universidade Hebraica de Jerusalém -hoje Biblioteca Nacional de Israel- a única instituição herdeira especificamente nomeada por Brod.
Os argumentos da biblioteca são prejudicados pela carta de doação que Brod assinou em 1952 e que parece transferir diretamente a Esther Hoffe os papéis de Kafka. As irmãs apresentaram ao tribunal uma fotocópia de duas páginas da carta. Em seguida, a Biblioteca Nacional apresentou ao juiz uma versão da mesma carta, mas com quatro páginas, na qual as duas páginas ausentes da versão inicial pareciam esclarecer as limitações na doação de Brod. Quando o tribunal ordenou uma perícia, as irmãs não apresentaram a carta original.

BUSCAS 
Em 2009, o tribunal atendeu ao pedido da Biblioteca Nacional para que a papelada ainda em posse das irmãs fosse inspecionada e catalogada. Alguns indícios sugerem que os cofres bancários contêm outros documentos que esclareceriam as intenções de Brod quanto aos papéis. As irmãs recorreram, alegando que o Estado não tem direito de realizar buscas em propriedade privada para encontrar documentos cuja existência não possa ser comprovada de antemão.
A audiência à qual compareci não trouxe boas notícias para Eva e Ruth. Seu recurso foi recusado pelo Tribunal de Primeira Instância e pela Corte Suprema, no mês seguinte. No final de julho, um cofre bancário em Tel Aviv e os quatro cofres de Zurique foram inspecionados e tiveram seu conteúdo catalogado.
De início, cinco dos cofres bancários em Tel Aviv resistiram à inspeção. Algumas das chaves, obtidas depois de trabalhosas negociações com Eva, não se encaixaram nas fechaduras. Agora, a maioria desses cofres já foi aberta. De acordo com o jornal israelense "Haaretz", o trabalho nos bancos resultou num "grande volume" de material original de Kafka, incluindo cadernos e o manuscrito de um conto já publicado. O conteúdo específico, incluindo quaisquer documentos que possam vir a esclarecer a questão da propriedade, será tornado público depois que a catalogação for concluída -processo que deve durar mais um mês. Enquanto isso, o mundo continua a esperar.

ESPÓLIO 
A maioria dos especialistas concorda que é improvável que o espólio contenha grandes obras desconhecidas. Por outro lado, Kafka muitas vezes incorporava parábolas lapidares e contos curtos em cartas e diários. Brod publicou tudo o que quis, mas talvez restem algumas "pérolas literárias".
O espólio também interessa muito aos historiadores. O mais recente e ambicioso dos biógrafos do escritor, Reiner Stach, já publicou o segundo e o terceiro dos três volumes de sua biografia. Disse-me que há anos espera pelo acesso ao material contido nos cofres, necessário ao volume 1.
Quatro anos depois da morte do escritor, Brod publicou um romance, "O Reino Encantado do Amor", protagonizado por um personagem moribundo e parecido com Kafka, chamado Richard Garta: "um santo de nossa era" cujo irmão vai parar num kibutz na Galileia oriental e desmascara Richard, postumamente, como sionista fervoroso.
Em 1937, Brod escreveu sua biografia de Kafka, que inclui não só percepções brilhantes sobre sua vida e obra como extensas citações das descrições de Richard Garta em "O Reino Encantado do Amor", propondo a tese de que o escritor estava "a caminho" de se tornar "um perfeito santo", e que suas obras mais ambíguas seriam uma visão religiosa sobre o deslocamento transcendental dos judeus na Europa.
Ainda que a perda de Kafka e da Europa, em poucos anos, pudesse ter conduzido Brod ao desespero, em vez disso ele resolveu fazer dela a fundação de um novo futuro, adotando a duradoura determinação de combinar seus dois temas prediletos -Kafka e o sionismo- numa entidade unificada e capaz de engendrar o futuro.

JÓ DO SÉCULO 20 
Em 1941, Brod publicou um texto no jornal "Davar", que circulava em hebraico, no qual relata sua chegada à Palestina "com apenas um plano": "Defender a memória de meu amigo Franz Kafka, neste país que ele não chegou a conhecer".
Tendo transportado os manuscritos a solo sionista, escreveu Brod, ele já conhecera alguns companheiros "para os quais Kafka é mais do que qualquer outro escritor moderno: é o Jó do século 20".
A relação real de Kafka com o sionismo e a cultura judaica, assim como sua relação com quase tudo o mais, era um tanto ambivalente. Ainda que as tentativas de Brod para converter o amigo ao sionismo fossem fonte de tensão nos anos iniciais de sua amizade, com o tempo a simpatia do escritor pela causa cresceu.
Em 1918, ele expressou sua imagem de um kibutz. A alimentação seria composta apenas de pão, tâmaras e água; não haveria tribunais de justiça.

