quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Índios wajãpis transformam arte gráfica em bússola do saber

 
Os wajãpis, que pertencem ao grupo étnico linguístico tupi-guarani, são uma população indígena do norte da amazônia. Os 580 membros que compõe atualmente esta comunidade vivem em cerca de 40 aldeias agrupadas num território protegido no estado do Amapá, no norte do Brasil. Os wajãpis tem uma antiga tradição que consiste em utilizar tintas vegetais para adornar seus corpos e outros objetos com motivos geométricos.

Com o passar dos séculos eles vem desenvolvendo uma linguagem única, uma mistura de artes gráficas e verbal, que reflete sua própria visão particular do mundo e mediante o qual transmitem os conhecimentos essenciais da vida da comunidade.

Esta arte gráfica única, conhecida pelo nome de kusiwa, é feita com tinta vegetal vermelha que se extrai de uma planta do amazonas, o urucum, e com resinas perfumadas. A arte kusiwa é tão complexa que os wajãpis consideram que a competência técnica e artística necessária para dominar o desenho e preparar as tintas não é alcançada antes dos 40 anos. Os temas mais recorrentes são a onça, a sucuri, a borboleta e o peixe. Os desenhos kusiwa evocam a criação do gênero humano e ganham vida através de um rico corpo de mitos.

Esta forma artística corporal, diretamente vinculada às antigas tradições orais ameríndias, possui vários significados de diferentes níveis sociológicos, culturais, estéticos, religiosos e metafísicos. A kusiwa constitue a estrutura genuína da sociedade wajãpi e seu significado vai muito além de sua função de arte gráfica. Abarca um sistema vasto e complexo com uma maneira original de compreender, perceber e estar em interação com o universo. Esse repertório codificado de conhecimentos tradicionais evolui de forma permanente por que os artistas indígenas renovam constantemente os temas, inventando novos padrões.



Do Portal Vermelho

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Morto há 50 anos, Camus resistiu às promessas e utopias políticas de seu tempo

No Brasil, 1949: "Homem lançado sobre uma terra cujo esplendor e cuja luz lhe falam sem trégua de um Deus que não existe"

Por Manuel da Costa Pinto, editor dos programas Entrelinhas e Letra Livre - TV Cultura (da Revista Cult)

Comentando a obra do escritor Albert Camus - que morreu há 50 anos, num acidente de automóvel em 4 de janeiro - o crítico João Alexande Barbosa escreveu:

"Desde Núpcias até a conferência de Uppsala, é possível traçar uma linha de coerência para com o fragmento, que termina por emprestar à obra uma feição incômoda de inconclusão para aqueles que desejam sempre a segurança dos sistemas classificatórios. Para esses, Camus sempre deixou de dizer alguma coisa. O seu mundo não era nem podia ser esgotante porque sobretudo pretendia ser verdadeiro. Feito de sugestões, pesquisas, avanços e recuos, era um mundo dialético por natureza. Se no discurso que pronunciou na Suécia é possível apontar a dimensão de um escritor já amadurecido na sua arte, não é menos possível mostrar a sua fidelidade para com o mundo corajosamente inseguro que construiu. Daí uma espécie de eterno retorno que é constante em sua obra: cada novo livro oferece a possibilidade para melhor compreensão de um anterior. Mas quando esperamos o fechamento do círculo, eis que as cordas se desatam e novamente começa o jogo difícil da procura. Por isso, Jean Starobinski pôde escrever: 'Camus pertencia menos a seus livros do que à tentativa que lhes sucedia, e que colocava novas questões'."

A obra de Camus sempre girou em torno de alguns temas ou obsessões, examinados a partir de gêneros diferentes: ficção, teatro, ensaio. E cada um deles, por sua vez, recapitula as origens de uma intuição, de uma disposição fundamental, que começa a se delinear em sua Argélia natal.

Camus é conhecido como o "filósofo do absurdo", que teria dado à sua percepção do confronto entre o desejo de clareza do homem e a opacidade do mundo (em O Mito de Sísifo) uma dimensão romanesca e teatral (em livros como O Estrangeiro e A Peste e em peças como Calígula e O Mal-entendido). Essa repartição da obra camusiana é muito semelhante àquela encontrada na obra de Jean-Paul Sartre, também ele um escritor e pensador que abordou temas como consciência e contingência em ensaios ( O Ser e o Nada), romances (A Náusea) e peças ( Entre Quatro Paredes).

Por causa disso, da amizade entre ambos e de certas coincidências intelectuais e biográficas (como a questão do engajamento e a Resistência ao nazismo), Camus se viu a contragosto associado ao existencialismo de Sartre. Enquanto a situação política do pós-guerra sustentou interesses comuns, essa vinculação não foi tão incômoda. Com o acirramento da Guerra Fria, porém, as diferenças se acentuaram, culminando na ruptura entre ambos após a polêmica em torno de O Homem Revoltado, livro de 1951 em que Camus faz uma crítica aos movimentos revolucionários que transformam a história num fim em si mesmo, legitimando a violência em nome da eficácia política - atitude filosófica à qual haviam aderido Sartre e Maurice Merleau-Ponty (este último, ao menos, no livro Humanismo e Terror).

Tais divergências, contudo, não eram apenas de ordem ideológica. É verdade que tanto Sartre quanto Camus escreviam ficção em diálogo cerrado com suas concepções ensaísticas e que a "náusea" sartriana se assemelha ao absurdo - a tal ponto que a própria definição que dele nos dá Camus, em O Mito de Sísifo, faz referência explícita ao filósofo existencialista: "Esse mal-estar diante da inumanidade do próprio homem, esta queda incalculável diante da imagem do que somos, esta 'náusea', como a denomina um autor de nossos dias, é também o absurdo".

A diferença fundamental é que aquilo que Sartre denominou de "náusea" é a representação ficcional (no romance homônimo) do movimento da consciência, de sua descoberta da indeterminação do ser em contraste com a viscosa fixidez das coisas, ao passo que Camus cria a "noção de absurdo" depois de ter experimentado o "sentimento do absurdo".

E este, por seu turno, se esboça não a partir de uma pesquisa sobre a estrutura do ser ou da intencionalidade da consciência (como ocorre com Sartre a partir de Husserl e Heidegger), mas de uma sensação de "divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e seu cenário", que começa a se insinuar nos textos de feição autobiográfica, a meio caminho entre o ensaio e a ficção, que Camus publica na juventude.

Celebrações hedonistas

Nascido em Mondovi (província argelina de Constantine) em 1913, Camus passou a infância em Belcourt, um bairro pobre de Argel, entre banhos de mar, "peladas" em que brilhava como goleiro e devaneios alimentados pelos livros do tio Acault, um açougueiro erudito que lia Balzac, Gide e Valéry.

Essa vida socialmente miserável, porém inundada pela opulência do sol mediterrâneo, acabaria por moldar um temperamento ao mesmo tempo austero e marcado pelo apego físico àquilo que está destinado a desaparecer. Resultam daí seus dois primeiros livros: as ficções breves, quase ensaísticas, de O Avesso e o Direito (1937) e os relatos de Núpcias (1939), sobre suas andanças por cidades da Argélia e da Itália (num registro lírico que ele iria retomar anos depois em O Verão, de 1954).

Entre celebrações hedonistas do mar e da paisagem mediterrânea ("Aqui, compreendo o que se denomina glória: o direto de amar sem medida", escreve ele diante das ruínas romanas de Tipasa, no litoral magrebino), vemos surgir em germe aquele travo do sentimento do absurdo. Camus fala da "confrontação de meu desespero profundo e da indiferença secreta de uma das mais belas paisagens do mundo" ( O Avesso e o Direito) e desse "homem lançado sobre uma terra cujo esplendor e cuja luz lhe falam sem trégua de um Deus que não existe", para então concluir: "Que acordo mais legítimo pode unir o homem à vida do que a dupla consciência de seu desejo de durar e de seu destino de morte?" ( Núpcias).

Tais passagens antecipam O Mito de Sísifo (1943) e sua tentativa de "sistematizar" essas intuições a partir da tonitruante frase inicial - "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio". É curioso notar que, para tratar de um assunto que no fundo remete a temas do pessimismo clássico (gratuidade, derrelição, disparate), Camus tenha de falar de um gesto extremo como o suicídio, quando poderia se limitar a expor nossa incapacidade para compreender as essências para além das aparências.