ESCRITOR SIONISTA 
A interpretação que Brod faz de Kafka, de um sionista "manqué", está sob ataque: se não tecnicamente nos Tribunais de Justiça, certamente no tribunal da opinião pública. "Por que o lugar de Kafka é aqui?", pergunta Mark Gelber, professor de literatura na Universidade Ben Gurion, no Negev. "Porque a empreitada sionista era importante para ele."
Muitos críticos europeus, porém -entre os quais Stach-, têm objeções à visão de Kafka como "escritor sionista ou religioso". "O fato de referências especificamente judaicas serem refletidas em suas obras não o torna um protagonista de uma 'literatura judaica', a despeito da crença de Brod", disse-me Stach. Em vez disso, "sua obra existe no contexto da modernidade literária europeia, e seus textos estão entre os documentos fundadores dessa modernidade".
Para os defensores da venda do espólio à biblioteca de Marbach, o debate gira em torno das condições de armazenagem. "Em Israel, não existe um local que permita conservar os documentos tão bem quanto na Alemanha", declarou Eva Hoffe; Stach corrobora que "os estudiosos de toda parte, exceto Israel, concordam" que seria melhor que a papelada ficasse em Marbach. O arquivo alemão já detém os originais de "O Processo", e seria mais conveniente para os estudiosos contar com todo o acervo num só lugar.
Na batalha entre conveniência e ideais, porém, cada lado fala um idioma diferente. Otto Dov Kulka, professor emérito de literatura cuja especialidade é a situação dos judeus durante o Terceiro Reich, vê o argumento de que Israel não dispõe de recursos para cuidar do espólio como "ultrajante e hipócrita".
Oded Hacohen, advogado de Eva Hoffe, sustenta que "posições morais" sobre a Alemanha são irrelevantes. "As pessoas me perguntam se me incomodo se os manuscritos forem parar na Alemanha", disse. "Mas me incomoda muito mais que refugiados do Holocausto não possam pagar suas contas de luz aqui em Israel."

EVA HOFFE 
Numa tarde, durante minha temporada em Tel Aviv, fui ao apartamento de Eva Hoffe, na rua Spinoza, na esperança de encontrá-la em casa e disposta a conversar com a imprensa.
Localizada num silencioso bairro comercial, a rua Spinoza é ladeada por edifícios de estuque e telhado plano. A fachada do número 23, malcuidada e de um rosa desmaiado, fica parcialmente oculta por uma árvore cujas folhas imensas e lustrosas pareciam estar sendo devoradas por alguma praga. Debaixo da árvore, havia um carrinho de supermercado quebrado e uma bicicleta velha. Por trás de uma grande janela que se projetava da parede, protegida por duas camadas de grades metálicas, via-se uma pilha indistinta de gatos. O alvoroço causado por um passarinho numa das árvores fez com que meia dúzia de gatos olhassem para ela, alongando o pescoço. O vento virou e fui atingida por uma onda de fedor.
Dentro do prédio, o cheiro era ainda mais forte. Bati várias vezes na porta. Havia algo ou alguém se movendo lá dentro, mas ninguém atendeu.
Do lado de fora do edifício, me peguei pensando no que Brod teria achado sobre aquilo. A situação me parecia triste. Era triste que Esther tivesse envelhecido e morrido, e que Eva, a linda menina a quem Brod um dia ensinou piano, agora estivesse atraindo manchetes na França como "a septuagenária maníaca por gatos" que armazena os papéis de Kafka em meio a "miasmas felinos e toxoplasmose angorá". Em seu esforço ostensivo por defender sua privacidade e seus interesses financeiros, Eva vem sendo perturbada dia e noite por jornalistas, e presumivelmente acumulando imensas despesas judiciais.
E é inconcebível que Brod tivesse se deliciado em ver os papéis de Kafka como fonte de décadas de cizânia e se tornado objeto de disputa entre advogados. Talvez se sentisse satisfeito pela fama extraordinária conquistada pelo amigo; mas é graças a essa fama que o escritor deixou de pertencer a Brod. Este sempre soube que não seria possível reter Kafka para sempre, mas jamais se dispôs a encarar o fato; o resultado é a situação que temos.

DOCUMENTÁRIO 
Na minha última noite em Tel Aviv, voltei à rua Spinoza, com o cineasta Sagi Bornstein, que está trabalhando num documentário sobre o caso de Kafka. Encontramo-nos no final do quarteirão, ao anoitecer. Bornstein tinha com ele dois membros de sua equipe e um cachorro de porte médio. Sentamo-nos num banco e a equipe filmou nossa conversa, do outro lado da rua, em meio a alguns arbustos.
"Pois então", disse Bornstein. "Quer bater na porta dela?"
Eu não queria, para ser franca, mas trabalho é trabalho. A equipe saiu dos arbustos e nos encaminhamos até a rua Spinoza. As luzes estavam acesas, embora já passasse das 22h. Bornstein me acompanhou até a porta, mas se postou de modo que não pudesse ser visto pelo olho mágico. Disse que, caso Eva o visse, não abriria a porta.
"Não acho que ela vá abrir", eu disse -e tinha razão. Ouvíamos vozes do lado de dentro. "Está no telefone", disse Bornstein.
Saímos de novo e ele pegou seu iPhone e ligou para Hacohen, o advogado de Eva; os dois conversaram por alguns minutos.
"Faz um ano que estamos tendo a mesma conversa", disse Bornstein, ao desligar. "Ele repete que não posso falar com ela agora. Não diz que 'nunca' vai ser possível -diz 'agora, não'. É como 'Diante da Lei'. A mesma coisa, exatamente."

PARÁBOLA 
Bornstein estava aludindo à famosa parábola, em "O Processo", sobre o homem que quer se ver diante da lei, mas tem a entrada recusada pelo porteiro. O homem pergunta se poderá entrar mais tarde. "É possível", diz o porteiro, "mas agora não", explicando que é apenas o primeiro de uma série de porteiros, cada qual mais forte e temível.
O homem passa horas, dias, anos, sentado à porta, esperando admissão perante a lei. Com seu último suspiro, faz uma pergunta ao guarda: se a lei está aberta a todos, por que ninguém procurou aquela porta durante todos aqueles anos? O guarda diz: "Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora vou embora e fecho-a".1
Bornstein me deu carona até em casa, em sua lambreta. Enquanto acelerávamos em meio ao trânsito, eu pensava em "Diante da Lei" -especificamente nos sentimentos que o homem projeta em relação ao porteiro.
"Durante todos esses anos", escreve Kafka, "o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei."
Quem é Eva Hoffe se não o porteiro, a pessoa a quem observamos sem cessar e que nos parece o único obstáculo à nossa compreensão de Kafka? Na verdade, porém, por trás de Eva há uma sucessão de porteiros, o mais importante dos quais é Brod. E então, quando passarmos por ele, teremos de enfrentar o mais poderoso de todos os porteiros, Kafka em pessoa.

FETICHE
"Quando se trata de Kafka, as pessoas querem loucamente o manuscrito original -não uma cópia ou reprodução fac-similar", me disse certa vez Meir Heller, advogado da Biblioteca Nacional de Israel. "No caso da maioria dos escritores, desde que haja cópias, ninguém mais se importa." Transformamos os manuscritos originais em fetiche porque eles parecem nos oferecer acesso ao Kafka definitivo -o Kafka além de Brod.
Isso, porém, também é uma ilusão. Os manuscritos não são definitivos, porque versões definitivas bem ou mal resultam de prazos, revisores, editoras: coisas que Kafka sempre se esforçou em evitar, ou terminou não tendo, devido ao azar, à tuberculose e à Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Mesmo assim, como o homem na parábola, sempre retornamos à nossa fé na lei. Nas próximas semanas, um grupo indicado pelo tribunal vai concluir a catalogação dos cofres restantes, bem como do material armazenado no apartamento da rua Spinoza.
É apenas questão de tempo para que uma lista seja divulgada e a maior parte do material seja encaminhada a um ou a outro arquivo. Com o último porteiro fora de caminho, estaremos tão perto de Kafka quanto é possível chegar.