Ocorre que "o absurdo não está no homem (...), nem no mundo, mas em sua presença comum", ou seja, no contraste entre nosso "apetite de unidade" e a "hostilidade primitiva do mundo". Portanto, Camus recusa tanto o suicídio (que aboliria o absurdo sem resolvê-lo) quanto as filosofias existenciais (Chestov, Kierkegaard, Husserl, Heidegger, Jaspers) que conduzem à reconciliação com o absurdo e, portanto, ao "suicídio filosófico". Sua conclusão é a aceitação do absurdo como condição humana - mas uma aceitação que não se confunde com resignação: "O absurdo só tem sentido na medida em que não consentimos nele".

"Ponto zero"

Essa tensão perpétua, cuja face luminosa já aparecera nos textos de O Avesso e o Direito e Núpcias, ressurgiria, quase ao mesmo tempo que O Mito de Sísifo, na peça Calígula (em que o imperador, transtornado com a mortalidade e a infelicidade dos homens, torna-se um cruel assassino para rivalizar com a crueldade dos deuses) e no romance O Estrangeiro (em que uma neutra sucessão de episódios conduz o protagonista Meursault à gratuidade de um assassinato cometido "por causa do sol" e ao cadafalso).

Nas anotações reproduzidas em seus Carnets, Camus referiu-se a essa trilogia sobre o absurdo como "ponto zero" de sua obra ficcional e filosófica - que a partir daí vai se desdobrar na vizinhança da história. Vivendo na França, onde participara da luta ao nazismo como editor do jornal Combat, ele escreve Estado de Sítio (peça ambientada na Espanha nos moldes dos autos medievais) e o romance A Peste, no qual a cidade de Oran sitiada pela epidemia é uma alegoria da Resistência, mas também uma fábula cautelar que se aplica a outras formas de hipnose ideológica.

E foi contra o elixir das utopias (e contra o vírus totalitário que estas contêm) que Camus escreveu O Homem Revoltado, libelo político no qual contrapõe a revolução (que "consiste em amar um homem que ainda não existe") à revolta, que consiste em se solidarizar com um homem e com um mundo já existentes.

E como esse homem e esse mundo haviam sido descritos segundo aquela intuição sobre o absurdo, O Homem Revoltado parece sintetizar a complementaridade entre suas obras ficcionais e não ficcionais: "Este ensaio se propõe a prosseguir, diante do assassinato e da revolta, uma reflexão começada em torno do suicídio e da noção de absurdo. O mal que apenas um homem sentia torna-se peste coletiva".

Mas, como afirmou João Alexandre Barbosa, "quando esperamos o fechamento do círculo, eis que as cordas se desatam". Sob o impacto de sua ruptura com Sartre, por causa de O Homem Revoltado, e de sua dilacerante hesitação durante a guerra de libertação da Argélia (filho de operários pobres, Camus não se via na pele do colonizador francês e queria preservar o convívio multiétnico de seu país), ele escreve a novela A Queda, peça de acusação (e de autoacusação) contra a soberba dos guias de consciência, na figura de um "juiz-penitente" que se apresenta como "profeta vazio para tempos medíocres" e expõe suas culpas e vaidades para cancelar qualquer possibilidade de ajuizamento.

Seria o caso de dizer que, após o lirismo dos ensaios de juventude, da tragédia solar de O Estrangeiro e do mundo enclausurado de A Peste, Camus desvela com A Queda os aspectos mais sombrios (porque moralmente ambíguos) da equivalência e da gratuidade impostas às coisas por sua percepção do absurdo. Porém, ao morrer, três anos após receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1957 (quando profere a conferência de Uppsala), ele deixava inacabado um romance que de alguma forma retornava a suas raízes mediterrâneas.

Escrito em chave autobiográfica, com várias personagens e passagens identificáveis em sua trajetória pessoal, O Primeiro Homem possivelmente sofreria modificações nas mãos de um autor avesso ao tom confessional. Mas resta dessa peregrinação às origens um ethos que percorre sua obra, a altiva austeridade de uma comunidade de homens indiferentes às promessas e utopias políticas: "incapazes de conceber a vida futura, a tal ponto a vida presente parecia-lhes a cada dia inesgotável sob a proteção das indiferentes divindades do sol, do mar ou da miséria".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Centro de Humanidades divulga aprovação de alunos em mestrados

Na última seleção para os Mestrados em Geografia das universidades federais de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul, (UFPE, UFRN e UFMS), o curso de Geografia do campus III da UEPB, em Guarabira, obteve a aprovação de seis estudantes oriundos do Centro de Humanidades (CH).

São eles:

UFPE - Antoniele P. da Cunha;
UFRN - Marcio Balbino Cavalcante;
UFRN - Filipe Mendes Henrique;
UFRN - Ana Carla dos Santos Marques;
UFRN - Samia Erika Alves de Caldas Bandeira;
UFMS - Cleityane Sabino Freire.

Os estudantes estão ligados ao Terra - Grupo de pesquisa Urbana Rural e Ambiental/UEPB/CH/CNPq. O professor Belarmino Mariano Neto, diretor do CH, comentou: “Todos os alunos estão de parabéns e nós que apostamos em uma UEPB forte, temos certeza dos feitos e conquistas para além dos nossos muros”.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Filósofo Tzvetan Todorov afirma que a principal função de um professor é ensinar o aluno a amar os livros

Por Anna Carolina Mello e André Nigri (da Revista Bravo)

Nascido em 1939 em Sófia, na Bulgária, e naturalizado francês, o filósofo e linguista Tzvetan Todorov é um dos mais importantes pensadores do século 20. Traduzida para mais de 25 idiomas, sua obra inspira críticos literários, historiadores e estudiosos do fenômeno cultural do mundo todo. Em seu mais recente livro publicado no Brasil, A Literatura em Perigo, Todorov faz um mea culpa raro entre intelectuais. Ele diz que estudos literários como os seus, cheios de "ismos", afastaram os jovens da leitura de obras originais - dando lugar ao culto estéril da teoria. De Paris, ele falou a BRAVO! por telefone:

BRAVO!: Gostaria que o sr. falasse sobre o seu primeiro contato com a literatura quando criança, e como ela se transformou em uma paixão.

Tzvetan Todorov: Eu cresci na Bulgária durante a Segunda Guerra, quando quase ninguém vivia em Sófia, sob constante bombardeio. A maior parte da população vivia fora da capital, em apartamentos divididos por várias famílias. Dentro da coletividade em que habitávamos, havia um especialista em literatura. Foi ele que me ensinou a ler, antes que eu atingisse a idade escolar. Ele me incentivou a praticar a leitura nos livros infantis, e logo comecei a gostar dos contos populares. Apreciava especialmente as histórias dos irmãos Grimm e As Mil e Uma Noites. Essas obras faziam minha alegria. Eu já tinha um sentimento do enriquecimento pessoal que o contato com a ficção podia proporcionar.

Por que o contato com a ficção é tão importante?

Os livros acumulam a sabedoria que os povos de toda a Terra adquiriram ao longo dos séculos. É improvável que a minha vida individual, em tão poucos anos, possa ter tanta riqueza quanto a soma de vidas representada pelos livros. Não se trata de substituir a experiência pela literatura, mas multiplicar uma pela outra. Não lemos para nos tornar especialistas em teoria literária, mas para aprender mais sobre a existência humana. Quando lemos, nos tornamos antes de qualquer coisa especialistas em vida. Adquirimos uma riqueza que não está apenas no acesso às idéias, mas também no conhecimento do ser humano em toda a sua diversidade.

E como fazer para que as crianças e os jovens tenham acesso a esse conhecimento tão importante?

A escola e a família têm um papel importante. As crianças não têm idéia da riqueza que podem encontrar em um livro, simplesmente porque eles ainda não conhecem os livros. Deveríamos então ser iniciados por professores e pais nessa parte tão essencial de nossa existência, que é o contato com a grande literatura. Infelizmente, não é bem assim que as coisas acontecem.

Por quê?