NOTAS
- A parábola encontra-se no capítulo 9 de "O Processo", "Na catedral", e aqui é citada conforme a tradução de Modesto Carone, publicada pela Companhia das Letras.

- Este texto foi originalmente publicado no jornal "The New York Times", em 22/9.

- O conteúdo da valise de Brod se tornou tema de quase 50 anos de disputas judiciais. Cerca de dois terços do espólio acabaram chegando ao acervo da Bodleian Library, na Universidade de Oxford, e o restante ficou em poder do amigo até sua morte, em Israel, em 1968

- A maioria dos especialistas concorda que é improvável que o espólio contenha grandes obras de Kafka desconhecidas. Por outro lado, ele muitas vezes incorporava parábolas lapidares e contos curtos em cartas e diários

- "O fato de referências judaicas serem refletidas em suas obras não o torna um protagonista de uma 'literatura judaica', a despeito da crença de Brod", afirma o crítico Reiner Stach. "Sua obra existe no contexto da modernidade literária europeia"

- Por trás de Eva Hoffe há uma sucessão de porteiros, o mais importante dos quais é Max Brod. E então, quando passarmos por ele, teremos de enfrentar o mais poderoso de todos os porteiros, Franz Kafka em pessoa.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A incompreensibilidade do mal


Por Franklin Leopoldo e Silva, da Revista Cult

Se a filosofia é a tentativa de compreensão da condição humana, então a questão do mal ocupa o centro das preocupações – e a marca profunda que a tradição socrático-platônica deixou na constituição da herança filosófica bastaria para atestá-lo. Mesmo quando o questionamento se dá por via de uma racionalidade mais formal e orientada por paradigmas que desprezam as orientações ditas “metafísicas”, o mal não deixa de aparecer como uma constatação inseparável de certa perplexidade, oculta sob a aceitação dos limites da razão e do rigor da argumentação. Mais do que isso, ainda que o cinismo, contemporaneamente tão difundido, nos faça aceitar o mal como realidade dada ou como banalidade, essa pretensa certeza primária não nos isenta do incômodo presente na má-fé inerente ao conformismo e à indiferença ética.

Concepções tradicionais do bem e do mal
A fabulação mítico-religiosa, de que fala Bergson em As Duas Fontes da Moral e da Religião, isto é, o conjunto de representações imaginárias que procuram responder a questões situadas além do alcance da vocação pragmática do entendimento, não possuiria função explicativa, mas, sobretudo, vital: possibilitar a convivência com os acontecimentos incompreensíveis que nos afetam, que nos transformam, que nos fazem sofrer e que podem nos destruir. As adversidades naturais, a ira dos deuses, a culpa originária, os ciclos em que se manifesta a fatalidade: tudo aquilo que não podemos prever ou controlar naturalmente, mas que podemos, talvez eventualmente, conjurar por meio da invocação de forças que nos superam e da observância de interditos que nos lembram da posição relativa que ocupamos no universo.

Mas há também as decisões e ações que derivam de nossa liberdade. Desde Aristóteles, persiste a ideia de que a prática é muito mais complexa do que a teoria, porque no universo das ações não podemos mobilizar e esgotar todos os elementos que nos proporcionariam a certeza do acerto das escolhas. O bem não é demonstrável como a verdade. Tudo que podemos fazer é contar com um discernimento, espécie de sabedoria prática, que empregamos na tentativa de que nossas opções se orientem pelo critério do melhor possível, sem esperar a segurança proporcionada pela dedução da verdade teórica. Por isso o mal nos espreita como presença proporcional ao grau de imprudência a que estamos, inevitavelmente, sujeitos.

A filosofia cristã enfrenta ainda outra dificuldade. Como Deus só pode ser considerado como o bem e causa do bem, a criação está necessariamente impregnada de bondade e perfeição, o que torna o mal inexplicável do ponto de vista da criação divina. A rigor, o mal não deveria existir. Para dar conta de sua presença na experiência humana, Santo Agostinho apela para a diferença entre o relativo e o absoluto. Criaturas limitadas que somos, e inclinadas à corrupção desde o pecado original, não discernimos, em nossas escolhas, o bem absoluto que deveria ser a nossa meta, mas nos contentamos com os bens relativos, exacerbando-lhes a dimensão e o significado, de modo que apareçam como absolutos. Em outras palavras, não distinguimos, via de regra, o fim supremo dos meios relativos pelos quais poderíamos atingi-lo. Assim nunca escolhemos o mal, porque ele em si mesmo não existe; escolhemos um bem menor e o elegemos como o que de maior poderíamos desejar.

O mal no pensamento cartesiano

No racionalismo cartesiano encontramos uma versão moderna dessa concepção. A trajetória de reconstrução da filosofia em Descartes é bem conhecida: a afirmação da existência do eu pensante como evidência que resiste a qualquer dúvida; a prova da existência de Deus, princípio da verdade por ser a garantia das representações claras e distintas a que chega o sujeito. Diante de tão fortes referências metodológicas e metafísicas, como o erro ainda pode acontecer? De modo mais amplo: a partir de Deus como afirmação absoluta da verdade e do bem, como pode ter lugar a negatividade do erro e do mal? A solução de Descartes é engenhosa, muito significativa do ponto de vista da promoção de valores modernos, e consiste numa aplicação peculiar do racionalismo como estratégia de justificação. A faculdade pela qual nos assemelhamos a Deus, já que fomos feitos à sua imagem, não é, como se poderia pensar, o entendimento, e sim a vontade, cujos limites não se pode assinalar, já que o poder de afirmar e de negar estende-se indefinidamente. Se acentuarmos os traços dessa concepção, poderemos dizer que a liberdade humana é infinita. Isso produz um desequilíbrio: sendo o entendimento finito – e mesmo bastante limitado –, a liberdade, isto é, a vontade ilimitada, nos leva a produzir juízos sobre coisas que estão além da compreensão intelectual, caso em que podemos errar e pecar.

A tese é paradoxal: aquilo que nos faz semelhantes a Deus é também aquilo que nos leva ao erro e ao pecado. Mas é também uma estratégia eficiente quanto ao poder explicativo da dificuldade em pauta: Deus nada tem que ver com o erro e o mal, já que não podemos contestar a dimensão finita do entendimento, o que é natural e coerente em criaturas finitas; e muito menos podemos lamentar a liberdade absoluta, que é em si mesma um bem, pois nos remete à nossa origem divina. Com efeito, a desproporção entre intelecto limitado e vontade ilimitada diz muito sobre a nossa natureza: somos criaturas e, nesse sentido, não somos perfeitos; mas somos criaturas de Deus e, nesse sentido, trazemos em nós a marca da perfeição do criador. Ontologicamente, a natureza da criatura traz em si uma divisão: de um lado, a absoluta perfeição do criador, isto é, sua realidade infinita; de outro, o nada de que fomos feitos, ausência de ser e negatividade. Isso permite entender por que podemos desejar tudo e podemos saber muito pouco. E nos ajuda a entender também o aspecto ético da divisão que nos afeta: o ser em plenitude, isto é, o bem, e o não ser, o nada, ausência do bem.

Mas essa desproporção não nos condena ao erro e ao mal. A completa liberdade de que dispomos não apenas nos conduz a afirmar ou a negar qualquer coisa, mas também a suspender o juízo nas circunstâncias em que o entendimento não oferece suficiente respaldo para emitir um juízo. Lembremo-nos do principal preceito metódico: só devo aceitar como verdade representações claras e distintas. Quando não disponho delas, a prudência recomenda permanecer no estado de suspensão de juízo, para não cair em erro. Ora, há que se observar que as verdades da fé estão além do entendimento e, no entanto, são necessárias para orientar eticamente a conduta, pois justificam escolhas e ações que muitas vezes não poderiam ser submetidas à racionalidade do juízo objetivo. Nesse caso, se admito que tais verdades se situam além do poder de conhecimento e, portanto, além da dúvida, devo aceitá-las por via de outros critérios, aqueles que regulam a crença, mesmo porque os fundamentos da crença, como por exemplo a existência de Deus, podem ser submetidos ao crivo da razão.

Aparência racional à prática do mal

Como se vê, a solução cartesiana consiste em mostrar que a liberdade de errar é também a liberdade de não errar; que o estatuto do mal é negativo, posto que provém do que em nós se opõe ao ser e ao bem; e que, se a liberdade for regulada pela razão, valorizaremos aquilo que em nós é positivo, isto é, a verdade e o bem. Esse poder atribuído à razão é coerente com um humanismo racionalista. Mas a experiência histórica indica que a liberdade pode produzir opções que a razão é levada a justificar a posteriori, fenômeno que se designa como racionalização e que, paradoxalmente, faz com que a razão justifique condutas irracionais, caracterizadas pela escolha do mal. Isso porque do fato de que a razão pode limitar a liberdade não decorre que sempre o faça e, portanto, a razão pode desempenhar nessa relação outro papel: conferir aparência racional à prática do mal.