Quando nós professores não sabemos muito bem como fazer para despertar o interesse dos alunos pela literatura, recorremos a um método mecânico, que consiste em resumir o que foi elaborado por críticos e teóricos. É mais fácil fazer isso do que exigir a leitura dos livros, que possibilitaria uma compreensão própria das obras. Eu deploro essa atitude de ensinar teoria em vez de ir diretamente aos romances, por que penso que para amar a literatura - e acredito que a escola deveria ensinar os alunos a amar a literatura - o professor deve mostrar aos alunos a que ponto os livros podem ser esclarecedores para eles próprios, ajudando-os a compreender o mundo em que vivem.

Ao comentar esse assunto no livro, o sr. fala em "abuso de autoridade". Poderia explicar melhor?

É um abuso de autoridade na medida em que é o professor quem decide mostrar aos alunos o que é importante, com base em um programa definido previamente pelo Ministério da Educação. E isso é sempre uma decisão arbitrária. Não temos o direito de reduzir a riqueza da literatura. O bom crítico - e também o bom professor - deveria recorrer a toda sorte de ferramentas para desvendar o sentido da obra literária, de maneira ampla. Esses instrumentos são conhecimentos históricos, conhecimentos linguísticos, análise formal, análise do contexto social, teoria psicológica. São todos bem-vindos, desde que obedeçam à condição essencial de estar submetidos à pesquisa do sentido, fugindo da análise gratuita.

Como conciliar esse desejo de liberdade num sistema em que o professor tem que atribuir notas, como ocorre no Brasil e na França?

Acredito que o essencial é escolher obras literárias que sejam, por sua complexidade e temas, acessíveis à faixa etária a que se destinam. Cabe ao professor mostrar o que esses livros têm de enriquecedor para os alunos, levando em consideração a realidade deles. O importante é não ter medo de estabelecer pontos em comum entre o presente dos alunos e do sentido dos livros.

O escritor italiano Umberto Eco fala que o livro, ao lado da cadeira, é o objeto de design mais perfeito criado pela humanidade. Num momento em que se questiona isso, o senhor vê futuro para o livro?

É verdade que hoje lemos muito diante da tela, mas não acho que o livro vá desaparecer. Ele estabelece uma relação de possessão e de interiorização que nós não podemos estabelecer com algo tão imaterial quanto o texto na tela do computador. Claro que eu mesmo, quando busco uma referência, o faço facilmente diante da tela. Mas se eu desejo me embrenhar em um livro, se eu quiser me render a seu interior, é preciso que seja com o objeto "livro". A isso ele se presta maravilhosamente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Capes disponibiliza novos títulos em Ciências Sociais e Humanas

Os usuários do Portal de Periódicos das áreas de Ciências Sociais, Ciências Humanas, Artes e Humanidades já podem acessar as revistas científicas que integram a coleção do Project Muse. Os títulos foram assinados no final de 2009 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e podem ser utilizados em atividades de ensino e pesquisa por professores e alunos de graduação e pós-graduação. Fundado em 1993, o Project Muse é uma associação sem fins lucrativos entre editores e bibliotecas. O acervo conta atualmente com 432 periódicos com texto completo.

Os títulos assinados preenchem uma lacuna por informações de alta qualidade na sua linha de pesquisa. Com a assinatura, professores e alunos de inúmeras universidades espalhadas por todo o território nacional, podem ter acesso a uma excelente coleção de periódicos.

Pode-se destacar no Project Muse, publicações na área de literatura hispânica, literatura comparada e teoria. É caso da Hispanic Review, Luso-Brazilian Review, Comparative Literature Studies, The Comparatist e Journal of Narrative Theory.

Expansão do Acervo

Em 2009, a Capes investiu na expansão do acervo do Portal de Periódicos, que passou de 12.365 para 22.525. Desses, quase 39% são de coleções classificadas nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Lingüísticas, Letras e Artes. A aquisição de novas coleções obedece às demandas da comunidade acadêmica, pelo envio de sugestões ao serviço de Fale Conosco, por meio de registro no Catálogo de Sugestões, pela avaliação de conteúdos disponíveis na modalidade de Trial ou pela solicitação de avaliação feita pela Capes aos representantes das diferentes áreas do conhecimento. Saiba mais sobre o Portal de Periódicos no endereço: www.periodicos.capes.gov.br.

Da Assessoria da Capes

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aluno "miolo mole" e professor "cabeça dura"

Não pode existir combinação pior do que a falta de juízo com a teimosia. As ideias travam e os resultados ruins aparecem. Nada relevante se divide, a oportunidade de crescer é subtraída e, infelizmente, multiplicam-se os problemas relacionados à ausência do saber. É perda para todo lado. O estudante não deslancha, o mestre não cumpre o seu papel e a sociedade sofre.

Atualmente, vê-se com facilidade o desencontro (e a guerra) entre aluno e professor, considerando o desinteresse e a falta de consciência daquele que deveria se empenhar em aprender ininterruptamente e a ausência de habilidades cruciais por parte de quem pretende disseminar o conhecimento e provocar a reflexão. Se a educação resume-se apenas ao diploma que dá acesso ao mercado de trabalho – e tal fato tem modificado o interesse das pessoas que ingressam nas instituições educacionais –, é porque há algum tempo a sociedade estimulou essa situação, através da crescente competitividade. Houve, portanto, conveniência em tal acordo. Logo, se chegamos ao exagero de muitos apenas se interessarem pela forma (currículo, status) em detrimento do fundo (conhecimento, sabedoria), é por meio dessa mesma sociedade que se estabelecerão novos objetivos voltados à mescla entre “ter” e “ser”.

Não se avança a direções adequadas se a rota foi mal traçada, ou pouco se anda se a velocidade não condiz com o atraso e a brutal distância do destino que se pretende atingir. Estudantes que desperdiçam seu tempo e mestres inflexíveis na sua conduta (e pior, muitos já descrentes e desmotivados) põem a perder o desenvolvimento e ajudam a perpetuar o atraso que se reflete na convivência social.

Ponderações e atitudes (algumas bem radicais) se fazem prementes. É um trabalho conjunto, grandioso, que deve unir forças entre a família e a escola. Vale lembrar que a educação é um processo que demanda sangue, suor e lágrimas, além de competência e de persistência. Está, pois, em boa dose, no legítimo apoio familiar (ânimo, acompanhamento e a cobrança fundamental), a otimista probabilidade de fazer vingar a semente do saber e a evolução pessoal. E ainda, com o devido mérito, destaque-se a intervenção do professor em cada etapa da aprendizagem. Mas ambos os lados devem se preparar e se dedicar em prol de tamanha transformação, pois pouco ajuda se o aluno é “miolo mole” e o professor “cabeça dura”.

Cuidado, porém, com o autoengano que nos faz crer certos (ainda mais com o reforço da sociedade: “se todo mundo faz assim...”) quando estamos justamente na contramão do bom senso. Autoavalie-se pra valer! Se o aluno não se esforçar e o professor não se aperfeiçoar (bem além dos cursos que faz), triste diagnóstico se desenha à frente. Todavia, se houver competente mudança na medida mínima exigida, ver-se-á uma interessante safra de cidadãos que doravante emergirão.

Por Armando Correa de Siqueira Neto, psicólogo e professor (para a 
Revista Linha Direta - Inovação - Educação- Gestão)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CNPq sob nova direção

Carlos Alberto Aragão é o novo presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O físico tomou posse recentemente, substituindo o médico Marco Antônio Zago, que assumiu o cargo por dois anos e meio.

Aragão é o 23º profissional a assumir o cargo de gestor da agência. Em seu discurso de posse, ele garantiu dar continuidade aos projetos implementados na gestão do professor Zago, bem como promover novas ações em direção ao crescimento do CNPq como fomentador da pesquisa científica, tecnológica e de inovação. "Em 2008, o Brasil atingiu o 13º lugar na classificação global referente à produção científica - duas posições acima da colocação obtida no ano anterior. Estamos engatinhando, mas temos potencial para muito mais", disse o físico, que também enfatiza a necessidade do País aumentar ainda mais o número de doutores e mestres.

A meta, segundo o novo presidente, é ampliar as verbas para C&T, com incentivos ao desenvolvimento de tecnologia de ponta nas empresas brasileiras e com a expansão no número de bolsas de estudos.

Currículo

Aragão é graduado e mestre em Física pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). É ainda doutor pela Universidade de Princeton (EUA) e pós-doutorado pelo Centro Europeu de Pesquisa Nuclear na Suíça e pela Universidade de Paris XI, em Orsay. Foi diretor de desenvolvimento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) no biênio de 2005 a 2007.

Atualmente é professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Pesquisador 1A do CNPq e membro titular da ABC (Academia Brasileira de Ciências) e da Academia de Ciência de Países em Desenvolvimento.

Da Universia

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ações indutoras estimularão ingresso de estudantes nos cursos de engenharias

A criação de um grupo de trabalho com o objetivo de propor ações indutoras para estimular o ingresso de estudantes nos cursos de graduação na área das engenharias foi publicada no Diário Oficial da União, da última segunda-feira (08), por meio da Portaria nº 37. A comissão, formada por dez especialistas, estimulará também o desenvolvimento da pesquisa, da pós-graduação, da produção científica e da inovação tecnológica nesta área do conhecimento.

Entre as razões para a criação do grupo, expostas no documento, está o entendimento de que a capacidade de inovação tecnológica de um país e sua competitividade industrial estão ligadas ao desenvolvimento das engenharias. Porém, no Brasil, o número de engenheiros formados, a produção de patentes e os avanços na área de inovação tecnológica estão abaixo do desejado para o desenvolvimento tecnológico do país. Além disso, a formação de profissionais nesta área vem se desenvolvendo aquém do desejado para acompanhar as rápidas mudanças mundiais.

O grupo de trabalho será composto pelos seguintes membros: Sandoval Carneiro Júnior, Diretor de Relações Internacionais da Capes, que o presidirá; Roberto Leal Lobo e Silva Filho; Jorge Luis Nicolas Audy - PUC/RS; Manuel Marcos Maciel Formiga - CNI; Luiz Carlos Scavarda do Carmo - PUC-Rio; José Ricardo Bergmann - PUC-Rio; Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo - UnB; Carlos Hoffmann Sampaio - UFRGS; Nei Yoshihiro Soma - USP; Antonio Marcus Nogueira Lima - UFCG.

O Grupo de Trabalho terá agora o prazo de 90 dias para apresentar uma proposta.


 Da Assessoria de Imprensa da Capes  

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Escritor uruguaio Eduardo Galeano responde a perguntas dos leitores


Recentemente, o escritor uruguaio Eduardo Galeano se submeteu a perguntas enviadas pelos leitores da BBC. Ele falou sobre seu hábitos, fé, o que pensa sobre a vida e o mundo. Em resposta a um leitor, avaliou o prêmio Nobel concedido ao norte-americano Barack Obama como uma piada de mau gosto. Sobre a América Latina, Galeano afirmou: "ainda temos capacidade de loucura, sintoma infalível de boa saúde".

Leitor BBC:Quais são os ingredientes que usa na sua vida para manter o entusiasmo e a felicidade? Deveríamos engarrafá-los e distribuí-los, mas com patente.

EG - Engarrafá-los, eu não posso, porque se evaporam facilmente. O que têm de bom é que retornam sempre, mesmo se às vezes parece que foram embora para sempre. Suponho que por gentileza de Deus ou do Diabo.

Leitor: Para quem você escreve? É possível pensar – nas palavras de Umberto Eco – em um leitor modelo?

EG – Eu escrevo para os amigos que ainda não conheço. Os que eu conheço já estão fartos de me escutar.

Leitor: Eu lhe digo que não tenho dinheiro para comprar livros e tampouco onde eu vivo tem livrarias que os vendam. Por isso não sei o que lhe perguntar. Só me ocorre o seguinte: o que você sente de tanto escrever e escrever, quando finalmente o mundo continua mais ou menos igual ou pior?

EG – A verdade é que nem eu mesmo me entendo. Eu escrevo para os que não podem me ler, porque os livros estão tão caros que daqui a pouco serão vendidos em joalherias. Mas isso sim, acredite, as palavras viajam caminhos misteriosos e andam por onde elas querem, sem pedir autorização.

Leitor: De que equipe de futebol você é torcedor (No Uruguai e no mundo)?

EG – Eu ainda sou torcedor do Nacional, aqui no Uruguai, o clube dos meus amores desde minha mais tenra infância, mas sobretudo sou torcedor do bom futebol e quando esse milagre acontece, eu o agradeço sem olhar a cor da camiseta. E se o bom futebol provem de um clube pequeno, quase desconhecido, então melhor ainda.

Leitor:  Alguma vez você disse que cai e levanta várias vezes ao dia. Eu não sei como me levantar. Como você faz?

EG - Pode te parecer uma besteira, mas eu te juro o que eu penso: se eu caio, é porque eu estava caminhando. E andar vale a pena, mesmo se a gente cai. Eu sou caminhante, na beira do rio a que chamamos mar, aqui em Montevideu, caminho horas e horas, e as palavras caminham dentro de mim e comigo. Às vezes elas se vão e me custa muito seguir sozinho, sem elas.

Leitor: O que é a vida para você, em uma única palavra?

EG – Em quatro palavras, não em uma: uma caixa de surpresas.

Leitor: Com o que você sonha? Você tem um sonho reiterado?

EG – Meus sonhos são de uma mediocridade inconfessável. Os que mais se repetem são os mais estúpido, eu perco um avião, discuto com um burocrata, coisas assim. Que feio, não? Eu me consolo recordando aqueles versos de Pedro Salinas que dizem que: “os sonhos são verdadeiros sonhos quando se desensonham e em matéria moral encarnam”.

Leitor: Você escreve tomando mate?

EG – Não, eu já não tomo mate. Tive que parar, há anos, como deixei também o cigarro, que tanto me acompanhou durante tanto tempo. Agora eu escrevo com cerveja ou algum outro trago. E enquanto eu escrevo, falo sozinho, em voz alta. Quem me vê de longe pensa que eu sou um bêbado perdido. Perdido eu sou, talvez, não sei; mas bêbado, não. Eu gosto de beber e por isso não me embebedo: o trago exige que não lhe faltem ao respeito.

Leitor: Por que as pessoas continuam acreditando em Deus? Você considera que essa crença atrasa o ser humano?

EG – Deus é o nome que nós damos à fé e por isso é múltipla, mesmo se muitos acreditem que a diversidade da fé é uma heresia digna de castigo.

Leitor: O que você opina do Prêmio Nobel recebido por Barack Obama? Como se justifica receber esse prêmio?

EG – Me pareceu uma piada de mau gosto. Mas não é nada raro, levando em conta que há um século o Prêmio Nobel da Paz foi concedido a Teddy Roosevelt, um apaixonado da guerra, que até escreveu um livro propondo a guerra como remédio para a covardia e a fraqueza dos machos no mundo.

Leitor: O que você acha do nacionalismo e do patriotismo? São bons ou criam mais problemas? São partes inseparáveis da identidade?

EG – Antes de que se inventasse essa palavra horrível, globalização, que designa a ditadura universal do dinheiro, existia outra, linda, generosa, a palavra internacionalismo. Eu continuo preferindo-a. Para mim, continua significando algo assim como que podemos ser compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham vontade de justiça e vontade de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido onde tenham vivido, sem que importem nem um pouquinho as fronteiras do mapa, nem do tempo.

Leitor: Nossa América toda tem possibilidades de se curar?

EG – Claro que sim. Não está tão doente, se a comparamos. Ainda temos, por exemplo, capacidade de loucura, que é o sintoma infalível da boa saúde.

Leitor: Eu gostaria de saber como você vê o século XXI. Com pessimismo? Com otimismo?

EG – Eu não acredito nos otimistas full-time. Esses são farsantes ou cegos. Eu sou otimista e também pessimista, conforme a hora e o dia, creio e descreio, celebro e lamento este tempo nosso e este mundo que nos toca viver. Cada tempo tem seu contratempo, é verdade, mas também é verdade que cada cara contem sua contracara. A contradição é o motor da vida: da vida humana e de todas as outras vidas.

Assumir isso me ajuda a não me arrepender das minhas tristezas, das minhas depressões, das minhas músicas ruins: elas são pares inseparáveis de mim. Não tenho mais talento do que aquele que provém da experiência; todo o trabalho que eu tenho todo dia perseguindo as palavras que fogem.