Mas isso não ocorre apenas por via de um equívoco racional; a causa é também uma contradição que pode acontecer no uso da liberdade, quando o indivíduo abdica de sua condição de sujeito da própria liberdade, entregando-a a poderes que o sobrepujam absolutamente. Os grandes exemplos, como se sabe, foram as manifestações de violência do século 20 que produziram os genocídios, isto é, o mal racionalmente administrado: Auschwitz, Gulags, Hiroshima.

Perplexidade e ação
Tais experiências levam-nos a duvidar de que o mal seja apenas a ausência de ser e de realidade, que ele só possa ser indiretamente definido como falta ou privação. Os argumentos racionais, nesse caso, não logram se sobrepor à realidade dos fatos e a situações em que o mal aparece não apenas como dotado de efetividade, mas até mesmo tendendo para o absoluto. Isso acontece principalmente quando o mal governa as relações humanas. O que há de perturbador, nos episódios que citamos, é a dificuldade em distinguir a loucura da razão, a civilização da barbárie, já que eles parecem ser uma fantástica confluência dos dois elementos.

Assim, é a reflexão que nos leva ao espanto, e é este que nos leva às interrogações angustiadas. Como poderíamos reduzir a meras aparências ações como a tortura, o assassinato, a opressão e a dilapidação da dignidade? Se nos sentimos constrangidos e incomodados quando temos de admitir a naturalidade de catástrofes como inundações ou terremotos, como poderíamos considerar que o sofrimento que um ser humano inflige a outro seria apenas a aparência localizada do bem em sua totalidade? Se temos dificuldade em admitir que o castigo pode ser fruto da justiça divina, como poderíamos entender que a dor e a morte provocadas pelo próprio homem possam estar inseridas numa arquitetônica racional do mundo?

Talvez devamos aceitar o caráter incompreensível do mal, isto é, que, diante dele, o que está em jogo não é explicação ou compreensão, mas sim revolta ou resignação. E que o mal e o bem, na medida em que se referem à nossa liberdade, dizem respeito à afetividade, à relação não reflexiva que mantemos com nós mesmos e com o que nos transcende, sejam os outros, seja Deus. Nesse tipo de relação, em que a negatividade aparece por vezes como uma potência assustadora, é provável que a perplexidade predomine sobre o entendimento, mas é possível também que ela nos mova e nos faça agir tanto ou mais do que o conhecimento.
 

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Liu Xiaobo, preso na China, vence Nobel da Paz

 
  Do Portal Vermelho

O chinês Liu Xiaobo, atualmente na prisão, conquistou, nesta sexta-feira (8), a edição 2010 do Prêmio Nobel da Paz. O anúncio foi feito pelo Comitê do Nobel da Noruega em Oslo, capital do país. O governo chinês condenou a atitude, que classificou como "uma blasfêmia", e assegurou que a concessão afetará as relações de Pequim com a Noruega.

Poeta e professor de literatura, Liu cumpre uma sentença de 11 anos por "subversão do poder do Estado", após assinar um manifesto em 2008 no qual defende uma "reforma democrática" na China. Liu foi escolhido entre 237 nomeados e tem direito a um cheque no valor de US$ 1,6 milhão, aproximadamente R$ 2,68 milhões.

Liu receberá o prêmio "por seu longo trabalho não violento em favor dos direitos humanos na China", disse a comissão da premiação. "O comitê Nobel deliberou largamente antes de tomar essa decisão, que relaciona os direitos humanos e a paz."

O presidente da Fundação Nobel, Thorbjoern Jagland, disse em Oslo que Liu foi premiado porque "por mais de duas décadas tem sido um forte porta-voz pela aplicação dos direitos fundamentais na China", acrescentando que o ativista simboliza o desafio chinês de combinar o seu forte crescimento econômico com maior liberdade de imprensa e expressão.