Leitor:  Como você vê o mundo e o estado da sociedade atual? Você acredita que pode ficar de pé o mundo de cabeça pra baixo? O que você acha que faz falta para que se produza uma mudança transcendental em cada um dos habitantes deste planeta?

EG - Não sei, não creio nas fórmulas mágicas. Eu sei, simplesmente, por experiência, que vale a pena que a gente se una para lutar juntos pelas coisas em que vale a pena acreditar. Sós, sozinhos, pouco ou nada podemos fazer. Mais do que isso, eu te digo: não devemos desalentar-nos tão facilmente. Se as coisas não saem como a gente gostaria, bom, é preciso aprender a arte da paciência, é preciso aceitar que a realidade muda no ritmo que ela quer e não no que a gente decide que ela deva mudar. “Se a realidade não me obedece, não me merece”, dizem ou pelo menos acreditam alguns intelectuais. Eu não.”

Leitor:  O que fazer diante do desânimo e da impotência depois de ler seus escritos? Que soluções você propõe diante da dominação e da exploração que sofremos sempre?

EG - Eu não vendo receitas da felicidade e te recomendo que não acredite nos bandidos que a vendem. Eu tampouco creio nos dogmáticos religiosos ou políticos que vendem certezas. Para mim, as únicas certezas dignas de fé são as que tomam café de dúvidas a cada manhã.

Leitor:  Se você entrasse hoje numa máquina do tempo e ela o levasse cem anos para o futuro, o que acha que encontraria quando saísse dela?

EG - Não tenho a menor idéia, nem quero tê-la. Cada vez quem uma cigana se aproxima de mim e me pega a mão para ler o meu futuro, eu lhe peço que, por favor, não cometa essa crueldade. O melhor que tem o futuro é que tem muito mistério.

Leitor: O que é para você a esquerda? Por acaso essa dicotomia de esquerda contra direita não caducou na década de 70? Até quando o mal de muitos será culpa de uns poucos “malvados”? Até quando seguirá vendendo a vitimização como tática para a transformação social?

EG – A culpa é de todos, nos dizem os culpados de que as relações humanas tenham se envenenado e os culpados de que estejamos ficando sem planeta. Tinha razão dona Concepción Arenal, mulher luminosa, que se formou como advogada disfarçada de homem, com duplo corsê e teve a coragem de dizer o que os homens diziam, em meados do século XIX: “Se a culpa é de todos, não é de ninguém. Quem generaliza, absolve.”

Leitor: Estou de acordo com todos os males do capitalismo que o distinguido escritor coloca em destaque, mas e os males do socialismo? Qual seria a melhor via para um desenvolvimento mais humano?

EG – O século XX divorciou a justiça da liberdade. A metade do mundo sacrificou a justiça em nome da liberdade e a outra sacrificou a liberdade em nome da justiça. Essa foi a tragédia do século passado. O desfio do século atual consiste, acho eu, em unir a essas duas irmãs siamesas que foram obrigadas a viver separadas. A justiça e a liberdade querem viver bem pegadinhas.

Leitor: Eu sempre me perguntei como você faz para encontrar combinações tão felizes de palavras, palavras que a gente escutou (e escreveu) centenas de vezes e que quando você as junta parecem um discurso novo.

EG - Muito obrigado pelo elogio. Eu só posso te dizer que nenhuma fada visitou meu berço. Eu não tenho mais talento do que o que provêm da experiência: o muito trabalho de cada dia é gasto perseguindo palavras que fogem.

Leitor: Há quase 40 anos de As veias abertas da América Latina, você pensou em escrever uma segunda parte?

EG – Na verdade todos escrevemos um único livro, que vai mudando e vai se multiplicando à medida que a vida vive e o escritor escreve. Para mim, As Veias Abertas foi um porto de partida, não um porto de chegada. Desde aí, eu acho, eu multipliquei minha visão do mundo.

Do Portal Vermelho (Tradução: Emir Sader)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Prêmio Jovem Cientista está com inscrições abertas


Com o tema “Energia e Meio-Ambiente - Soluções para o Futuro”, o Prêmio Jovem Cientista abre sua 24° edição. As inscrições podem ser feitas até o dia 30 de junho de 2010. Os interessados podem se inscrever em uma das cinco categorias: estudantes de ensino médio, estudantes de graduação, graduados, orientador e mérito institucional. No total, serão distribuídos R$ 150 mil em prêmios para os primeiros colocados em cada categoria. 
 O Prêmio Jovem Cientista é uma parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Gerdau, a Fundação Roberto Marinho (FRM) e tem como objetivos estimular a pesquisa, revelar talentos e investir em estudantes e profissionais que procuram alternativas para os problemas brasileiros.
O regulamento, a ficha de inscrição e as linhas de pesquisas de cada categoria estão disponíveis no site  www.jovemcientista.cnpq.br.


Da Assessoria do CNPq

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

UEPB participa de Fórum de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas

No início desta semana, a UEPB participou da primeira reunião de 2010 do Fórum de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas da Paraíba. Ainda participaram do encontro, sediado no Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), em Campina Grande, representantes do INSA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Superintendência Federal de Agricultura do Estado da Paraíba (MAPA/SFA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão), além da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Na ocasião, foi feita uma retrospectiva das ações do Fórum em 2009, dentre elas a aprovação de projetos junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Um resultado dessas ações será a realização do curso sobre o arroz vermelho, já em março próximo, no município paraibano de Itaporanga” – informa a pesquisadora do INSA, Fabiane Costa.
Em 2010, o Fórum dedicará mais atenção a produtos como o abacaxi, o coco de Sousa e os citrus da Borborema. Outras reuniões alternadas estão marcadas para os dias 09 de março e 04 de maio, na sede do MAPA, em João Pessoa, e no dia 06 de abril e 08 de junho, na Embrapa Algodão, em Campina Grande.
No próximo encontro do Fórum, será discutida a proposta de Regimento Interno, a identificação dos parceiros regionais e o plano de ação para 2010. Estão sendo trabalhados, também, dois acordos entre as instituições participantes, no sentido de se fortalecer as atividades de Indicação Geográfica e/ou Marcas Coletivas no Estado da Paraíba.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Lourdes Ramalho prepara novas peças


A saga dos judeus na Paraíba contada por uma das maiores dramaturgas contemporâneas. O texto está pronto, só que a mais nova peça de Lourdes Ramalho, só será montada no segundo semestre. Ela está esperando o Teatro Municipal Severino Cabral reabrir suas portas para formar o elenco e montar o espetáculo.

Aos 80 anos de muito talento Lourdes Ramalho não pára. A dramaturga, que tem até um teatro com o seu nome, já escreveu mais de 100 peças. Na sala de sua casa, na Rua João Tavares, no Centro, ela solta a imaginação e cria histórias surpreendentes. Este ano, pretende montar só no primeiro semestre quatro novos espetáculos, sendo dois para serem apresentados em Portugal e dois em João Pessoa.

Os doidos de santidade e Eva e Adão, foram escritos por Lourdes para serem apresentados em Portugal. Os dois espetacúlos estão em fase de montagem. Lourdes também é autora de Fiel espelho meu e Uma visão de mulher, que devem estrear em breve na capital paraibana. Esses dois últimos espetáculos estão em fase de ensaio. Fiel espelho meu, conforme contou Lourdes, é um monólogo que trata do desabafo de uma mulher no dia da morte do marido. Já Uma visão de mulher, encenado por funcionárias da Associação de Magistrados da Paraíba, revela toda amplitude da mulher paraibana.

Lourdes Ramalho não consegue se imaginar longe da máquina de escrever. Mesmo tendo computador em casa e todas as ferramentas da modernidade, ela não se "desgruda" da máquina. A arte de escrever corre nas suas veias.

Numa das manhãs de quarta-feira de janeiro deste ano, quando, por telefone, concedeu entrevista ao Diário da Borborema, Lourdes estava triste. A mulher que mexeu com sentimentos de plateias inteiras com seus textos, que já fez o público rir e chorar estava com lágrimas jorrando dos olhos. Recebeu a notícia de que um sobrinho que ela considera filho, estava muito doente. Horas depois ficou sabendo que o rapaz havia morrido. Uma dor para a dramaturga. "Estou muito triste", revelou com a voz mansa.

Maria de Lourdes Nunes Ramalho, ou Lourdes Ramalho, como é conhecida literariamente, é uma escritora nascida no início da década de 1920, em Jardim do Seridó, fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba, numa família de artistas e educadores. Ela contou que seu bisavô era violeiro e repentista, a mãe professora e dramaturga, e os tios atores, cordelistas e violeiros. Assim, cresceu ouvindo cantorias de viola e histórias contadas por vendedores de folhetos.

A relação de Lourdes com a poesia popular é muito forte. Está ligada umbilicalmente ao passado. O seu bisavô, Hugolino Nunes da Costa, é um dos expoentes da primeira geração de cantadores surgida no Sertão paraibano, em meados do século XIX, dando sequência a uma linhagem iniciada por Agostinho Nunes da Costa, considerado o pai da poesia sertaneja nordestina. É deste contato com cantadores, cordelistas e contadores de história que vem o aprendizado dos procedimentos próprios da literatura popular, mais tarde assimilados em sua dramaturgia.

A maior parte da produção literária de Lourdes Ramalho é de textos para teatro. Seu fazer literário passa, entretanto e desde sempre, pela poesia e, ultimamente, contempla, ainda, a área da genealogia.

Por Severino Lopes, do Diário da Borborema

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Brasil é o país com o maior número de dentistas do mundo


No Brasil, estão 19% dos dentistas do mundo. O dado é do livro "Perfil Atual e Tendência do Cirurgião-Dentista Brasileiro", que foi lançado ontem no 28º Ciosp (Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo). Realizado no Anhembi, em São Paulo, o congresso, que termina hoje, foi promovido pela Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas.
Segundo Maria Celeste Morita, professora da Universidade Estadual de Londrina e uma das autoras do livro, o Brasil é o país com a maior quantidade de profissionais de odontologia do mundo em números absolutos: são 219.575 profissionais cadastrados. "O "Atlas Global de Odontologia", publicado em 2009 pela Federação Dentária Internacional, estima pouco mais de um milhão de dentistas no mundo. De todos os países incluídos no Atlas, o Brasil é o que tem o maior número de profissionais", diz Morita.
Mas o recorde em número de dentistas ainda não se reflete no acesso de boa parte da população aos serviços odontológicos. "Embora nos últimos anos a odontologia esteja se incluindo de forma mais representativa nas políticas públicas de saúde, ainda há muita desigualdade", afirma Ana Estela Haddad, da Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério do Trabalho. Haddad também assina o livro, com Morita e com Maria Ercília de Araújo, do Observatório de Recursos Humanos em Odontologia.
A dificuldade de acesso a esse enorme contingente de profissionais é, segundo Haddad, explicada por uma soma de fatores. Um deles aparece nos dados levantados para o livro: 59% dos dentistas estão na região Sudeste e três Estados concentram 57% deles -cerca de 33% estão em São Paulo, enquanto Minas Gerais e Rio de Janeiro têm, cada um, aproximadamente 12% dos dentistas.
Além da distribuição regional, Haddad acredita que outros dois fatores expliquem o menor acesso de camadas da população aos serviços odontológicos. "A inserção do dentista nas políticas públicas de saúde é algo recente. Além disso, conforme constatamos no livro, 2/3 dos dentistas trabalham como autônomos, em atendimentos particulares. Isso representa um custo que algumas parcelas da população não podem pagar", diz Haddad.

Por Iara Biderman (colaboração para a Folha de São Paulo)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SER OU NÃO SER UNIVERSITÁRIO? EIS A QUESTÃO!


Caro estudante! Você começa hoje um curso superior numa universidade pública. E o que isso muda, afinal? E o que isso muda em sua vida? Você continua sendo o que era antes, um estudante. Afinal, qual a diferença mesmo entre ser um estudante de ensino médio e ser um estudante universitário?
Ser universitário é uma questão de atitude. Isso mesmo: a maior diferença está na atitude.
Se você chegou aqui cheio de expectativas, sonhos, planos, esperanças de mudanças e um otimismo à prova de terremotos, prepare-se porque você será testado cotidianamente daqui por diante. Testado no sentido de provar pra si mesmo que é capaz de fazer algo por si e para si e que sabe exatamente o que quer pra sua vida.
E como isso é possível se você acaba de passar em um vestibular e está apenas começando um curso superior? Eis a questão: a mudança começa agora!
Se no ensino fundamental e médio você era alguém que confiava em 100% no professor, que esperava em quase 100% pelo que o professor trouxesse para sala de aula, que exercitava cotidianamente os ensinamentos do professor na esperança de memorizar, aprender macetes, desenvolver habilidades para passar no vestibular, ao menos uma coisa é certa, algo funcionou, pois você está aqui.
Não que você não deva confiar em seus professores. Não que você não aceite ser orientado ou guiado pelos seus professores, não que você não precise estudar cotidianamente... Nada disso! Você terá sempre que memorizar algumas coisas, desenvolver muitas habilidades, aguçar sua curiosidade, preparar-se para avaliações, provar que aprendeu.
A grande diferença está em que, a partir de agora, você será mais responsável pelo seu aprendizado do que o professor. Isso porque quem esperar sempre pelo professor sairá daqui como um profissional mediano ou mesmo medíocre. Quem acreditar que o professor sabe de tudo e que irá lhe ensinar esse tudo está profundamente enganado. Quem olhar para o professor e vê-lo como uma fonte de sabedoria, um verdadeiro oráculo pronto a dar-lhe respostas pra tudo irá se decepcionar e, por conseqüência, descobrirá que a Universidade não era aquilo que tanto sonhava.
Eis meus caros alunos algumas sugestões a partir do que aprendi com minha experiência. Você precisa acima de tudo se tornar o maior responsável pela sua formação. O seu professor será mais facilitador do seu aprendizado que um ‘ensinador’ de coisas. Será mais um orientador sobre os caminhos que você deve percorrer em busca do conhecimento que um sabe-tudo com respostas prontas que facilitarão sua vida. Mais que dar respostas prontas, seus professores deverão lhes ensinar a fazer as perguntas e procurar as respostas.
Daqui em diante você precisará ser mais dono do seu nariz. Você precisará ler os textos indicados pelo professor, pesquisar a bibliografia recomendada, dar conta de participar dos debates, seminários, avaliações, mas não é somente isto. Você estará no comando. É disto que você precisa ter consciência. A mudança acontecerá se você mudar.
Prepare-se para esta mudança que é, essencialmente, de atitude. Aproveite os anos de estudo na Universidade, pois eles não voltarão e mesmo que você faça outro curso superior, depois já não será a mesma coisa.
Não há incompatibilidade entre ser jovem, vivenciar todas as oportunidades oferecidas aos jovens e ser universitário. Não há contradição alguma entre participar de quase tudo que a vida oferecer, curtir ao máximo esta fase tão marcante da vida, namorar bastante, se divertir com os novos amigos e, ao mesmo tempo, fazer da experiência universitária uma grande oportunidade. Oportunidade para crescer, aprender muito, preparar-se para o mundo do trabalho, estabelecer novas e boas relações, participar ativamente da vida universitária e aprender um novo modo de fazer política, realizar uma fantástica viagem pelo mundo do conhecimento e daqui a alguns anos se tornar um bom profissional.
A grande diferença estará na mudança de atitude que você conseguir imprimir à sua vida. Você terá pela frente talvez o maior desafio que já enfrentou até agora. Talvez maior que a própria tentativa de ingressar na Universidade. O desafio não é concluir um curso superior, mas se tornar uma pessoa com novos conhecimentos, competências e habilidades. Mais que isso, o maior desafio é se tornar uma pessoa melhor, mais madura, mais aberta pro mundo, mais capaz de se autodeterminar e tomar conta do próprio destino, edificá-lo.
E mais: você não pode esquecer que o povo paraibano financiará a sua formação superior. Tenha sempre consciência deste fato.
Isto é SER universitário! Se você conseguir dar conta disto, daqui a alguns anos sairá da UEPB com marcas e memórias inesquecíveis de um tempo maravilhoso e, além de ser uma pessoa mais experiente e com boas histórias pra contar, terá vivido alguns dos melhores anos de sua vida.

Desejo-lhe uma boa viagem!