A Carta 08, manifesto encabeçado pelo ativista, foi assinada por cerca de 300 intelectuais chineses e lançado por ocasião dos 60 anos da Declaração Universal sobre os Direitos Humanos da ONU. O documento foi ainda apoiado por cerca de 12 mil pessoas via Internet. O dissidente participou, além disso, de diversas manifestações públicas de artistas e ativistas em favor dos direitos humanos na China.

Reação

O governo chinês reagiu afirmando que premiação era uma "blasfêmia" e prejudicaria as relações com a Noruega. O país também criticou duramente Oslo depois que o prêmio de 1989 foi dado ao líder espiritual do Tibete, Dalai Lama.

Num primeiro pronunciamento, difundido pela agência noticiosa oficial chinesa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu, reafirmou que Liu Xiaobo "violou a lei da China e foi condenado à prisão por órgãos judiciais chineses".

"O prémio Nobel da Paz devia ser atribuído aos que trabalham para promover a harmonia étnica, a amizade internacional, o desarmamento e os que organizam encontros pacíficos. Esses eram os desejos de (Alfred) Nobel", disse o porta-voz do ministério chinês.

Concedido desde 1901, o Prêmio Nobel da Paz é um dos cinco prêmios instituídos em seu testamento pelo químico e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Ele é escolhido anualmente pelo Comitê do Nobel da Noruega, formado por cinco pessoas nomeadas pelo Storting, o Parlamento norueguês. Entre os vencedores do Nobel da Paz, muitas vezes controverso, estão nomes como Al Gore, Kofi Annan, Yasser Arafat e Nelson Mandela.

No ano passado, quem venceu foi o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A indicação causou surpresa e reação em várias partes do mundo, já que o norte-americano nada tinha feito para encerrar os conflitos no Iraque e Afeganistão ou desativar a Quarta Frota, por exemplo.
 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um gênio que soube decifrar o mundo

Por Cristiano Castilho, da Gazeta do Povo

O que John Lennon estaria fazendo se estivesse vivo? No próximo sábado, o sujeito dos óculos redondos completaria 70 anos de vida e de música. Talvez compondo músicas pop perfeitas em uma casa no interior da Inglaterra? Em Nova York, apoiando a retirada das tropas norte-americanas do Iraque? Participando da abertura de alguma exposição cult de Yoko Ono? Ou – a melhor das hipóteses – se preparando para tocar junto com Paul McCartney no Brasil, em novembro?

Personalidade das mais influentes do século 20, o britânico descendente de irlandeses é a cara de muita coisa e símbolo para muita gente. Pode também ser chamado de gênio. Músico e escritor, ativista e defensor da paz, John Lennon foi um eterno inconformado. Com o amor, com a política, com as artes, com a música, com a família e, a partir de 1966, até com Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, os utopicamente inseparáveis companheiros de banda.

Para o jornalista e crítico musical Tárik de Souza, o espírito contestador e irriquieto de Lennon encontraria um fim parecido com o que realmente aconteceu em 8 de dezembro de 1980, quando foi assassinado por Mark Chapman.

“Se tivesse escapado da morte em 1980, ele dificilmente sobreviveria a um franco atirador durante o governo Bush Jr. Principalmente se colocasse numa canção a tese do cineasta Michael Moore sobre a ligação das famílias Bush e Bin Laden”, diz Souza.

Mas, antes do inconformismo político, estava a arte. John Lennon é o criador de músicas indiscutíveis, como “Dear Prudence”, presente no The White Album, de 1968. Mas também, não esqueçamos, da bobinha, porém importante “She Loves You” (esta em parceria com Paul), lançada em um compacto em 1963 e que ficou no topo das paradas da Inglaterra e Estados Unidos por cerca de 14 anos. John Lennon era humano.

“Lennon conseguia inserir reflexões profundas na necessariamente rasa e ligeira música pop. Para medir sua amplitude é só dar a volta ao planeta. Sua música atingiu todas as classes e permanece viva, a despeito da atual lavagem cerebral pelo excesso de informações supérfluas”, diz o crítico.

Dois pontos são cruciais para tentar destrinchar John Lennon. Um é a família. Filho único de Alfred e Julia Lennon, John teve uma infância conturbada. O pai trabalhava na marinha mercante e era ausente. A mãe vivia com um sujeito chamado Bobby Dykins. Até que sua tia, Mimi, ainda que de forma não definitiva, conseguiu a guarda do garoto que já arranhava o violão – mas foi Julia, homenageada na canção homônima que fecha o primeiro disco do The White Album, quem ensinou os primeiros acordes a John.