Texto de autoria do Prof. Ms. Antônio Guedes Rangel Junior (professor do Departamento de Psicologia e Pró-Reitor de Planejamento da UEPB)

São Vicente é um Brasilin

 A famosa cantora cabo-verdiana, Cesária Évora

A despedida dos alunos cabo-verdianos intercambistas da UEPB andou repercutindo. O professor José Benjamim, chefe de gabinete e professor de História da Instituição, foi um dos que mais estiveram presentes na vida acadêmica dos alunos intercambistas e falou um pouco da experiência.
Benjamim informou que o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neab-í) foi criado em 05 de julho de 2006, numa reunião com os 27 alunos de Cabo Verde. Nesta ocasião, foi definida a realização de um curso de extensão para os alunos africanos, que durou todo o recesso escolar de julho de 2006.
Na primeira reunião, estavam presentes o estudante de Serviço Social, Manoel Simplício (hoje graduado) e a professora Vanusa, de História. Como disseram, eles não se conheciam em seu país, pois vieram de regiões (ilhas) distintas.
“Nesta reunião, que coincidiu com o Dia da Independência de Cabo Verde, pedimos que cantassem uma música que lembrasse sua terra, seu povo. Cantaram ‘Sodade’, de Cesária Évora. Claro, desabaram no choro. Foi um momento emocionante, lindo, marcante. Na aula seguinte, quando fizemos avaliação, um dos alunos declarou que ‘pela primeira vez sentiu o significado de nação, nacionalidade, país’”, relatou Benjamim.
E já que estamos em época pré-carnavalesca, e após citar a famosa cantora cabo-verdiana, Cesária Évora, lembramos de outra canção sua, “Carnaval de São Vicente”, onde é dito “São Vicente é um brasilin, Chei di ligria chei di cor”. Cantado em crioulo, dialeto cabo-verdiano, a frase diz algo como São Vicente é um brasilzinho, cheio de alegria, cheio de cor.

Escute aqui “Carnaval de São Vicente” (http://tiny.cc/1dZIY) e “Sodade” (http://tiny.cc/OQ5Hl).

Universidade Pública

A Universidade Pública de Cabo Verde (Uni-CV) foi inaugurada em 2006, fruto de um convênio com o governo brasileiro. O Ministério da Educação (MEC) destinou a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), para ajudar na construção da Universidade de Cabo Verde. “Antes não havia universidade. Existiam cursos superiores esparsos e privados. Foi uma conquista daquele povo e ponto para a diplomacia brasileira”, disse Benjamim.

A implantação da primeira universidade pública de Cabo Verde teve consultoria técnica de planejamento do Brasil, por meio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior). A nova universidade foi concebida segundo os padrões brasileiros de instituições públicas de ensino superior.

Desde a independência, em 1975, o país progrediu na área de educação básica e 95% das crianças em idade escolar estão na escola. Faltava melhorar o ensino superior. A Uni-CV, que fica na cidade de Praia, capital de Cabo Verde, estava na agenda do MEC desde julho de 2004, quando o presidente da República visitou o país.

Entre as ações do MEC, em apoio à construção da Universidade Pública, destacam-se: capacitação de pessoal nos setores de regulação, supervisão e avaliação da educação superior; assistência técnica; implantação do projeto de apoio à formação de professores.

Cabo Verde

Arquipélago composto de dez ilhas, Cabo Verde situa-se no oceano Atlântico, a 640 quilômetros a oeste do Senegal, na África. Tem 4.033 quilômetros quadrados e população de aproximadamente 401 mil pessoas. O português é a língua oficial e o crioulo cabo-verdiano é a língua nacional, falada de forma diferente em cada uma das nove ilhas habitadas. O povo de Cabo Verde é formado por descendentes portugueses e africanos, especialmente por causa da escravidão praticada por Portugal. As atividades econômicas principais são a agricultura e a pesca. As terras de Cabo Verde pertenceram a Portugal de 1460, quando foram descobertas, a 1975, quando o país conseguiu sua independência.


Da Ascom/UEPB (Por Juliana Rosas)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Euclides da Cunha - À Margem dos Sertões


Depois do dia 02 de dezembro de 1902, a vida de Euclides da Cunha não seria mais a mesma. Publicado nesse dia, Os Sertões alçaria o então militar reformado, jornalista, ensaísta, engenheiro de campo e funcionário público ao sucesso instantâneo. Escrito a partir da cobertura feita por ele da campanha de Canudos para o jornal O Estado de S. Paulo, o cartapácio de mais de 600 páginas teve os 1,2 mil exemplares esgotados rapidamente, ganhando elogios dos maiores críticos da época - gente como José Veríssimo, Silvio Romero e Araripe Jr. Menos de um ano depois, em 21 de setembro de 1903, Euclides foi eleito com folga para ocupar a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras. Anos depois, Os Sertões inspiraria obras como A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, e Veredicto em Canudos, de um fascinado húngaro Sándor Márai, que leu o livro numa edição em inglês. "Da literatura brasileira, só conheço Euclides da Cunha", disse em certa ocasião o argentino Jorge Luis Borges.

Uma obra dessa magnitude, entretanto, pode às vezes se tornar um peso. Numa carta enviada ao jornalista uruguaio Agustín de Vedia, datada de 13 de outubro de 1908, Euclides assim se referia a Os Sertões:  "O livro bárbaro da minha mocidade, monstruoso poema de brutalidade e de força", e "tão distante da maneira tranquila pela qual considero hoje a vida, que eu mesmo às vezes custo a entendê-lo. Em todo o caso é o primogênito do meu espírito, e há críticos atrevidos que afirmam ser o meu único livro... Será verdade? Repugna-me, entretanto, admitir que tenha chegado a um ponto culminante, restando o resto da vida para descê-lo." Euclides parecia ter noção da gravidade da anotação: em outra folha, burila e refaz o texto, trocando "críticos atrevidos" por "críticos audazes" e "repugna-me" por "custa-me".

A essa altura, já colecionava uma considerável produção como jornalista, reunida em dois volumes: Contrastes e Confrontos e Peru Versus Bolívia. No ano seguinte, sairia - já póstumo - À Margem da História. Uma produção que, somada a outros textos esparsos, incluindo crônica, poesia e correspondência, compõe mais da metade da recém-lançada, e atualizada, Euclides da Cunha - Obra Completa. Na edição, organizada por Paulo Roberto Pereira, é possível ter a dimensão da obra que Euclides construiu para além do "livro bárbaro" de sua mocidade. E talvez Euclides não gostasse, mas o fato é que toda a sua obra - anterior e posterior - está sempre margeando Os Sertões.

O POETA ROMÂNTICO

Como tantos de sua geração, Euclides começou sua carreira de escritor aventurando-se pelos versos. Escreveu seus primeiros poemas em um caderno com 17 anos, aos quais deu o título de Ondas. A partir de então, sua produção poética - publicada em periódicos - será irregular, incipiente e de qualidade discutível, mas muito reveladora do universo do autor. Espremido entre o naturalismo e o modernismo, Euclides costumava ser encaixado na turma do pré-modernismo, carregando ainda cacoetes poéticos do parnasianismo. Mas quem talvez dê chave definitiva para a compreensão da obra de Euclides é o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Francisco Foot Hardman. Ele viu em sua obra aspectos contraditórios de diversas escolas, mas com base no romantismo de tradição francesa, à maneira de Victor Hugo, que combina "dramatização da história" com "discurso socialmente empenhado". Nessa visão, a história seria uma "construção de ruínas", uma narrativa "dramática de brutalidade".

Em Mundos Extintos (1886), por exemplo, Euclides escreve:

"Morrem os mundos... Silenciosa e escura,

Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,

Nas luminosas solidões da altura

Erguem-se, assim, necrópoles sombrias..."

Nessa "poética de extinção", na expressão de Hardman, Euclides prosseguiria até a sua obra-prima, levando a própria métrica. Num texto de 1977, presente na Fortuna Crítica da atual Obra Completa, o poeta e ensaísta Augusto de Campos retoma uma tese do crítico Guilherme de Almeida e afirma ter identificado em Os Sertões "500 decassílabos significativos, com predominância dos sáficos (acentuados na 4ª. e 8ª. sílabas) e heroicos (acentuados na 6ª.), e pouco mais de duas centenas de dodecassílabos". Ele mostra, por exemplo, que o romance começa com um decassílabo heroico ("O planalto central do Brasil desce...") e termina com um alexandrino ("... as linhas essenciais do crime e da loucura"). Embora por vezes o mecanismo de extrair versos de pedaços de prosa pareça um pouco forçado, a análise impressiona ao evidenciar a musicalidade das paisagens mais descritivas - marca da faceta realista-naturalista de Euclides - de Os Sertões.