Outro ponto foi a incrível capacidade de Lennon para acompanhar o mundo. Com os Beatles, reinventou a música pop ao criar canções que começavam pelo refrão (caso de “Help!” e “She Loves You”) ou de dar novo frescor às músicas estilo pergunta-resposta, comum em décadas anteriores a 1960, mas já em decadência.

Outro exemplo: na fase lisérgica, que culminou com o lançamento do magnífico Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), John, ao contrário de Paul, abraçou a ideia prontamente.

Quando o mundo pedia o fim da Guerra do Vietnã, já no fim da década de 1960, John usou sua fama para protestar também, com canções (“Give Peace a Chance”, de 1969), e intervenções das mais ousadas, como a que ocorreu em Amsterdã, quando ele e Yoko permaneceram por uma semana na cama de um quarto de hotel. Yoko, aliás, é outra prova do passo a frente de John, já que a japonesa, na época, foi tratada como uma artista plástica incompreensível.

“Lennon era capaz de transformar acontecimentos em música, sem cair no mero panfletarismo. Mesmo quando fazia proselitismo, não perdia a mão pop”, diz Tárik de Souza.

Até no período pós-Beatles – John Lennon disse que “queria um divórcio” do grupo em 1968 –, a singularidade do gênio se revela. Em 1970, Ringo Starr lançou o chocho Beaucoup of Blues; Paul, o melancólico McCartney; George, o pop All Things Must Pass, e John se saiu com o cru e esquisitão Plastic Ono Band.

Para o bem ou para o mal, Lennon não esqueceu seus ex-companheiros. Na música “How Do You Sleep?”, canta “The only thing you done was Yesterday” [a única coisa que você fez foi “Yesterday”], desferindo um golpe certeiro em Paul ao referir-se à canção deste que ele mais gostava -- e que ele afirma ser a única coisa boa que Paul fez. Era assim o polêmico visionário de indefectíveis óculos redondos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sesc promoverá doze horas ininterruptas de arte em Campina Grande


Da Assessoria do Sesc Centro/CG

Várias modalidades artísticas, doze horas seguidas de cultura e um só lugar. O Serviço Social do Comércio da Paraíba realiza nos dias 23 e 24 de outubro, em Campina Grande, o II Overdoze, que consiste em doze horas ininterruptas de teatro, dança, música, cinema, artes plásticas e literatura. O evento marca o encerramento da VII Mostra Sesc Ariús de Teatro de Rua, e acontece a partir das 18 horas do dia 23, encerrando na manhã do dia 24. As inscrições para os espetáculos interessados estão abertas e devem ser realizadas até o dia 8 de outubro na unidade do Sesc Centro Campina Grande, ao custo de dois quilos de alimento não perecível.

O Overdoze é uma das atividades satélites do projeto Palco Giratório, na qual acontecem apresentações de esquetes teatrais, danças, capoeira, maculelê, músicas, cinema (curta-metragem), poesia dramatizada e artes plásticas, que serão realizadas utilizando os diversos espaços do Sesc Centro Campina Grande. Além disso, será servida durante todo o evento uma ceia com vários tipos de sopas, caldos, sanduíches e um tradicional quentão.

O objetivo desta iniciativa é integrar a classe cultural de Campina Grande, abrindo espaço para apresentações e artistas locais, despertando a produção não apenas no município, mas em toda a região. Cada apresentação terá a duração máxima de vinte minutos, seja inédita ou não.


Para se inscrever e participar da seleção, o artista deve ler o regulamento do Overdoze, que está disponível no site www.sescpb.com.br, e entregar na unidade do Sesc Centro todo o material necessário: ficha de inscrição preenchida, release do espetáculo, texto (no caso de esquete) ou roteiro (performance), autorização de encenação, sinopse, currículo do grupo ou artista, ficha técnica atualizada, fotos e relação nominal dos integrantes, além dos dois quilos de alimento não perecíveis por esquete ou performance. O resultado dos trabalhos selecionados para participarem do evento será divulgado no dia 11 de outubro no portal institucional da entidade.

Mais informações podem ser obtidas através do telefone (83) 3341-5800, no blog www.sesccultural.blogspot.com ou na própria unidade, que fica localizada na Rua Giló Guedes, 650, Santo Antônio, em Campina Grande.