Essa matriz romântica de origem francesa também acompanhará o republicano Euclides no seu percurso político, e desde o início. Em Ondas, Danton, Marat, Robespierre e Saint-Just, líderes da Revolução Francesa, dão título cada um a um poema. Não por acaso, muito adiante, em março de 1897 - já durante a República, mas antes de Euclides conhecer o que se passava no sertão da Bahia - ele chamará o Arraial de Canudos de "a Vendeia brasileira", referindo à província rebelada contra a Revolução Francesa em 1793.

O JORNALISTA MILITANTE

Euclides tinha o temperamento explosivo - o que acabaria lhe custando a vida quando, em agosto de 1909, resolveu enfrentar em armas o cadete Dilermando de Assis, amante de sua mulher, e seu irmão, Dinorah. Na juventude, esse temperamento - combinado com certa rebeldia romântica - já havia colocado Euclides em algumas enrascadas. Durante o Império, em 1888, o escritor - então cadete da Escola Militar da Praia Vermelha - foi proibido com outros colegas de assistir ao desembarque no porto do tribuno republicano José Lopes Trovão, que voltava da Europa. Como protesto, durante um desfile diante do ministro da guerra, Tomás Coelho, Euclides saiu da formação e, em vez de levantar seu sabre em saudação, tentou quebrá-lo no joelho; não conseguindo, atirou-o ao chão - o que provocaria sua expulsão do Exército. O episódio, contudo, chamou a atenção dos republicanos de São Paulo. Em parte por conta do incidente, Euclides foi convidado pelo jornalista Júlio Mesquita para escrever no seu jornal, O Estado de S. Paulo, então Província S. Paulo. Nos textos mais incendiários, Euclides assinava com o pseudônimo Proudhon - outra referência a um francês radical, Pierre-Joseph Proudhon, um nome histórico do chamado socialismo "utópico", que antecede o dito "científico", de Karl Marx.

Euclides, aliás, acabaria aderindo ao socialismo em sua progressiva desilusão com os rumos da República, instaurada em 15 de novembro e 1889. Em 1891, ele participou do contragolpe do marechal Floriano Peixoto contra o presidente Deodoro da Fonseca, que havia dissolvido o Congresso. Então reintegrado ao Exército, formou-se engenheiro militar e, como primeiro tenente, passou a trabalhar para a Federação. Mas - sempre rebelde - rompeu também com Floriano, refugiando-se novamente em São Paulo como engenheiro civil e, novamente, sob as graças de Júlio Mesquita. Justamente no jornal Estado de S. Paulo, em 1904, ele publicaria O Marechal de Ferro, perfil impiedoso de Floriano Peixoto, a quem descreve da seguinte maneira no dia 15 de novembro de 1889:

"(...) deselegantemente revestido de uma sobrecasaca militar folgada, cingida de um talim frouxo de onde pendia tristemente uma espada, olhava para tudo aquilo com uma serenidade imperturbável. E quando, algum tempo depois, os triunfadores, ansiando pelo aplauso de plateia que não assistira ao drama, saíram pelas ruas principais do Rio - quem se retardasse no quartel-general, veria sair o mesmo homem, vestido à paisana, passo tranquilo e tardo, apertando entre o médio o índex um charuto consumido a meio, e seguindo isolado para outros rumos, impassível, indiferente, esquivo. E foi assim - esquivo, indiferente e impassível - que ele penetrou na história."

A essa altura, Euclides já sabia que a revolta de Canudos, esmagada em outubro de 1897, não se tratava de nenhuma Vendeia, e o que as tropas da República tinham cometido ali era, segundo suas próprias palavras, "um crime". Literariamente, mostrava o mesmo poder de observação - e descrição - exibido magistralmente em Os Sertões, e que marcariam sua curta trajetória posterior.

O ENSAÍSTA VIAJANTE

Euclides sabia, desde jovem, o que queria. Em uma carta a Reinaldo Porchat, em 1892, o recém-formado engenheiro militar se queixava da vida monótona. "Não dou para a vida sedentária, tenho alguma coisa de árabe - já vivo a idealizar uma vida mais movimentada, numa comissão qualquer arriscada, aí por estes sertões desertos e vastos de nossa terra, distraindo-me na convivência simples e feliz dos bugres". Utiliza aí já a palavra mágica - "sertões" -, e a cobertura em Canudos cumprira uma parte a esse destino. Mas não era suficiente. Em outra carta, enviada a Araripe Jr. em 1903, quando já desfrutava do sucesso de sua obra-prima, desabafava: "Shakespeare não faria o Hamlet se tivesse, em certos dias, de calcular momentos de flexão de uma viga metálica; nem Michelangelo talharia aquele estupendo Moisés, tão genialmente disforme, se tivesse de alinhar, de quando em vez, as parcelas aritmeticamente chatas de um orçamento. E eram gênios". Walnice Nogueira Galvão, professora da Universidade de São Paulo, anota que esse anseio pela viagem exótica está ligado ao componente passadista pertencente ao imaginário romântico - o mesmo da poesia e da ideologia política de Euclides.

Assim, no biênio 1904-1905, o escritor não deixaria escapar sua segunda grande oportunidade. Graças a uma indicação de José Veríssimo, foi nomeado chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, que, junto com uma equipe peruana, faria o levantamento cartográfico do rio Purus, na Amazônia. A ideia era que as duas delegações chegassem a um acordo para a delimitação de fronteiras entre os dois países, acabando com os conflitos na região. Ali, Euclides recolheria o material para o seu "segundo livro vingador", como diria mais tarde. Em textos entre o ensaio e a crônica, o escritor voltou a promover, como em Os Sertões, a união entre a observação científica da natureza e a gente do lugar - às vezes de maneira magnífica.

No famoso Judas-Ahsverus, texto que sairia no póstumo À Margem da História, em setembro de 1909, Euclides usa a lenda do judeu errante - condenado a vagar pela terra até o Juízo Final - para falar da condição dos seringueiros do Alto Purus. São sertanejos emigrados para a selva, onde vivem como escravos, "expatriados dentro de seu próprio país", esquecidos pelos homens e por Deus. Para eles, segundo o autor, só existe um único dia feliz: o Sábado de Aleluia. É quando, numa espécie de transe coletivo, constroem para em seguida despedaçar a tiros e pedradas uma legião de Judas feitos à sua própria feição, que descem o rio em jangadas de quatro paus.

"Às vezes o rio alarga-se num imenso círculo; remansa-se; a sua corrente torce-se e vai em giros muito lentos perlongando as margens, traçando a espiral amplíssima de um redemoinho imperceptível e traiçoeiro. Os fantasmas vagabundos penetram nesses amplos recintos de águas mortas, rebalçadas; e estacam por momentos. Ajuntam-se. Rodeiam-se em lentas e silenciosas revistas. Misturam-se. Cruzam então pela primeira vez os olhares imóveis e falsos de seus olhos fingidos; e baralham-se-lhes numa agitação revolta os gestos paralisados e as estaturas rígidas."

Naquele cenário diferente, Euclides vê o mesmo "sertanejo forte" de Canudos, em luta contra a natureza e a história. Redescobriria um mundo "à margem da história" - a mesma talvez, em que Floriano ("esquivo, indiferente e impassível") havia penetrado; a mesma que era uma "construção em ruínas", da qual Canudos tinha sido, diante dos seus olhos, uma prova cabal. Tão definitiva que atrairia para a obra que gerou, Os Sertões, todo o engenho de um homem - quase da mesma maneira com que, no ponto em que o rio se alarga, um redemoinho atrai todos os Judas de olhares imóveis.
 
A OBRA
Euclides da Cunha - Obra Completa, org. de Paulo Roberto Pereira. Nova Aguilar, 2 vols., R$ 450. 

Por Almir de Freitas, da Revista Bravo!.